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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PÍAUI

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS- DCIES
DISCIPLINA: HUMANIDADE E CIÊNCIAS SOCIAIS
PROFª. DRª. MÁRCIA LEILA C. PEREIRA
PERÍODO: 2020.1

VICTOR VIEIRA SAMPAIO

O FUTEBOL COMO IDENTIDADE NACIONAL

Teresina- PI
2020
VICTOR VIEIRA SAMPAIO

O FUTEBOL COMO IDENTIDADE NACIONAL

Trabalho apresentado para a disciplina de


Humanidade e Ciências Sociais da Universidade
Federal do Piauí, como requisito parcial para
obtenção de nota.

Orientadora: Márcia Leila C. Pereira

Teresina- PI
2020
O FUTEBOL COMO IDENTIDADE NACIONAL
A princípio, ao realizar a escolha dos textos/artigos utilizados para a construção da
narrativa apresentada, fora levado em consideração três momentos importantes para a
compreensão do leitor sobre o processo de consolidação do ideário do futebol como uma
identidade nacional: a definição e compreensão do que se trata uma identidade nacional; a
gênese do futebol no Brasil e a formação cultural do futebol como uma peça importante da
identidade nacional.
Tratando-se dos aspectos que definem uma identidade nacional, têm-se que a
identidade coletiva pode ser adquirida de variadas formas, desde imposições nacionalistas,
lutas coletivas de classes e até mesmo a luta pela independência de um país, ou seja, através
de uma razão onde o corpo social “luta” ou torce em conjunto por uma determinada
finalidade. Alguns exemplos mais concretos desse assunto, pode ser observado através de
lutas presentes em movimentos de mulheres e negros, onde um grupo em conjunto luta em
busca da igualdade. Analogamente pode-se afirmar que a identidade nacional pode ser
definida como o sentimento de pertencimento a uma nação (ou grupo), algo que no Brasil
ocorre com grande sucesso em decorrência do futebol (MARQUES; DOMINGUES, 2014:
467).
Por conseguinte, o estudo realizado por Marques e Domingues (2014) se aprofundou
através de uma pesquisa exploratória na definição de diversos autores sobre o que de fato se
trata uma “identidade nacional”, onde é possível perceber que a identidade coletiva de uma
nação pode se alterar ao longo dos anos, não sendo determinada somente por um ou dois
aspectos. Por conta disso, é possível observar que o futebol, a variedade de religiões presentes
no país e a diversidade étnica, só demonstram a pluralidade de fatores que contribuem para a
construção de uma identidade coletiva para o corpo social brasileiro. No entanto, alguns
questionamentos acerca desse assunto ainda estão presentes no ideário dos autores, tornando o
estudo não conclusivo, acerca de todos os fatores que contribuem para a construção de uma
identidade nacional.

[...] a globalização é um dos fatores que unem as identidades e as transformam. Como


