Você está na página 1de 17
DO CONTRATO DE CONCESSAO COMERCIAL Pelo Prof. Doutor Anténio Menezes Cordeiro 1. Os contratos de distribuicao I. Qualquer economia moderna assenta numa divisao de fun- ges e de tarefas. Designadamente: o fabricante de bens terd, em princfpio, apti- does industriais; mas ndo comerciais. Por seu turno, no préprio campo da comercializago, havera agentes econémicos grossistas e, separadamente, retalhistas: aqueles que tém contacto mais estreito com o publico, designadamente com os pequenos consu- midores privados. Os circuitos econémicos de distribuigao dos bens, desde o produtor e até ao consumidor final sao dobrados por esquemas juri- dicos destinados a legitimé-los, fixando os direitos e os deveres das partes envolvidas. Trata-se, grosso modo, dos contratos de distri- buigao ('). IL. Os diversos cédigos comerciais nao tém autonomizado os contratos de distribuigéo, regulando-os. Muitos deles, de resto, () Em especial e com indicagdes, cf. Karsten Scumipt, Handelsrecht, 5.* ed. (1999), 705 ss. € GeRRICK VON HoynincEn-Hvene, Miinchener Kommentar zum Handels- gesetzbuch, I, §§ 1-104 (1996), 930 ss... 598 ANTONIO MENEZES CORDEIRO correspondem a figuras relativamente recentes, de inspiragao norte-americana (2). Abrem-se, assim, lacunas, que vém sendo colmatadas: — ou por recurso a analogia, com base nas escassas normas efectivamente existentes; — ou com base em clausulas contratuais gerais, devidamente sindicadas pela pratica. Varios sao, de todo 0 modo, os esquemas contratuais possi- veis, tipicos ou atipicos. Impdem-se, pois, algumas distingdes. Ill. A comercializagdo dos bens e a sua distribuicdo, na sociedade, pode ser feita de forma directa ou indirecta. Assim (*): — distribuigdo directa: o bem passa directamente do produ- tor ao consumidor, ainda que através de agentes, de comis- sdrios ou de mediadores; — distribuigdo indirecta: o bem atravessa ainda varias fases, passando do produtor ao gros Ihista e do retalhista ao consumidor final. Por seu turno, a distribuigado indirecta pode ser integrada ou nao-integrada. Mais precisamente: — distribuigdo indirecta integrada: existe uma coordenagao entre a produgdo e a comercializagdo, de tal modo que o distribuidor é integrado em circuitos préprios do produtor, sujeitando-se, eventualmente, as suas directrizes; — distribuigdo indirecta ndo-integrada: nao ha tal coordena- ¢40; os distribuidores actuam sem concertagao com os pro- dutores. ) Cf, numa perspectiva comparatista, WuLF H. Doser, Anglo-amerikanische Vertragsstrukturen Vertriebs -, Lizenz- und sonstigen Vertikalvertraigen, NIW 2000, 1451-1455, @) Por todos: Oreste CacNasso, Concessione di vendita, no Digesto delle disci- pline privatistiche / Sezione commerciale, vol. II (1990), 220-229 (221), Entre nds, MARIA, He1ena Brio, O contrato de concessiio comercial (1990), | ss.. DO CONTRATO DE CONCESSAO COMERCIAL 599 IV. A distribuicao indirecta integrada pressup6e, em regra, a celebragao, entre os interessados e, designadamente, entre 0 pro- dutor e os distribuidores, de adequados instrumentos contratuais. A doutrina especializada aponta quatro tipos de situacgées juri- dicas possiveis (+): — a agéncia; — a concessao; — a franquia; — a livre organizacao de cadeias Nesta tiltima hipétese, nao hé instrumentagao contratual que estruture a articulacao entre produtor, distribuidores e retalhistas. Quanto 4s outras, cumpre fazer a distingao. V. Ocontrato de agéncia, cujo regime foi, entre nés, codifi- cado pelo Decreto-Lei n.° 178/86, de 3 de Julho, alterado pelo Decreto-Lei n.° 118/93, de 13 de Abril, vem definido como (°): (...) contrato pelo qual uma das partes se obriga a promover por contra da outra a celebragdo de contratos, de modo auténomo e estavel ¢ mediante retribuicdo, podendo ser-lhe atribuida certa zona ou determinado circulo de clientes. A nogao portuguesa de agéncia foi inspirada no artigo 1742.° do Cédigo Civil italiano. Compreende-se, também, por isso, 0 relevo, entre nés, da doutrina italiana, no conhecimento do instituto (*) Cf. Karsten Scumipt, Handelsrecht, 5.* ed. cit., 710 ss. ¢ von HoyNin- GEN-HuENe, Miinchener Kommeniar cit., 930-931. Uma sequéncia semelhante pode ser confrontada em Ciaus-WitHEL Canaris, Handelsrecht, 23." ed. (2000), 317 ss.. Vide, ainda, Pever Junc, Handelsrecht, 2. ed. (1999), 121 ss., Hartwut Oetker, Handelsrecht, 2. ed. (1999) e Pau Hormann, Handelsrecht, 10. ed. (2000), 171 ss., bem como 0 dia- grama de BuGeN KLuNzINGER, Grundziige des Handelsrechts, 11.