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Leandro Pinho Rodrigues

Um sujeito mola.

Segundo FERNANDES (1981) o sujeito burguês revolucionário


responsável pela implementação dos valores burgueses políticos e sociais
fortemente expressos na democracia burguesa, morre dentro do processo
histórico tendo em vista que esse sujeito atualmente sente a necessidade da
conservação de sua posição de poder perdendo seu caráter revolucionário. A
dinâmica da história e do cotidiano lhe impõe que seja um sujeito maleável
disposto a negociar os chamados valores burgueses em troca da manutenção
e conservação da sua posição e de seu sistema econômico-social.

Divergindo do burguês as condições históricas tornam o proletariado


classe de interesses antagônicos aos burgueses um sujeito revolucionário em
potencial, o sistema econômico burguês e suas contradições geram tensões no
proletariado, fazendo com que essa classe seja como uma mola.

A mola apresenta três principais estágios quando ela está em repouso


sem energia potencial, quando esta pressionada, com uma energia potencial
armazena e quando é solta, que libera a energia potencial. O proletariado
devido a realidade é como essa mola, o modo de produção capitalista causa
uma tensão nessa mola ao mesmo tempo que necessita evitar que essa mola
seja tensionada e mais ainda, que ela libere essa tensão. Sendo um objetivo
sempre deixa-la em repouso. Portando, as condições historias, podem fazer
com que as estratégias econômicas e sociais variem muito conforme o
movimento (estagio dessa mola) da massa trabalhadora.

Existe uma condição que faz com que o proletário dentro do sistema
capitalista seja uma mola, que o torne igual como classe, fazendo com que
sempre apresente risco revolucionário, mesmo em repouso, a condição
socioeconômica o modo com que ele garante a manutenção e reprodução de
sua vida material o torna uma mola.

A revolução social do proletariado não constitui uma fatalidade do sistema


capitalista. Se fosse assim, o movimento revolucionário seria dispensável; e de
outro lado, o sindicalismo, o socialismo, o anarquismo e o comunismo não
teriam razão de ser.(FERNADES,1981,pag.80)

Divergindo de PRADO (1966) ao afirmar que essa mola já está


tensionada e em algum momento da história ela dissipará numa revolução,
FERNANDES (1981) diz que não, esse processo pode mudar, ir e retornar a
diversos estágios, a burguesia estrategicamente pode ao mesmo tempo
tencionar como pode fazer com que a classe trabalhadora retorne ao estado de
repouso.

Essas estratégias burguesas segundo o autor podem ser dadas pela


própria massa que eu gostaria de denominar aqui tais estratégias de: A
modernização do capital. Analisar uma das ferramentas da burguesia que seria
responsável para tornar a máquina capitalista mais moderna, sabendo que a
máquina capitalista é muito mais complexa que a economia e que minha
analise não se aprofundará por completo nessa máquina, me deterei nesse
texto unicamente a um recorte dessa modernização na economia expresso
principalmente no espaço da produção e do consumo.

Revolução e contra revolução, duas faces de uma mesma moeda

Ora, acontece que, que quanto mais desenvolvido for o sistema de produção
capitalista, maior será a facilidade que as classes possuidoras e dominantes
encontrão em se fortalecer através da luta de classes.
(FERNADES,1981,pág.81)

Nesse trecho podemos perceber um elemento novo até então


apresentado por Florestan Fernandes, quando ele propõe a ideia que a luta de
classes pode fortalecer o sistema burguês e que quanto mais desenvolvido for
esse sistema, a possibilidade da luta de classes não cumprir um papel
revolucionário é ainda maior.

Essas ferramentas são bem conhecidas na máquina estatal, onde as


tensões geradas pelo proletariado são respondidas através do controle social
realizado pelo estado burguês, porém iriei me deter aqui numa análise do
universo do consumo.

No texto a revolução brasileira Florestan Fernandes, fala dessas ações


estatais, e de algumas formas que a economia coopta a luta de classes para
seu benefício. Aceitarei o desafio de estender a análise do presente autor para
o movimento da economia que se moderniza na luta de classes.

Segundo FERNANDES (1981) através da política democrática


burguesa, a luta socialista se inclina aos interesses burgueses, o abandono da
radicalidade de suas reivindicações e a tomada de vias democráticas
burguesas para o alcance dos objetivos, faz com que as classes dominantes
tenham a luta de classes dentro de seu domínio controle e para além disso
como ferramenta modernizadora da produção e circulação de mercadorias.

A classe operaria abandona a condição de mola, a condição que iguala


a todos como não pertencentes as classes dominantes e abraça como causa
as tensões urgentes dessa mola, tensões essas que eu as consideraria
primarias, que no mundo da economia são expressas majoritariamente pela a
exclusão do universo do consumo, onde os resultados reais dessas para alivio
de tais tensões serão respondidos no próprio consumo, em um ciclo fechado
que se renova conforme as demandas, sem rompimento, muito menos
revolução.

