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Biotecnologia
Biotecnologia
Nova tecnologia
no combate ao
Entrevista
“mal da vaca louca”
Metodologia detecta proteínas na ração e evita a contaminação de animais
Entrevista concedida a
Maria Fernanda Diniz
Prezados Leitores,
ISSN 1414-4522
Conselho Científico
Dr. Aluízio Borém - Genética e Melhoramento Vegetal
Colaboraram nesta edição:
Dr. Henrique da Silva Castro - Saúde;
Dr. Ivan Rud de Moraes - Saúde - Toxicologia; Adriano Luiz Tonetti, Alessandra Pereira Fávero, Alexandre
Dr. João de Deus Medeiros - Embriologia Vegetal; Patto Kanegae, Ana Paula Pacheco Clemente, Anderson
Dr. Naftale Katz - Saúde; Kurunczi Domingos, Antonio Costa de Oliveira, Bruno
Dr. Pedro Jurberg - Ciências; Coraucci Filho, Carla M. Y. Lemos, Celso Omoto, David
Dr. Sérgio Costa Oliveira - Imunologia e Vacinas; John Bertioli, Eleni Gomes, Eliane Cristina Gruszka
Dr. Vasco Ariston de Carvalho Azevedo - Genética de Microorganismos; Vendruscolo, Elza Fernandes de Araújo, Enio Luiz Pedrotti,
Dr. William Gerson Matias - Toxicologia Ambiental. Erica Fuchs, Everaldo Gonçalves de Barros, Fábio Rueda
Faucz, Fernando Irajá Félix de Carvalho, Francismar Corrêa
Conselho Brasileiro de Fitossanidade - Cobrafi Marcelino, Gabrielle Mouco, Gaspar Malone, Gláucia Maria
Dr. Luís Carlos Bhering Nasser - Fitopatologia Pastore, Helena Maria Wilhelm, Jorge Fernando Pereira,
José Fernandes Barbosa Neto, Juliana Oliveira Lima, Karina
Fundação Dalmo Catauli Giacometti Proite, Karla Thomas Kucek, Luiz Pereira Ramos, Maira
Dr. Eugen Silvano Gander - Engenharia Genética; Jardim Bernardino, Marcio Antônio Silva Pimenta, Márcio
Dr. José Manuel Cabral de Sousa Dias - Controle Biológico; de Carvalho Moretzsohn, Márcio Nitschke, Marcos Barros
Dra. Marisa de Goes - Recursos Genéticos de Medeiros, Maria Fernanda Diniz, Maria José Araújo
Wanderley, Marisa Vieira de Queiroz, Marta Fonseca
Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - IPEN Martins, Maurílio Alves Moreira, Melânia Lopes Cornélio,
Dr. José Roberto Rogero Monita Fiori de Abreu, Patrícia Messenberg Guimarães,
Paulo Alves Wanderley, Paulo Dejalma Zimmer, Paulo
Sociedade Brasileira de Biotecnologia - SBBiotec Henrique Machniewicz, Pilar Ximena Lizarazo Medina,
Dr. Luiz Antonio Barreto de Castro - EMBRAPA Ricardo Antonio Polanczyk, Roberto da Silva, Rodrigo
Dr. Diógenes Santiago Santos - UFRGS Barros Rocha, Ronaldo Stefanutti, Rubens Onofre Nodari,
Dr. José Luiz Lima Filho - UFPE Samuel Martinelli, Sérgio Batista Alves, Soraya Cristina
Dra. Elba P. S. Bon - UFRJ Leal-Bertioli, Valdir Marcos Stefenon.