* ed. (2000), 62. (®) Artigo 1.°/1 do Decreto-Lei n.° 178/86, na redacgfio dada pelo Decreto-Lei n.° 118/93; cf. Pinto Monteiro, Contrato de agéncia — Anotagdo ao Decreto-Lei n° 178/86, de 3 de Julho, 3.* ed. actualizada (1998), 35, CARLOS LACERDA BaRATA, Anota- ges ao Novo Regime do Contrato de Agéncia (1994) 12 e Sobre 0 contrato e agéncia (1991), 16 ss. e Maria HELENA Brio, O contrato de agéncia, em Novas perspectivas do Direito comercial, org. Faculdade de Direito de Lisboa / Centro de Estudos Judicidrios (1988), 105-135 (114). 600 ANTONIO MENEZES CORDEIRO e dos aspectos que Ihe sao conexos (°). Um especial afinamento vem-nos, igualmente, da doutrina alema: esta tem, além disso, um papel liderante na conformacdo das regras comunitérias (’). VI. O contrato de concessdo € um contrato atfpico e inomi- nado e que tem sido definido como aquele no qual uma pessoa — o concedente — reserva a outra — o concessiondrio — a venda de um seu produto, para revenda, numa determinada circunscricao (°). Dado o seu papel no presente estudo, abaixo se dedicard um maior desenvolvimento a esta figura contratual. VII. Por fim, no contrato de franquia (franchising), uma pessoa — o franqueador — concede a outra — o franqueado — a utilizagdo, dentro de certa rea, cumulativamente ou nao, de mar- cas, nomes, insignias comerciais, processos de fabrico e técnicas empresariais e comerciais, mediante contrapartidas (°). (©) Quanto aos antecedentes da situagao actualmente existente em Itélia, cf. ALDO Forwiccms, Il contratto do agenzia, 2.* ed. (1958), 1 ss.. Entre as obras actuais, cumpre citar Exrico Rotonoi, ff contratto di agenzia nella giurisprudenza (1989) € Aucusto BaL- passarl, Il contratto di agenzia (1992). () Referimos: Wotrram Kostner, Das neue Recht des Handelsvertreters, 3.* ed. (1997), JORGEN Evers/Kut von MANTEUFFEL, Inhaltskontrolle von Handelsvertreterver- trdigen (1998) e, em especial, Kaus J. Horr, Handelsvertreterrecht / §§ 84-92 c, 54, 55 HGB, 2* ed. (1999). Coligindo elementos sobre diversos paises, cf. Herpert STUMPT, GupRUN FicHva € JORGEN Dircks, Internationales Handelsvertretersrecht, 4.* ed. (1986); quanto a Portugal (bastante elementar; cf., af, 364-369). Mais desenvolvida e actualizada €a obra maciga (1200 pp.) de FricpricH GRaF von WESTPHALEN (org.), Handbuch des Han- delsvertreterrechts in EU-Staaten und der Schweiz (1995); cf., af, 0 trabalho de RaLPH Stock sobre Portugal, 981 ss., jf com alguma dimensio, (®) Cf, ManueL J. G. Satvavor, Contrato de mediacdo (1964), 244-245, ©) Trata-se da nogdo proposta por Menezes CoxpeiRo, Do contrato de franquia ( franchising"): autonomia privada versus tipicidade negocial, ROA 1988, 63-84 (67), onde se pode confrontar a bibliografia existente na época. Trata-se duma nogo bastante Pacifica: of., hoje, Gianmaria GaLimpenni, I! franchising (1991), 15, WALTER Skaupy, Zu: den Begriff “Franchise”, “Franchisevereinbarung” und “Franchising”, NJW 1992, 1785-1790 (1785), Eike ULLMANN, Die Verwendung von Marke, Geschdjtsbezeichnung und Firma im geschiiftlichen Verkehr, insbesondere des Franchising, NIW 1994, 1255-1262 (1255-1256) e VoLKeR EMMERICH, Franchising, JuS 1995, 761-764 (761). De notar que, embora conservando um certo sabor de novidade, o contrato de franquia jé 6, na actualidade, uma figura experimentada; cf. Vincenzo Buoncore, Contratti del consuma- tore e contratti d’impresa, RDCiv XLI (1995), 1-41 (33). DO CONTRATO DE CONCESSAO COMERCIAL 601 O contrato de franquia tem sofrido uma evolugao: enquanto, numa primeira fase (1°), a franquia implicava, no essencial, uma autorizaco para usar certas normas e insfgnias (''), ela tem vindo, mais recentemente — pelo menos nalgumas das suas modalida- des — a implicar investimentos e publicidade a cargo do franquia- dor (?), Aproxima-se, assim, da agéncia. 