Pois bem, vejamos em exemplos práticos, o feminismo tem como


inimigo primário a desigualdade de gênero expresso no senhorio patriarcal,
questão essa, estrutural no sistema capitalista, ou seja, conquistas pontuais
são bem vindas, porem a pauta última e final do feminismo, só será atendida
com uma mudança da estrutura. O movimento organizado gera tensões e traz
conquistas positivas, deixando claro que de modo algum tenho aqui a intenção
de dizer que essas lutas não são importantes, pelo contrário são respostas
necessárias as condições presentes, o que pretendo dizer é: que as respostas
presentes, não podem abandonar a causa última, e que também essas
respostas dadas pelo capital ao tempo presente, acaba que por modernizar o
capital e melhorar sua capacidade de se manter ativo.
Agora talvez meu querido leitor esteja se perguntando como isso pode
modernizar o capital se vai de embate as suas contradições? Essa resposta é
simples, por não existir mais papeis de gênero na sociedade faz com que
empresas da construção civil agora possuam um exército de reserva maior, o
ponto positivo disso é a possibilidade aumentada da conquista da
independência financeira da mulher em relação ao homem de sua mesma
classe, porem uma desvalorização geral da força de trabalho e intensificação
de sua exploração. Logo então, com novos trabalhadores temos ao mesmo
tempo novos consumidores, que necessitam de bens de consumo especifico
ao grupo, modernizando assim o mundo de consumo, novas possibilidades de
mercado e de movimentação econômica, repito não quero dizer aqui que esses
movimentos não tem direito acesso as suas especificidades, o que quero dizer
aqui que questões dissociadas perdem seu potencial revolucionário e toma um
caráter modernizador das ferramentas do opositor, e como esse movimento
acontece na realidade.

Não podemos entender a classe antagônica aos dominantes como uma


classe uniforme, se continuarmos o exemplo da mola todos são molas , porem
o que tenciona essa mola pode ser especifico, poderá ser algo bem pontual,
exemplo: aos indígenas temos a demarcação das terras, aos negros o racismo
institucional, ao campesinato o direito de produzir e de comercializar sua
produção numa condição justa; essas tensões especificas representam as
espirais das molas , onde cada grupo pode ter espirais especificas e algumas
espirais comuns , o que os unifica é a condição de mola , mola feita por uma
estrutura maior , que os torna dominados e explorados.

A luta de classes assim não tem mais seu caráter antagônico e


revolucionário, passa a ter um caráter conciliador onde segundo Florestan
Fernandes vislumbrasse uma “confraternização das classes”, a luta de classes
dinamiza a produção e circulação de mercadorias, gera e renova o mercado,
abre leques de possibilidades maiores de atuação do modo de produção
capitalista, a luta de classe reivindicará nada mais nada menos que um espaço
no capital.
Categorias são correntes nos pés, não há revolução sem ruptura.

Um fato a ser observado na revolução burguesa é a sua atuação nos


sentidos das relações de produção, ou seja dar novos sentidos as categorias
de estado, produção, comercio, mercadoria e outras (WEBER 1905).

Esse novo sentido é tão revolucionário que poderíamos dizer que


apenas a nomenclatura permanece a mesma, pois sua mudança substantiva é
tão latente que poderíamos afirmar ser novas categorias, com nomenclaturas já
existentes talvez no período pré-capitalismo imperialista, porém sem a potência
estrutural que as pós revoluções burguesas conseguira atingir.

Não me aprofundando em tal questão trago o devido relato para


exemplificar a condição da atual luta de classes, onde as ferramentas utilizadas
pelas classes não dominantes, são ferramentas advindas das condições
sistêmicas.

Certa vez ouvi um homem desconhecido me dizer “não haveria fome


no estomago se não existisse o alimento para essa fome, nem sede se não
existisse agua para beber”. O proletariado se faz dependente da estrutura e
suas lutas por diversas vezes se limitam as condições do próprio sistema.
Muitas reivindicações do proletário são pela oportunidade de entrar nesse
universo que o excluí, o universo do capital, do consumo e dos direitos
burgueses que lhe são negados. PRADO (1966) dirá que como
antagonicamente o proletariado jamais atingirá essa condição no sistema,
tomará consciência disto e o revolucionará.

Em contra ponto temos Florestan Fernandes que afirma o contrário,


sem uma atuação estratégica e objetiva, essas contradições nada mais nada
menos poderão serem apropriadas pela burguesia e usada para a
modernização e atuação mais complexa de sua dominação sistêmica.

É preciso entender o sistema como uma máquina orgânica e não


mecânica onde exista uma cúpula de dominantes, estrategicamente
elaborando atuações nos dominados, embora isso ocorra, a máquina capital se
faz mais complexa, de forma orgânica, como um organismo vivo, que atua por
si só e reproduz, e cria suas contradições e modos de relações, não estando
por domínio completo de uma consciência da classe que detém o poder
necessitando assim de atualizações de suas dinâmicas.

Aquelas velhas categorias de Karl Marx dinheiro, valor, trabalho,


mercadoria tornam-se os grilhões sistêmicos e para além disso, esses atores
sociais por meio da alienação transformam-se nessas categorias, partes
integrantes dela, sendo o homem moderno não mais o homem, mas a
mercadoria, o trabalho, a sua humanidade retoma um novo sentido uma nova
revolução.

Conclusão.

A proposta do ensaio é algo ousado e talvez até ambiciosa para o


trabalho em questão, talvez seja a gênese de um pensamento ainda muito
imaturo, carente de leituras e investigações aprofundadas, o fato da minha
ousadia reflexiva nesse presente trabalho é justamente iniciar essa lapidação e
aprendizado sobre o tema, encontrar suas diversas falhas, que na própria
construção do texto pude identificar e criticar.

Saber que nesse trabalho com muitos vácuos reflexivos, supõem algo
complexo e que não só acredito na sua importância, como empiricamente e
sociologicamente qualquer leitor sabe disso, e o quanto se faz inesgotável o
debate sobre a devida temática.

Referências bibliográficas.

PRADO, Caio (1966) e FERNANDES, Florestan (1981) a revolução brasileira.


In: Clássicos sobre a revolução brasileira. São Paulo: Expressão Popular,
2012.

WEBER, Marx (1905), A ética protestante e o espirito do capitalismo. In: O


conceito de vocação em Luthero. São Paulo: EDITORA SCHWARCZ LTDA,
Companhia das Letras, 2007.

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