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RIBEIRÃO PRETO – SP
2020
GUSTAVO AVEIRO DELLA MOTTA
Ribeirão Preto
2020
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
M874i
Motta, Gustavo Aveiro Della
Impactos da Revolução de 1930 na política de Ribeirão Preto/
Gustavo Aveiro Della Motta - Ribeirão Preto, 2020.
41p.
CDU 94(815.6)
BANCA EXAMINADORA
___________________________________
Me. José Faustino de Almeida Santos
Centro Universitário Barão de Mauá – Ribeirão Preto
___________________________________
Me. Rodrigo de Andrade Calsani
Centro Universitário Barão de Mauá – Ribeirão Preto
___________________________________
Dr. Felipe Ziotti Narita
Centro Universitário Barão de Mauá – Ribeirão Preto
Ribeirão Preto
2020
Dedico este trabalho a meus
pais Maria José e Inácio.
AGRADECIMENTO
Agradeço a todo o corpo docente do curso de História do Centro Universitário
Barão de Mauá, em especial ao meu orientador professor José Faustino de Almeida
Santos.
INTRODUÇÃO.............................................................................................................10
2.1 O Tenentismo...........................................................................................................21
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................38
REFERÊNCIAS.............................................................................................................40
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INTRODUÇÃO
O período histórico “Primeira República” que abarca os anos entre 1889 e 1930,
é constantemente referido como um momento em que houve intensa fraude nas eleições
ocorridas sobre a sombra do coronelismo. Termos como voto de cabresto, clientelismo e
mandonismo são frequentes em obras que abordam o período destacado. O fim dessa
realidade é creditada à Revolução de 1930, que depôs Washington Luís e deu o poder a
Getúlio Vargas, dando início à chamada “Era Vargas”.
CAPÍTULO I
Este capítulo tem como objetivo abordar a dinâmica das relações políticas no
período da Primeira República em âmbito nacional e, também, observando o contexto
local de Ribeirão Preto, utilizando como baliza temporal a Proclamação da República em
1889 até o princípio dos anos 1920. Para tal, a bibliografia utilizada consiste
principalmente nos autores Boris Fausto, Alexandre Ferreira Mattioli, Rafael Cardoso de
Mello e Rodrigo Ribeiro Paziani.
Antes, porém, fez-se necessário expor diferentes interpretações sobre o conceito
de coronelismo, prática constante durante o período histórico pesquisado. De fundamental
importância foram as obras realizadas por Victor Nunes Leal e Ricardo Alexandre
Botelho.
1.1 – O Coronelismo: uma pequena discussão teórica
Ainda de acordo com o estudo de Botelho (2006), Edgard Carone enxerga uma
busca pelo federalismo no Brasil, o que seria provado por conta das diversas revoltas
regionais ao longo da História nacional e mesmo durante a centralização política do
Segundo Reinado com a criação de vários partidos regionalizados. As regiões teriam uma
tendência a um alto grau de autonomia.
Com relação à atuação dos coronéis, Carone aponta que cada Estado possui
elementos e características próprios. Outra questão salientada por Carone são os
constantes enfrentamentos entre os coronéis, evidenciando que a Primeira República “foi
marcada pelo derramamento de sangue, consequência dos abusos de poder por parte
destes personagens e da conivência criminosa do Estado, que era totalmente parcial e que
agia somente quando lhe interessava” (BOTELHO, 2006).
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Outra autora pesquisada por Ricardo Alexandre Botelho (2006) a abordar o tema
do coronelismo, Maria de Lourdes Mônaco Janotti, também aponta para suas origens no
período colonial por conta da herança econômica dos coronéis. A ausência de um Estado
presente, principalmente em regiões mais interioranas, contribuiu para uma concentração
de poder nas mãos desses proprietários rurais posteriormente atribuídos como coronéis.
Dessa forma, foi-se constituindo durante os séculos a prática da privatização da vida
pública de modo que sua permanência pode ser constatada ainda nos dias de hoje,
principalmente em localizações mais isoladas pelo interior do país.