2. O perfil da concessao I. Ocontrato de concessao apresenta, dentro dos contratos de distribuigao, um perfil caracteristico. A partida, ele opera em dreas que exigem investimentos sig- nificativos e que o produtor dos bens ou servigos a distribuir nao queira ou nao possa, ele proprio, efectuar ('3). Corresponde, pois — pelo menos tendencialmente — a esquemas destinados a distri- buir produtos de elevado valor, com exemplo classico nos vefculos automéveis (!4). (9) Trata-se da situagdo que motivou o nosso estudo de 1988, citado na nota anterior. (") Cf Hergerr Gross e WALTHER Skaupy, Das Franchise-System / Neue Vertri- ebswege fiir Waren und Dienste, 2.2 ed. (1968), VoLxer Benr, Der FranchiseVertrag / /Eine Untersuchung zum Recht der USA mit vergleichender Hinweisen zum deutschen Recht (1976), distinguindo os diversos tipos — 15 ss. —, WALTHER Sxaury, Das “Fran- chising” als zeitgerechte Vertriebskonzeption, DB 1982, 2446-2450 e Hans Forket, Der Franchisevertrag als Lizenz am Immaterialgut Unternehmen, ZHR 153 (1989), 511-538. Quanto & evoluco historica da franquia, cumpre citar Micuas, Marrinex, Franchising (1987, com 710 pp. macigas), 33 ss.. (2) Cf. Curistian Jorroes, Status und Kontrakt im Franchise-Recht, AG 1991, 325-351, Manrrep Wotr e Curisriva UncenEver, Vertragsrechtliche Probleme beim Franchising, BB 1994, 1027-1033, WaLTHER Skaury, Franchising / Handbuch fiir die Betriebs- und Rechtspraxis, 2.4 ed. (1995), 24 ss. (0s tipos) e Norpert Horn € MARTIN Henssier, Der Vertriebsfranchisenehmer als selbstiindiger Unternehmer, ZIP 1998, 589-600. (3) Quanto aos bastidores econémicos da concessio, cf. Perer ULMER, Der Ver- tragshiindler (1969), 23 ss.; esta obra de Unmer, em 520 pp. macigas, € 0 grande classico sobre a concessio. Cf. a recengdo de Fritz Rirrner, Vertragshiindler und Vertragshdn- dlervertrag, ZAR 135 (1971), 62-77. (4) Cf. Josst WoLTeR, Rechtsprobleme der Vertriebsvereinbarung iiber Kraft- fahrzenge und ihre vertragliche Bewailtigung (1981), 8 ss. ¢ Matias HABERSACK ¢ PETER ‘Umer, Rechtsfragen des Kraftfahrzengvertriebs durch Vertragshiindler / Verkauf und Leasing (1998), 21 ss.. 602 ANTONIO MENEZES CORDEIRO IL Na concessao, um produtor fixa, com um distribuidor — 0 concessionério — um quadro de distribuigdo que se norteia pelos seguintes parametros (!°): —um comerciante (0 concessiondrio) insere-se na rede de distribuigéo dum produtor, — adquire o produto em jogo, junto do produtor e obriga-se a vendé-lo, em seu préprio nome, na area do contrato. III. A concessao pode, depois, ser enriquecida com numero- sas outras cldusulas. Designadamente, 0 concessiondrio pode ficar adstrito a determinadas metas, a efectivagdo de certos investimen- tos ou a utilizagao de marcas ou de insignias que identifiquem o produto em jogo. IV. A concessao é um contrato que estabelece relagdes dura- douras. Pode ainda operar como contrato-quadro, como promessa genérica de aquisigao e de venda de produtos, com diversas pres- tagdes de facere em anexo ('*). O seu perfil pode, ainda, ser clarificado através da distingao de figuras semelhantes ou afins. 3. Figuras afins I. Ocontrato de concessao fica mais claro se se proceder 4 sua distingdo de outras figuras afins. Algumas, especialmente ligadas 4 distribuigéo, foram acima referidas. No entanto, parece itil (15) Trata-se de elementos retirados da conhecida e sempre citada definigZo de Unter, Der Vertragshdindler cit., 206; cf. CLaus-Wuneim Canaris, Handelsrecht, 23. ¢d. cit., 363, Karsten Scumint, Handelsrecht, 5.* ed. cit., 759 € von HovNINGEN-HvENE, Miin- chener Kommentar cit, 932. Cf., ainda, Fasio Bortoorn, Concessione di vendita (con- tratto di), NssDV/App. II (1981), 221-234 (221-222). Este Autor acaba por definir a con- cessdo nos termos seguintes: “contrato de distribuicio com o qual o sujeito (0 concessionério), agindo nas vestes de adquirente revendedor, assume estavelmente 0 encargo de providenciar a comercializagao, em determinada zona, de produtos dum fabri- cante (0 concedente), em troca duma posicao privilegiada na revenda”, (9) Cf. Canaais, Handelsrecht, 23.* ed. cit., 364 ss.. DO CONTRATO DE CONCESSAO COMERCIAL 603 retomé-las, ainda que para efeitos de contraposigéo. Assim e no tocante a figuras tipicas, cumpre distinguir: 0 contrato de agéncia, pelo qual “uma das partes se obriga a promover por conta da outra a celebragao de contra- tos em certa zona ou determinado circulo de clientes, de modo aut6nomo e estavel e mediante retribuicao” — artigo 1.° do Decreto-Lei n.° 178/86, de 3 de Julho ('’); na concessdo, 0 concessiondrio age por conta prépria; o contrato de mandato, pelo qual “... uma das partes se obriga a praticar um ou mais actos juridicos por conta de outrem” — artigo 1157.