Entrevista
Nova tecnologia no combate ao “mal da vaca louca” 2
Pesquisa
Silenciamento Gênico e Transgênicos 8
Detecção de resíduos de transgênicos em grãos e produtos derivados 14
Bacillus thuringiensis no Manejo Integrado de Pragas 18
Biodiesel 28
Biofertilizantes Líquidos 38
Iniciativas Genômicas 45
Associação de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 53
Biosurfatantes a partir de resíduos agroindustriais 63
Controle de qualidade de ervas medicinais 68
Nitrato Redutase em Fungos Filamentosos 74
Glucoamilase:Estrutura e termoestabilização 86
Marcadores Moleculares no Melhoramento Genético de Araucária 95
Micropropagação de Macieira 100
Método Alternativo de Tratamento de Esgotos 109
Amendoim Selvagem 116
Bioética 120
Silenciamento Gênico
Pesquisa
e Transgênicos
Importância, mecanismos e modelos do silenciamento gênico
Francismar Corrêa Marcelino Mais de 58 milhões de hectares são análises tem sido demandada por em-
Mestre em Genética Molecular, Laboratório
de Análises Genéticas - AgroGenética
cultivados atualmente no mundo com presas exportadoras de grãos de soja e de
eg34680@vicosa.ufv.br espécies transgênicas, sendo a soja, o produtos derivados. Esses produtos são
milho, o algodão e a canola, as principais exportados, na maioria, para a Europa,
Marta Fonseca Martins delas. Os países com as maiores áreas Japão e Coréia. Já antevendo esse cená-
Doutora em Genética Molecular, Laboratório cultivadas com transgênicos são, nesta rio, a Universidade Federal de Viçosa
de Análises Genéticas - AgroGenética
mmartins@tdnet.com.br
ordem, os Estados Unidos, a Argentina, o (UFV), por intermédio do Instituto de
Canadá e a China. Estes países respondem Biotecnologia (BIOAGRO), desenvolveu
Marcio Antonio Silva Pimenta
por cerca de 99% da área total plantada e otimizou metodologias baseadas na
Doutor em Genética Molecular, com cultivos transgênicos. O cultivo de técnica de PCR (Polymerase Chain
Universidade Federal de Viçosa plantas geneticamente modificadas vem Reaction) para determinar a presença e
marciopimenta@vicosa.ufv.br
crescendo rapidamente em vários países, quantificar resíduos de transgênicos em
inclusive no Brasil, onde no mês de amostras de DNA extraídas de grãos,
Maurilio Alves Moreira
PhD, Bioquímica & Genética de Plantas,
setembro foi aprovado, embora com res- bem como de seus produtos derivados.
Universidade Federal de Viçosa trições, o plantio de soja transgênica para Recentemente, a AgroGenética, labora-
moreira@ufv.br o ano agrícola 2003/2004 (Medida Provi- tório incubado na Incubadora de Empre-
sória 131, de 25 de setembro de 2003). sas de Base Tecnológica da UFV, foi
Everaldo Gonçalves de Barros A demanda por análises da presen- credenciado junto ao Ministério da Agri-
PhD, Biologia Molecular de Plantas,
Universidade Federal de Viçosa
ça de resíduos de transgênicos em maté- cultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
ebarros@ufv.br rias-primas e em alimentos tem aumenta- - Portaria Nº 27, de 15 de maio de 2003,
do significativamente no Brasil, nos últi- para a “detecção de modificação genéti-
Ilustrações cedidas pelos autores
mos dois anos, principalmente após a ca em produtos de origem vegetal”.
comprovação do cultivo ilegal da soja As modificações genéticas intro-
transgênica, resistente ao herbicida duzidas que derivam os organismos
glifosato, destacadamente no estado do geneticamente modificados (OGMs)
Rio Grande do Sul, com sementes prove- podem ser produzidas por pelo me-
nientes da Argentina. A maior parte das nos três metodologias:
Tabela 1. Número de iodo e composição química em ácidos graxos de alguns dos principais óleos vegetais
e gorduras animais disponíveis para a produção de biodiesel (adaptado de Alsberg e Taylor, 1928).