Algo que foi uma constante nesse momento nascente da República é a extrema
politização dos quadros militares que se enxergavam como “pais” do novo regime, se
opondo à classe política tradicional. A situação desse período pode ser resumida da
seguinte maneira:
[...] opção federalista, com presidencialismo; atribuições dilatadas do
legislativo, imprecisões nas relações políticas entre União e estados; maior
concentração de tributos nos estados e asfixia política dos municípios. As
Forças Armadas foram declaradas obedientes, “dentro dos limites da lei”,
dotadas, portanto, da prerrogativa de interpretar e decidir a respeito da eventual
legalidade da desobediência. (LESSA, 1988 p. 6)
Outra prática adotada para o setor cafeeiro consistia na socialização de suas perdas
que seriam divididas entre toda a sociedade.
A base desse sistema era o coronel, o chefe político local numa troca de favores
entre este e o governo estadual. O coronel influenciava o processo eleitoral na sua região
por meio das práticas de favores pessoais simples, até indicações para cargos públicos,
além da utilização da coerção, se necessário. Deve ser ressaltado que neste período o voto
era permitido apenas para homens maiores de 21 anos, alfabetizados, e não era
obrigatório, o que favorecia o voto ser objeto de barganha entre o eleitorado e candidatos.
O presidente do estado entrava com apoio dos interesses do coronel, sanando por
exemplo, as dificuldades financeiras que os municípios enfrentavam para obras e
melhorias públicas prometidas pelo coronel e a elite política local ao eleitorado.
Dependendo da força econômica do coronel esse apoio financeiro por parte do estado não
teria poder de convencimento.
Sobre a relação entre o estado de São Paulo e a União, Boris Fausto demonstra
que nem sempre havia um entendimento por parte do governo federal com os paulistas
sobre a proteção e valorização do café:
do Sul consistia em uma espécie de “terceira força” no cenário nacional que cresceu no
final da Primeira República (FAUSTO, 2006).
A partir dos anos 1920, o sistema político constituído na Primeira República
começou a apresentar sinais de desgaste. O apoio de São Paulo e Minas Gerais para a
eleição de Arthur Bernardes em 1922 gerou descontentamento em outros estados,
particularmente o Rio Grande do Sul, por conta da exclusividade paulista dos esquemas
de valorização do café, em contraste com outros setores.
Desde o fim do século XIX, Ribeirão Preto já despontava como importante centro
da economia cafeeira, portanto, sujeita à influência dos coronéis do café. Com matérias
publicadas por Luís Pereira Barreto e Martinho Prado Júnior sobre a qualidade das terras
da região, e por conta do esgotamento das terras na região pioneira da monocultura do
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café, o Vale do Paraíba, vários fazendeiros vieram à região para explorar o negócio do
café.
A presença política da família Junqueira em Ribeirão Preto pode ser traçada desde
os tempos imperiais. Em pesquisa realizada por José Benedito dos Santos na ocasião do
centenário da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, podemos constatar a presença de
membros da família já na segunda legislatura, com a presença de Luis Herculano de Souza
Junqueira e Luis Antonio da Cunha Junqueira, nos anos 1870 e 1880.
Segundo Thomas Walker, no período de 1902 a 1909 não houve embates entre os
coronéis, aliás houve certa cooperação como em 1907. Neste ano, os dois se esforçaram
para recepcionar o presidente do estado Jorge Tibiriçá em visita oficial a Ribeirão Preto
(WALKER; BARBOSA, 2000).
Anos mais tarde, no entanto, o clã Junqueira daria uma demonstração de força.
Nas eleições presidenciais de 1910, o PRP apoiou massivamente o candidato Rui Barbosa
em oposição a Hermes da Fonseca, em um episódio que ficou conhecido como Campanha
Civilista. Seguindo determinação do PRP, o grupo de Schmidt aderiu à campanha.
