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The Sea and Little Fishes

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By Terry Pratchett

O problema começou, e não pela primeira vez, com uma maçã.


Havia uma sacola cheia delas na esbranquiçada e impecável mesa de Vovó
Cera do Tempo.
Vermelhas,redondinhas,brilhantes e suculentas, se soubessem do futuro
teriam vindo tique-taqueando como uma bomba-relógio.
“Pode ficar com o saco todo, o Velho Hopcroft falou pra mim. Que eu
poderia pegar quantas quisesse “disse Tia Ogg.Ela deu um olhar meio de
esgueio para sua irmã Bruxa.“Tão meio enrugadas,mesmo assim tive que
pegar .”
“Ele deu o seu nome para um tipo de maçã? pra te homenagear?” disse
Vovó. Cada palavra era uma gota de ácido caindo no ar.
“Por causa das minhas bochechas rosadas, presumo eu,” disse Tia Ogg. “E
eu curei a perna dele depois que ele caiu daquela escada ano passado. E fiz
um pouco de ungüento pra careca dele."
“Que não funcionou, " disse Vovó. “Aquela peruca que ele usa, é uma coisa
terrível de se ver em um homem que ainda está vivo”
“Mas ele ficou contente que eu me interessei”
Vovó Cera do Tempo não tirava seus olhos de cima da sacola. Frutas e
vegetais cresciam vistosamente nos verões quentes e invernos frios nas
montanhas Ramtop. Percy Hopcroft era um premiado cultivador e
definitivamente um homem interessado no cultivo quando se tratava de
brincadeiras sexuais entre a horticultura com uma escova de cabelo de
camelo.
“Ele vende suas maçãs pelo país todinho,” Tia Ogg prosseguiu. “Engraçado
em pensar que muito em breve centenas de pessoas vão ter uma mordidinha
da Tia Ogg”
“Outras centenas” disse Vovó, azeda.A selvagem juventude de Tia Ogg era
um livro aberto,embora somente disponível em superfícies planas.
“Obrigado Esme”.Tia Ogg pareceu melancólica por um momento, e então
abriu a boca fingindo preocupação. “Oh, você não está com ciúmes está
Esme?Você não está invejando o meu pequeno momento de fama?”
“Eu?Invejando?Porque deveria estar com inveja?è só uma maça.Não tem
nada de importante."
“Foi o que eu pensei, é só um agradinho para alegrar uma velha
senhora”.disse Tia Ogg. “Então, como estão as coisas com você?”
“Bem,bem,”
“Colocou pra dentro sua madeira de inverno?”
“A maior parte,”
“Bom,” disse Tia Ogg. “Bom.”
Elas ficaram em silêncio.
Na vidraça uma borboleta, acordada pelo calor fora de época, bateu asas
num pequeno esforço para alcançar o sol de Setembro.
“Suas batatas...ja arrancou todas elas?”disse Tia Ogg.
“Sim.”
“A colheita foi boa esse ano.”
“Boa.”
“Tem salgado seus feijões?”
“Sim.”
“Espero que você esteja ansiosa pelas Olimpíadas na próxima semana?”
“Sim.”
“E espero que esteja treinando.”
“Não.”
Parecia à Tia Ogg, apesar da luz do sol, que as sombras estavam penetrando
nos cantos da casa.O próprio ar estava escurecendo.O chalé de uma Bruxa
fica sensível aos humores de seus ocupantes.
Mesmo assim,ela não pensou duas vezes e mergulhou de cabeça.Os Tolos se
apressam,mas eles são retardatários se comparados com velhinhas sem mais
nada pra fazer.
“Você vem pro jantar no sábado?”
“O quê vai ter?”
“Porco.”
“Com molho de maçã?
“Sim.”
“Não obrigada." disse Vovó.
Houve um rangido atrás de Tia Ogg.A porta se abriu.Alguém que não fosse
uma Bruxa teria racionalizado, teria dito que isso claramente era só o
vento.E Tia Ogg estava preparada para acreditar nisso também ,mas teria
adicionado, “Isso foi só o vento,e como será que o vento conseguiu levantar
o trinco?”
“Oh,bem,não dá pra ficar sentada aqui conversando o dia todo não é?”ela
disse,se levantando rapidamente.
“Sempre ocupada nessa época do ano não é mesmo?” disse Tia Ogg.
“Sim.”
“Então eu vou indo então”
“Até mais.”
O vento soprou batendo a porta novamente enquanto Tia Ogg seguia
caminho abaixo. Ocorreu a ela que possivelmente ela teria ido longe
demais.Mas só um pouquinho.O problema em ser uma Bruxa,pelo menos o
problema em ser uma Bruxa ao que concerne às pessoas normais,era que elas
ficavam presas na sua própria terra.Mas isso estava de bom tamanho pra
Tia Ogg.Tudo que ela queria estava ali. Tudo o que ela poderia um dia
querer estava ali, embora na sua juventude tenha faltado homens em alguns
momentos.Tudo bem visitar as Estranjas de vez em quando, mas isso não
era verdadeiramente “Real”.Lá eles tinham drinks diferentes e as lagartas
eram legais,mas o Estrangeiro era o lugar que você ia pra fazer o que
precisava ser feito e então você voltava pra cá,o lugar que existia de
verdade.Tia Ogg era feliz em lugares simples.
È claro, ela refletiu enquanto cruzava o gramado, ela não tinha essa
paisagem toda pra olhar da sua janela.Ela vivia enfurnada no centro das
Ramtops, mas Vovó Cera do Tempo podia contemplar a floresta toda,bem
como as planícies até os confins do grande e redondo Discworld. Uma vista
como essa,Tia Ogg racionalizou, poderia sugar sua mente pra fora da sua
cabeça.
Disseram à ela que o mundo era redondo e achatado,o que era senso
comum,e vagava pelo espaço nas costas de 4 elefantes de pé em cima do
casco da Grande A’Tuin,a gigante Tartaruga cósmica,o que não fazia
sentido algum.E tudo isso estava acontecendo lá fora em algum lugar e
poderia continuar acontecendo com a benção e o desinteresse de Tia Ogg
contanto que ela pudesse viver no seu mundo pessoal de 16 kilômetros de
diâmetro ,que ela carregava consigo.
Mas Vovó Cera do Tempo precisava mais do que esse pequeno reino poderia
oferecer. Ela era o outro tipo de Bruxa. E Tia Ogg via como seu trabalho o
de impedir que Vovó ficasse entediada. O negócio com as maçãs era o
suficiente, um pequeno triunfo rancoroso se você parar pra pensar,porque
Esme precisava de algo que fizesse cada dia valer a pena e se tivesse que ser
inveja ou raiva,então que seja.Vovó agora deveria estar esquematizando
uma pequena vitória,uma pequena humilhação que somente os dois
envolvidos saberiam,e ficaria por isso mesmo.Tia Ogg estava confiante que
ela conseguia lidar com a amiga de mal humor,mas não quando ela estava
entediada.Uma bruxa entediada é capaz de qualquer coisa.
Pessoas dizem coisas como: “Temos que criar nossos próprios divertimentos
hoje em dia”,como se isso assinalasse algum tipo de valor moral, e talvez
seja, mas a última coisa que você poderia querer é que uma Bruxa ficasse
entediada e começasse a criar seus próprios divertimentos,porque Bruxas ás
vezes tinham idéias estranhas sobre o que era divertimento.
Esmerelda Cera do Tempo era sem sombra de dúvidas a Bruxa mais
poderosa que essas montanhas tinham visto nas últimas gerações.Ainda
assim,as Olimpíadas estavam chegando e isso sempre a deixava bem
ocupada por algumas semanas .Ela subia para a competição como uma
carpa mirando uma mosca.Tia Ogg sempre fica ansiosa pelas Olimpíadas
das Bruxas.O passeio era bom e é claro sempre tinha uma fogueira bem
grandona.Quem já ouviu falar de Olimpíadas de Bruxas sem uma
fogueirona?E no fim das contas você poderia assar umas batatas nas cinzas
também.
A tarde se derreteu e virou noite, as sombras nos cantos, sob os bancos e
mesas se esgueiravam e corriam juntas. Vovó se balançava gentilmente em
sua cadeira enquanto a escuridão se envolvia em torno dela. Ela tinha um
olhar de profunda concentração. As toras na lareira desabaram na brasa,
que se apagaram uma a uma.
A noite engrossou.
O velho relógio tique-taqueou na cornija da lareira e,por um longo período
não houve mais nenhum outro som.Então houve um leve farfalhar .O saco
de papel na mesa se moveu e começou a se enrugar como um balão
esvaziando .Lentamente o ar parado se encheu de um forte cheiro de
decadência.
Depois de um tempo a primeira larva eclodiu.

Tia Ogg estava em casa se servindo de uma tulipa de cerveja quando ouviu
uma batida. Ela deixou de lado o copo com um leve suspiro, e foi abrir a
porta.
“Oh,olá senhoritas.O quê fazem vocês por essas bandas?Em uma noite tão
fria como essa ?”
Tia Ogg recuou até a sala, à frente de mais 3 bruxas.Elas vestiam capas
pretas e chapéus pontudos tradicionalmente associados com o ofício
delas,embora também servisse pra deixá-las diferentes umas das outras.Não
há nada como um uniforme pra facilitar que cada um expresse sua
individualidade.Um ajuste aqui e uma dobrinha ali são pequenos detalhes
que gritam bem alto na aparente uniformidade.O chapéu de Gammer Beavis
por exemplo,tinha uma aba muito achatada e uma ponta que poderia limpar
sua orelha.Tia Ogg gostava de Gammer Beavis.Ela poderia ser até um pouco
educada demais,de modo que ás vezes até exagerava,mas ela fazia seus
próprios reparos nos sapatos e cheirava rapé,na pequena visão de mundo de
Tia ogg coisas como essas significavam que a pessoa era Okey.
As roupas da Velha Mãe Dismass tinham aquele desarranjo de quem, por
causa de um deslocamento de retina em sua segunda visão, estava vivendo
em uma variedade de realidades de uma só vez.Confusão mental já é ruim o
bastante para pessoas normais,mas ainda pior para uma mente com um
pezinho no ocultismo.Você tinha que torcer pra que fosse somente a calcinha
dela que ela estivesse usando por cima da roupa.
E estava piorando,Tia Ogg sabia disso.
As vezes a batida dela era ouvida na porta algumas horas depois que ela já
tinha chegado e suas pegadas teimavam em aparecer só alguns dias depois.
O coração de Tia Ogg afundou ao olhar a terceira Bruxa, e não era porque
Letícia Earwig era uma pessoa ruim.O oposto na realidade.Ela era
considerada uma pessoa decente,de boas intenções e agradável,pelo menos
para com os animais inofensivos e para aquele tipo de criança mais
limpinha. E ela sempre lhe fazia uma boa ação.O problema
era,entretanto,que ela lhe faria uma boa ação pro seu próprio bem,mesmo
que a boa ação não fosse aquilo que era bom pra você.Você acabaria
mentalmente revoltado e isso não era nada bom.E ela era casada.
Tia Ogg não tinha nada contra Bruxas casadas. Não era como se tivesse
regras.Ela mesma tinha tido muitos maridos,e tinha sido casada com 3 deles
pelo menos.Mas o Sr. Earwig era um mago aposentado com uma grande
quantidade de ouro muito suspeita,e Tia Ogg suspeitava que Letícia
praticava bruxaria como algo pra se manter ocupada,da mesma maneira que
mulheres de uma certa classe social costuram almofadas para se ajoelhar na
igreja e visitar os pobres.E ela tinha dinheiro.Tia Ogg não tinha
dinheiro,sendo assim estava predisposta a não simpatizar com quem
tinha.Letícia tinha um manto de veludo negro tão fino que parecia que um
buraco tinha sido cortado do mundo.Tia Ogg não tinha.Tia Ogg não queria
um manto de veludo negro fino e não aspirava a essas coisas.Então ela não
via o porque que outras pessoas deveriam ter.