Número Principais Ácidos Graxos
Fonte
de I odo Láurico Mirístico Palmítico Esteárico Oléico Linoléico Linolênico
Sebo bovino 38-46 - 2,0 29,0 24,5 44,5 - -
Banha (suínos) 46-70 - - 24,6 15,0 50,4 10,0 -
Côco 8,10 45,0 20,0 5,0 3,0 6,0 - -
Oliva 79-88 - - 14,6 - 75,4 10,0 -
Amendoin 83-100 - - 8,5 6,0 51,6 26,0 -
Algodão 108-110 - - 23,4 - 31,6 45,0 -
Milho 111-130 - - 6,0 2,0 44,0 48,0 -
Flax 173-201 - 3,0 6,0 - - 74,0 17,0
Soja 137-143 - - 11,0 2,0 20,0 64,0 3,0
2 - Biofertilizantes líquidos
e sua aplicação na
proteção de plantas
7 - Referências
bibliográficas
Paulo Dejalma Zimmer, Dr. melhoramento ge- caracterizadas por solos hidromórfi-
Professor do Departamentode de Fitotecnia
FAEM / UFPel nético de plantas cos, que têm o seu sistema agrícola
djzimmer@ufpel.tche.br tem contribuído de alicerçado na pecuária extensiva e
forma decisiva para no plantio do arroz irrigado. A ex-
Gaspar Malone o incremento da ploração inadequada dessa região,
Doutorando do Programa de Pós Graduação em
Ciência e Tecnologia de Sementes / FAEM / UFPel produção mundial possivelmente associada às dificul-
malone@gaspar.com.ar de grãos (BORLAUG, 1983). Entre- dades operacionais, não tem permi-
tanto, a necessidade e os desafios tido uma apropriada rotação de cul-
Fernando Irajá Félix de Carvalho, PhD.
Professor do Departamento de Fitotecnia
para as próximas duas décadas são turas nem o requerido tempo de
FAEM / UFPel imensos, o ganho genético para a pousio, o que favorece a infestação
carvalho@ufpel.tche.br
produtividade está se reduzindo a da cultura por espécies daninhas,
cada ano e já não acompanha mais o principalmente o arroz vermelho. A
José Fernandes Barbosa Neto, PhD.
Professor do Departamento de Plantas de Lavoura aumento da demanda por alimentos degradação das características físi-
Faculdade de Agronomia / UFRGS (BORLAUG, 1997; MANN, 1997 e cas do solo provocada pela intensa
jfbn@ufrgs.br
1999). Atualmente, grandes esfor- movimentação de máquinas e equi-
ços estão sendo direcionados no pamentos extremamente pesados
Antonio Costa de Oliveira, PhD.
Professor do Departamento de Fitotecnia sentido de elucidar o potencial ge- também impõe a necessidade de
FAEM / UFPel nético das espécies cultivadas, pousio (Figura 1).
acosta@ufpel.tche.br
objetivando incrementar a produti- Dessa forma, extensas áreas
Ilustrações cedidas pelos autores vidade e a qualidade. Para o lança- estão sendo inviabilizadas a cada
mento de novos cultivares que aten- ano, tornando-se, muitas vezes, ex-
dam à demanda crescente por ali- tremamente árdua a sua recupera-
mentos, os programas de melhora- ção. A busca de alternativas para
mento de plantas necessitam de gran- compor o sistema agrícola regional
des mudanças, principalmente no tem motivado iniciativas importan-
que tange à estrutura, à estratégia e tes nas Universidades Federais de
à própria ciência envolvida (STUBER Pelotas e do Rio Grande do Sul
et al., 1999; KOORNNEEF & STAM, (UFPel e UFRGS) e na Embrapa
2001). Além do foco na qualidade e Clima Temperado (PORTO et al.,
na produtividade, o melhoramento 1998). A inclusão de novas cultu-
genético também pode ser direcio- ras, como a aveia, o milho e o
nado no sentido de aumentar a adap- azevém, no sistema agrícola das
tabilidade das espécies. Essa tam- áreas de várzea tem recebido aten-
bém pode ser considerada uma for- ção especial, porém a simples in-
ma de incrementar a produção de trodução de genótipos não é sufici-
alimentos, pois áreas marginais po- ente para a correção, em função da
dem ser incorporadas ao sistema inexistência de constituições gené-
produtivo mediante o desenvolvi- ticas adaptadas à condição de en-
mento de genótipos adaptados. No charcamento dos locais. Desse
Sul do Brasil, há cerca de 6,8 mi- modo, há uma grande demanda por
lhões de hectares de terras baixas, iniciativas voltadas para a geração
direção da nitrito redutase. Essa orga- A. Essa organização é encontrada em Regulação do gene da
nização é encontrada em A. nidulans, H. cylindrosporum (Jargeat et al., nitrato redutase
A. niger, A. parasiticus, A. fumigatus 2003). No grupo C, os genes da nitrato
e P. chrysogenum (Johnstone et al., e da nitrito redutase estão ligados, são As maiores contribuições para o
1990; Unkles et al., 1992; Chang et al., transcritos na mesma direção, mas o conhecimento da regulação do meta-
1996; Amaar e Moore, 1998; Haas e gene do transportador não está liga- bolismo do nitrogênio em fungos
Marzluf, 1995). O tamanho da região do, como é observado em L. maculans filamentosos baseiam-se nos traba-
intergênica é de 1.262 pb em A. e S. nodorum (Williams et al., 1994; lhos realizados com os organismos A.