Contrariando a posição de todo o estado de São Paulo, o coronel Joaquim Junqueira
anunciou apoio a Hermes da Fonseca, muito por conta de sua amizade com Francisco
Glicério, o que gerou repercussão e descontentamento entre os grupos políticos locais
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A guerra trouxe prejuízos aos negócios de Schmidt que não conseguiu recuperar-
se. Se retirou de Ribeirão Preto e faleceu em 1924. A partir desse momento, Quinzinho
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Anos antes, a família Junqueira sofreu um abalo por conta do episódio que ficou
conhecido como o “Crime de Cravinhos”. Iria Alves Ferreira conquistou ascensão social
ao casar-se com Luiz da Cunha Diniz Junqueira, irmão mais velho de Quinzinho
Junqueira, adentrando, assim, o poderoso clã Junqueira. Após a morte de seu marido ainda
no final do século XIX, Iria foi coroada com o título de “Rainha do Café”. Acumulou
poder e influência – mesmo sendo mulher num meio majoritariamente masculino – que
foi astutamente chamada de “coronel de saias” por Mello (2009).
CAPÍTULO II
2.1. O Tenentismo
Entre as ações perpetradas por esse movimento, a primeira foi a revolta do Forte
de Copacabana no Rio de Janeiro em 5 de julho de 1922, em que dezessete militares e um
civil se revoltaram. A ação foi contida pelas forças de segurança e dezesseis foram mortos
durante troca de tiros. Outra revolta, esta sim de grande intensidade, foi a Revolução de
1924 em São Paulo – também conhecida como a Revolução Esquecida – deflagrada em
5 de julho em homenagem ao primeiro movimento no Rio. Provocou a fuga de moradores
e do próprio presidente do estado Carlos de Campos devido ao intenso bombardeio da
capital paulista. Tinha como maior objetivo derrubar o governo de Artur Bernardes tido
como “antimilitar” pelos oficiais.
Os revoltosos enfrentaram as forças legalistas até o final do mês quando
debandaram em retirada para o interior e Sul do país onde se juntaram ao tenente João
Alberto e ao capitão Luís Carlos Prestes que promoviam revoltas no Rio Grande do Sul
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e Paraná. A junção desses movimentos formou a Coluna Prestes que percorreu 25 mil
quilômetros pelo interior do Brasil em busca de apoio popular até 1927 quando seus
componentes se exilaram na Bolívia e no Paraguai. Entre os líderes da revolta em São
Paulo destacam-se os irmãos Juarez e Joaquim Távora, Isidoro Dias Lopes e o oficial da
Força Pública paulista Miguel Costa. Esses nomes tiveram importante participação na
Revolução de 1930.
Pelo interior paulista os confrontos armados foram escassos, muito por conta do
apoio das forças policiais militares interioranas ao governo federal. Mattioli (2014) e
Walker (2000) apontam que a revolta iniciada na capital não causou distúrbios em
Ribeirão Preto, embora tenha sido formada uma milícia para defender a ordem, mas foram
apoiadores de destaque apenas diretores do jornal A Tarde. A atuação de Quinzinho na
ocasião da revolta foi detalhada por Mattioli (2014):
O governo federal, caçando os revoltados, enviou um representante até o
município. Naquele contexto, ocorre uma reunião na residência do coronel
Quinzinho. Em busca de uma lista de adversários e indesejáveis para serem
punidos, o chefe de polícia apresenta ao coronel a lista com o nome de todos
que mereciam punição. Mas, segundo relatos, depois de analisar
demoradamente a lista o Joaquim da Cunha Diniz Junqueira a queimou, para
espanto de todos, e respondeu: “Eu não tenho inimigos”. (MATTIOLI, 2014,
p. 130)
principalmente na capital, em que diversos interesses não podem mais ser assegurados
por um único partido. Entre seus quadros destacam-se profissionais liberais e filhos de
cafeicultores.