° do Cédigo Civil ('); de novo se deve enfocar que 0 concessiondrio actua por conta prépria, além disso, ele adstringe-se a multiplas actividades materiais e nado apenas jurfdicas; oe contrato de trabalho, pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuigdo, a prestar a sua actividade inte- lectual ou manual a outra pessoa, sob a autoridade e direcgio desta” — artigo 1152.° do Cédigo Civil e artigo 1.° do Decreto-Lei n.° 49.408, de 24 de Novembro de 1969 ('%); o contrato de comissdo, pelo qual “... 0 mandatario exe- cuta o mandato mercantil, sem mengJo ou alusdo alguma ao mandante, contratando por si e em seu nome, como principal (7) Cf. JaNvario Gomes, Da qualidade de comerciante do agente comercial, BMJ 313 (1982), 17-49 (36) e Pivto MonTetRo, Contrato de agéncia (Anteprojecto), BMJ 360 (1986), 43-139 (62) e Contrato de agéncia / Anotagao ao Decreto-Lei n.° 178/86, de 3 de Julho (1987), 17 88. € 3.*ed. cit., 35. Recorde-se Kaus J. Hort, Handelsvertreterrecht cit., 13. A propésito da agéncia e reportando-se & nogdo, cabe ainda referir uma jurisprudéncia jd significativa: RCb 14-Dez.-1993 (Paiva Goncatves), CJ XVII (1993) 5, 46-48 (47/11), Pt 18-Out.-1994 (Aratii0 Barros), CI XIX (1994) 4, 212-220 (216/1), 5.° Juizo Civel Lx (Brives Lametras), CJ XXII (1997) 2, 304-309 (306), RCb 27-Jan.-1998 (Rua Dias), CY XXII (1998) 1, 18-22 (20/11) e RCb 12-Jan.-1999 (Marta Recixa Rosa), CJ XXIV (1999) 1, 5-9 (7/1). ('8) Cf, Pessoa Jorce, O mandato sem representacdo (1961), 271 ss.. (°) Cf. Menezes CorDeino, Manual de Direito do Trabalho (1991), 15. Quanto & distingdo da concessao cf. Ktaus J. Horr. Die Selbstdindigkeit von Handelsvertretern und anderen Vertriebspersonen — Handels- und arbeitsrechtliche Dogmatik und Vertragsges- taltung, DB 1998, 863-870. Tem ainda interesse a delimitagio do contrato de trabalho de figuras semelhantes marcadas pela independéncia dos envolvidos; cf. Hommeriscx, Arbeitsverhaliis als Wettbewerbsgemeinschafi/Zur Abgrenzung von Arbeiinehmern und Selbstandigen, NIW 1998, 2625-2634 (2534/II) e Gowter Scuaus, Arbeitsrechts-Hand- buch, 9.* ed. (2000), 87 ss. (94 ss., quanto & agéncia), 604 ANTONIO MENEZES CORDEIRO € unico contraente” — artigo 266.° do Cédigo Comercial; mantém-se quanto foi dito a propdsito do mandato o qual, como € sabido, pode ser com ou sem representagao; o contrato de sociedade, pelo qual “... duas ou mais pes- soas se obrigam a contribuir com bens ou servi¢os para 0 exercicio em comum de certa actividade econdémica, que ndo seja de mera frui¢ao, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa actividade” — artigo 980.° do Cédigo Civil ?°); na con- cessio, nado ha propriamente uma actividade comum — o concessionério age por si e para si — nem afluxo de bens para um acervo comum, nem, por fim, pelo menos como elemento essencial, um quinhoar nos lucros; o contrato de consércio, pelo qual duas ou mais pessoas se obrigam, entre si, a realizar certa actividade de forma con- certada (?!); na concessao, nao ha, propriamente, uma activi- dade comum, antes se verificando que os beneficidrios agem por si. II. O contrato de concessao também se distingue, com faci- lidade, de v4rios contratos atipicos — portanto nao regulados por lei — embora, desta feita, nado se possa recorrer ao auxilio das defi- nigdes legais. Assim: do contrato de mediagdo, pelo qual uma pessoa — o mediador — se obriga a p6ér em contacto duas ou mais pes- soas, para a conclusdo de um negocio, sem estar ligado a qual- quer delas por um vinculo de colaboragao, de dependéncia ou de representagao (?7); 0 concession4rio, embora independente do concedente nao se obriga a promover qualquer aproxima- go entre este e terceiros: contrata ele proprio, com todos os riscos inerentes; @) Cf. Menezes LetrAo, O contrato de sociedade civil (1988, polic.), 6 ss.. C!) Vide as especificagdes do artigo 2.° do Decreto-Lei n.° 231/81, de 28 de Julho. @) Cf. Manus J.G. SaLvapor, Contrato de mediagdo (1964), 32. Certas modali- dades de mediagao tm regulagao legal, o que mais permite sedimentar a clivagem apon- tada no texto; cf., p.ex., quanto A mediagao de seguros, o artigo 1.°/1 do Decreto-Lei n.