nidulans (Johnstone et al., 1990), 1.668 Cutler e Caten, 1999). O tamanho da nidulans e Neurospora crassa
pb em A. niger (Unkles et al., 1992), região intergênica é de 1.438 pb em L. (Caddick et al., 1994; Marzluf, 1997),
1.670 pb em A. parasiticus (Chang et maculans (Williams et al., 1994) e 829 sendo que, nos últimos anos, estudos
al., 1996), 1.229 pb em A. fumigatus pb em S. nodorum (Cutler e Caten também têm sido relatados para ou-
(Amaar e Moore, 1998) e 661 pb em P. 1999). No grupo D, apesar da posição tras espécies como, por exemplo,
chrysogenum (Haas e Marzluf, 1995). do transportador ainda não ter sido Penicillium chrysogenum (Haas e
No grupo B, os três genes também determinada, os três genes não pare- Marzluf, 1995; Haas et al., 1996).
estão ligados, mas o gene do transpor- cem estar ligados, como ocorre em A utilização de fontes de nitrogê-
tador está entre os genes da nitrato e Neurospora crassa (Exley et al., 1993) nio secundárias é controlada de ma-
da nitrito redutase, sendo transcritos e em Gibberella fujikuroi (Tudzynski neira positiva e negativa, existindo
na mesma direção descrita no grupo et al., 1996). um sistema de controle global e um
sibilite a célula de expressar a enzima (cnxA-J), que, não estando presente, obtenção das colônias resistentes ao
nitrato redutase; (iii) mutação no gene torna ineficazes a enzima nitrato clorato, é necessário fazer uma dis-
do regulador geral da assimilação de redutase e outras enzimas depen- criminação do fenótipo mutante por
nitrogênio (areA), que também im- dentes desse cofator; e (v) mutação meio de um fácil teste de crescimen-
possibilite a célula de expressar a no próprio gene da nitrato redutase to em meio mínimo contendo as
enzima nitrato redutase; (iv) muta- (niaD), impossibilitando a célula de seguintes fontes de nitrogênio: nitra-
ção em algum gene envolvido na sintetizar essa enzima (Cove, 1976; to, nitrito, hipoxantina, glutamato e
biosíntese do cofator molibdênio Cove, 1979). Dessa forma, após a amônio . O crescimento ou não nes-
Tabela 1 - Testes de crescimento de mutantes resistentes ao clorato, em diferentes fontes de nitrogênio.
Designação Testes de crescimento
Mutação
do mutante* Clorato Nitrato Nitrito Hipoxantina Glutamato Amônio
Nenhuma Selvagem - + + + + +
Nitrato redutase n iaD + - + + + +
Regulador específico n irA + - - + + +
Cofator molibdênio cn xA-J + - + - + +
Regulador geral areA + - - - - +
Permease crn A + + + + + +
* denominação dos genes para Aspergillus n idulan s; + indica crescimento e - indica ausência de crescimento.
Figura 1. Imagem da estrutura estendida da glucoamilase de Aspergillus niger idêntica a glucoamilase de Aspergillus awamori.
No lado esquerdo o domínio catalítico (DC), ao centro o filamento ligante ou “linker” (L) e à direita o domínio de ligação ao
substrato (amido) (DLS).
http://nte-serveur.univ-lyon1.fr/nte/heyde/www.public.iastate.edu/_pedro/glase/glase.html (10/10/03)
a 95°C por 2 horas, usando a a- endoplasmático (RE). Durante o sub- competente) é a GAII resultante da
amilase bacteriana termoestável, em seqüente processo de dobramento, perda do sítio de ligação ao substrato
pH 6.0-6.5. Finalmente, o amido ocorre a O-glicosilação do “linker”, localizado na extremidade C-termi-
liquefeito é resfriado a 60°C e filamento que liga o domínio catalítico nal. A GAII é uma mistura de
hidrolisado por mais 48 a 72 horas (CD) ao domínio de ligação ao subs- polipeptídeos de tamanhos entre 512
usando a glucoamilase (James e Lee, trato (DLS), e pontes dissulfetos são e 514 resíduos de aminoácidos, com
1997, Brumm, 1998). Está claro que formadas (Pryer et al, 1992; Gaut e atividade catalítica normal mas sem a
a termoestabilidade da glucoamila- Hendershot, 1993). Assim, a GA, na habilidade para se ligar ao amido no
se determina a velocidade do pro- sua conformação nativa estendida, estado natural, não gelatinizado
cesso como um todo. Trabalhar em assume uma forma de alteres, onde (Svensson et al., 1986).
altas temperaturas não apenas pode dois domínios volumosos, o domínio As proteínas originais de
acelerar a taxa da reação e conse- catalítico e o domínio de ligação ao Aspergillus niger e Aspergillus
quentemente diminuir o tempo do amido, estão ligados por um filamento awamori, cujas seqüências são idên-
processo, como também pode pre- fino como mostra a figura 1. Esta é ticas (Svensson et al., 1989; Nunberg
venir a contaminação microbiológi- uma imagem simplificada ilustrativa, et al., 1984), consistem de três prin-
ca, além de reduzir a viscosidade da uma vez que a estrutura real da GA cipais áreas funcionais (Coutinho e
mistura de reação. Portanto, o de- completa ainda não está disponível. Reilly, 1994 a-b, Coutinho e Reilly,
senvolvimento de uma glucoamila- A organização dos domínios da mo- 1997): (1) o domínio catalítico, cons-
se mais termoestável poderá contri- lécula tem sido deduzida através das tituído dos resíduos 1 ao 440, (2) o
buir para a otimização do processo diferentes técnicas biofísicas e rela- filamento ligante, formado pelos re-
de sacarificação do amido. Entretan- tos disponíveis (Coutinho, 1997; síduo 441 ao 512, que é altamente O-
to, o conhecimento da estrutura da Sauer, 2000). glicosilado, e (3) um domínio de
proteína e o processo de termoinati- As inúmeras proteínas desdo- ligação ao amido no estado natural
vação da enzima são necessários bradas, que entram no lúmem do RE, na extremidade C-terminal, conten-
para elaboração de prognósticos ra- devem ser protegidas de quaisquer do os resíduo 513 a 616 (Svensson et
cionais e planos efetivos de experi- agressões e serem mantidas em um al., 1986; et al., 1989). Além da região
mentos de estabilização da estrutura estado de dobramento-competente. de O-glicosilação do “linker”, dois
proteica. Dobramentos ineficientes ou muta- outros sítios de N-glicosilação estão
A glucoamilase de Aspergillus é ções em proteínas secretadas resul- localizados nos resíduos Asn 171 e
codificada por um único gene, mas tam em enzimas com conformação Asn 395 (Svensson et al., 1989; Aleshin
existem duas ou três formas variáveis incorreta e defeito na atividade et al., 1992). Acredita-se que os resí-
da enzima produzidas por proteólise (Bonifacino e Klausner, 1994). duos de carboidratos desempenham
limitada (Svensson et al., 1986). Pazur Em Aspergillus awamori, o gene uma importante função na estabiliza-
et al (1971) constatou que as formas codifica uma GAI de tamanho com- ção da glucoamilase (Manjunath et
da glucoamilases de Aspergillus niger pleto contendo de 615 a 616 resíduos al.,1983, Svensson et al.,1989;
são glicoproteinas que possuem quan- de aminoácidos (figura 2), bem como Williamson et al., 1992a). Em altas
tidades diferentes de glicosilações. o peptídeo sinalizador de secreção temperaturas, a GA de A. niger, qui-
Como em outras proteínas, após a no N-terminal. O peptídeo sinalizador micamente desglicosilada, (Shenoy
síntese no citoplasma, a GA é trans- é cortado após a secreção da proteí- et al., 1984) e a glucoamilase de A.
portada em um estado desdobrado na pela célula. O outro maior produ- awamori, geneticamente truncada,
através da membrana do retículo to de proteólise da GAI (diz-se da GA sem parte da região de O-glicosilação
Valdir Marcos Stefenon Introdução 2000; Auler et al., 2002), fato que
Biólogo – Mestre em Biotecnologia inviabiliza a regeneração natural da
Depto. de Ciências Biológicas e da Saúde – UNIPLAC
gene_mol@hotmail.com
A exploração florestal foi uma espécie, devido à endogamia acentu-
importante alavanca para o desenvol- ada e à redução do fluxo gênico entre
Rubens Onofre Nodari vimento econômico do Sul do Brasil suas populações.
Eng. Agrônomo – Doutor em Genética
Departamento de Fitotecnia – CCA – UFSC desde o início do século XX, com Nos últimos anos, diversas dis-
intensidade crescente nas décadas de cussões a respeito desse tema vêm
Ilustrações cedidas pelos autores 1950 a 1970 (Guerra et al., 2002). apontando para a necessidade de se
A principal espécie explorada nes- desenvolver o melhoramento genéti-
se ciclo foi a Araucaria angustifolia co dessa conífera, com vista a regene-
(Bert.) O. Ktze., única representante rar a Floresta de Araucária e discipli-
da Família Araucariaceae no Brasil e nar os plantios com finalidade lucra-
principal espécie que compõe a flo- tiva, seja pela exploração da madeira,
resta ombrófila mista ou mata de seja pela venda das sementes comes-
araucária (Guerra et al., 2002). No tíveis ou de outros subprodutos.
Brasil, a distribuição natural dessa Entretanto, antes de os progra-
espécie se dá em amplas áreas nos mas de melhoramento genético serem
estados do Rio Grande do Sul, Santa implementados, é necessário que se
Catarina e Paraná, e em alguns pontos conheça a diversidade genética exis-
mais elevados de São Paulo, Rio de tente entre as populações remanes-
Janeiro e Minas Gerais (Reitz e Klein, centes e dentro delas. Esses estudos
1966). são importantes para que se interprete
Todavia, a alta qualidade de sua o efeito da fragmentação dos rema-
madeira para os mais diversos fins, nescentes sobre a estrutura genética
desde a construção civil até a produ- das populações: informação essencial
ção de celulose e de papel, fez com para o planejamento de programas de
que essa espécie fosse exaustivamente melhoramento.
explorada, tendo como conseqüência Esse conhecimento, além de re-
uma drástica redução das grandes re- duzido, tem sido produzido basica-
servas de A. angustifolia no sul do país. mente a partir de marcadores morfo-
Além dessa exploração desor- lógicos (Shimizu e Higas, 1980;
dena-da, o avanço das fronteiras agrí- Monteiro e Spelz, 1980; Kageyama e
colas foi outro fator responsável pela Jacob, 1980) e isoenzimas (Shimizu et
redução das populações naturais des- al., 2000; Auler et al., 2002; Mantovani
sa importante espécie florestal. et al., 2002).
Em função desses acontecimen- Considerando a utilização de mar-
tos, a araucária encontra-se hoje na cadores RAPD (Williams et al., 1990;
Lista Oficial de Flora Ameaçada de Welsh e McClelland, 1990) e AFLP
Extinção (IBAMA, 2002) e os rema- (Vos et al., 1995) para estudos genéti-
nescentes de floresta ombrófila mista cos em diversas espécies florestais, o
estão reduzidos a fragmentos isolados objetivo deste estudo foi determinar a
de diversos tamanhos. capacidade informativa desses marca-
Em alguns desses fragmentos, es- dores para a caracterização da diver-
tima-se que grande parte da diversida- sidade genética de populações natu-
de genética tenha sido perdida (Schögl, rais de A. angustifolia.
Caracterização da
Diversidade Genética e
Capacidade Informativa
Os índices de diversidade esti-
mados foram: a similaridade genética,
o número médio de bandas, a porcen-
tagem de bandas polimórficas e a
diversidade genética. Os padrões de Figura 2: Dendrograma de similaridade genética entre indivíduos, estimado pelo
bandas obtidos com os marcadores índice de Jaccard para a população de A. angustifolia do Parque Ecológico Municipal
RAPD e AFLP foram analisados e para de Lages, gerado a partir de 18 marcadores RAPD (r=0,83).