O programa político defendido pelo partido pregava o liberalismo, eleições menos
fraudulentas já prevendo uma justiça eleitoral. Ganhou apoio na classe média urbana e
propagava seus ideais através do jornal Diário Nacional.
Analisando as aspirações políticas do PD, podemos observar que não se tratava
de uma ruptura profunda do sistema, mas sim sua reciclagem. O partido viu no
movimento revolucionário de 1930 uma oportunidade para a desejada transformação do
sistema e por isso apoia o movimento inicialmente, contudo, a partir da concentração do
poder na figura de Vargas, passa para a oposição do projeto getulista.
Com relação ao desempenho eleitoral do partido, Fausto (2006) afirma que:
Em fins de 1926, o PD reuniu 50 mil nomes em listas de apoio publicadas nos
jornais. Apesar das fraudes, elegeu três deputados federais na eleição de 1927
– um êxito que não se repetiu na eleição estadual de 1928. Nessa ocasião foram
eleitos dois deputados, um resultado aquém das expectativas do partido.
(FAUSTO, 2006, p. 318)
sindical da cidade surgiu em 1925 com o nome de União Geral dos Trabalhadores – UGT
tendo os comunistas tomado a liderança desta em 1928.
A escolha do sucessor de Washington Luís no cargo de presidente da República
provocou uma disputa eleitoral que ruiu de vez o sistema de alianças e conchavos que
caracteriza a política da Primeira República. A indicação de Júlio Prestes, então
presidente de São Paulo, para ser candidato ao cargo de presidente fez a elite mineira
romper totalmente com a elite paulista e se juntar aos gaúchos e outras elites estaduais
descontentes para formar o bloco da Aliança Liberal em 1929. Para concorrer contra Júlio
Prestes e a máquina política do PRP nas eleições de 1930, a Aliança Liberal define a
chapa com Getúlio Vargas do Rio Grande do Sul e João Pessoa da Paraíba.
Getúlio recebeu apoio de integrantes do PD em São Paulo propondo uma
economia mais diversificada, além da produção de café para a exportação, aspiração de
setores da classe média urbana. Mesmo com a crise econômica em outubro de 1929, em
plena campanha eleitoral, e as insatisfações por ela causadas na elite cafeeira, esta não
rompe com o governo e segue apoiando Júlio Prestes.
As eleições ocorreram em 1º de março de 1930 com os dois lados se utilizando
dos métodos clássicos de fraudes eleitorais, uma das críticas do programa político da
Aliança Liberal. A vitória de Júlio Prestes insuflou uma movimentação de jovens
políticos oposicionistas e os tenentes rebeldes. Durante o ano, foi sendo gestado um
espírito revolucionário que viu no assassinato de João Pessoa em 26 de julho de 1930,
por motivos pessoais, a oportunidade de propagandear seu crescimento tornando sua
morte uma ferramenta política. A movimentação revolucionária atingiu seu ápice em
outubro de 1930.
Escrevendo a respeito das eleições presidenciais de março de 1930 em Ribeirão
Preto, Thomas Walker (2000) destaca um importante personagem que teve grande
relevância política local nos anos 1930 e 1940:
[...] no dia da eleição em 1 de março de 1930, a situação local obteve
3.278 votos – ou 84,65% do total – para Prestes. Apesar de o processo
eleitoral em São Paulo, como um todo, ter sido evidentemente marcado
por “fraude, violência e suborno”, não foi possível documentar qualquer
manipulação fora do comum em Ribeirão Preto. No entanto, um
ribeirão-pretano, Fábio de Sá Barreto – na época secretário do Interior
para o Estado de São Paulo – confessou ter-se envolvido em
ilegalidades, desviando grandes somas do dinheiro público estadual
para a campanha de Prestes. (WALKER, 2000, p. 74)
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O fator que fez eclodir a Revolução pode ser considerado a união dos tenentes
revoltosos com políticos de uma geração mais recente. Neste grupo encontram-se nomes
como Getúlio Vargas, Osvaldo Aranha – este que chegou a combater o movimento
tenentista no Rio Grande do Sul – Lindolfo Collor entre outros. A chamada “geração de
1907” – referência ao ano de conclusão de suas formações universitárias – estava em uma
ascendência política e possuía mais ímpeto em busca de seus interesses do que os velhos
oligarcas estaduais que se encontravam conformados com a vitória eleitoral de Júlio
Prestes. Entre os tenentes, Luís Carlos Prestes recusou essa aliança por 26ntende-la como
uma união de oligarcas não coligados com a elite cafeeira paulista. Posteriormente se
tronou membro do PCB.