"Boa noite,Gytha Ogg.Como têm passado ultimamente ?disse Gammer


Beavis.Tia Ogg tirou o cachimbo de sua boca.“Maravilhosamente
bem.Entrem.”
“Essa chuva não é mesmo terrível?”disse Velha Mãe Dismass.Tia Ogg olhou
para o céu.Estava roxo púrpura.Mas devia estar chovendo onde quer que a
mente da Velha Mãe Dismass estivesse.
“Pois entrem e se sequem, então” disse ela carinhosamente.
“Que estrelas afortunadas brilhem nessa nossa reunião” disse Letícia.
Tia Ogg concordou compreensivamente.Letícia sempre soou como se tivesse
aprendido feitiçaria em algum livro não muito criativo.
“Sim, certo.” ela disse.
Houve certa conversa polida e educada enquanto Tia Ogg preparava chá
com bolinhos.
Então Gammer Beavis, num tom que claramente indicava que a parte
oficial da visita estava começando,disse, “Estamos representando o Comitê
Oficial das Olimpíadas de Bruxaria,Senhorita Gytha Ogg”
“Ah é?”
“Esperamos que você participe,”
“ Ah sim,eu vou dar uma passada lá.”Tia Ogg deu uma olhada para Letícia.
Tinha um leve sorriso naquele rosto que não estava completamente
confortável.
“Têm muitos interesses em jogo esse ano”Gammer continuou. “Muitas
garotas estão se inscrevendo nos últimos dias.”
“Pra pegar rapazes, tenho a impressão”disse Letícia.Tia Ogg não
comentou.Usar bruxaria pra atrair mocinhos parecia um ótimo de um bom
uso para a bruxaria no que concernia a ela.
Era,de uma certa maneira,uma das funções principais.
“Isso é bom,” ela disse. “Sempre bom uma grande afluência. Maaas...”
“Perdão, o quê disse?”indagou Letícia.
“Eu disse “Mas”,disse Tia Ogg, “Porque alguém iria dizer “Mas”,não é
mesmo ?Essa conversinha tem um grande “Mas” chegando.Tenho certeza.”
Ela sabia que isso ia dar um tapa na cara do protocolo. Ainda tinha pelo
menos uns 7 minutos a mais de conversa fiada antes de alguém chegar ao
ponto,mas a presença de Letícia estava dando nos nervos.
“È sobre Esme Cera do Tempo” disse Gammer Beavis.
“Sim?” disse Tia Ogg sem nenhuma surpresa.
“Presumo que ela irá entrar?”
“Nunca soube de uma vez que não entrou.”
Letícia suspirou.
“Presumo que você...poderia persuadi-la à...à não entrar esse ano?”
Tia Ogg parecia chocada.
“E como eu faria isso? Com um machado?”
Em sincronia as 3 Bruxas se sentaram de novo.
“Sabe...” Começou Gammer Beavis, com um pouco de vergonha.
“Francamente Senhorita Ogg,” disse Letícia, "tem sido muito difícil fazer
outras pessoas entrarem nas Olimpíadas de Bruxaria quando ficam sabendo
que a Madame Cera do Tempo entrará também.Ela sempre ganha”
“Sim,” disse Tia Ogg. “È uma competição.”
“Mas ela SEMPRE ganha!”
“E?”
“Em outros tipos de competição” disse Letícia, “a pessoa normalmente é
permitida vencer somente 3 vezes seguidas, então essa pessoa se retira por
um tempo”
“Sim, mas isso aqui é Bruxaria “ disse Tia Ogg. “A regra é diferente.”
“E como é?”
“È que não tem regra”
Letícia puxou a saia. “Talvez seja a hora de passar a ter,”ela disse.
“Ah,”disse Tia Ogg.”E você vai subir até lá e dizer isso para a Esme?Você
ta junto nessa Gammer?”
Gammer Beavis não encarou seu olhar.
A Velha Mãe Dismass estava encarando diretamente a última semana.
“Eu entendo que a Madame Cera do Tempo seja uma mulher muito
orgulhosa,”disse Letícia.
Tia Ogg soprou seu cachimbo novamente.
“Você também poderia dizer que o oceano é cheio de água,” ela disse.
As outras Bruxas permaneceram em silêncio por um tempo.
“Eu ouso dizer que esse foi um comentário muito valioso,”disse Letícia,
“mas não entendi.”
“Se não há água no Oceano, ele não é um Oceano, “ disse Tia Ogg. “ È só
uma droga de um buracão no chão.A questão da Esme é o seguinte...”Tia
Ogg deu outro assoprão barulhento no cano do cachimbo. “ é que ela é puro
orgulho entende?Ela não é só uma pessoa orgulhosa."
“Então talvez ela deva aprender a ser um pouquinho mais humilde...”
“Porque ela tem que aprender a ser humilde?” disse Tia Ogg de forma
mordaz.
Mas Letícia, assim como muitas pessoas que parecem marshmellow por fora
tinham um núcleo duríssimo por dentro difícil de ser comprimido.
“A mulher claramente tem um talento natural para a magia, realmente, ela
deveria ser grata por isso.”
Tia Ogg parou de ouvir nesse momento. "A mulher",ela pensou.Então era
assim que ia ser.
Era a mesma coisa em quase todos os negócios. Mais cedo ou mais tarde
alguém decidia que as coisas precisavam de organização,e a única coisa de
que você podia ter certeza era que os organizadores não seriam as pessoas
que,pelo conhecimento geral ,estavam no topo da profissão.Pra ser
sincero,isto também não seria feito pelos piores.
Não, isso era feito por aqueles que tinham tempo o suficiente e inclinação o
bastante para a correria e agitação. E para ser sincero novamente, o mundo
precisava de pessoas com pressa e agitadas. Você não precisa gostar muito
delas não.
A calmaria disse a ela que Letícia tinha terminado.
“Francamente?Olha eu por exemplo,” disse Tia Ogg, “ Eu é que sou
naturalmente talentosa. Nós Os Ogg temos a bruxaria no sangue.Eu nunca
tive que suar um pingo por isso.Agora a Esme...ela tem um pouco de
talento,é verdade,mas não é muito.É que ela se esforça mais do que um
inferno pra isso.E vocês vão lá dizer pra ela que ela não deve participar ?”
“Nós estávamos torcendo que você fosse,” disse Letícia.
Tia Ogg abriu sua boca pra despejar um ou dois palavrões, e então parou.
“Vamos fazer o seguinte, ” ela disse, “ vocês podem dizer isso pra ela
amanhã pessoalmente,e eu vou junto pra apartar e segurar ela.”

Vovó Cera do Tempo estava colhendo ervas quando elas apontaram no alto
da estrada. Normalmente ervas de enfermaria e cozinha são tidas como
simples e calmas.Mas as ervas da Vovó não eram nada calmas e simples.Ou
elas eram complicadas ou não eram nada.
E não tinha nada daquela coisa de fada-delicada com uma cesta bonita e
um par de cortadores sensíveis.Vovó usava um facão.E uma cadeira na sua
frente para domá-las.E um chapéu de couro,luvas e um avental como uma
linha secundária de defesa.
Afinal de contas não dava pra saber de onde algumas ervas atacariam.
Raízes e sementes eram comercializados pelo mundo todo e até mais além.
Algumas dessas flores desabrochavam quando você passava, algumas
disparavam espinhos em aves transeuntes e várias eram colocadas em
estacas, não tanto a ponto de elas não caírem, nem tão pouco que ainda
estivessem lá no dia seguinte.Tia Ogg, que nunca teve interesse em cultivar
nenhuma erva que não pudesse ser fumada ou usada pra rechear
frango,ouviu Vovó murmurar para as ervas.
“Certo,seus lixos!”
“Bom dia, Senhorita Cera do Tempo,” disse Letícia Earwig audivelmente.
Vovó Cera do Tempo endureceu, e então baixou a cadeira cuidadosamente e
se virou.
“Madame,” ela disse.
“Que seja,” disse Letícia vividamente.“Confio que esteja bem?”
“Até agora,” disse Vovó. Ela acenou quase que imperceptivelmente para as
outras Bruxas.
Houve um silêncio pulsante, que alcançou Tia Ogg.
Elas deveriam ter sido convidadas pra tomar uma xícara de alguma coisa.
Assim era como o protocolo mandava.Era de péssima educação manter as
pessoas esperando de pé.Quase mas não tão ruim do que chamar uma
velhinha solteira de “Senhorita”.
“Vocês vieram por causa das Olimpíadas,” disse Vovó.
Letícia quase desmaiou.
“Er,como você...?
“Porque vocês se parecem com um comitê. Não precisa racionalizar muito
pra isso,” disse Vovó, tirando as luvas. “Não costumávamos precisar de um
comitê. As notícias simplesmente se espalhavam e todo mundo aparecia.
Agora de repente tem um pessoal organizando as coisas.”
Por um momento Vovó parecia estar travando uma batalha interna muito
severa, e então acrescentou num tom descartável. “A chaleira esta à postos é
melhor entrarem.”
Tia Ogg relaxou.Talvez houvessem alguns costumes que nem mesmo Vovó
Cera do Tempo negaria.Mesmo se esse alguém fosse seu pior inimigo,você o
convidaria à entrar e lhe daria chá com biscoitos.De fato,quanto pior seu
inimigo,melhor a prataria e maior a qualidade dos biscoitos.Você poderia
conjurar o inferno negro sobre eles depois,mas enquanto estivessem sob seu
teto você os alimentaria até encherem o pandú.
Os pequenos olhos escuros de Tia Ogg notaram que a mesa da cozinha
brilhava e ainda estava úmida de tanto esfregar.Depois das xícaras serem
servidas e as amenidades serem trocadas,ou pelo menos oferecidas por
Letícia e recebidas em silêncio por Vovó,a auto-intitulada presidente do
comitê se arranjou em seu assento e disse:
“Há bastante de interesse nas Olimpíadas esse ano, Senhorita...digo
Madame Cera do Tempo.”
“Bom.”
“Parece que a Bruxaria nas Ramtops está passando por um Renascimento.”
“Renascimento ein?Ta aí uma coisa.”
“È um ótimo caminho para o empoderamento de mulheres jovens, você não
acha?”
Muitas pessoas dizem coisas de uma maneira afiada, Tia Ogg sabia disso.
Mas Vovó Cera do Tempo ouvia de maneira afiada.Ela conseguia fazer algo
parecer estúpido só de ouvi-lo.
“Que belo chapéu ein?” disse Vovó. “Veludo não é ?Confecção não local
acho.”
Letícia tocou a aba e deu uma pequena risada.
“Comprei no Boggi em Ankh-Morpork,” ela disse.
“Oh?Comprou na loja.”
Tia Ogg olhou para o canto da sala onde um cone de madeira batido estava
em um suporte. Preso a ela havia pedaços de chita preta e tiras de madeira
de salgueiro,as bases do chapéu de primavera de Vovó.
“Confeccionados,” disse Letícia.
“E esses alfinetes que você tem,” continuou Vovó. “Todos de lua crescente e
em formato de gatinho...“
“Você tem um broxe que tem um formato crescente também não é mesmo,
Esme? Disse Tia Ogg,decidindo que essa era a hora de um tiro de aviso.
Vovó ocasionalmente tinha muito a dizer sobre jóias em Bruxas quando ela
estava embuída de um bom humor ácido.
“Isso é verdade, Gytha.Eu tenho um broche que tem um formato
crescente.Mas esse é o verdadeiro formato que ele coincidentemente
tem.Formato muito prático pra segurar uma capa,inclusive.Mas eu não
quero dizer nada com isso.De qualquer forma,você me interrompeu
justamente quando eu estava prestes a comentar pra Srª Earwig quão
adoráveis seus alfinetes de chapéu são.Muito Bruxescos.
Tia Ogg acompanhava como um espectador numa partida de tênis, olhando
para Letícia para ver se esse raio mortal a tinha atingido em cheio. Mas a
mulher estava sorrindo. Algumas pessoas simplesmente não conseguem
enxergar o óbvio na outra ponta de um martelo de 20 kilos.
“Sobre o assunto bruxaria,” disse Letícia, “Penso eu que poderia levantar
com você a questão da sua participação nas Olimpíadas.”
“Sim?”
“Você …an…não pensa que é injusto com as outras pessoas que você vença
todo ano?
Vovó Cera do Tempo olhou para baixo no chão e depois pro alto no teto.
“Não,” disse ela eventualmente. “Eu sou melhor do que elas.”
“Você não acha que é um pouco desmotivador para os outros participantes?”
Novamente, pro chão e depois pro teto.
“Não,” disse Vovó.
“Mas elas começam sabendo que elas não vão ganhar.”
“Eu também.”
“Oh não, você certamente...”
“Eu quis dizer que eu também começo sabendo que elas não vão ganhar.”
disse Vovó firmemente. "Elas deveriam começar sabendo que eu não vou
ganhar.Não é à toa que elas perdem, se não estão com a mente no lugar.”
“Isso dá uma cortada no entusiasmo delas.”
Vovó parecia genuinamente intrigada. “Qual o problema com elas se
esforçando pra pegar o segundo lugar?” disse Vovó.
Letícia desabou.
“O que estávamos na esperança de persuadi-la a fazer, Esme,era aceitar um
cargo emérito.Você talvez faria um belo discurso de
encorajamento,apresentaria o prêmio,e ...e possivelmente ser,er,um dos
jurados...”
“Vai ter jurado? disse Vovó. “Nós nunca tivemos jurado.Todo mundo
costumava saber quem perdeu.”
“Isso é verdade,” disse Tia Ogg.Ela lembrou das cenas no final de uma ou
duas Olimpíadas.Quando Vovó Cera do Tempo ganhava,todo mundo sabia.
“Oh, isso é a mais pura verdade.”
“Seria uma atitude muito agradável da sua parte,”Letícia continuou.
“Quem decidiu quem seriam os juízes?” disse Vovó.
“Er...o comitê...que é ...tipo...composto por algumas de nós.Só pra dar uma
direção às coisas.”
“Oh.Entendo,”disse Vovó. “Bandeirinhas?”
“Perdão?”
“Vocês vão distribuir bandeirinhas também? E talvez vender maçazinhas
no palito, esse tipo de coisa?
“Bandeirinhas certamente seriam...”
“Certo, não se esqueça da fogueira.”
“Desde que seja agradável e segura.”
“Oh entendi, as coisas deveriam ser “Agradáveis” e seguras então ,” disse
Vovó.
Srª Earwig suspirou perceptivelmente com alívio. “Bem, que bom que
resolvemos isso de acordo.” ela disse.
“Resolvemos?” disse Vovó.
“Pensei que tivéssemos entrado num acordo.”
“Entramos? Sério?” Ela pegou o atiçador da lareira e cutucou fortemente o
fogo.“Vou considerar o assunto.”
“Posso ser franca por um momento, Madame Cera do Tempo?”disse
Letícia.O atiçador parou no meio do cutuco.
“Sim?”
“Os tempos estão mudando, sabe. Embora, eu entenda porque você sente a
necessidade de ser insuportável e desagradável com todo mundo,mas acredite
quando te digo,como amiga,que você vai achar muito mais fácil se você
simplesmente relaxar um pouco e tentar ser mais Agradável, como nossa
irmã Gytha Ogg aqui.”
O sorriso de Tia Ogg tinha se fossilizado numa espécie de máscara. Letícia
pareceu não notar.
“Você parece ter a admiração de todas as Bruxas numa área de 50
kilometros,” ela continuou. “Ouso dizer que você tem habilidades
valiosas,mas Bruxaria não reside em ser uma velha rabugenta e assustadora
para com todos.Estou te dizendo isso com amiga..."
“Venha dar um olá quando estiver de passagem,” disse Vovó.
Esse era o sinal. Tia Ogg se levantou rapidamente.
“Penso que poderíamos discutir...” Letícia ponderou.
“Eu vou acompanhá-las até a estrada principal,” disse Tia Ogg,levantando
as outras Bruxas de seus assentos rapidamente.
"Gytha!” disse Vovó rispidamente, enquanto o grupo se aproximava da
porta.
“Sim, Esme?”
“Você vai voltar aqui depois disso, assim espero.”
“Sim, Esme.”

Tia Ogg trotou pra alcançar o trio no caminho. Letícia tinha o que Tia Ogg
pensava ser um andar muito deliberado.Tinha sido um erro julga-la pelas
bijouterias baratas,cabelo super espalhafatoso e a maneira tonta que ela
abanava as mãos enquanto falava.Ela era uma Bruxa,afinal de
contas.Machuque qualquer Bruxa e...bem,você vai encarar uma Bruxa que
acabou de ser machucada.
“Ela não é nada agradável eu diria,”Letícia gorjeou.Mas foi o gorjeio de um
pássaro de caça bem grande.
“Nisso você ta certa,” disse Tia Ogg. “ Mas...“
“Tá na hora dela levar uma paulada ou duas!”
“Beeem...”
“Ela te oprime terrivelmente Senhorita Ogg.Uma senhora casada com a sua
experiência,francamente!”
Por um momento, os olhos de Tia Ogg serraram-se.
“È o jeitão da madeira,” ela disse.
“Um jeito mesquinho e desagradável, na minha opinião !”
“Oh,sim,” disse Tia Ogg de maneira bem simples. “Modos geralmente são
desagradáveis. Mas veja, você..."
“Você vai trazer alguma coisa para a barraca de prendas, Gytha?”disse
Gammer Beavis rapidamente.
“Oh,algumas garrafas,assim espero,”disse Tia Ogg,acalmando-se.
“Oh, vinho artesanal?” disse Letícia. “Que bom.”
“Tipo um vinho.Algo,parecido com isso sim,” disse Tia Ogg. “Eu só vou...eu
só vou...só vou dar um pulinho de volta pra dizer boa noite..."
“È depreciativo, sabe,o jeito que você corre em volta dela,”disse Letícia.
“Sim....bem....você acaba se acostumando às pessoas.Boa noite pra vocês.”
Quando ela voltou ao chalé, Vovó Cera do Tempo estava de pé no meio da
cozinha com uma cara parecendo uma cama desarrumada e de braços
cruzados.Com o pé batendo no chão.
“Ela casou com um mago,” disse Vovó, assim que sua amiga entrou.“Não
vem me dizer que isso é certo.”
“Bem, magos podem casar,sabe.Eles só tem que entregar o cajado e o
chapéu.Não tem nenhuma lei que proíbe,contanto que eles desistam da
magia.Eles deveriam ser casados com o oficio.”
“È verdade que é um trabalho estar casado com o ofício,” disse Vovó. Seu
rosto se moveu em um sorriso azedo.
“Colhendo muito esse ano?” disse Tia Ogg,empregando uma rápida
associação de idéias em torno da palavra “vinagre” que tinha acabado de
pular na sua cabeça.
“Minhas cebolas todas pegaram fungo.”
“È uma pena, você adora cebolas.”
“Até os fungos tem que comer,” disse Vovó.
Ela encarou a porta. "Agradável...hmpf” ela disse.
“Ela tem uma capa de malha na tampa da privada,”disse Tia Ogg.
“Cor-de-rosa?”
“Sim.”
“Hmm.”
“Ela não é má.” disse Tia Ogg. Ela faz um ótimo trabalho lá pelas bandas
do Cotovelo do Violinista.Pessoal lá fala muito bem dela.”
Vovó deu de ombros. “E eles falam bem de mim lá?” ela disse.
“Não, eles nem mencionam seu nome lá ...,Esme.”
“Bom, você viu os alfinetes no chapéu dela?”
“Achei eles...Agradáveis,Esme.”
“Isso que é Bruxaria hoje em dia. Só firula sem nada de útil,só bijouteria e
nenhuma gaveta.”
Tia Ogg que considerava os dois boas opções, tentou construir um aterro
contra a crescente onde de ira.
“Você pode encarar como uma honraria de verdade, elas não quererem que
você participe.”
“Isso é Agradável.”disse Vovó pensativa.
Tia Ogg suspirou.
“Às vezes“Agradável”vale a pena tentar,Esme.”
“Eu nunca faço mal à ninguém se eu não puder ajudar depois Gytha,você
sabe disso.Eu não preciso de fazer frescura nenhuma e nem ficar me
exibindo como um pavão.
Tia Ogg suspirou. È claro,isso era verdade.Vovó era uma Bruxa das antiga.
Ela não era agradável com as pessoas,ela era correta com as pessoas.Mas
Tia Ogg também sabia que as pessoas nem sempre apreciam o correto.Como o
Velho Pollitti outro dia ,quando ele caiu do cavalo.O que ele queria era um
analgésico.O que ele precisava eram alguns segundos de agonia enquanto
Vovó colocava o seu osso de volta no lugar.O problema é,as pessoas só se
lembram da dor.
Você se dá muito melhor com as pessoas quando se lembra de colocar
babadinhos em volta e demonstra interesse e fala coisas como: “Como você
esta se sentindo?”.Vovó não se importava com esse tipo de coisa porque ela
já sabia a resposta.Tia Ogg também sabia,mas ela também sabia que deixar
as pessoas saberem disso às deixavam contentinhas.
Ela colocou sua cabeça de lado.O pezinho de Vovó ainda batia
freneticamente no chão.
“Tá planejando algo, Esme?Te conheço.Você tá com aquele olhar.”
“Que olhar, por favor?”
“Aquele olhar, de quando aquele bandido foi encontrado nu dependurado
numa arvore chorando o tempo todo e se perguntando que coisa terrível era
aquela atrás dele.Engraçado que ninguém encontrou pegada nenhuma em
nenhum lugar.Aquele olhar.”
“Ele merecia mais pelo que tinha feito.”
“Sim...beem,aquele mesmo olhar de pouco antes quando o Velho Hogget foi
encontrado espancado todo roxo e sujo na sua própria pocilga e não queria
falar sobre o assunto.”
“Ta falando do “Velho Espancador de Esposas “ Hogget?disse Vovó.Seus
lábios perseguiam uma coisinha que poderia até ser chamada de sorriso.
“E é o mesmo olhar que você tinha enquanto a avalanche caia na casa do
Velho Millson justo depois que ele tinha te chamado de mala sem alça,”
disse Tia Ogg.
Vovó deu uma hesitada. Tia Ogg tinha quase certeza de que aquilo
acontecera por causas naturais, e também que Vovó sabia que ela suspeitava
disso,e que aquele orgulho estava lutando contra a honestidade.
“Isso talvez seja um talvez.” disse Vovó sem compromisso.
“Tipo como alguém que poderia aparecer nas Olimpíadas e ...fazer
algo,”disse Tia Ogg.
O olhar de sua amiga poderia fazer o ar chiar.
“Oh?Então é isso que você pensa de mim?À esse ponto que chegamos é ?
“Letícia pensa que temos que mudar com os tempos..."
“Sério? Eu mudo com os tempos. Nós temos que nos mudar com os tempos.
Mas ninguém disse que tem que mudar tanto assim. Presumo que você já
queira ir embora Gytha.Quero ficar sozinha com meus pensamentos!”

Os pensamentos de Tia Ogg,enquanto ela caminhava pra casa aliviada,eram


que Vovó Cera do Tempo não era boa propaganda para bruxaria.Ela era
umas das melhores,sem sombra de dúvida.
Mas uma menina começando na vida poderia bem se perguntar,Bruxaria é
isso ?Você trabalha duro e se abstém de tudo e o que você ganha no fim de
tudo é mais trabalho árduo e abnegação?Vovó não era exatamente
amigável e a única coisa que exigia em troca era respeito.
Pessoas aprendem a respeitar a tempestade,também.Refresca o solo.Você
pode até precisar delas.
Mas elas não são exatamente Agradáveis.
Tia Ogg foi pra cama vestindo 3 camisolas de flanela,porque as geadas
pontiagudas já espichavam o ar de outono. Ela também estava num estado
de espírito meio conturbado. Uma espécie de guerra tinha sido declarada, ela
sabia.Vovó era capaz de coisas terríveis quando pressionada,e o fato de que
essas coisas foram cometidas com pessoas que realmente mereciam não os
tornava menos terríveis ,ela devia estar planejando algo macabro.

Tia Ogg pessoalmente não gostava de vencer as coisas.Vencer é um hábito


difícil de se largar e te compra um status perigoso difícil de ser
defendido.Você teria que seguir aos trancos e barrancos pela vida,sempre
aguardando pela próxima garota com uma vassoura melhor e uma mão mais
rápida no feitiço.
Ela se virou sobre a montanha de edredons.
Na visão de mundo de Vovó Cera do Tempo não existia espaço para o
segundo lugar. Ou você vencia, ou era um perdedor.
Não tem nada de errado em ser um perdedor exceto pelo fato de que,é
claro,você não era o vencedor.Tia Ogg sempre seguiu a política de ser uma
boa perdedora.As pessoas tendiam a gostar de você quando você quase
ganhava,lhe traziam drinks. “Ela só perde!” era um comprimento muito
melhor do que “Ela só ganha”. Os vice-campeões se divertiam mais.Mas
Vovó não gastava muito tempo com essa palavra não.
Em seu chalé escuro, Vovó Cera do Tempo sentou e observou o fogo se
esvair.
Era uma sala com paredes cinzentas, aquela cor que o gesso velho pega,
menos por conta da sujeira e mais pela idade. Não tinha um nada lá dentro
que não fosse útil, que valesse a pena guardar.
Já na cabana de Tia Ogg não existia nenhum espaço que não servia como
suporte para tipos de ornamentos ou vasos de plantas. As pessoas davam as
coisas pra Tia Ogg. Porcariada de parque de diversões, como Vovó
costumava chamar essas coisas. Pelo menos,em público.O que ela pensava
sobre isso no particular de sua mente,ela nunca diria.
Ela se balançava gentilmente na sua cadeira de balanço quando a última
brasa se apagou.
È difícil encarar nos momentos mais solitários da noite que a única razão
para que as pessoas fossem no seu funeral era pra se certificarem que você
estava realmente morta.

No dia seguinte, Percy Hopcroft abriu a porta dos fundos e se deparou


diretamente encarando os olhos azuis de Vovó Cera do Tempo.
“Ai meu Deus,” disse ele, segurando a respiração.
Vovó deu uma leve tossidinha meio sem jeito.
“Senhor Hopcroft, vim para falar sobre aquelas maçãs que você homenageou
com o nome da Senhorita Ogg,” ela disse.
Os joelhos de Percy começaram a tremer, e sua peruca começou a escorregar
da parte de trás de sua cabeça se direcionando para o tão esperado e seguro
chão sujo.
“Eu gostaria de lhe agradecer por prestar essa homenagem, ela ficou muito
contente.”
Vovó continuou, num tom de voz curiosamente monótono. “Ela tem feito
um ótimo trabalho e já era hora de ser reconhecida. Muito bem pensado.
Sendo assim lhe trouxe um pequeno agradinho” Hopcroft deu um pulo pra
trás assim que Vovó mergulhou sua mão rapidamente no avental e retirou
uma pequena garrafa preta. “é muito rara porque têm ervas raríssimas
dentro dela.”
Eventualmente passou pela cabeça de Hopcroft que era pra ele pegar a
garrafa.
Ele segurou no gargalo com muito cuidado, como se a garrafa fosse começar
a assobiar ou criar pernas.
“Uh...muito brigado,” ele murmurou.
Vovó assentiu rigidamente.
“Que muitas bençãos caiam sobre essa casa.” se virou e foi embora pela
estrada.
Hopcroft fechou a porta cuidadosamente.
E se apoiou afoito contra ela.
“Você! começa a empacotar as coisas agora mesmo.” Ele gritou pra sua
esposa, que estava observando tudo da cozinha.
“O que? nossa vida toda está aqui! A gente não pode simplesmente ir
embora.”
“Melhor ir correndo do que ir coaxando,mulher!O que ela queria de mim?O
que ela queria de mim?Ela nunca é agradável!”
A senhora Hopcroft se manteve firme. Ela tinha acabado de limpar a
cabana e eles tinham acabado de comprar uma bomba de água
nova.Algumas coisas eram difíceis de se largar.
“Vamos parar e pensar então.” ela disse. “O quê tem dentro da garrafa?”
Senhor Hopcroft esticou os braços à frente firmemente. “Quer descobrir?”
“Pare de tremer homem! Ela não chegou à te ameaçar,chegou ?”
“Ela disse “Que muitas bênçãos caiam sobre essa casa”,me parece muito
ameaçador isso ,demais até,era a Vovó Cera do Tempo,em pessoa.”
Ele colocou a garrafa em cima da mesa. Eles a encararam, em pé naquela
posição de inclinação cautelosa de pessoas que estão prestes a correr se
alguma coisa começasse a acontecer.
Diz “Restaurador de Cabeilos” na embalagem,” Disse a Senhora Hocproft.
“Eu não vou usar!”
“Ela vai perguntar pra gente depois. È a cara dela.”
“Vamos pensar direito...nós podemos ....”
“Podemos testar no cachorro!!”

“É uma ótima vaca.”


William PobreGalo acordou do seu devaneio no banquinho de ordenhar e
olhou em volta da pradaria,suas mãos ainda trabalhando nas tetinhas do
animal.
Surgiu um chapéu pontudo crescendo no horizonte.
Ele deu um baita dum puxão na vaquinha e começou a ordenhar na sua
própria bota esquerda.
“Dá bastante leite ela não?”
“Sim, Madame Cera do Tempo.!”respondeu William visivelmente chocado.
“Isso é bom. Que continue assim, é o que eu sempre digo. Um bom dia pra
você.”
E o chapéu pontudo continuou seguindo o trecho. PobreGalo encarou-a
atentamente. Então ele pegou o balde e,em silêncio,correu pra dentro do
celeiro e gritou pro seu filho.
“Ligeirinho!Vem pra cá agora!”
Seu filho apareceu no palheiro de garfo ainda na mão.
“Que foi pai?”
“Leva a Daphne pra vender no Mercado nesse exato segundo, entendeu?”
“O quê? mas ela é a que mais dá leite papai!”
“Era filho, era! Vovô Cera do Tempo amaldiçoou ela agorinha de pouco. Vá
vendê-la imediatamente, antes que apodreça os chifres.”
“Mas o que ela disse papai?”
“Ela disse...disse... “Que ela continue dando muito leite”...Hesitou
PobreGalo.
“Não me parece muito com uma maldição, Papai,”disse Ligeirinho.
“Digo...não como uma maldição comum. Soa até um pouco esperançoso, na
verdade.”disse o filho.
“Bem...é que foi o jeito com que ...ela...falou.”
“Que jeito, papai?”
“Bom...tipo..meio alegrinho.”
“Você está bem papai?”
“Foi...o jeito...”PonreGalo pausou.”Tipo ...não está certo,”ele
continuou.“Isso não ta certo!Ela não tem o direito de sair por ai sendo
alegrinha com as pessoas.Ela nunca é alegre e minha bota ta cheia de leite.”

Nanny Ogg estava tirando um tempinho pra cuidar de sua cabana secreta
na floresta. O mais secreto que uma cabana poderia ser, tendo em vista que
todo mundo no reino sabia exatamente onde ficava, era um segredo mantido
por tantas pessoas que deveria ser muito secreto mesmo.
Até o Rei sabia, e sabia o suficiente pra fingir que não sabia, e isso
significava que ele não precisava cobrar imposto dela e ela não tinha que
recusar.
E todo ano no natal de Hogswatch ele recebia um barril de um mel qualquer
se as abelhas não estivessem de mal humor. E todo mundo entendia a
situação, ninguém tinha que pagar nenhum dinheiro, dessa maneira o
mundo era um lugar mais feliz e seguro. E ninguém precisava ser
amaldiçoado e seus dentes caírem apodrecidos.
Tia Ogg estava cochilando. Cuidar de uma cabana secreta era um trabalho
em tempo integral.
Finalmente o som de pessoas repetidamente a chamando foi demais pra ela.
Ninguém entraria ali de frente, claro. Isso significaria que eles sabiam onde
ficava a cabana. Por isso eles estavam se esgueirando pelas beiradas de
moita em moita. Ela abriu caminho e foi recebida com alguns olhares de
surpresa fingida que teria dado orgulho à qualquer companhia dramática
amadora.
“Bem, o quê vocês querem?”ela exigiu.
“Oh, Senhorita Ogg, nós pensamos que você poderia...estar mesmo andando
por ai pela floresta,”disse PobreGalo, enquanto um perfume que poderia
limpar vidro pairava na brisa.
“A Senhorita precisa fazer alguma coisa, é a Madame Cera do Tempo!”
“O que ela fez?”
“Conta pra ela Senhor PegaPresunto!”
O homem do lado de PobreGalo tirou o seu chapéu rapidamente e o segurou
respeitosamente em frente a ele de um jeito meio “Ai –Senor-os-bandidos-
saquearam-minha-vila.”
“Bom, Senhorita, meu parceiro e eu estávamos cavando um poço e então ela
passou...“
“A Vovó Cera do Tempo?”
“Si’Sinhora e ela disse...” PegaPresunto engoliu seco, “Ela disse :“Você não
vai encontrar água nenhuma por ai,meu bom homem.Seria melhor procurar
na cavidade perto da castanheira.”E continuamo cavando lá mesmo e não
encontramo nada.”
Tia Ogg acendeu seu cachimbo.
Ela não fumava perto do alambique desde aquele dia em que uma faísca fez
explodir o barril que ela estava sentada. Sorte a dela que o arboredo robusto
aparou a queda.
“Então ...vocês cavaram na cavidade perto da castanheira depois?”ela disse
suavemente.
PegaPresunto olhou chocado. “Não sinhora! Vai saber o quê ela queria que
a gente encontrasse lá!”
“E ela amaldiçoou minha vaca!”disse PobreGalo.
“Sério? O que ela disse?”
“Disse, “Que ela dê muito leite!”PobreGalo parou novamente,agora que
falou em voz alta...“Bom,é que foi o jeito que ela falou”adicionou
pifeamente.
“E que tipo de jeito foi esse?!”
“Agradavelmente!”
“Agradavelmente?”
“Sorrindo e tudo mais! Eu não bebo aquele leite nunca mais!”
Tia Ogg estava mistificada.
“Ainda não consigo ver o problema.”
“Conta aquela do cachorro do Sr.Hopcroft.”disse PobreGalo. “Hopcroft não
ousa deixar o pobrezinho lá sozinho, tudo por causa dela. A família toda ta
ficando maluca. Ele ta lá aparando o cachorro, a esposa afiando as tesouras
e os rapazes procurando lugares pra despejar os pêlos”.O paciente
questionamento por parte de Tia Ogg elucidou o papel que o “Restaurador
de Cabeilos” desempenhou nisso tudo.
“E ele deu…?”
“Metade da garrafa, Senhorita Ogg.”
“Mesmo a Esme escrevendo “Somente uma colherzinha por semana”no
rótulo?
“Ele disse que estava muito nervoso, Senhorita Ogg!Quero dizer, do que ela
ta brincando?Nossas esposas trancaram nossos filhos em casa.Com medo de
que ela sorria pra eles.”
“E?”
“Ela é uma Bruxa”
“Eu também, e eu sorrio pra eles,”disse Tia Ogg. “Eles tão sempre correndo
atrás de mim pra pedir doce.”
“Sim, mas…você é …digo…ela...digo...você não...digo.Bem..."
“E ela é uma boa mulher,” disse Tia Ogg. O senso comum a forçou a
adicionar, “Do seu jeito. Espero que tenha água na cavidade, e a vaca do Sr
PobreGalo dê bastante leite e se o Hopcroft não ler os rótulos das garrafas,
talvez ele mereça uma careca que brilhe mais do que um espelho e se você
pensa que Esmerelda Cera do Tempo amaldiçoa criancinhas você tem o bom
senso de uma minhoca. Ela xingaria eles sim o dia todo,mas não
amaldiçoaria de verdade. Ela não é tão baixa assim.”
“Sim, sim,”PobreGalo quase murmurou, “mas isso não ta certo,é o que tamo
dizendo. Ela andando por ai sendo agradável, não sei se tenho perna pra
ficar de pé e agüentar tudo isso.
“Ou andar nela,” disse PegaPresunto sombriamente.
“Tá bom, ta bom, vou ver isso,”disse Tia Ogg.
“As pessoas não deveriam sair por ai fazendo coisas que não se esperam
delas,” disse PoobreGalo fracamente. “Isso dá nos nervos.”
“E vamos ficar de olho na sua caba...“PegaPresunto disse, e então
cambaleou pra traz segurando seu estômago.
“Não liga pra ele não, é o stress.”disse PobreGalo esfregando o cotovelo.
“Têm apanhado as ervas Senhorita Ogg?”
“È mesmo!” disse Tia Ogg,saindo correndo pelas folhas.
“Coloco a fogueira pra fora pra senhora então?”PobreGalo berrou.

Vovó estava sentada fora da cabana quando Tia Ogg corria pela estradinha.
Ela estava vasculhando um saco de roupas velhas. Com um guarda roupa
vintage todo espalhado em volta.
Ela estava cantarolando.
Tia Ogg começou a se preocupar.
A Vovó Cera do Tempo que ela conhecia não aprovava música. E ela sorriu
quando avistou Gytha Ogg,ou pelo menos os cantinhos da boca se curvaram
pra cima.
Isso sim era preocupante.
Vovó normalmente só sorria quando algo ruim estava acontecendo com
alguém que merecia.
“Gytha, que bom vê-la!”
“Você está bem, Esme?”
“Nunca me senti melhor querida.”A musiquinha prosseguiu.
“An...juntando alguns trapos? Pra fazer aquela colcha?
Era um dos objetivos de Vovó que um dia ela iria fazer uma colcha de
retalhos. Essa, entretanto era uma tarefa que exigia muita paciência. Em
quinze anos ela fez três remendos, mas ela colecionava roupas velhas assim
mesmo. Várias Bruxas colecionavam, era algo bem Bruxa de se fazer.
Roupas velhas tinham personalidades como casas velhas. Quando se tratava
de roupas com desgaste Bruxas não tinham vergonha na cara.
“Estava aqui em algum lugar...” Vovó resmungou. “Aha!achei...”
Ela ergueu uma peça de roupa. Era basicamente rosa.
“Sabia que tava aqui.” Ela continuou. “Semi-nova, e do meu tamanho
também.”
“Você vai vestir isso?” disse Tia Ogg.
O olhar penetrante azul da Vovó se voltou para ela.
Tia Ogg teria ficado aliviada se ela tivesse retrucado algo como “Não, eu
vou é comer a roupa,sua velha gagá”.Ao invés disso sua amiga relaxou e
disse, um pouco preocupada: “Você acha que não vai servir ?”
Tinha até um lacinho no pescoço. Tia Ogg engoliu seco.
“Você geralmente usa tudo preto. Bom, mais do que geralmente. Mais tipo
como sempre, a vida toda.”
“E por isso tenho a aparência triste também,”disse Vovó decidida. “Já era
hora de me iluminar um pouco, você não acha?”
“Mas é que é tão...rosa.”
Vovó colocou o vestido de lado e para o horror de Tia Ogg a pegou pela mão
e disse honestamente, “E, sabe, reconheço que tenho sido um pouco raivosa
com relação à esse negócio das Olimpíadas, Gytha...“
“Uma cadela raivosa,” disse Tia Ogg,distraidamente.
Por um momento os olhos da Vovó viraram duas safiras azuis novamente.
“O quê?”
“ An... que você estava agindo como uma cadela raivosa,”Tia Ogg falou de
canto.
“Ah sim, sim. Obrigado por apontar isso. Bem, penso eu que está na hora de
me ausentar um pouco para só acompanhar e apoiar os jovens talentos.
Quero dizer, tenho que confessar, eu...não tenho sido muito agradável com
as pessoas...an ...tentei ser agradável,”Vovó continuou. “Mas não deu muito
certo como eu esperava, infelizmente.”
“Você nunca foi muito boa em ser…boa,”disse Tia Ogg.Vovó sorriu e olhou
firme, Tia Ogg não foi capaz de captar nada além de honesta preocupação.
“Talvez eu fique melhor com a prática,” disse Vovó.
Ela deu um tapinha na mão de Gytha. Ela olhou pra sua própria mão como
se algo horrendo tivesse acontecido com ela.
“É que as pessoas estão tão mais acostumadas com você sendo um pouco
mais ...firme.”ela disse.
“Acho que eu poderia levar algumas geléias e bolinhos pro pessoal da
organização,” disse Vovó.
“Ah céus!”
“Tem alguém doente precisando de visita?”
Tia Ogg encarou as árvores. Aquilo estava ficando cada vez pior. Ela
remexeu em sua memória alguém nas proximidades doente o suficiente pra
justificar uma visita, mas não tão doente que não consiga sobreviver ao
choque de uma visita feita pela Vovó Cera do Tempo. Quando se tratava de
Psicologia prática e de um tipo mais robusto de fisioterapia popular Vovó
não era páreo pra ninguém, na verdade, ela conseguia ministrar esse último
à quilômetros de distancia até, muitas almas assoladas pela dor já tinham se
curado e deixado suas camas, andando milagrosamente e correndo por ai
com a notícia de que ela estava chegando.
“Estão todos muito bem e saudáveis no momento,” disse Tia Ogg
diplomaticamente.
“Nenhum velhinho precisando de uma animação?”
Era dado como certo pelas duas ali que o termo “Velhinhos” não as
incluíam. Uma Bruxa de 97 anos não teria se incluído nessa. A velhice era
algo que acontecia às outras pessoas.
“Todos muito alegrinhos já,” disse Tia Ogg.
“Talvez, eu pudesse contar histórias pras crianças?”
Tia Ogg assentiu. Vovó já tinha feito isso antes, quando a atmosfera a
tinha tomado por um momento. E tinha funcionado muito bem, no que
concernia ás crianças. Eles ouviam com a boca aberta de atenção e aparente
diversão à um velho folclore tradicional. O problema era depois de voltarem
pra casa e perguntar o significado de palavras como “estripado”.
“Eu poderia sentar numa cadeira de balanço enquanto conto as histórias,”
Vovó adicionou. “É assim que tem que ser feito, pelo que eu me lembro.
Poderia levar algumas das minhas maçãs de caramelo especiais. Isso não
seria legal?
Tia Ogg acenou novamente, em uma espécie de devaneio horrorizado. Ela
percebeu que somente ela estava no caminho de um iminente ataque furioso
de gentileza da Vovó.
“Caramelo,” ela disse. "Seria daquele tipo que você fez que dá pra quebrar
vidro com ele, ou aquele outro que o nosso menino Pewsey teve que ter sua
boca cavucada com uma colher?”
“Acho que sei o que fiz de errado na ultima vez.”
“Você sabe que você e açúcar não se dão bem, Esme. Lembra dos pirulitos
que você fez?
“Duraram o dia todo! Gytha.”
“Só porque o nosso Pewsey não conseguia tirar da boca até puxar dois
dentes junto,Esme. Você tinha que ficar só nos picles.Você e os picles se dão
bem.”
“Eu tenho que fazer alguma coisa, Gytha, não posso ser uma velha
rabugenta o tempo todo. Eu sei disso! Vou ajudar nas Olimpíadas. Me
dedicar às coisas necessárias.
Tia Ogg sorriu interiormente. Então estava decidido.
“Definitivamente. Tenho certeza de que a Senhora Earwig vai ficar muito
contente em lhe dizer o que fazer. E mais tonta ainda da parte dela se ela
realmente o fizer,”
“Tenho certeza que ta tramando alguma coisa.”Tia Ogg pensou.
“Falarei com ela,” disse Vovó. “Tenho certeza que deve ter pelo menos um
milhão de coisas que eu poderia fazer pra ajudar, é só eu me dispor a isso.”
“Tenho certeza de que vai,” disse Tia Ogg candidamente. “Tenho o
pressentimento que vai fazer a diferença toda.”
Vovó começou a fuçar na sacola novamente. “Você também estará junto por
lá não vai, Gytha?”
“Eu?” disse ela. “Não perderia por nada.”

Tia Ogg se levantou especialmente cedo. Se iria acontecer alguma catástrofe


ela queria sentar na janelinha pra ver.
E o que tinha pra ver eram bandeirinhas.
Penduradas de árvore em árvore em terríveis loops brilhantemente coloridos
pelo caminho em direção às Olimpíadas. Tinha algo estranhamente familiar
naquilo também. Não era possível tecnicamente alguém com uma tesoura ser
capaz de recortar um triangulo daquele jeito, mas alguém conseguiu. E era
óbvio que aquelas bandeirinhas tinham sido feitas de roupas velhas,
porcamente recortadas. Tia Ogg percebeu isso porque não existiam muitas
bandeirinhas que tinham gola e manga por ai. Já na arena das Olimpíadas,
pessoas arrumavam barracas e ralhavam as crianças. O Comitê estava de
pé,relutantemente ao pé de uma árvore, ocasionalmente olhando para uma
figura toda rosa no topo de uma escada muito alta.
“Ela já tava ali antes do sol raiar,” disse Letícia, assim que Tia Ogg se
aproximou.“Ela disse que ficou acordada a noite toda fazendo as
bandeirinhas.”
“Conta pra ela sobre os bolinhos,” disse Gammer Beavis sombriamente.
“Ela fez bolinhos?” disse Tia Ogg. “Mas ela não sabe cozinhar!”
O Comitê se afastou. Muitas senhoras contribuíam com a comida para as
Olimpíadas. Isso era tradição já e uma forma velada de competição por si só.
No centro da grande mesa de pratos cobertos estava um prato maior com
uma pilha alta de...coisas, de uma cor e um formato indefinido. Parecia com
um rebanho de vacas que tinham comido muita uva-passa podre e ficado
extremamente doentes. Tinham bolinhos pré-históricos, bolos de grande
porte, e esse que não tinha espaço entre aquelas guloseimas.
“Ela nunca levou jeito pra coisa,” disse Tia Ogg parcamente. “Alguém
provou um pedacinho?”
“Hahaha,”disse Gammer solenemente.
“Tão meio duros não tão?
“Dá pra matar um troll na pancada com aquilo.”
“Mas ela tava tão…meio que …orgulhosa pelo que fez,”disse Letícia. “E
então veio a...a geléia.”
Era um pótão.
Parecia estar cheio com uma lava roxa solidificada.
“Bom ein...colorido né,”disse Tia Ogg. “Alguém provou?”
“Não conseguimos tirar a colher de lá de dentro,” disse Gammer.
“Oh, tenho certeza que...“
“Só conseguimos cortar com um machado.”
“O que ela ta planejando Senhorita Ogg? Ela tem uma natureza que tem
uma predileção para a vingança,” disse Letícia. “Você é amiga dela,” ela
adicionou, seu tom de voz sugeria que isso estava mais pra uma acusação do
que pra uma constatação.
“Não sei o que ela está pensando, Senhora Earwig.”
“Achei que ela ia ficar de fora.”
“Ela disse que ia se voluntariar pra encorajar os jovens talentos.”
“Ela está planejando alguma coisa, isso sim,” disse Letícia sombriamente.
“Aqueles bolinhos são algum plano pra diminuir a minha autoridade.”
“Não, não, aquele é o jeito que ela cozinha mesmo,” disse Tia Ogg. “Ela não
leva jeito pra coisa” Sua autoridade ein? ela pensou taciturnamente.
“Ela ta terminando as bandeirinhas,”Gammer noticiou. “Agora vai tentar
ser útil de novo, lá vêm ela.”
“Bem...poderíamos pedir pra ela montar a Barraca de Pesca.”
Tia Ogg ficou branca. “ Você quer dizer aquela Barraca em que as crianças
ficam em volta de uma banheira enorme cheia de farelo pescando e vendo o
que conseguem tirar?”
“Sim”
“Você vai deixar a Esme Cera do Tempo cuidar disso?”
“Sim.”
“Bom, pelo menos ela tem um senso de humor diferente, se é que você me
entende.”
“Bom dia à todos!”
Era a voz de Vovó Cera do Tempo. Tia Ogg ouvira essa voz por quase uma
vida inteira. Mas ela estava com aquele ar estranho novamente. Ela soava...
agradável.
“Estávamos pensando que você poderia supervisionar a Barraca da Pesca,
Madame Cera do Tempo.”
Tia Ogg vacilou. Mas Vovó simplesmente disse: “Feliz em ajudar, Senhora
Earwig, mal posso esperar pra ver as carinhas deles na hora de puxar os
presentinhos.”
“Nem eu,” pensou Tia Ogg.
Quando os outros se afastaram, ela se aproximou da amiga.
“Porque ta fazendo isso?” ela disse.
“Realmente não sei do que está falando, Gytha.”
“Já vi você derrubar criaturas terríveis, Esme. Já vi você segurar um
Unicórnio pelo colarinho pelo amor dos Deuses. Qual seu plano?”
“Ainda não sei do que está falando, Gytha.”
“Tá brava por que não te deixaram participar, e agora ta planejando uma
vingança terrível né?”
Por um momento as duas encararam o campo. Estava começando a encher.
As pessoas brincavam de boliche com os porcos e brigavam perto do poste
embezuntado de óleo. A banda Voluntários de Lancre tentava tocar um
medley de músicas populares, o que era um desastre porque cada integrante
estava tocando uma música diferente. Crianças brigavam. Fazia um dia
muito quente,provavelmente o último do ano.Seus olhos foram conduzidos a
encarar o tablado rodeado por cordas no centro do campo.
“Você vai entrar nas Olimpíadas, Gytha?disse Vovó.
“Você não respondeu minha pergunta!”
“Qual era mesmo?”
Tia Ogg decidiu não bater em porta trancada. “Sim, vou dar o ar da graça
pra ver o que acontece,” ela disse.
“Realmente espero que vença, viu? Torceria por você, só que não seria justo
com as outras. Vou ficar quietinha lá no fundo em silêncio como um
ratinho.”
Tia Ogg tentou a astúcia. Seu rosto se abriu num largo sorriso e cutucou a
amiga.
“Certo, certo,”ela disse. “Só que...você pode me contar ,tá?Eu não gostaria
de perder nadinha quando acontecer. Então se você pudesse me dar só um
sinalzinho antes,ta?”
“À que está se referindo, Gytha?”
“Esmerelda Cera do Tempo, tem horas que me dá vontade de te dar uns bons
tapas!”
“Oh Céus!”
Tia Ogg não costumava xingar, ou pelo menos usar palavras além das
fronteiras do que os Lancrastianos pensavam ser uma “linguagem
adequada”. Ela agia como se tivesse usado palavras de baixo calão, e tinha
acabado de pensar em uma boa, mas a maioria das Bruxas são muito
cuidadosas com o que dizem. Não dá pra ter muita certeza de como as
palavras vão se comportar quando estiverem fora do alcance da boca. Mas
agora ela xingou baixinho e causou pequenos incêndios na grama seca.
Isso a colocou no estado de espírito certo para amaldiçoar. Dizem que isso
foi feito uma vez em um ser vivo que ainda respirava, bem no inicio do
evento, mas essa não era uma atitude correta para um dia em família como
esse,e por centenas de anos as Maldições tinham que ser direcionadas ao
Charlie Azaradão,que era,não importando o jeito com que você olhasse,
nada mais do que um espantalho. Tendo em vista que maldições são
direcionadas normalmente à mente do amaldiçoado, isso figurava como um
problema muito grande, porque de qualquer forma um simples “Que a sua
palha mofe e as suas cenouras apodreçam” não surtiam muito efeito em
espantalhos com abóbora no lugar do cérebro. Mas pontos eram distribuídos
para os que tinham estilo e inventividade.
Todos ali sabiam para quê o evento servia e não era para xingar o Charlie
Azaradão.
Teve um ano em que Vovó fez a abóbora explodir. Ninguém nunca
descobriu como ela conseguiu isso.
Alguém iria embora no final do dia e todos saberiam quem era o vencedor,
não importando o que a pontuação diria. Você poderia vencer o Prêmio do
Chapéu mais Pontudo do Ano e da Manobragem de Vassouras, mas isso era
só entretenimento. O que realmente importava era o Truque em que você
vinha trabalhando o verão todo.
Tia Ogg tinha arrastado o último lugar,pela Décima Nona vez consecutiva.
Muitas Bruxas tinham aparecido à mais esse ano.
Notícias da retirada de Madame Cera do Tempo estavam circulando, e nada
corre mais rápido do que notícia no seleto círculo do ocultismo, tendo em
vista que a fofoca não precisa percorrer estradas de chão firme. Muitos
chapéus pontudos circulavam e acenavam em meio à multidão.
As Bruxas são geralmente tão sociáveis quanto gatos, mas, também como os
gatos, existem locais, épocas específicas e terrenos neutros onde costumam se
encontrar mais ou menos em paz.E o que estava acontecendo ali era algo
como uma devagar e complicada dança ...
As Bruxas andavam pra lá e pra cá dizendo Olá uma pra outra, e se
apressando para encontrar as novatas, um espectador inocente poderia até
acreditar que ali estava realmente rolando um encontro de velhas amigas de
verdade. O que à um certo nível ,até era mesmo.
Mas Tia Ogg olhava através dos olhares, observava os sutis
posicionamentos, os cuidadosos levantamentos, pequenas mudanças de base,
o fino contato visual sintonizado pela intensidade e pela duração. E
quando uma Bruxa estava na Arena, especialmente se ela era
comparativamente desconhecida, todas as outras encontravam uma
desculpa pra ficar de olho nela, preferivelmente sem parecer que estavam.
Era como observar gatos. Gatos passam um tempo considerável observando
um ao outro. Quando tem que lutar, é simplesmente pra atestar algo que já
estava decidido e estampado na testa de cada um.
Tia Ogg sabia disso tudo.
E também sabia que a maioria das Bruxas eram bondosas(no
geral),gentis(para com os mansos),generosas(para os dignos;os indignos
recebiam mais do que mereciam),e no geral bastante dedicadas à uma vida
que realmente oferecia mais chutes no traseiro do que beijinhos no rosto.
Nenhuma delas morava em casa feita de pão doce e chocolate, embora
algumas das jovens mais antenadas já tivessem provado vários tipos de
confeitos. Mesmo as crianças que mereciam não foram jogadas dentro do
forno. Geralmente as Bruxas faziam o que sempre fizeram, que era suavizar
a passagem de seus vizinhos para dentro e para fora do mundo e ajudá-los
em alguns dos obstáculos mais desagradáveis no meio do caminho.
Você precisava ser um tipo especial de pessoa pra fazer isso, precisava de um
tipo especial de orelha, porque viu pessoas em circunstancias onde eram
inclinadas a contar coisas do tipo “onde estava enterrado o dinheiro ou onde
o pai estava escondido ou como tinham conseguido roxear o olho de novo”.
E você precisava de um tipo especial de boca também, do tipo que
permanecia fechada. Manter segredos te faziam poderosa. Ser poderosa te
dava respeito. Respeito era a moeda dentro dessa irmandade(que não era
irmandade,era um livre ajuntamento de crônicos não-participantes).
Um grupo de Bruxas não era uma multidão, era uma pequena guerra de
egos, e isso todos sabiam.
Nada tinha a ver com que o mundo classificava como Status. Nada nunca
era dito. Mas se uma Bruxa Anciâ vinha a falecer, as Bruxas locais com
