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Aluno do curso de Licenciatura em Matemática, IFSP, campus Bragança Paulista, lucasmunozdentello@gmail.com.
² Professor do curso de Licenciatura em Matemática, IFSP, campus Bragança Paulista, dnacbar@ifsp.edu.br
INTRODUÇÃO
Dentro da Análise Complexa existe grande dificuldade de representar funções
complexas de variáveis complexas, principalmente pelo número de variáveis envolvidas e sua
disposição no que tange a domínio e imagem. No texto “Análise Superior” da Fundação
Calouste Gulbenkian é enunciado o seguinte trecho: “A primeira dificuldade que se depara ao
principiante na passagem da Análise Real para a Análise Complexa é a ausência de
representação geométrica intuitiva para funções de uma variável. Com efeito, toda a função real
de variável real, ( ), pode ser representada por um conjunto de pontos ( ) do plano;
mas uma função complexa de variável complexa, ( ), só poderia ser
representada (de maneira bicontínua) por um conjunto de pontos ( ) de um espaço
tetradimensional, isomorfo a , que não tem concretização intuitiva”. Mas então de que
maneira pretende-se abordar graficamente tais funções? Evidentemente não se tentará fazer
gráficos em quatro dimensões. Também aqui não se pode recorrer aos recursos de
processamento sistemático de superfícies de nível, como é possível para funções reais de três
variáveis. Dessa forma, acredita-se que todo progresso nessa área é de grande valia para uma
melhor compreensão das funções de variáveis complexas. Partindo dessa ideia, busca-se, no
presente trabalho, elucidar noções elementares à compreensão visual de funções complexas,
como raízes e aspectos introdutórios ao Mapeamento Complexo.
George Cain (CAIN, 2004) diz que “A excitação real surge quando consideramos
funções , onde é um subconjunto do conjunto dos números complexos. Em certo
sentido, estas também são familiares para nós do cálculo elementar - elas são simplesmente
funções de um subconjunto do plano para o plano:
( ) ( ) ( ) ( ) ( ( ) ( ))”.
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Com base nisso, pode-se concluir que ( ) é a parte real de ( ) e ( ) é parte
imaginária de ( ). Mas, se e representam valores reais dependentes de dois parâmetros
reais, então do cálculo diferencial e integral de várias variáveis (PISKUNOV, 1965) pode-se
afirmar que graficamente são superfícies em . Assim sendo, é possível construir suas
superfícies separadamente e analisar os padrões nelas implícitos. Nesta abordagem se utilizará
desse método para encontrar as raízes de funções complexas.
O trabalho inicia-se com a noção da forma exponencial e trigonométrica de um número
complexo, passando então à noção de função de uma variável complexa (ÁVILA, 1974) e suas
dificuldades de representação. Em seguida, trabalhar-se-á com funções complexas e suas raízes,
observando o comportamento de suas partes real e imaginária. Utilizando o método criado por
Bernhard Riemann, chamado Mapeamento Complexo (ZILL; SHANAHAN, 2006), se espera
analisar o comportamento de algumas funções complexas lineares.
DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO
Está definido um número complexo, ao longo deste trabalho, como , onde é
a unidade imaginária e , onde , - e , -. A forma exponencial e
trigonométrica de um número complexo é descrita por e ( ),
respectivamente, onde, e representam, nessa ordem, o módulo e o argumento de .
Como já dito anteriormente, existe grande dificuldade em se representar funções de
variáveis complexas por conta do número de variáveis envolvidas no problema. No texto
“Análise Superior” (FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN, 2000) existe a seguinte
definição para uma função complexa: “Função complexa de variável complexa será toda a
aplicação f cujo domínio e cujo contradomínio sejam conjuntos de números complexos”. Dessa
forma, sempre se tem como domínio um subconjunto do plano complexo e como imagem outro
subconjunto do plano complexo. Aqui nota-se grande diferença com relação à Análise Real:
existem funções complexas multivaloradas, ou seja, funções em que um elemento do domínio
corresponde a mais de um elemento do contradomínio. Como exemplo de função complexa
multivalorada, tem-se ( ) √ , que leva para cada valor do domínio valores do
contradomínio. Pode-se comprovar facilmente este fato através do algoritmo da raiz n-ésima de
um número complexo: √ √ 0 . / . /1, onde e .