A Revolução teve início em 3 de outubro em Minas Gerais e no Rio Grande do
Sul e no Nordeste. Os revoltosos foram rapidamente vitoriosos nos estados nordestinos.
Após obterem o controle no Sul do país, iniciaram uma invasão à São Paulo em que se
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Para rebater essa tese, o autor argumenta que, na ocasião da eleição presidencial
de março de 1930, os industriais paulistas eram ligados ao PRP e apoiaram o candidato
da situação Júlio Prestes. O PD, partido simpático ao movimento revolucionário, em seu
jornal Diário Nacional, publicava artigos contra a industrialização, valorizando a lavoura
como meio ideal de desenvolvimento econômico para o país e ainda se apoiava em ideias
xenófobas contra industrialistas estrangeiros.
Outro argumento utilizado no livro é o fato de que, após a Revolução e durante a
Era Vargas, o governo federal continuou exercendo políticas de valorização do café,
como, por exemplo, a queima de grandes estoques.
Ao encontro do que foi levantado por Boris Fausto, José Antonio Correia Lages
demonstra, a partir de trabalho realizado por Luciana Galvão Pinto, que já havia indústrias
em Ribeirão Preto nos anos 1910 e 1920, como serrarias, cervejarias e, inclusive, uma
metalúrgica. Com a Crise Econômica de 1929, as iniciativas industriais sofreram um forte
impacto, forçando o seu fechamento e, após a Revolução de 1930, ao invés de uma
crescente industrialização, a cidade se firmou como um polo comercial e de serviços,
tendo como símbolo maior a construção do Edifício Diederichsen nos anos 1930 no local
em que se encontrava uma casa de Quinzinho Junqueira. Outra transformação relevante
é o advento da policultura no meio rural.
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CAPÍTULO III
A partir de novembro de 1930, teve início o governo daquele que talvez seja a
figura política de maior envergadura da história moderna do Brasil, Getúlio Vargas. O
extenso período de seu governo, chamado de “Era Vargas”, é dividido em três momentos:
Governo Provisório (1930-1934), Governo Constitucional (1934-1937) e o Estado Novo
(1937-1945).
até 1939. Ao final da eleição, o legislativo municipal foi composto por sete representantes
do PRP, cinco do PC e um da AIB. Entre os integrantes do PRP destacam-se os nomes
do ex-prefeito Joaquim Camilo de Moraes Mattos e Thomaz Alberto Whately, figura
emergente importante no cenário político local.
Com a definição dos cargos de vereadores restava a Câmara eleger o prefeito. A
escolha de quem deveria ocupar o cargo gerou conflito dentro do PRP. Enquanto a “ala
jovem” do partido defendia a indicação de Alcides de Araújo Sampaio, a “velha guarda”
preferia o ex-prefeito Camilo de Mattos. Para se chegar a um consenso o indicado foi
Thomaz Alberto Whately. Porém, Whately exerceu o mandato por apenas alguns meses,
renunciando por motivos de saúde. As disputas internas fizeram com que vereadores
eleitos desistissem do seu cargo, o que deve ter sido o caso de Albino Camargo Neto e
Francisco da Cunha Junqueira. Sua renúncia trouxe à tona o conflito novamente. Desta
vez, a “velha guarda” apontou para a prefeitura o antigo aliado do clã Junqueira, Fábio de
Sá Barreto. Fábio Barreto exerceu o cargo de prefeito de 1936, passando pelo período do
Estado Novo, até sua renúncia em 1944.