pensar numa identidade fixa se estamos constantemente envolvidos com outras
identidades e construindo a nossa a partir da relação com essas outras? Existe um
elemento comum que una toda uma nação com tantas diferenças? De que maneira o
brasileiro se identifica com o Brasil? Acreditamos que estas sejam questões que podem
ser objeto de estudo de futuras pesquisas da Psicologia. (MARQUES; DOMINGUES,
2014: 469).
A partir disso é possível perceber que a construção de uma identidade nacional
depende também de fatores efêmeros, como por exemplo, o período no qual uma nação se
encontra. Em outras palavras, suponha que em um determinado país constantemente ocorre
guerras provenientes de lutas de classes, tornando esse revés algo que unirá o corpo social, a
fim de encontrarem uma solução para a problemática. Após a resolução se tornará necessário
outros fatores que unam a nação novamente, seja a sua cultura, etnia ou religião, algo que se
mostre efetivo. No Brasil o futebol assume esse papel com sucesso, haja vista que ao longo
dos anos o esporte se caracterizou como algo atemporal e inclusivo para os brasileiros. No
entanto, no início da implementação da categoria esportiva no país, apenas uma classe seleta
da população o praticava, não sendo inclusivo, e tão pouco era tido como um ator importante
para a consolidação de uma identidade nacional no país. Ademais, é pertinente evidenciar os
questionamentos de Marques e Domingues (2014) sobre a existência de um único fator que
possa unir uma nação com tantas diferenças, seria o futebol a assumir esse papel? Para melhor
compreensão das razões pelas quais o futebol é considerado a identidade de uma nação, é
preciso compreender o processo de implementação do mesmo no país.
Hodiernamente, o futebol se tornou uma das grandes paixões nacionais, reunindo
pessoas de diversas regiões do país, de distintas classes sociais, sexo e idade, tornando-se um
dos poucos esportes capazes de promover a união entre esses indivíduos de forma genuína e
fraterna. Entretanto, na primeira infância do futebol no Brasil, o esporte não possuía os
aspectos supracitados, sendo um jogo praticado e destinado somente à elite brasileira. Charles
Miller é considerado o “pai” do futebol no Brasil, pois fora um dos percursores do esporte.
Aos 10 anos de idade, assim como toda criança proveniente de uma família de elite do século
XIX, o pequeno Miller foi estudar no Sul da Grã- Betanha, em Southampton, onde teve o
primeiro contato com o futebol, o esporte foi inserido na instituição como mais uma forma de
prática da disciplina de educação física nos horários de recreação das crianças, todavia, o
futebol já se popularizava entre as camadas populares do país. Quando Charles Miller
retornou ao Brasil, trouxe consigo uma bola e suas chuteiras, em seguida, apresentou o
esporte aos jovens da elite brasileira, popularmente conhecidos na época como de “boas
famílias”, esses indivíduos possuíam interesses esportivos distintos do futebol, como golfe,
tênis e similares, isso não impediu Miller de plantar a semente do futebol em solo brasileiro.
Miller proporcionou ao país em 1895, especificamente em São Paulo, a primeira partida de
futebol documentada no país, transformando essa data como o “início” do futebol no Brasil
(MÁXIMO, 1999: 179).
Conforme o que fora supracitado acima, é possível perceber que o futebol durante o
findar do século XIX no Brasil era um esporte elitizado, Máximo (1999) relata em seu estudo
a xenofobia e o racismo que ocorria entre os campos do país, onde alguns mulatos
(especificação do artigo) eram impedidos de praticar o esporte. Essa informação pode ser
validada através de observações feitas durante o ano de 1921, onde o próprio presidente da
república, Epitácio Pessoa, “recomendou” que não incluísse mulatos na seleção brasileira que
iria competir no campeonato Sul-Americano em Buenos Aires, pois segundo Pessoa, era
preciso projetar uma “boa imagem” dos brasileiros no exterior. Em decorrência disso, o
futebol a princípio, foi formado exclusivamente da elite Brasileira durante meados do século
XIX e XX.
A partir do que é relatado no estudo de Máximo (1999), é possível perceber que a
origem do futebol brasileiro teve a elite nacional (de maioria branca) como base progenitora.
No entanto, ao longo dos anos e no decorrer da sua consolidação, o futebol obteve inclusão
social, onde os seus principais jogadores não eram provenientes da tão aclamada elite paulista
e carioca, mas eram em sua maioria, negros e mulatos. Em decorrência dos avanços
relacionados a inclusão no futebol, o esporte hoje é tido como um dos mais populares no
Brasil e no mundo. Sendo considerado pelos brasileiros o maior representante da identidade
nacional.
O futebol sendo caracterizado como um dos principais responsáveis pela construção
da identidade nacional dos brasileiros torna pertinente alguns questionamentos sobre os
motivos que elevaram essa categoria esportiva a este patamar. Após a implementação do
esporte no país, o futebol não se restringiu somente ao campo ou quadras esportivas de alto