O método para encontrar raízes de funções complexas consiste em encontrar os zeros
das partes real e imaginária, separadamente, e então determinar a intersecção entre estes dois
conjuntos. Neste conjunto a função estudada zerará simultaneamente suas partes real e
imaginária, e, portanto, será igual a zero. As partes real e imaginária de uma função de uma
variável complexa sempre serão superfícies dependentes de e . Graficamente, ao encontrar
os zeros destas duas partes separadamente, estamos encontrando as curvas de nível zero das
superfícies correspondentes, ou seja, todos os pontos do domínio cuja imagem vale zero. A
partir daí o trabalho se resume a encontrar o conjunto de pontos resultante da intersecção entre
as duas curvas de nível, e então se terá encontrado as raízes da função complexa estudada.
O mapeamento complexo é um método de estudo das funções de variáveis complexas
criado por Bernhard Riemann, que consiste em escolher um conjunto de pontos e aplicá-los à
função complexa escolhida, o que resultará no conjunto de pontos do contradomínio. Dessa
forma, é possível aplicar figuras geométricas planas abertas e fechadas às funções complexas e
analisar as deformações causadas pela função. Com isso pode-se ter uma ideia de como a função
age no plano complexo como um todo.
Embora as funções lineares sejam a classe mais simples de funções, ao trabalhar-se de
nota-se a presença de muitos pormenores. Analogamente a uma função linear real,
considera-se ( ) como o caso geral de uma função linear complexa:
( ) ( ) ( ) (1)
onde .
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O estudo dessa classe de funções se limita a estudar a relação entre as constantes
e o comportamento do plano complexo. Desenvolvendo a Equação (1) chega-se à
conclusão de que as partes real e imaginária de ( ) são planos em :
( ) ( ) ( ) ( )
Mas então se pode afirmar que as partes real e imaginária do termo independente
correspondem, respectivamente, aos termos independentes dos planos , ( )- e , ( )-, ou
seja, os valores onde os planos interceptam o eixo das cotas. Escrevendo as equações do plano:
{
Nota-se que os vetores ortogonais aos planos são, respectivamente ⃗ ( )e
⃗ ( ). Portanto, os termos da constante dizem respeito à angulação dos planos
em relação a , uma vez que fixam a direção e o sentido dos seus vetores ortogonais.
Os demais casos podem ser considerados casos particulares desse primeiro
desenvolvimento. No caso de um coeficiente linear real ou imaginário puro a diferença é que o
valor de ou é nulo, e assim os planos , ( )- ou , ( )-, respectivamente, interceptam o
eixo das cotas na origem. De forma semelhante, quando o coeficiente angular é real ou
imaginário puro se tem ou , o que os transforma em planos mais simples:
{ ,
ou
{ , .
√ √
Toma-se a função ( ) . / como exemplo. Suas partes real e imaginária
√ √ √
são as superfícies correspondentes às funções , ( )- e , ( )-
√
, apresentadas na Figura 1.
√ √
FIGURA 4. Mapeamento de ( ) . / através (a) da reta e (b) de um quadrado de lado
igual a dois e centro na origem. Destacado em (a) o ponto em vermelho , que gera
√ √
o ponto √ , representado em laranja, e em preto a constante de rotação .
Entre as possíveis variações nos coeficientes, uma delas é de grande importância:
( ) . Aparentemente é um dos casos mais simples de função linear complexa, já
que seu coeficiente angular é real e seu coeficiente linear é nulo. Esse tipo de função é
conhecida como função dilatação, pois possui a propriedade de expandir o plano complexo em
todas as direções. Pode-se entender a relação entre as funções complexas e o plano complexo da
seguinte forma: é como se o plano complexo fosse uma malha totalmente flexível, e a função
fosse uma força agindo sobre essa malha. No caso da função dilatação, é como se essa malha
fosse esticada em todas as direções até que uma área qualquer dessa malha atinja vezes sua
área inicial. Em particular, quando a constante de dilatação estiver no intervalo , ter-
se-á uma contração do plano complexo.
Um exemplo de função dilatação é ( ) . A cada valor de aplicado a essa
função, suas partes real e imaginária são aumentadas em quatro vezes, causando a tal dilatação.
Isso pode ser observado na Figura 1, que apresenta uma circunferência de centro na origem e
raio um e a região descrita pelo conjunto de pontos ( )
aplicadas à função ( ) , que gera as figuras em vermelho. Isso aumenta a área em questão
em vezes.
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(a) (b)
FIGURA 1. (a) Uma circunferência de centro na origem e raio um e (b) a região descrita pelo conjunto de
pontos ( ) , ambos em azul, aplicados à função ( ) ,
que gera as figuras em vermelho.
( )
, ( )-
ou então .
Nota-se que o conjunto correspondente à curva de nível zero da parte real de ( ) é
uma hipérbole, e da parte imaginária de ( ) são duas retas. Sabe-se que a interseção entre
esses dois conjuntos de pontos resulta nas raízes da função complexa quadrática. É interessante
notar que o conjunto das raízes da parte imaginária apenas pode variar no valor constante de
para a reta , enquanto que a hipérbole varia no sentido de ter seus focos contidos em
ou em . Esses possíveis casos ocorrem pela variação do sinal de : quando
continua-se com o padrão . / , porém quando ,
ter-se-á uma inversão dos sinais: . / . Essa alteração dos sinais causa um
incremento angular de 90 graus à reta que contém os focos da hipérbole, fazendo com que se os
focos estivessem contidos no eixo das abcissas, passariam a estar contidos numa reta ortogonal
a este. Analisando a equação da hipérbole mencionada anteriormente, pode-se concluir que
quando seus focos estarão contidos no eixo real. Dessa forma, sua intersecção com a reta
resulta em raízes reais. Quando , seus focos estarão contidos na reta e sua
interseção com a mesma resultará em raízes complexas, uma vez que nesse caso
obrigatoriamente . Ambos os casos podem ser notados geometricamente na Figura 5.
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ou
√ √
Nota-se, do primeiro caso, que quando , ou seja, quando é real, a função se torna
uma função quadrática real com os mesmos coeficientes da função complexa. Para se ter uma
raiz nessas condições deve-se ter obrigatoriamente os focos da hipérbole sob a reta , o que
implica . No segundo caso, para se ter uma intersecção os focos da hipérbole devem estar
sob a reta , o que implica . Portanto todo
√
√
{
é raiz de ( ) . Nota-se que independente do valor do discriminante pode-se
assumir a primeira solução: quando delta for negativo naturalmente se chegará ao segundo caso.
Toma-se agora como exemplo a função quadrática ( ) . Mas então
, ( )- e , ( )- , o que resulta nos conjuntos
*( ) | ( ) + e *( ) | ou + que são,
respectivamente, as raízes das partes real e imaginária. Observa-se que o conjunto A de pontos
que zeram a parte real da nossa função descreve uma hipérbole, enquanto o conjunto B descreve
duas retas no plano complexo. A intersecção entre esses dois conjuntos, que descreve os zeros
da função quadrática complexa, é dada pelo conjunto * +. Geometricamente é
possível enxergar esses três conjuntos de pontos e outros aspectos das partes real e imaginária
da função estudada nas Figuras 6, 7 e 8. Em especial na Figura 8 pode-se notar o caso particular
da função quadrática real.
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(a) (b) (c)
REFERÊNCIAS
ÁVILA, Geraldo S. S. Funções de uma variável complexa. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos Editora S.A., 1974.
CAIN, George. Funções de Variáveis Complexas - Curso de Especialização. Georgia Tech –
USA, 2004. Disponível em:
<http://igm.mat.br/cursos/variavel_complexa/programa_variaveis_complexas.htm>.
CHURCHILL, Ruel V. Complex Variables and Applications. New York: McGraw-Hill Book
Company, 1960.
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN. Análise Superior. Lisboa: FCG, 2000.
PISKUNOV, Nikolai. Cálculo Diferencial e Integral. São Paulo: Edições Cardoso, 1965.
ZILL, Dennis G.; SHANAHAN, Patrick D. Análise Complexa com Aplicações. São Paulo:
Grupo Editorial Nacional, 2006.