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Bianca Taís ZANINI, Bibiana NILSSON* , Maria Eduarda GIERING** (UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO
DOS SINOS)
ABSTRACT: The project Opinion´s Texts Rhetorical Organization applies a cognitive way of focusing on
handling decision-making. It deals with the conception of text as a strategic configuration. We study the means
continuity chosen by each of the selected texts and authors as well the regularities estabilished among basic
levels of information.
KEYWORDS: strategies; rhetorical; means continuity.
0. Introdução
1. Fundamentação teórica
vias pelas quais pode optar o falante para conseguir a transmissão eficaz de Mp
(mensagem do produtor) a R (receptor). São uma forma de conhecimento funcional,
isto é, dependem de uma escolha (mais ou menos consciente) de P – e de R quando se
trata de estratégias de compreensão (Bernárdez, 1995:164).
*
Graduandas do curso de Letras e Bolsistas de Iniciação Científica – UniBIC e FAPERGS, respectivamente.
Projeto de pesquisa inserido no Programa de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada da Universidade do Vale
do Rio dos Sinos (UNISINOS).
**
Coordenadora do projeto Organização Retórica de Textos de Opinião – O.R.T.O.
***
Este projeto possui um site : http//: www.comunica.unisinos.br/orto
Essa escolha, complementa o lingüista, realiza-se em função do contexto: busca-se a estratégia
mais adequada para conseguir algo no conjunto do processo de transmissão de Mp (mensagem de P) com Tp
(tema de P), levando em conta as circunstâncias textuais.
As vias, para Bernárdez, são três: Apresentativa, Paratática, Hipotática. A via Apresentantiva
conduz a uma seqüenciação dirigida a proporcionar ao leitor informação que assegure a compreensão ou a
aceitação da enunciação do produtor do texto. Por exemplo, numa relação de “Justificativa”, um elemento do
texto nele aparece porque diz respeito a algo que o leitor considera crível ou aceitável por seu conhecimento
lingüístico-cultural e porque o produtor pretende que, apelando para essa evidência, o leitor esteja mais disposto
a aceitar a veracidade de sua proposição. As vias Hipotática e Paratática envolvem enlaces semânticos de partes
do texto. Se dois elementos estão numa relação causal (via Hipotática), por exemplo, necessariamente haverá
uma implicação de causa e efeito, e isso independe do produtor do texto. Se dois elementos estão em contraste
(via Paratática), ambos terão algo em comum e algo diferente, o que também é independente do produtor. O que
diferencia as duas vias é a importância dos elementos relacionados. Na Hipotática, identifica-se uma informação
nuclear e uma secundária. Na Paratática, que conduz a uma seqüenciação dirigida a proporcionar informações
novas sem desenvolver conteúdos anteriores, as informações relacionadas são similares em termos de
importância para os fins discursivos do produtor textual.
É o contexto mais o conteúdo das unidades informacionais do texto que determinam qual das três
vias é a mais provavelmente efetivada.
Para que fosse possível aplicar a teoria das vias de continuidade, houve necessidade de resolver a
questão da passagem de sistemas simples (estáveis), como o da oração, para sistemas complexos (instáveis),
como o do texto, problema dos modelos lingüísticos a serem utilizados para o estudo deste último. Se para a
oração existem categorias universalmente aceitas – SN, SV, SP, Substantivo, Artigo, Verbo, etc. – não há
equivalentes para o texto. Segundo Bernárdez (1995:81), “existe um salto qualitativo radical da oração para o
texto”. O lingüista, então, adota o modelo da Rhetorical Structure Theory (Mann e Thompson, 1987), de forma
a buscar categorias novas, próprias do nível textual. A análise permitida pela RST atribui um papel e uma
intenção a cada unidade de informação do texto, conferindo uma razão de existência a cada elemento, tendo em
vista “o que o leitor de um texto deve julgar verdadeiro com o fim de estabelecer a relação em questão entre as
unidades textuais.” A RST é, assim, o ponto de partida para o tratamento da organização retórica, incorporando
fatores como uso e contexto.
Esse modelo lingüístico novo considera a construção do texto a partir de objetos entre os quais se
estabelecem relações de dois tipos fundamentais: hipotaxe e parataxe (sob a perspectiva semântica e não
sintática). Elementos subordinados (satélite S) “estão em função” de subordinantes (núcleos N). Os núcleos têm
prioridade comunicativa. A função dos satélites é ampliar, facilitar ou fazer mais aceitável a informação
apresentada no núcleo.