certeza iriam no funeral para dar umas últimas palavras, e então ir
solenemente sozinhas pra casa, com um pequeno e insistente pensamento
matutando na cabeça: “Subi mais uma posição.”
Por isso as novatas eram observadas com muito, muito cuidado.
“Bom dia, Senhorita Ogg,”disse uma voz atrás dela.”Acredito que esteja
bem não é mesmo ?”
“Como sempre estou, Senhorita Shimmy,” disse Tia Ogg se virando. Seu
sistema de arquivamento mental jogou uma carta: Dona Clareza Shimmy,
vive zanzando com sua velha mãe pelas redondezas de PoucaSombra,
usando rapé,boa com animais.
“Como anda sua mãe?”disse Tia Ogg.
“Enterramos ela semana passada, Senhorita Ogg.”
“Tia Ogg meio que gostava de Dona Clareza, porque ela não costuma vê-la
freqüentemente.”
“Ai minha nossa…” ela disse.
“Mas direi a ela que você perguntou dela sim, de qualquer maneira,” disse
Dona Clareza. Ela olhou de relance em direção a Arena. “Quem é aquela
gordinha lá agora? Tem uma corcunda nela parecendo uma bola de boliche
numa gangorra curta.”
“Aquela é a Agnes Nitt.”
“Isso sim é que é uma boa voz pra amaldiçoar ein.Você sabe que foi
amaldiçoada quando nasce com uma voz como aquela.”
“Ah sim, eu diria que ela foi abençoada com uma voz pra amaldiçoar,”disse
Tia Ogg educadamente.” A própria Esmerelda Cera do Tempo que deu umas
dicas pra ela,”ela adicionou.
A cabeça de Dona Clareza virou. Na extrema ponta do campo, uma
pequena forma rosa sentava-se sozinha atrás da Barraca da Pesca. Aquilo
parecia que não estava atraindo a atenção de ninguém. Dona Clareza de
aproximou.
“O que ela …an…ta fazendo?”
“Num sei,” disse Tia Ogg. “Acho que ela decidiu ser agradável com as
coisas.”
“A Esme?Agradável?”
“Er...sim,”disse Tia Ogg. Aquilo não soava nem um pouco melhor agora que
ela disse em voz alta.
Dona Clareza encarou-a. Tia Ogg a viu fazer um sinalzinho com a mão
esquerda, e então se levantou.
Os chapéus pontudos estavam agrupados no momento.
Haviam pequenos grupos de três ou quatro.Dava pra ver as pontas se
aproximarem conversando animadas,e então se abriam como uma
flor,encarando a distante mancha rosa.Aí um chapéu migrou
propositadamente para outro grupo mais distante, e o processo se repetiu
varias e varias vezes.Era como observar uma fissão nuclear lentamente. No
começo, precipitação excitada e logo logo uma explosão bem preparada.
De quando em quando alguém se virava e olhava pra Tia Ogg, até que ela
correu pra longe dos espetáculos e foi parar perto da barraca do Zakzak
Braçoforte ,o anão. Criador e fornecedor de bugigangas de ocultismo para os
mais impressionáveis. Ele acenou pra ela alegremente de cima de um display
que dizia “Ferradura da Sorte 2 pences cada”.
“Olá, Senhorita Ogg” ele disse.
Tia Ogg percebeu que estava afobada.
“O que tem de sortudo nelas?” disse ela pegando uma ferradura.
“Bom, eu ganho dois dólares por cada uma ,”disse BraçoForte.
“E isso faz elas serem da sorte?”
“Faz eu pelo menos!” disse BraçoForte. “Vai querer levar uma também? Eu
teria ido buscar mais caixas se soubesse que iria vender tão bem, algumas
Senhoras levaram duas caixas de uma vez.”
Havia uma leve inflexão na palavra “Senhoras”.
“Bruxas comprando ferraduras da sorte?” disse Tia Ogg.
“Como se não houvesse amanhã,” disse BraçoForte. Ele franziu a testa por
um momento. Elas eram Bruxas de qualquer forma.
“Er...vai haver amanhã,amanhã…não é mesmo?”e le adicionou.
“Tenho quase certeza que sim,” disse Tia Ogg, que parecia não ter
confortado ele muito não.
“Surpreendentemente venho comercializando muito bem ervas protetoras
também,” disse BraçoForte.
E, sendo anão, o que significava que ele veria no Dilúvio uma oportunidade
de vender toalhas, acrescentou, “Tá interessada, Senhorita Ogg?”
Tia Ogg balançou a cabeça. Se a confusão iria vir de onde todo mundo
estava olhando, um raminho de arruda não ajudaria em nada. Uma baita
duma sequóia seria mais útil, ou talvez não.
A atmosfera estava mudando.
O céu estava de um grande e pálido azul, mas havia relâmpagos no
horizonte e no vasto mundo da mente de todos ali.
As Bruxas estavam desconfortáveis e com tantas no mesmo lugar o
nervosismo balançava de um para outra, amplificando e se retransmitindo
pra todas.
Se elas estavam assim, você poderia imaginar como pessoas comuns, das que
acham que uma ameixa seca serviria de runa se sentiriam, provavelmente
começariam a sentir uma profunda preocupação existencial, do tipo que te
faz morder seus filhos na orelha e sentar pra tomar uma cerveja depois.
Tia Ogg bisbilhotou por um vão entre algumas barracas. A figura rosa tinha
voltado a sentar pacientemente, e um pouco abatida, atrás de um barril.
Havia, por assim dizer, uma enorme fila de ninguém.
Então Tia Ogg correu da cobertura de uma barraca para a outra até que ela
viu uma movimentação maciça. O comércio já tinha se intensificado por lá,
mas ali no meio dos tecidos, tinha uma pilha de bolinhos horríveis. E o pote
de geléia. Alguém tinha escrito à giz numa plaquinha ao lado: “Retire a
colher da geléia ,3 tentativas por uma moeda.”
Ela pensou que tinha tido o cuidado de ficar escondida, mas ela ouviu a
palha farfalhar atrás dela. O Comitê tinha encontrado-a.
“É a sua caligrafia não é, Senhora Earwig?” ela disse. “Isso é cruel. Não
...foi nada ...agradável”
“Decidimos que você é quem vai até lá conversar com a Madame Cera do
Tempo,” disse Letícia.“Ela tem que parar com isso”
“Com isso o que?”
“Ela está mexendo com a mente das pessoas! Ela veio até aqui pra colocar
alguma influência na gente, não é? Todo mundo sabe que ela usa
Cabeçologia, que ela faz magia mental. Todos estão sentindo! Ela está
estragando tudo!”
“Ela só ta ali sentadinha,” disse Tia Ogg.
“Ah sim, mas e como ela está ali sentadinha, posso perguntar?
Tia Ogg olhou para a barraca novamente.
“Bom...tipo normal. Sabe...dobrada no meio e com os joelhos...”
Letícia levantou um dedo firme.
“Escute aqui, Gytha Ogg..."
“Se você quer que ela vá embora, você vá lá e diga isso pra ela!” lançou Tia
Ogg.Estou cheia de ....”
Então ouviram um grito agudo de criança. As Bruxas se olharam, e
correram pelo campo até a Barraca de Pesca. Um garotinho estava se
contorcendo no chão. Era Pewsey, o neto mais novo de Tia Ogg. Seu
estômago congelou na hora. Ela se endireitou, e olhou diretamente para a
cara de Vovó.
“O que você fez com ele,sua…”Letícia começou.
“Nenê num qué bunequinha qué?Num quê bunequinha?Nenê quer
soldadinho?SoldadinhoGugu Dadá!
Tia Ogg olhou a boneca rasgada na mão grudenta de Pewsey e para a
expressão de raiva chorosa e afrontada no seu rosto, e no seu berro gutural.
“U Nenê qué soldadinho!”
Olhou para as outras Bruxas e finalmente para Vovó Cera do Tempo, e
sentiu uma vergonha fria subindo pelas suas botas.
“Eu só disse que ela poderia por de volta a boneca e tentar de novo,” disse
Vovó humildemente. “Mas ele não quis me ouvir.”
“Nenê qué soldadinho qué?” disse Vovó.
“Pewsey Ogg, se você não calar essa boca agora eu vou...” Tia Ogg começou,
e sacou a pior punição que podia pensar, “Eu não vou te dar docinho nunca
mais na vida!”
Pewsey fechou a matraca, arrastado para o silêncio por essa inimaginável
ameaça. Então, para o horror de Tia Ogg, Letícia Earwig se aprumou e
disse, “Madame Cera do Tempo, nós preferiríamos que você fosse embora.”
“Estou atrapalhando?” disse Vovó. “Espero não estar atrapalhando. Eu
não quero ser um incômodo. Ele só tentou pescar uma vez e...”
“Você está....irritando as pessoas.”
À qualquer minuto, Tia Ogg pensou. À qualquer minuto ela vai erguer a
cabeça e cerrar os olhos e se a Letícia não der pelo menos uns dois passos pra
trás, ela vai ficar muito mais intragável do que eu.”
“Eu não posso ficar só pra assistir?” Vovó disse tranquilamente.
“Conheço o seu joguinho,” disse Letícia. “Está planejando estragar tudo,
não é mesmo? Você não suporta a idéia de ser vencida, por isso ta ai
planejando algo terrível.”
“Três passos pra trás,” Tia Ogg pensou. Ou não ia sobrar pedra sobre pedra.
À qualquer minuto...
“Oh, eu não gostaria que ninguém pensasse que estou estragando nada,”
disse Vovó.Ela suspirou e se levantou. “Vou pra casa então...”
“Não vai não!” interveio Tia Ogg, empurrando as costas dela pra baixo na
cadeira. “O que vocês pensam disso tudo, Beryl Dismass?E você, Letty
Parkin?”
“Todas elas...” Letícia começou.
“Eu não estava falando com você!”
As Bruxas atrás da Senhora Earwig evitaram o olhar de Tia Ogg. “Bom,
não é que ...sabe, não achamos que...”começou Beryl meio sem jeito. “É
que...sempre tive muito respeito pela...mas...bem, é pelas outras...”
A voz dela foi miando. Letícia olhou triunfantemente.
“Sério? Acho que é melhor irmos então, no fim das contas.” Disse Tia Ogg
amargamente. “Não gosto muito da companhia por essas bandas. Ela olhou
em volta. “Agnes? me dá uma mãozinha pra levar a Vovó pra casa...”
“Eu realmente não preciso...” começou Vovó, mas as outras duas Bruxas
gentilmente pegaram-na pelos braços e a acompanharam pela multidão, que
se esquivavam pra deixá-las passarem e se viravam para vê-las partir.
“Provavelmente foi melhor pra todos assim, nessas circunstancias,” disse
Letícia.
Varias Bruxas tentaram não olhar para o seu rosto.
Tinha pedaços de material jogados pelo chão todo da cozinha da Vovó, e
pingos de geléia congelada tinham escorrido da borda da mesa e formado um
monte imóvel no chão. A panela de geléia tinha sido deixada na pia de pedra
pra escorrer, embora era claro que o ferro iria enferrujar antes que a geléia
amolecesse. Tinha uma fileira de jarros de picles vazios também. Vovó se
sentou e colocou suas mãos no colo.
“Quer uma xícara de chá, Esme?” disse Tia Ogg.
“Não, querida, obrigada. Você tem que voltar para as Olimpíadas. Não se
preocupe comigo.”
“Certeza?”
“Vou ficar sentadinha aqui quietinha. Não se preocupe.”
“Eu não vou voltar pra lá!”Agnes cochichou, enquanto elas saiam da
cabana. “Eu não gosto do jeito que a Letícia sorri...”
“Você uma vez me disse que não gostava da carranca da Esme também,”
disse Tia Ogg.
“Sim, mas você pode confiar que uma carranca será sempre uma carranca,
An...você não acha que ela ta perdendo o jeito, acha ?
“Ninguém seria capaz de adivinhar se ela tivesse,” disse Tia Ogg. “Não,
você vem comigo de volta. Tenho certeza de que ela está
planejando...alguma coisa. Eu queria por um inferno saber o que é,”ela
pensou. “Não sei se agüento esperar mais.”