eles construiu-se uma matriz binária,
que identificava sua presença ou sua 1970). Como ambos os marcadores Resultados e Discussão:
ausência, codificadas por 1 ou 0, res- apresentam característica dominante,
pectivamente. A partir dessa matriz considerou-se cada banda amplificada A partir dos seis iniciadores utili-
de dados, com o auxílio do software como sendo um loco com dois alelos, zados para as reações RAPD, foram
NTSYS-pc 2.02 (Rohlf, 1990), foi de- presente ou ausente no gel. obtidos dezoito marcadores polimórfi-
terminado o índice de similaridade Para determinar a capacidade in- cos, de um total de 62 bandas
genética de Jaccard entre os indivídu- formativa dos marcadores RAPD e amplificadas, com uma média de 11,16
os e pelo método de agrupamento AFLP, foram utilizados para a compa- bandas amplificadas por iniciador. A
UPGMA (método das médias das dis- ração dados gerados a partir de mar- média de bandas polimórficas foi de
tâncias), foram gerados, separadamen- cadores isoenzimáticos (Auler et al., 3,0 por iniciador, com uma porcenta-
te e de maneira agrupada, os 2002) e PCR-RFLP (Schögl, 2000) pro- gem média de 26,9%. O índice de
dendrogramas para marcadores RAPD venientes da mesma população. Devi- diversidade de Shannon foi igual a 0,53
e AFLP. Para determinação da diversi- do à diferente natureza dos marcado- (Tabela 1). A figura 1 apresenta o
dade genética, foi utilizado o índice res, o índice de diversidade de padrão de bandas obtido com o inici-
de Shannon, dado pela fórmula H= - Shannon foi determinado para todos ador OPA04, para reações RAPD.
Σ pi ln(pi), onde pi corresponde à os dados e usado como parâmetro de As sete combinações emprega-
freqüência de cada alelo (Lewontin, comparação. das para as reações AFLP revelaram 62
Tab ela 1: In iciad o res u tilizad o s n as reaçõ es R A P D e respectivo s ín d ices d e d iversid ad e gen ética para a
po pu lação d e A . an gu stifo lia d o P arq u e E co ló gico Mu n icipal d e Lages.
Nú mero to tal Ban d as po lifó rmicas Ín d ice d e
In iciad o res
d e b an d as Qu an tid ad e % d iversid ad e (H)
OPA4 12 03 25,0% 0,58
OPA9 13 02 15,4% 0,59
OPA17 06 01 16,7% 0,58
OPC6 09 03 33,3% 0,52
OPF16 13 05 38,5% 0,56
OPAN15 09 04 44,4% 0,43
Méd ias para marcad o res R A P D 11,16 3,0 26,9 % 0,53
Tab ela 2: C o mb in açõ es d e in iciad o res u tilizad o s n as reaçõ es A FLP e respectivo s ín d ices d e d iversid ad e
gen ética para a po pu lação d e A . an gu stifo lia d o P arq u e E co ló gico Mu n icipal d e Lages.
Nú mero to tal Ban d as po limó rficas Ín d ice d e
In iciad o res d e b an d as d iversid ad e (H)
Qu an tid ad e %
E-AGC + M-CAC 90 4 4,4% 0,65
E-ACT + M-CAA 100 10 10,0% 0,45
E-ACA + M-CTT 60 3 5,0% 0,68
E-ACG + M-CAG 100 21 21,0% 0,55
E-AAG + M-CTG 80 6 7,5% 0,56
E-ACC + M-CAT 105 7 6,6% 0,55
E-ACC + M-CAC 90 11 12,2% 0,50
Méd ias para marcad o res A FLP 89,3 8,8 9,8% 0,54
Tab ela 3: Méd ias para o s ín d ices d e d iversid ad e gen ética estimad o s para a po pu lação d e A . an gu stifo lia
d o P arq u e E co ló gico Mu n icipal d e Lages, a partir d e marcad o res R A P D e A FLP.
Nú mero to tal Ban d as po limó rficas Ín d ice d e
Marcad o res
d e b an d as Qu an tid ad e % d iversid ad e (H)
Médias para marcadores RAPD 11,16 3,0 26,9% 0,53
Médias para marcadores AFLP 89,3 8,8 9,8% 0,54
Méd ias R A P D + A FLP 52,8 6,15 11,6% 0,54
Figura 5.: Desenho esquemático da metodologia de aclimatização de plantas micropropagadas (Pedrotti, 1993).
A e B: Indução ao enraizamento in vitro.