° 336/85, de 21 de Agosto. Vide, ainda, Pessoa Jorcs, O mandato sem representacdo it, 231 ss. DO CONTRATO DE CONCESSAO COMERCIAL 605 do contrato de transmissdo de saber-fazer (know-how), pelo qual uma pessoa transmite, a outra, a tecnologia ou, em geral, os conhecimentos aplicados necessdrios para concreti- zar determinada tarefa, ndo patenteados (7°); na verdade, este elemento esté, em regra, presente na concessdo, mas nao a esgota; do contrato de franquia, que, como foi referido, é domi- nado pela autorizacao para usar certas marcas ou insignias e para utilizar especiais esquemas de comercializagio. Também nao oferece diividas a distingéo entre o contrato de franquia e outros contratos como os de corretagem (**) e os de pro- paganda ou publicidade (*5) e similares. IV. As distingdes operadas sao faceis quando, da concessio, se retenha o seu nucleo mais “duro”. Todavia, nado podemos abs- trair da natureza atfpica do presente contrato. Muitas vezes ele inclui cldusulas préprias de figuras “afins”, de tal modo que a dis- tingdo acaba por surgir problematica. E as préprias figuras afins apresentam por vezes, entre elas, elos de comunicagao que dificul- tam uma distingao linear. Na literatura tém surgido diversas intervengGes quanto a dis- tingdo entre contratos de distribuigao — entre as quais a concessdo — eo contrato de trabalho. A necessidade de distingao cifra-se no seguinte: nos contratos de distribuigio é frequente o distribuidor ficar econémica e socialmente subordinado ao produtor. A propria subordinacao juridica — no sentido de o distribuidor, contratual- mente, dever acatar as instrugdes do produtor — pode fazer a sua @)_ Cf. Luiet Sorpet.i, Hl know-how: facolta di disporne ¢ interesse al segreto, RDInd 1986, 93-157 (125, 134 e passim), Antonio Carboso Mota, O know-how e 0 Direito comunitério da concorréncia, CCTE 130 (1984), 47 ss., ¢ Mestmacker, Euro- Piiisches Wetthewerbsrecht (1974) 484. (4) Cf. Goncatves SALVADOR, Contrato de mediagdo cit., 246 ss. e Pessoa Jorok, Mandato sem representagdo cit., 234 ss.; vide 0 artigo 66.° do Cédigo Comercial e 0 artigo 91.° do Decreto-Lei n.° 8/74, de 14 de Janeiro (corretores das bolsas de valores), hoje revogado. @) Cf. Goxcatves SaLvapor, Contrato de mediagdo cit., 251 ss.. 606 ANTONIO MENEZES CORDEIRO aparicao. O problema tem-se posto em relagao a franquia (7°), em relagdo & concessao (77) e, em geral, em relagao aos colaboradores do produtor (8). O alargamento da protecgao laboral (°*) poderia ter como efeito o alcancar os contratos de distribuig&o mais subor- dinantes. Em qualquer dos casos, a eventual aplicagao de regras de tipo laboral teria de ser ponderada caso a caso. 4. O regime da concessio I. O contrato de concessao nao tem base legal directa. Trata-se dum contrato assente na autonomia privada. O seu regime resultar4, antes de mais, da interpretacao e da integracio do texto que tenha sido subscrito pelas partes. No que as partes tenham deixado em aberto, haverd que recor- rer 4 analogia. O Direito comparado ha muito estabelece, neste domfnio, o recurso ao regime da agéncia (*°). 9) Orrwin Wexricn, Zur Abgrencung von Franchise- und Arbeitsvertrag, DB 1988, 806-808, VoLKER MATTHIESSEN, Arbeits- und handelsrechtliche Ansditze eines Fran- chisenehmerschutzes, ZIP 1988, 1089-1098 € WoLFGaNG Bauer, Zur Selbstdndigkeit des Franchisenehmers, NSW 1989, 78-90. (@”) Kuaus J. Horr, Dia Selbstindigkeit von Handelsvertretern cit., 863 ss.. (C4) Joachim BeRnpt, Arbeinehmer oder freier Mitarbeiter / Zur Aktuelle Diskus- sion um die Scheinselbstindigkeit, BB 1998, 894-896, apelando para a determinacao do grau de dependéncia pessoal. @) Wourcanc Hromapka, Zur Begriffsbestimmung des Arbeitnehmers, DB 195-201, Gennaro REIicke, Neudefinition des Arbeitnehmerbegriffs durch Gesetz und Rechtsprechung?, ZIP 1998, 581-588 ¢ Rosert Weimer e Dietaic Gorse, Neue Grund- satzfragen um Scheinselbstindigkeit und arbeimehmerahnliche Selbstiindige, ZIP 1999, 217-226. () Assim: Franz-Jorc Semuer, Aktuelle Fragen im Recht der Vertragshdndler, DB 1985, 2493-2497 (2493-2494), Karsten Scuwiot, Handelsrecht, 5.* ed. cit., 761 Ciaus-WiLHELM Canaris, Handelsrecht, 232 ed. cit., 366 ss.; na origem, cf. a dissertacao de Franziska-Sopuie Evans-v. Krnex, Die analoge Anwendung der Vorschrifien des Han- delsvertreterrechts auf den Vertragshdindler (1973). Quanto a jurisprudéncia, referimos: BGH 24-Mar-1959, BB 1959, 540-541 ¢ BGH 19-Dez.-1966, BB 1967, 94-95. A doutrina também tem reclamado a aplicagdo de certas regras da agéncia ao con- trato de franquia ou, pelo menos, a certas modalidades de franquia; cf. MICHAEL MARTINEK, Franchiing im Handelsrecht / Zur analogen Anwendbarkeit handelsvertreterrechtlicher Vorschrifien auf Franchisevertrige, ZIP 1988, 1362-1379 e He.mut KOHLER, Ausgleich- sanspruch des Franchissenehmers cit., 1696. DO CONTRATO DE CONCESSAO COMERCIAL 607 Il. O legislador portugués foi sensivel a este movimento. No proprio preambulo do Decreto-Lei n.° 178/86, de 3 de Julho, no final do seu n.° 4, depois de se mencionar o contrato de concessao, vem dizer-se: Relativamente a este tltimo, detecta-se no direito comparado uma certa tendéncia para 0 manter como contrato atfpico, a0 mesmo tempo que se vem pondo em relevo a necessidade de se Ihe aplicar, por analogia — quando e na medida em que ela se verifique —, o regime da agéncia, sobretudo em matéria de cessagdo do contrato. A doutrina (*') e a jurisprudéncia (**) nacionais tm acolhido esta indicag4o: a analogia com a agéncia é um instrumento funda- mental para acudir a lacunas que surjam em concretos contratos de concessao. Till. No regime da concessao comercial h, ainda, que atentar nas regras sobre cldusulas contratuais gerais. Muitas vezes os gran- des produtores ou fabricantes recorrem a cldusulas contratuais gerais para uniformizar os diversos contratos de distribuigao que celebrem. As cldusulas contratuais gerais dai derivadas sujeitam-se as regras juridicas gerais e, em particular, ao regime especifico que para elas exista (°7). Trata-se de matéria hoje sedimentada em mui- tas dezenas de decisées judiciais. ©) Assim, Antonio Pinto Monteiro, Contrato de agéncia / Anotagdo ao Decreto-Lei n.° 178/86, de 3 de Julho, 2.* ed. cit., 45. 2) STJ 4-Mai-1993 (Santos Monretro), BMJ 427 (1993), 524-532 (530) = CU/Supremo 1 (1993) 2, 78-80 (79/11), RPt 27-Jun.-1995 (Matos Fernanpes), CI XX (1995) 3, 243-248 (246/11), STJ 22-Nov.-1995 (Mario Canceta), BMJ 451 (1995), 445-458 (454-455) = Cl/Supremo III (1995) 3, 115-118 (117A), RPt 13-Mar.-1997 (Cus- ‘TopI0 Montes), CJ XXII (1997) 2, 196-198 (196/1), REv 24-Abr.-1997 (Prra Vasconce- Los), CJ XXII (1997) 2, 269-272 (270/1), STJ 5-Jun.-1997 (Costa Soares), BMJ 468 (1997), 428-438 (434), RCb 28-Out.-1997 (Evaro Antunes), CJ XXII (1997) 4, 43-48 (47/1), RLx 30-Out-1997 (SaLvapor pa Costa), CJ XXII (1997) 4, 129-134 (132/II: 0 caso “Hyundai”) e STJ 23-Abr.-1998 (ARAGAO Seis), BMJ 476 (1998), 379-388 (387). ©) HerMann-Joser Bure, Interessenkollision und Interessenabwagung im Ver- tragshdindlervertrag, ZIP 1982, 1166-1172 (1170). ANTONIO MENEZES CORDEIRO 5. Concessio e concorréncia I. O contrato de concessao deve ser cuidadosamente conju- gado com as regras da concorréncia, designadamente as derivadas do Tratado de Roma e introduzidas, depois, nas diversas ordens internas dos paises que hoje compéem a Unido Europeia. A partida, cumpre recordar 0 artigo 85.° do Tratado de Roma, que se mantém em vigor, e segundo cujo n.° 1, plicdvei So incompativeis com 0 mercado comum e proibidos todos os acordos entre empresas, todas as decisdes de associagdes de empresas e todas as priti- cas concertadas que sejam susceptiveis de afectar 0 comércio entre os Estados membros e que tenham por objectivo ou efeito impedir, restringir ou falsear a concorréncia no mercado comum, designadamente as que consistam em: a) Fixar de forma directa ou indirecta, os pregos de compra ou de venda, ou quaisquer outras condigSes de transacgio; 6) Limitar ou controlar a produgao, a distribuigdo, o desenvolvimento técnico ou os investimentos; c) Repartir os mercados ou as fontes de abastecimento; Gd O n.° 3 do mesmo artigo, porém, vinha dispor: As disposigées do n.° 1 podem, todavia, ser declaradas ina- — a qualquer acordo, ou categoria de acordos entre empresas; () gue contribuam para melhorar a produgio ou a distribuicdio dos produtos ou para promover o progresso técnico ou econémico, contanto que aos utilizadores se reserve uma parte equitativa do lucro daf resultante, e que: Gad Il. O dispositivo do Tratado de Roma, acima transcrito, surge-nos no artigo 2.°/1 do Decreto-Lei n.° 371/93, de 29 de Outubro, alterado pelo Decreto-Lei n.° 140/98, de 16 de Maio. O artigo 5.