Ela conseguia sentir a tensão aumentando antes de elas chegarem até o


gramado. É claro, sempre havia tensão, isso era parte das Olimpíadas, mas
esse tipo tinha um gosto azedo e desagradável.
As preliminares ainda estavam acontecendo, mas as pessoas normais
estavam indo embora, assustadas pelas sensações que eles não sabiam direito
o que era, mas que conseguiam sentir na palma da mão.Com relação às
Bruxas propriamente ditas, elas tinham aquele olhar preocupado de atores
de filme de terror nos últimos minutos do filme, quando eles sabem que o
monstro está prestes a dar a investida final e agora só restava saber por
qual porta ele iria entrar.
Letícia estava cercada de Bruxas. Tia Ogg podia ouvir as vozes altas. Ela
cutucou outra Bruxa, que estava olhando à esmo taciturnamente.
“O quê ta acontecendo Winnie?
“Oh, Reena Trump fez uma orelha de porco com uma peça e as amigas tão
dizendo que ela deveria ter outra chance porque ela tava muito nervosa.”
“Que pena.”
“E a Virago Johnson vazou porque o seu feitiço do tempo deu errado.”
“Parece que o tempo fechou pra ela não é?
“E eu perdi a confiança quando dei minha tacada. Você não vai participar
também?”
“Oh, nunca fui muito de prêmios, Winnie, você me conhece. É a alegria de
participar que conta.”
A outra Bruxa lhe deu um olhar meio enviezado.
“E eu quase acreditei viu,” disse ela.
Gammer Beavis se aproximou correndo. “Sua vez, Gytha,”ela disse. “Dê o
seu melhor ein? A única finalista até agora é a Senhorita Weavit e o Sapo
que Assobia dela, e ele nem conseguiu manter uma nota afinada sequer.
Tadinho tava muito nervoso.”
Tia Ogg encolheu os ombros, e andou até à arena isolada pelas cordas. Lá na
frente alguém estava tendo ataques de histeria, pontuadas por ocasionais
assobios dissimulados de preocupação.
Diferente da magia dos Magos, a magia das Bruxas normalmente não
envolvia aplicação de muito poder em forma bruta.
Seria basicamente a diferença entre martelos e alavancas.
Bruxas geralmente tentam encontrar um pequeno ponto onde pequenas
mudanças fazem toda diferença no resultado final .Para causar uma
avalanche, por exemplo, você poderia chacoalhar a montanha, ou poderia
procurar pelo local exato pra derrubar um floco de neve. Esse ano Tia Ogg
tinha trabalhado descompromissada no “O Homem de Palha”.Era o truque
ideal pra ela. Causava umas risadinhas, era levemente sugestivo, e era muito
mais fácil do que parecia, no entanto mostrava que ela estava participando,
o que era o mais importante e dificilmente ganharia.
Ela estava contando com aquele sapo pra ganhar dela. Ela tinha ouvido ele
assobiar lindamente durante as manhãs no verão.
Ela se concentrou. Pedaços de palha farfalharam no restolho. Tudo que ela
tinha que fazer era usar as pequenas lufadas de vento que pairavam pelo
campo, permitindo que se movimentassem espiralando aqui e ali. Ela tinha
feito aquilo centenas de vezes. Mas ela não parava de lembrar do rosto de
Vovó Cera do Tempo, e o jeito com que ela se sentou na cadeirinha,
sentindo-se confusa e magoada, mesmo que por apenas alguns segundos Tia
Ogg estava prestes à matar alguém de tanta raiva, por um momento ela
conseguiu manter as pernas firmes do Homem de Palha, endireitar os braços
e a cabeça. Houve um punhado de aplausos dos espectadores. Então um
redemoinho errante pegou a coisa antes que ela pudesse se concentrar em seu
primeiro passo, e girou, deixando ali um monte de palha inútil.
Ela fez alguns gestos frenéticos pra fazê-lo se levantar de novo. E falhou
miseravelmente, se emaranhou e ficou imóvel, se recusando à se levantar.
Houveram mais algumas palminhas, nervosas e esporádicas. Algo parecido
com aplausos.
“Me desculpem...parece que não tá afim de dar uma caminhada hoje,”ela
murmurou, saindo do campo.
Os juízes se amontoaram.
“Me lembro daquele sapinho indo muito bem,” disse Tia Ogg, mais alto do
que o necessário.
O vento, diferente de alguns minutos atrás, soprava mais cortante agora.
O que poderia ser chamado de escuridão psíquica do vento estava sendo
realçado pelo crepúsculo real.
A sombra da fogueira apareceu do outro lado do campo.
Quase todas as não Bruxas já tinham ido pra casa à essa altura. O que o dia
tinha de bom pra oferecer já tinha sido drenado. O circulo de Juízes tinha se
desfeito e Letícia Earwig avançou pela multidão, com um sorriso apenas
levemente polido nos cantos.
“Bom, que decisão difícil foi essa,” ela disse esbanjando brilho. “Mas que
reviravolta maravilhosa também! Realmente foi uma escolha complicada...”
“Entre eu e um sapo que não sabia assobiar que enfiou o pé dentro do
banjo?” pensou Tia Ogg.Ela olhou de soslaio para os rostos de suas irmãs
Bruxas. Ela conhecia algumas delas por mais de 60 anos. Se ela soubesse ler,
ela teria lido os rostos de cada uma delas com precisão.
“Todos nós sabemos quem venceu, Senhora Earwig,” ela disse
interrompendo o discurso.
“O que voce quer dizer Senhorita Ogg?”
“Não teve ao menos uma Bruxa aqui hoje que conseguiu se concentrar e
manter a mente no lugar,”disse Tia Ogg.“E a maioria comprou amuletos da
sorte hoje. Bruxas? Comprando amuletos da sorte?”
Várias delas olharam pro chão encabuladas.
“Não entendo porque todo mundo tem tanto medo da Madame Cera do
Tempo! Eu certamente não tenho. Você acha que talvez ela tenha colocado
algum tipo de feitiço em você?”
“E um dos bons ainda, receio dizer,” disse Tia Ogg. “Olha, Senhora Earwig,
ninguém venceu, não com o que apresentamos hoje aqui. Todas nós sabemos
disso. È melhor irmos embora pra casa, o que acha?
“Certamente que não! Paguei 10 pences por essa taça aqui e pretendo dá-la
ao campeão”
As folhas mortas estremeceram nas árvores.
As Bruxas se juntaram com receio disfarçado.
Ramos sacudiram.
“É só o vento,” disse Tia Ogg.”Só isso...”
E então do nada, Vovó Cera do Tempo estava ali.
Era como se elas não tivessem notado que ela estava ali o tempo todo.Ela
tinha um jeitinho especial de desaparecer do primeiro plano.
“Só achei que deveria vir ver quem ganhou,” ela disse. “Me juntar para
aplaudir, e então...”
Letícia se adiantou até ela, possessa de raiva.
“Você entrou na cabeça das pessoas?” ela gritou.
“E como eu poderia fazer isso, Senhora Earwig?” disse Vovó gentilmente.
“Depois de todos aqueles amuletos da sorte?”
“Mentirosa!”
Tia Ogg ouviu as respirações ofegantes e a dela foi a mais alta.
Bruxas viviam pelas suas palavras.
“Eu nunca minto, Senhora Earwig.” disse Vovó Cera do Tempo firme como
uma flecha.
“Você nega então que armou para estragar o meu dia?”
Algumas Bruxas na ponta da multidão começaram a recuar.
“Tenho certeza de que minha geléia não é pra todos os gostos, mas eu
nunca...” Vovó começou, num tom modesto.
“Você colocou “influencia” em todo mundo!”
“Eu só vim ajudar, pode perguntar pra qualquer um!”
“Colocou sim! Admita!” A voz de Letícia Earwig era estridente como de
uma gaivota.
“..eu certamente não coloquei nenhum ...”
A cabeça de Vovó virou quando veio de súbito o tapa na cara.
Naquele momento ninguém respirou, ninguém se mexeu.
O vento cessou imobilizando as folhas.
Ela levantou a mão lentamente e esfregou sua bochecha.
Pareceu à Tia Ogg que o grito de Letícia ecoou pelas montanhas. A taça
caiu de suas mãos e se amassou no restolho.
Então a paisagem descongelou.
Algumas de suas irmãs Bruxas deram um passo à frente, colocaram suas
mãos nos ombros de Letícia que foi puxada, gentilmente e sem protestos,
para longe dali...
Todas as outras esperavam para ver o que Vovó Cera do Tempo iria fazer.
Ela levantou sua cabeça.
“Espero que a Senhora Earwig esteja bem,” ela disse. “Parece que ela está
um pouco...estressada.”
Houve silêncio.
Tia Ogg pegou a taça amassada e bateu com o dedo indicador.
“Hmm...” ela disse. “É só banhado à ouro, eu acho. Se ela pagou dez pences
por isso, a pobrezinha foi enganada.”Ela jogou a taça para Gammer Beavis
que a pegou no ar. “Você poderia devolver à ela amanhã?”
Gammer concordou, tentando não fazer contato visual com Vovó.
“Ainda assim, não podemos deixar isso estragar a festa,”disse Vovó
tranquilamente. “Vamos finalizar o dia da maneira correta, o que acham?
Do jeito tradicional. Com batatinha assada, marshmellows e estórias ao
redor da fogueira. E acima de tudo o perdão. Deixando no passado o que
ficou pra trás.
Tia Ogg podia sentir o repentino alívio se espalhando como um ventilador.
As Bruxas pareciam voltar a vida, ao quebrar o feitiço que nunca realmente
esteve lá pra começo de conversa. Houve um endireitamento geral e um
começo de alvoroço enquanto se encaminhavam para as suas belas montarias
(vassouras velhas).
“O Sr. Hopcroft me deu uma saco cheio de batatas,” disse Tia Ogg,
enquanto o converseiro surgia ao redor delas. “Eu vou lá buscar. Você
poderia ir acendendo o fogo, Esme?”
Uma mudança repentina no ar a fez prestar atenção.
Os olhos de Vovó brilharam no crepúsculo.
Tia Ogg a conhecia o suficiente para se jogar no chão.
A mão de Vovó fez uma curva no ar como um cometa, e a faísca voou,
crepitando.
A fogueira explodiu.
Uma chama branco-azulada subiu pelos galhos empilhados e dançou pelo
ar, cravando sombras pela floresta. Soprando chapéus, revirando mesas.
Aquilo deixara uma imagem roxa nos olhos que queimava até o cérebro.
E depois tudo se acalmou.
E voltou a ser uma simples fogueira.
“Perdoar sim, mas eu não disse jamais que iria esquecer!” disse Vovó.

Quando Vovó Cera do Tempo e Tia Ogg andavam de volta pra casa por
volta do amanhecer, suas botas levantavam levemente a névoa que vinha
atrás
Tinha sido, no geral, uma noite agradável.
Depois de um tempo, Tia Ogg disse. “Aquilo não foi agradável, o que você
fez.”
“Não fiz nada.”
“Sim, bem...não foi agradável, o que você não fez. Foi tipo como se alguém
tivesse arrancado a cadeira de um pobre infeliz prestes a se sentar.”
Houve um pequeno tamborilar nas folhas, um desses leves chuviscos que
você sente quando algumas gotas de chuva se negam à se juntar ao resto do
grupo.
"Bem, certo então," Tia Ogg concedeu. “Foi só um pouco cruel."
"Ceeerto," disse Vovó.
"E talvez uma ou outra pessoa poderia até pensar que foi meio sujo."
"Ceeerto."
Tia Ogg estremeceu ao lembrar dos pensamentos que tinham passado pela
sua cabeça naqueles poucos segundos em que o pequeno Pewsey estava
gritando..
"E eu não te dei motivo nenhum para pensar algo como aquilo," disse
Vovó."Eu não coloquei nada na cabeça de ninguém que já não estivesse lá
dentro."
"Desculpa, Esme."
"Ceeerto."
"Mas a Letícia não tinha a intenção de ser cruel, Esme. Digo, ela é
rancorosa e mandona e bobinha,mas..."
"Você me conhece desde que éramos meninas, certo? "Vovó interrompeu."
Coisas boas e ruins, pesadas e leves já passamos não foi mesmo?
"Sim, é claro, mas..."
"E você nunca saiu falando pra mim coisas como "Te digo isso como
amiga",não é mesmo?"
Tia Ogg balançou a cabeça. Foi um momento revelador. Ninguém
remotamente amigo falaria algo do tipo.
"De qualquer forma, o que tem de empoderamento em feitiçaria?" disse Vovó.
"È uma palavra meio idiota até"
"Eu por exemplo,” disse Tia Ogg. "Só comecei na feitiçaria pra atrair os
mocinhos, pra falar a verdade."
"E você acha que eu não sei?"
"E porquê você começou, Esme?
Vovó parou, e olhou para o céu gelado e então novamente para o chão.
"Não sei," ela disse finalmente. "Mesma coisa, acho."
Então tudo tinha terminado.
Os cervos fugiram pra longe quando as duas chegaram à cabana da Vovó.
Havia um monte de lenha empilhada perto da porta dos fundos e um par de
sacos na soleira da porta. O primeiro contendo um quiejão bem grande.
"Parece que o Sr.Hopcroft e o Sr.PobreGalo passaram por aqui," disse Tia
Ogg.
"Hmpf." disse Vovó olhando para o cuidadoso porém muito mal escrito
pedaço de papel pregado no segundo saco...:

"Caríssima Mandame Cera do Tempo, Eu ficaria grastissimu se a sinhora me


deixasse nomiar essas novíssimas campiãns do varejo de "Mandames Cera do
Tempo".Do seu (espero que em boa saúdi)Percy Hopcroft.”

"Ora, ora, ora, quem será que lhe deu uma idéia dessas ?"
"Não faço idéia," disse Tia Ogg.
"Aposto que você não sabe," disse Vovó.
Aquilo cheirava muito suspeito, puxou a corda do saco e tirou uma
"Mandame Cera do Tempo" da Esme. Era arredondada, ligeiramente
achatada e pontuda em uma extremidade.
Era uma cebola.
Nanny Ogg engoliu em seco. "Eu disse pra ele não fazer isso..."
"O que?"
"Ah...nada não..."
Vovó Cera do Tempo virou lentamente a cebola, enquanto o mundo por
intermédio de Tia Ogg,aguardava uma resposta.Então, parecia que ela tinha
conseguido chegar à uma decisão com que estivesse confortável.
Um vegetal muito útil, a cebola,” disse ela finalmente. “Firme.Afiado."
"Bom para ensopado", disse a Tia Ogg.
"Funciona. Adiciona sabor."
"Quente e picante", disse Tia Ogg, perdendo a noção da metáfora no fluxo de
alívio. "Bom com queijo...e algumas ervas mais..."
"Não precisamos ir tão longe", disse Vovó Cera do Tempo, colocando-a
cuidadosamente de volta no saco. Ela parecia quase amigável. "Quer entrar
pra tomar chá, Gytha?"
"Er ... é melhor eu ir andando..."
"Acho justo."
Vovó começou a fechar a porta e depois parou e abriu novamente. Tia Ogg
podia ver um olho azul observando-a através da fenda.
"Mas eu estava certa, não estava?", disse a Vovó. Aquilo não era uma
pergunta.
Tia Ogg assentiu. “Ceeerto,” ela disse.
"Isso é bom...e....,Vovó adicionou. “Bem agradável.”

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