padrão, o futebol se tornou um esporte democrático, sendo praticado em campos de areia, ou
nos quintais de inúmeros brasileiros, independentemente de classe social, raça, sexo e idade.
Assim como fora praticado entre amigos e familiares por pura diversão, ou em campeonatos
amadores, que transformava quem apenas assistia as partidas em torcedores assíduos. Um
conjunto de inclusão, democratização, coletividade e paixão.
O futebol como identidade nacional pode ser algo visualizado com mais clareza a cada
quatro anos, quando ocorre a tão aguardada copa do mundo. O evento reúne seleções de
futebol de várias regiões do globo, despertando o espírito nacionalista não só nos brasileiros,
mas em todos cidadãos do mundo. No entanto, a copa do mundo possui um sentindo mais
profundo para os brasileiros, após cinco vitórias da seleção, a espera pelo hexa ainda
permanece contínua. Durante a copa de 1938, na cidade de Estrasburgo, o Brasil perdeu a
semifinal para a Itália, terminando o campeonato mundial em terceiro lugar. Essa derrota em
campo abalou profundamente o povo brasileiro, da mesma maneira que a atuação em campo
dos jogadores fora reverenciada pelo corpo social, onde o espírito nacionalista começou a se
consolidar em torno do futebol. A seleção da época era pioneira, uma das primeiras a serem
formadas por mulatos, negros, brancos e indígenas, demonstrando a relevância e a
importância da miscigenação no país. Pois, em decorrência disso, a união do que melhor o
Brasil poderia oferecer em campo pôde ser apresentada ao público nacional e mundial, haja
vista que os jogadores brasileiros quando em equipe possuíam um jeito único em campo, se
sobressaindo das demais seleções. “O vínculo simbólico entre o conceito de nação e o
desempenho da seleção nacional de futebol se consolidara” (AZEVEDO, 2008: 21).
Azevedo (2008) também relata em seu estudo a forte influência que a política obteve
sobre o futebol em diferentes momentos da história do Brasil, criando um sentido ideológico
do esporte para o Estado, principalmente em meados de 1938, durante o governo Vargas.
Getúlio Vargas já estava no poder há oito anos, e após o sucesso que a seleção obteve entre os
brasileiros e estrangeiros, proveniente da forma excêntrica e única dos jogadores se
comportarem em campo, o então presidente decidiu proporcionar a seleção investimentos e
patrocínios, a fim de tornar o futebol brasileiro uma força de primeira grandeza no cenário
esportivo mundial, contribuindo discretamente para que o futebol se tornasse a identidade
nacional do país.
Em contrapartida, é pertinente citar novamente o estudo de Marques e Domingues
(2014), onde o leitor é instigado a questionar a respeito dos aspectos que constituem uma
identidade nacional, os autores afirmam que não é possível construir a identidade de uma
nação a partir de apenas um ou dois aspectos. A partir disso é possível perceber que o futebol
começou a ser visto como um símbolo nacional em decorrência de aspectos secundários,
como a inclusão de jogadores negros, mestiços, indígenas e mulatos na seleção brasileira, e
claro, por conta do bom e excêntrico desempenho em campo que só os jogadores brasileiros
demonstravam. Além disso, outro fator responsável para o futebol ser visto como um símbolo
nacional fora a democratização do esporte, não sendo restrito à elite brasileira, como relatado
no estudo de Máximo (1999). Ademais, Azevedo (2008) relata com êxito o processo de
planejamento que o Estado em 1938 tivera, com a finalidade de inserir o futebol brasileiro
como identidade da nação, visando principalmente prestigio internacional e principalmente
capital financeiro. No entanto, a partir da análise dos estudos de Marques e Domingues
(2014), Máximo (1999) e Azevedo (2008) é possível constar que o futebol brasileiro
realmente se caracteriza como um aspecto formador da identidade nacional. Contudo, esse
título fora atribuído ao esporte não somente pelo bom desempenho em campo dos jogadores,
mas também por interesses políticos. Logo, conforme Marques e Domingues (2014) relatam,
um único ator não pode resumir ou definir a identidade de uma nação. Com isso, é possível
relatar que o Brasil possui inúmeros atores e aspectos que constituem sua identidade, o futebol
é um, “misturado” intimamente com a história do Brasil, e de todo corpo social.

REFERÊNCIAS
AZEVEDO, José Petrúcio Rodrigues de. FUTEBOL E IDENTIDADE
NACIONAL. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, [s. l.],
2008. Disponível em: http://www.edufrn.ufrn.br/bitstream/123456789/547/1/FUTEBOL
%20E%20IDENTIDADE%20NACIONAL.pdf. Acesso em: 20 jan. 2020.

MARQUES, DOMINGUES, Cecília Baruki da Costa, Eliane. A identidade nacional brasileira


em teses e dissertações: uma revisão bibliográfica. Revista Psicologia Política, São Paulo, v.
14, 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-
549X2014000300004. Acesso em: 21 jan. 2021.

MÁXIMO, João. Memórias do futebol brasileiro. Estudos Avançados, [s. l.], 1999.


Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ea/v13n37/v13n37a09.pdf. Acesso em: 20 jan.
2021.

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