° deste diploma vem, com efeito, complementar, sob a epigrafe “balango econdémico”: 1, Poderdo ser consideradas justificadas as préticas restritivas da con- corréncia que contribuam para melhorar a produgo ou a distribuigao de bens DO CONTRATO DE CONCESSAO COMERCIAL 609 ¢ servigos ou para promover 0 desenvolvimento técnico ou econémico desde que, cumulativamente: a) Reserve aos utilizadores desses bens ou servigos uma parte equita- tiva do beneficio daf resultante; b) Nao imponham as empresas em causa quaisquer restricbes que no sejam indispensdveis para atingir esses objectivos: ) Nao déem a essas empresas a possibilidade de eliminar a concorréncia numa parte substancial do mercado dos bens ou servicos em causa. G) III. Uma aplicagao estrita e literal dos artigos 85.°/1 ou 2.°/1 do Tratado de Roma e do Decreto-Lei n.° 371/93, de 29 de Outu- bro, respectivamente, sem se terem em conta as ressalvas depois efectuadas por ambos os diplomas, iria dificultar, na pratica, os diversos contratos de distribuigéo, com relevo para a franquia, a agéncia e a concessao (**). IV. De facto, 0 contrato de franquia j4 foi enquadrado, no Direito da concorréncia dos nossos dias. Foi liderante, neste domi- nio, 0 caso Pronuptia, decidido pelo Tribunal das Comunidades Europeias, em 28-Jan.-1986 (°5). Os principios retirados deste acérdao estéo na base do Regulamento (CEE) n.° 4087/88, da Comissao. Basicamente, o entendimento que prevaleceu, quanto a vali- dade dos contratos de franquia, perante as leis de concorréncia, é 0 seguinte: — apenas perante 0 contexto econémico, contrato a contrato e cldusula a cldusula, ser4 possivel, perante as leis de con- corréncia, formular um juizo de licitude; — sao lfcitas as cldusulas destinadas a evitar que o saber-fazer ea assist@ncia, concedidas ao franqueado, venham a apro- veitar a concorrentes; (4) Cf. Francesco be Francuis, Franchising in diritto comparato, no Digesto delle discipline privatistiche / Sezione Commerciale, vol. V1 (1991), 308-309. (@) Publicado, p.ex., em NJW 1986, 1415-1417 = RTDE 1986, 298-306, « em anexo a PHILIPPE BESSiS, Le contrat de franchisage / Notions actuelles et apport du Droit européen (1986), 103-115 ea ANA PauLa Ribeiro, O contrato de franquia (franchising) no Direito interno e internacional (1994), 131-139 (sumério). 610 ANTONIO MENEZES CORDEIRO — sao licitas as cldusulas que organizem o contrato e a fisca- lizagao, de modo a preservar a identidade e a reputacao da marca, da insignia ou do nome do franqueador; — so restritivas da concorréncia as cléusulas que impliquem repartigdes de mercados ou pré-fixagdes de precos, salvo a verificagao do artigo 85.°/3 do Tratado de Roma. Encontramos aqui algumas regras que poderao ser aplicadas 4 conce: 6. O problema da cessagao 1. A pedra de toque no dominio do contrato de concessao reside no regime aplicdvel 4 sua cessacfio. Na verdade, tém, ai, aplicagao diversas regras oriundas quer do regime das cldusulas contratuais gerais, quando a elas se tenha recorrido na conclusdo do contrato, quer do regime da agéncia. O ponto de partida serd constitufdo pelo que o préprio con- trato predisponha. II. Segundo 0 artigo 19.°, alfnea f), da Lei sobre as Clausu- las Contratuais Gerais (*°), so nulas as cldusulas que Coloquem na disponibilidade de uma das partes a possibilidade de dentincia, imediata ou com pré-aviso insuficiente, sem compensagao adequada, do contrato, quando este tenha exigido & contraparte investimentos ou outros dispéndios considerdveis; Ge) Todas as regras sobre demincia contidas em contratos de con- cess4o concluidos através de cldusulas contratuais gerais devem ser sindicados a luz desta clara proibicao. 5) Cf. Menezes Corpeiro, Tratado de Direito Civil, 1, 1.° tomo (1999), 365 ss., quanto a esta lei ¢ sua concretizacao pelos nossos tribunais. DO CONTRATO DE CONCESSAO COMERCIAL, 6ll Il. Temos depois de lidar com 0 artigo 28.° do Decreto-Lei n.° 178/86, na redacgao dada pelo Decreto-Lei n.° 118/93, de 13 de Abril e aqui aplicavel por analogia. Diz esse preceito: 1 — A dentincia s6 permitida nos contratos celebrados por tempo inde- terminado e desde que comunicada ao outro contraente, por escrito, com a ante- cedéncia minima seguinte: a) Um més, se 0 contrato durar ha menos de um ano; b) Dois meses, se 0 contrato ja tiver iniciado o 2.° ano de vigéncia c) Trés meses, nos restantes casos. 2 — Salvo convengao em contrario, 0 termo do prazo a que se refere 0 numero. anterior deve coincidir com o ultimo dia do més. 3 — Se as partes estipularem prazos mais longos do que os consagrados no n.° 1, © prazo a observar pelo principal ndo pode ser inferior ao do agente. 4 — No caso previsto no n.° 2 do artigo 27.°, ter-se-4 igualmente em conta, para determinar a antecedéncia com que a dentincia deve ser comunicada, o tempo anterior ao decurso do prazo. Toda esta matéria parece de facil apreensio. Anote-se, em especial, a regra do n.° 3: quando o contrato estabelega um pré-aviso mais longo, para o concessionario, do que o conferido ao concedente, 0 prazo deste alinha, automaticamente pelo primeiro. 7. Segue; as indemnizagées devidas I. Cessando um contrato de concessao por iniciativa da enti- dade concedente, poderd haver indemnizagGes a cargo dela e a favor do concessionério. Desde logo assim serd se nao for observado o prazo de pré-aviso resultante da lei ou do contrato. Todos os danos emergentes e os lucros cessantes deverao, pois, ser computados, na base da frustragao do contrato pelo periodo do pré-aviso em falta — artigo 29.° do Decreto-Lei n.° 178/86. Nos danos emergentes ha que ponderar os investimentos fei- tos e desperdicados pelo concessionario, os custos com a dispensa do pessoal ou com a sua reconversao, os stocks e tudo o mais Entram ainda nesta categoria as oportunidades de negécio perdi- 612 ANTONIO MENEZES CORDEIRO das, se o concessiondrio devesse dispor de mais tempo para se reconverter. Quanto a lucros cessantes: vale 0 que 0 concessionério ganha- tia com um ano de actividade normal, ilicitamente frustrado. Além disso, haver4 que computar os lucros que seriam facturados se, tendo reconvertido com tempo, a sua actividade, ela tivesse ence- tado outra actuacfo lucrativa. II. Além disso, é segura a aplicacao, a concessao, do artigo 33.° do Decreto-Lei n.° 178/86: a indemnizacdo de clientela (37). A jurisprudéncia portuguesa acima citada a propésito da concessao é uniforme, nesse sentido. Pois bem: cessando o contrato, haveria que verificar em que medida o concedente foi beneficiado pela actividade do concessio- nario. Tal beneficio é particularmente evidente nos casos extremos em que o principal — aqui, o concedente — tenha acesso directo aos ficheiros de clientes angariados pelo concessionario. Tais clientes, quando estejam em causa bens de certa duragio como automéveis ou equipamentos similares, continuarao a usar e a con- sumir produtos e servigos do concedente. Além disso e no futuro, os clientes em causa, angariados pelo concessionério, tenderao a manter-se figis 4 marca, adquirindo bens novos, por troca com os usados. Tudo isto deve ser computado. 7) Assim e além das obras gerais acima referidas: Karsten Scrmupr, Kundens- tammiiberlassung und “Sogwirking der Marke": yangliche Kriterien fiir Ausgleichsans- pruch des Vertragshdndlers?, DB 1979, 2357-2363, Horst S. WERNER e JORGEN Macuunsky, Probleme und Voraussetzungen des Ausgleichsanspruchs des Vertragshiin- dlers, BB 1983, 338-342, Michae. A. VeLtins, Zur analogen Anwendung von § 89 b HGB auf den Ausgleichsanspruch des Eigenhdindlers, NJW 1984, 2063-2067 e HeIz-Geors Bampencer, Zum Frage der entsprechenden Anwerdung des § 89 b HGB auf den Aus- gleichsanspruch des Eigenhdndlers, NIW 1985, 33-35, HaNS-JURGEN HickeL, Der Aus- gleichsanspruch des Handelsvertreters und des Vertragshéindlers (1985), 13 ss. (ou diver- sas teorias), Norwert Horn, Zum Ausgleichsanspruch des Eigenhiindlers: Kundenstamm und werbende Tatigkeit, ZIP 1988, 137-146 e Karu-Heinz Tuume, Neues zum Ausgleich- Sanspruch des Handelsvertreters und des Vertragshiindlers, BB 1994, 2358-2363. A regra em causa também se aplica a franquia: THEo Bopewic, Der Ausgleichsanspruch des Fran- chisenehmers nach Beendigung der Vertragsverhiiltnisses, BB 1997, 637-644, Recorde-se que estamos numa érea de recepgo comunitéria: 0s textos alemies equivalem aos nossos. DO CONTRATO DE CONCESSAO COMERCIAL 613 II. No cdlculo da indemnizagao de clientela, a jurisprudén- cia avanga com base nos volumes de negécios envolvidos através da equidade. Nenhuma clausula contratual poderia ser interpretada como uma rentincia prévia a essa (ou outras) indemnizagées. Para além do principio do equilibrio dos contratos, das regras provenientes da LCCG, e do proprio regime de agéncia, aqui apli- cavel, 0 artigo 809.° do Cédigo Civil impedi-lo-ia (*). 8) Cf. Pesto Monteiro, Contrato de agéncia cit., 105.

Você também pode gostar