Vale ressaltar que esta eleição foi realizada no contexto após as reformas eleitorais
que garantiam maior lisura do processo e a inclusão de novos grupos de eleitores. Walker
(2000) calcula a participação popular nas eleições sendo de 5% da população em 1930 e
mais de 10% em 1936.
Voltando-se para a esfera do executivo, a nomeação de Fábio Barreto para ocupar
o cargo de prefeito da cidade é reveladora. Segundo Walker (2000, p. 84), Fábio de Sá
Barreto era “[...] um político local talhado nos moldes políticos tradicionais da República
Velha”, antigo aliado de Quinzinho. Com o vácuo de poder causado pela ausência do
chefe político na cidade, Barreto tornou-se a figura de maior envergadura política.
Mattioli (2014) mostra a proximidade entre Barreto e Quinzinho em carta escrita por este
na ocasião dos eventos do Crime de Cravinhos:
Prezado amigo Dr. Fábio. Afetuosas saudações. Acabo de receber uma
carta de 25 do corrente que me tranquilizou bastante em relação ao caso
do espraiado. Pelas atenções que o Dr. Washington tem dispensado ao
nosso Ribeirão Preto, entendo que uma zelação á sucessão presidencial
que já estão movimentando em São Paulo o nosso dever é acompanhar
a qualquer que seja o caminho que ele tomar, é esse um meio de
corresponder as tais atenções e provas de amizade, se eu neste caso
errar, pelo menos darei a um amigo, provas de gratidão. Abraços do
amigo velho Joaquim da Cunha D. Junqueira. (MATTIOLI, 2014, p.
128)
especial com o estado se quisesse uma administração sem turbulências. Como exemplo
dessas posições temos a visita de Vargas à Ribeirão Preto já no período do Estado Novo:
paulista. O escolhido por essa Câmara para o posto de prefeito foi justamente, um político
alinhado ao clã Junqueira, que ocupou cargos no governo estadual nos anos 1920.
Percebemos as permanências da antiga ordem e a ausência de uma transformação
social. Não surgiu uma nova classe política a tomar o controle da cidade. Os políticos
representantes da antiga ordem política coronelista souberam adaptar-se à nova ordem,
bem como contaram com o reconhecimento, por parte de Vargas, da auto governabilidade
dos paulistas, principalmente após a Revolução Constitucionalista.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nasceu desta articulação entre os contextos nacional e local a motivação para esta
pesquisa: analisar a movimentação e os rumos da estrutura política ribeirão-pretana nesse
momento histórico. Principalmente, avaliar o quanto a Revolução de 1930 repercutiu na
política de Ribeirão Preto como ruptura. O jogo político no estado de São Paulo sofreu
alterações em relação à ordem vigente da Primeira República, com suas manifestações do
coronelismo e de práticas como o voto de cabresto, o clientelismo e todos os hábitos
típicos do período cafeeiro.
Por mais que a História Política tenha entrado em certo declínio nos últimos
tempos, vista como ultrapassada, consideramos sua importância no sentido de que a esfera
política é a área de gestão do espaço social além da economia (RÉMOND, 2003).
REFERÊNCIAS
FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930: historiografia e história. 16. ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. ed. São Paulo: Edusp, 2006.
FIGUEIREDO, Euclydes. Contribuição para a História da Revolução
Constitucionalista de 1932. 2. ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1977.
Histórico do Parque Municipal do Morro do São Bento. In: Marcelo Pereira Et Al.
Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto SP (org.). Gigantes do Bosque: árvores do
parque municipal do morro do são bento. Ribeirão Preto, 2018. p. 21.
LAGES, José Antonio Correia. Ribeirão Preto Revisitada. Ribeirão Preto: Nova e
Enfim Gráfica e Editora, 2016.