Essas unidades núcleo/satélite formam relações postuladas pela RST, e estas compõem as vias: (a)
Apresentativa: antítese, capacitação, concessão, evidência, fundo, justificativa, motivação, preparação,
reformulação, resumo; (b) Hipotática: alternativa, causalidade, circunstância, condição, elaboração, avaliação,
método, não-condicional, propósito, resultado, solução; (c) Paratática: contraste, lista, reformulação, seqüência,
união.
2. Metodologia
1
Segundo Mann e Thompson (1999), a definição das relações pode ser aplicada de forma sistemática por um
observador, nome que recebe o analista da RST. O observador analisa o texto e encontra combinações
consistentes de unidades e de relações que compreendem o texto inteiro. Caberia a seguinte expressão em cada
uma das conclusões que o observador apresenta: “É verossímil ou crível desde o ponto de vista do observador
que foi verossímil desde o ponto de vista do autor que escreveu o texto que a conclusão é certa.”
O corpus de análise é composto por 150 artigos opinativos autorais com fim discursivo "crítica"
retirados dos jornais Zero Hora, Correio do Povo, Folha de São Paulo, O Globo. Para dar conta do contexto,
optou-se por estabelecer o jornal como contexto institucional, aplicando mais duas restrições situacionais, a de
gênero (artigo de opinião autoral) e a de fim discursivo (a crítica).
Para representar as unidades nucleares e satélites, as quais irão compor uma relação da RST,
adota-se a macroproposição como unidade informacional, ou seja, utiliza-se um segmento de texto que tenha
unidade semântica, isto é, que seja reduzível a uma macroproposição2 . Bernárdez ressalta que:
Segue abaixo um exemplo de análise feita no projeto O.R.T.O., para que se possa visualizar os
procedimentos utilizados no corpus composto por artigos de opinião autorais:
O revés da mentira
Marcelo Rech
2
Parte-se de proposta de E. Bernárdez inserida no artigo: BERNÁRDEZ, E. Las macroestructuras textuales
como objeto del estudio linguístico. Actas de las I Jornadas e lengua y Literatura Inglesa y Norteamericana.
Logroño: Colégio Universitario, 1990, p. 107-119.
23 Já para a Al-Qaeda, a leitura enviesada do que ocorreu domingo na Espanha
24 pode servir de estímulo a novos ataques na véspera de eleições. Pela tradução do
25 terror, as bombas derrotaram Aznar. Na verdade, Aznar foi derrotado por ele
26 próprio, mas isso os terroristas, pela soberba, alienação e fanatismo, dificilmente
27 conseguirão enxergar. (Zero Hora, 15/03/04, p.4)
Os fragmentos de texto que estão em itálico representam as unidades nucleares. Nota-se que não se
utilizou uma oração ou um parágrafo nessa representação, mas sim segmentos de texto com unidade semântica,
reduzíveis a uma macropoposição. Já as unidades satélites não estão em itálico, e a mesma representação
macroproposicional é utilizada para marcá-las. É importante salientar que as informações presentes nas unidades
nucleares vão sempre ao encontro do fim discursivo do produtor textual, ou seja, há uma correspondência entre
o objetivo do produtor textual (fazer uma crítica à manipulação de tragédias nacionais para fins eleitorais) e as
informações nucleares do texto (posição do produtor em relação aos atentados em Madri, Estados Unidos e
Iraque).
A análise feita pelo grupo de estudos do projeto observou que se estabeleceu, primeiramente, no
texto, uma relação de Preparação. O produtor, ao dizer que “Aznar mentiu ao atribuir ao ETA a responsabilidade
pelos ataques que o resto do mundo, por dedução lógica, já começava a debitar na conta da Al-Qaeda”
(informação localizada da linha 1 até a 17) faz com que o leitor se sinta mais preparado ou orientado para ler a
sua tomada de posição em relação ao assunto. Ou seja, o produtor inicialmente coloca o leitor a par do fato e dos
envolvidos no fato, para que haja uma orientação antes de expor a sua crítica. Portanto, a informação que
prepara ou orienta é considerada secundária e é denominada satélite em relação à informação principal –
denominada núcleo (localizada da linha 17 até a 22), fragmento no qual o produtor afirma que “Bush e Aznar
cometeram erros primários, imperdoáveis de um governante: procuraram manipular a seu favor uma tragédia
nacional”. É importante salientar que essa tomada de posição presente no núcleo vai ao encontro do fim
discursivo do produtor: criticar a manipulação de tragédias nacionais para fins eleitorais. A via na qual a relação
de Preparação está inserida é a Apresentativa. Nota-se que, realmente, há uma preocupação em envolver o leitor
– e isto é feito por meio de uma orientação das informações - para que este seja persuadido a aceitar a posição
do produtor.