C: Indução ao enraizamento ex vitro.
D: Início do processo de aclimatização.
E: Plantas sendo mantidas em sala com nebulização.
F: Fotoperíodo sendo mantido em 16 horas de luz para evitar a entrada em dormência.
G e H: Plantas transferidas à campo para completar o crescimento.
Resultados
pH
Demanda Bioquímica de
Oxigênio - DBO
Nitrogênio
Coliformes Totais
Agradecimentos
Referências Bibliográficas
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Tab ela 3: R emo ção méd ia d a co n cen tração d e C o lifo rmes To tais
OMS - ORGANIZAÇÃO MUN-
n o s filtro s b io ló gico s d e areia em cad a carga h id ráu lica.
DIAL DE SAÚDE. Directrices sa-
P o n to d e R emo ção d o s C o lifo rmes To tais (%)
nitárias sobre el uso de águas
C o leta 20 l/m2 40 l/m2 60 l/m2 80 l/m2 100 l/m2
F025 97,5 89,8 84,8 84,9 87,0 residuales en agricultura e
F050 99,9 99,2 98,0 87,4 96,3 aquicultura. Séries de reporta-
F075 100,0 99,9 99,4 99,5 97,0 gens técnicas. N 778. OMS, Gene-
F100 100,0 100,0 99,9 99,9 99,9 bra, 1989.
to que a maioria das espécies silvestres parental recorrente é mantido para os Para a implementação de um
é diplóide (apenas dois conjuntos de demais locos. Em cada geração são esquema efetivo de seleção assistida
cromossomos). Esta diferença de selecionadas as plantas que apresen- por marcadores em programas de
ploidia dificulta a introgressão de genes tam a característica de interesse a ser melhoramento genético, três reque-
dos parentes silvestres, uma vez que os introgredida, e as demais característi- rimentos são essenciais: (1) alguns
híbridos obtidos de maneira tradicio- cas do parental recorrente. Este pro- marcadores devem estar fortemente
nal são triplóides estéreis. Por isso, cesso de seleção, após a introgressão, ligados aos genes que controlam as
para obter híbridos férteis, necessita-se pode ser otimizado através da cons- características de interesse; (2) os
fazer cruzamentos entre espécies sil- trução de mapas genéticos e da iden- marcadores devem estar facilmente
vestres com genomas AA e BB. Os tificação de marcadores moleculares disponíveis para a análise de grandes
híbridos obtidos (AB) são então sub- fortemente associados aos genes de populações e (3) as técnicas utiliza-
metidos a tratamento com colchicina interesse. Desta forma, é possível, em das devem ser reproduzíveis entre
para duplicar o número de cromosso- cada fase de seleção, a escolha dos laboratórios e com baixo custo.
mos, obtendo-se, assim, anfidiplóides indivíduos que contenham o máximo
sintéticos (AABB), que, em princípio, de características do parental recor- Mapeamento comparativo:
são compatíveis com o amendoim cul- rente, diminuindo assim o tempo do Um atalho para um mapa
tivado. Estes híbridos são então cruza- processo de melhoramento. Isso é genético
dos com A. hypogaea dando continui- particularmente importante em pro-
dade ao programa de pré-melhora- gramas que visam à introgressão de Espécies de Arachis têm geno-
mento de Arachis. genes de resistência a pragas. Neste mas muito grandes. O genoma
Tradicionalmente, nos programas caso, a seleção indireta através de haplóide de Arachis hypogaea tem
de melhoramento de plantas que en- marcadores moleculares possibilita, aproximadamente 1,74 x 109 pares de
volvem hibridações seguidas de retro- além da redução de tempo, a identifi- bases. Isto dificulta a identificação e o
cruzamentos, grande parte do genoma cação e seleção de genótipos resisten- mapeamento direto de genes de inte-
da parental doadora é incorporada ao tes na ausência do patógeno e a resse. Uma outra espécie da família
genoma da planta receptora e, por transferência e manutenção de mais das leguminosas, Lotus japonicus, tem
isso, são necessárias várias gerações de um gene de resistência principal um genoma bem menor, tem um
para a eliminação gradual dos genes durante a seleção (piramidização de mapa genético de alta resolução já
indesejáveis, enquanto o genótipo do genes de resistência). disponível e os projetos de seqüenci-