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Correção Teste de Avaliação n.

º 6
Novos Contextos –-
Ano letivo 20 / 20
Nome da Escola Filosofia | 10.º
Turma N.º Data / / 20

Professor

Os valores – análise e compreensão da experiência valorativa


- Valores e cultura – a diversidade e o diálogo de culturas

1. Podemos caracterizar a cultura como sendo:


 um conjunto de manifestações materiais e imateriais (algumas delas referidas na
afirmação: usos, costumes, religião, conceção do mundo e da existência,
técnicas) que refletem a especificidade de um grupo de indivíduos na sua
maneira de sentir, pensar e agir;
 um fenómeno universal, de todos os tempos e lugares que foram ou são
marcados pela presença humana;
 uma resposta do ser humano às suas necessidades mais imediatas – a da
sobrevivência e a de viver-com-outros –, constituindo uma condição de
adaptação ao meio natural e social;
 a possibilidade de aperfeiçoamento da própria dimensão natural dos seres
humanos.

Deste modo, a nossa identidade, aquilo que somos enquanto indivíduos, é


inseparável do nosso contexto cultural. Todo o ser humano é um «ser de cultura».
Todavia, a nossa cultura não é a única: existe uma pluralidade de culturas, com
modelos de comportamento, hábitos e costumes diferentes.
Ora o reconhecimento da pluralidade e da diversidade de culturas equivale à
afirmação de uma diversidade de valores: existem diferentes critérios valorativos de
cultura para cultura, e as razões que permitem explicar as decisões e as ações de um
grupo são, à partida, diferentes das que permitem explicar as de outro.

2.1. O etnocentrismo corresponde a uma visão centrada ou egocêntrica de uma cultura


em relação às outras. Trata-se de uma atitude em que se avalia as outras culturas a
partir dos valores e padrões de comportamento da cultura a que pertence aquele que
desenvolve tal atitude. Deste modo, como se refere na afirmação, no âmbito do
etnocentrismo os indivíduos tomam «a sua cultura ou sociedade como centro, modelo
de referência e norma», rejeitando a diversidade cultural.
Pelo contrário, o relativismo equivale a uma atitude de aceitação e respeito pela
diversidade cultural, atitude baseada no pressuposto de que cada cultura só pode ser
avaliada a partir de dentro, isto é, dos seus valores, ideias e padrões de
comportamento.

2.2. O etnocentrismo promove a assimilação. Isto significa que as culturas dominantes


tendem a impor os seus valores e modelos de comportamento às culturas minoritárias.
Esta atitude tem como possíveis consequências o racismo, a xenofobia, o patriotismo
ou nacionalismo exagerados.
Já o relativismo promove a separação. De facto, assume-se que há diferentes
culturas que se toleram, mas que vivem de costas voltadas, sem contacto entre si,
tendendo a separar-se ou isolar-se. Como possíveis consequências destaca-se a
possibilidade de ocorrerem fenómenos de segregação – por exemplo, os guetos (ou
grupos isolados).
3.1. De acordo com o relativismo, deve praticar-se a tolerância, evitando toda a postura
etnocêntrica e dogmática que possa levar à afirmação da supremacia de uma só
cultura. A atitude do relativista assenta na recusa da ideia de valores absolutos.
Ser tolerante significa, neste contexto, conviver pacificamente com os outros,
respeitando as suas diferenças. Sendo assim, «nunca devemos interferir com os
hábitos de outras sociedades». Ora a tolerância assim entendida é, por vezes,
classificada como passividade face ao outro ou mera simpatia. É uma tolerância que
acaba por ser contraditória quanto ao seu princípio: se tudo é válido e igualmente bom,
não há nada para tolerar, mas tudo a aceitar. Se tudo for igualmente aceitável, não há
tolerância, mas apenas indiferença.

3.2. Se a moral é sempre relativa à sociedade na qual fomos educados, então os


princípios e valores morais defendidos por uma comunidade serão tão aceitáveis e
legítimos quanto os defendidos por outra comunidade qualquer. Neste caso, se, por
exemplo, a escravatura ainda fosse permitida como no tempo dos Gregos antigos em
determinado país europeu, seríamos obrigados a acatar que ela é legítima à luz da
cultura desse país e, portanto, nada poderíamos fazer senão respeitar tal conduta. Ora,
se assim for, assumir o relativismo é assumir que tudo se torna legítimo, até mesmo a
hipótese que contraria os princípios do relativismo. Logo, ou o relativismo se
autodestrói, ou não admite uma outra posição que não seja a do próprio relativismo e,
neste caso, entra em contradição.

4. A situação não é tolerável porque a atitude intercultural implica respeito pelos direitos
humanos – os direitos dos presos/criminosos (enquanto pessoas) não estão a ser
considerados.
Como europeus temos o direito de intervir e até o dever porque: a) acreditamos
que há vínculos que unem os diferentes países/comunidades e valores que partilhamos;
b) os diferentes países da Europa assumem a universalidade dos direitos humanos;
logo, não poderíamos ser tolerantes com este retrocesso relativamente à Declaração
Universal dos Direitos do Homem; c) este assunto (a ser verdadeiro) teria de ser
debatido antes de qualquer tomada de decisão.
Segundo o interculturalismo, é preciso que as diferentes culturas comuniquem,
estabeleçam o diálogo, no sentido de se enriquecerem mutuamente. Este é um dos
pontos centrais da atitude intercultural, bem presente no “espírito” da União Europeia.

5. A proposta da filósofa Monique Canto-Sperber de uma «universalidade posta em


contexto» consiste numa resposta ao problema da possibilidade/impossibilidade de
encontrar valores universais comuns e partilháveis por todas as culturas. É uma posição
que pretende ultrapassar as lacunas do relativismo cultural, sem esquecer, no entanto,
a importância da diversidade cultural e o respeito pela diferença. Assim, apresentando
uma solução intermédia – entre a tendência para defender apenas o contexto particular
e cultural do indivíduo e a tendência para delimitar normas e princípios tão gerais e
abstratos que são difíceis de concretizar na vida prática –, a filósofa defende a
existência de um núcleo fundamental de valores universais que não esteja afastado do
contexto cultural em que cada ser humano se encontra integrado e que, sendo
universal, terá, naturalmente, expressões distintas em cada uma das diferentes
culturas.

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