No quinto parágrafo, o Produtor avalia a sua tomada de posição, dizendo que “Aznar foi derrotado
por ele próprio, mas isso os terroristas, pela soberba, alienação e fanatismo, dificilmente conseguirão enxergar”.
Estabelece-se a relação de Avaliação da via Hipotática. Já essa via caracteriza -se pela necessidade que o
conteúdo do texto determina, como em uma relação de implicação, e isso independe do Produtor. Se este não
apresentasse o último parágrafo, o texto pareceria incompleto.
3. Resultados e discussão
Cabe salientar que os dados atuais já permitem afirmar a existência de regularidades, evidenciando
princípios gerais de relações entre elementos do texto e um inventário das possíveis relações existentes.
As análises dos 150 artigos de opinião do corpus do projeto resultaram nos seguintes dados:
- sete artigos não possuem a via Apresentativa;
- 221, das 382 relações encontradas são da via Apresentativa, 151 da Hipotática e 10 da via
Paratática;
- 57,86% das relações são da via Apresentativa, 39,53% da via Hipotática e 2,62% da via Paratática:
2,62%
As relações que mais ocorrem na via Apresentativa são:
Os dados quantitativos ressaltam que o fato de se trabalhar com o gênero textual artigo de opinião
faz com que a incidência de relações da via Apresentativa seja maior, em virtude da necessidade de o produtor
envolver o leitor em suas crenças e posições. Se o gênero textual em questão fosse a receita culinária, por
exemplo, provavelmente a incidência da via Paratática (relação de Lista) seria maior, pois o produtor precisaria
listar ingredientes, os quais são informações com importância similar para o fim discursivo, ou seja, não se
formam relações núcleo-satélite, mas sim relações compostas por dois núcleos.
Justifica-se a ocorrência das relações de Evidência, Preparação e Justificativa (via Apresentativa),
Avaliação e Solução (via Hipotática) em função do gênero textual artigo de opinião e do fim discursivo “crítica”.
Essas relações estão diretamente ligadas a textos argumentativos, pois é por meio da Evidência e da Justificativa
que se expõem argumentos; por meio da Preparação que se orienta o leitor para a tese do produtor; por meio da
Solução e da Avaliação que se avaliam a posição e os argumentos, ou que se expõe a solução ou a sugestão de
soluções para resolver os problemas criticados pelo produtor.
4.Conclusões
Atualmente, esta pesquisa encontra-se na fase de análise qualitativa, na qual se observam, entre
outras aspectos, as escolhas do produtor, sob o enfoque dos procedimentos discursivos que caracterizam cada
relação. Ou seja, considerando o corpus analisado, verifica-se o que caracteriza exatamente cada relação e como
cada uma delas se configura nos textos estudados. Outra observação diz respeito à natureza dos conteúdos
relacionados que se encontram na via Apresentativa. Por exemplo, verifica-se se eles são da ordem dos
acontecimentos ou se são da ordem comunicacional, e como eles contribuem para a organização hierárquica dos
conteúdos macroproposicionais do texto e para o cumprimento do fim discursivo do produtor.
Na etapa final da pesquisa, vai se buscar construir novas propostas pedagógicas para o trabalho
com textos argumentativos. Ou seja, deseja-se apresentar formas de facilitar o ensino da produção de textos
argumentativos, especialmente de artigos opinativos, de maneira que se contemple a importância do
conhecimento das vias de continuidade e das relações entre as informações do texto para o cumprimento do fim
comunicativo de fazer-crer.
RESUMO: O projeto Organização Retórica de Textos de Opinião aplica um modelo de enfoque cognitivo para
tratar das tomadas de decisão implicadas na concepção de texto como configuração de estratégias. Investigam-se
as vias de continuidade escolhidas pelo produtor e as regularidades nas relações estabelecidas entre níveis
básicos de informação do texto.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: