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DOMINGO, 27 DE FEVEREIRO DE 2011 O ESTADO DE S. PAULO

Trampolim TV por assinatura


DIRETO DE BRASÍLIA O novo partido, cujo estatuto já O governo quer aprovar ainda em

JOÃO BOSCO RABELLO está sendo elaborado por advoga-


dos especialistas, não abrigará ape-
nas parlamentares oriundos do
março, no plenário do Senado, o pro-
jeto que define novas regras para a
TV por assinatura, que abre o merca-

✽ joao.bosco@grupoestado.com.br
DEM, embora tenha origem em do para as operadoras de telefonia.
seu conflito interno. E nem todos A pedra no caminho é o senador Eu-
seguirão para o PSB, impedidos nício de Oliveira (PMDB-CE), que
por questões ideológicas ou regio- preside a Comissão de Constituição

Eleição para legitimar PDB nais – ou ambas. Portanto, se bene-


ficiarão da operação do prefeito
de São Paulo e do governador de
e Justiça (CCJ) e que se autono-
meou relator do projeto. O Planalto
quer, agora, isolar Eunício.
Pernambuco, além do PSB, o
PMDB e até o PT – este menos

S
ondagens junto ao Tribunal se encaixam nas exceções da regra da que aquele. Quem perde é o DEM, Rádios comunitárias
SuperiorEleitoral (TSE),fei- fidelidade partidária (notória persegui- “A mim não parece estranho” que sofrerá a segunda redução em
tasporinteressadosnoparti- ção e profunda mudança ideológica). seus quadros (a primeira foi ditada O Ministério das Comunicações
do a ser criado pelo prefeito A criação de nova sigla é a terceira Orlando Silva pelo eleitor). prepara edital de emergência para
Gilberto Kassab, indicaram que para exceção prevista, mas, pelas consultas MINISTRO DO ESPORTE, SOBRE O AUMENTO DE habilitar novas rádios comunitá-
ter risco jurídico zero na empreitada informais feitas até agora, participar VERBAS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO EM rias. Um levantamento oficial indi-
éconvenientesubmeteranovalegen- daseleiçõesde 2012legitimariapolitica- PERÍODO ELEITORAL Jogo de cena cou que 13 municípios não as pos-
da a, pelo menos, uma eleição. mente a operação. Por esse caminho, a suem. Desses, seis ficam em São
Embora especialistas e até ex-mi- cronologia da criação do Partido da De- A reforma política ganhou contor- Paulo: Santo André, Osasco, São
nistros do TSE achem remota a hipó- mocracia Brasileira (PDB) seria seu nos de encenação pública com mais Caetano do Sul, Taboão da Serra,
tese de um julgamento desfavorável anúncio, registro, filiações e lançamen- velocidade que nas versões anterio- Arujá e Itapevi. A explicação é o
a Kassab, em que o tribunal conside- to de candidatos a prefeitos e vereado- res. Não há quem, entre os protago- congestionamento de espectro na
rasse o novo partido uma manobra res em 2012. nistas e no governo, acredite na sua Grande São Paulo. O governo quer
para driblar a regra da fidelidade par- Após as eleições municipais, aí sim, realização. A própria estruturação pelo menos uma rádio comunitária
tidária, a possibilidade existe. haveria a fusão com o PSB, viabilizando do debate, com comissões na Câma- em cada município.
Oriscodeumainterpretaçãodesfa- a candidatura de Kassab ao governo es- ra e no Senado já indicam que a
vorável ao prefeito está na criação da tadualporumalegendaexpressivajáen- vontade política é restrita a ques- estadão.com.br
legenda e subsequente fusão com o gordada por filiados trazidos pelo pre- tões pontuais, como o fim das coli-
PSB, que deixaria claro o propósito feito paulistano. Principal liderança do gações e o prazo para a infidelidade Blog. Requião deixa Renan
de abrir uma porta de saída para insa- PSB, o governador de Pernambuco, partidária sem risco de perda do em saia justa no PMDB
tisfeitos de outros partidos, que não Eduardo Campos, está entusiasmado. mandato. blogs.estadao.com.br/joao-bosco/
GERALDO BUBNIAK/ARENA

FOTOS: ARQUIVO/AE

Advogados criam
a sua ‘memória
da resistência’
Profissionais que enfrentaram a ditadura ao defender militantes
nos anos de maior repressão vão criar centro de documentação Auditoria. Julgamento de Lula em São Paulo em 1981: regime o acusava por greves ilegais

Marcelo Godoy Celso Martinez Corrêa, a arqui-


PARA LEMBRAR teta Lino Bo Bardi e o engenhei-
Conservar a história dos pro- ro Ricardo Zarattini Filho, então
fissionais que lutaram contra militante do Partido Comunista
a ditadura militar. Esse é o ob- O Ato Institucional n.º 2 Revolucionário (PCR).
jetivo de um grupo de advoga- (AI-2), de 1965, determinou “Advogar era assumir riscos.
dos que decidiu montar um que todos os crimes contra a Um dia, o Zé Celso ligou para
centro de documentação com segurança nacional fossem meu escritório. Disse que ia para
os depoimentos de advogados julgados pela Justiça Militar. o Dops, que o haviam convoca-
de presos políticos no Brasil Os conselhos de sentença do”, disse Tales. O advogado foi
durante a ditadura militar. ficaram responsáveis pela encontrá-lo. Ao chegar, um in-
O material reunido em São instrução dos processos con- vestigador que Tales defendera
Paulo, Rio, Curitiba, Porto Ale- tra os opositores do regime. em um processo o chamou de la-
gre e Recife deve servir de base Em 1968, o AI-5 suspendeu do.“Osenhor éadvogadodomo-
paraum documentário aser diri- a possibilidade de habeas cor- ço do teatro?” Tales disse que
gidoporCésarChalone(respon- pus para os crimes políticos. sim. “Então tira ele daqui que ele
sável pela fotografia do filme Ci- Em 1969, o AI-14 instituiu a vaificar(preso).”Oadvogadope-
dade de Deus). pena de morte, a prisão perpé- gou o cliente pelo braço e o man-
Umdosdepoimentosjáfoigra- tua, o banimento e o confisco dou fugir. Da recepção do Dops,
vado. É do criminalista e diretor dos bens para esses crimes. A Zé Celso partiu para o exílio em
de teatro Idibal Pivetta. Depois situação só mudou com a edi- Moçambique e em Portugal.
devemvirosdeBelisáriodosSan- ção da nova Lei de Segurança
tos Junior, José Carlos Dias e Ta- Nacional em 1978 e a extin- Risco. Tão arriscado quanto
les Castelo Branco. “Nossa ideia ção dos atos institucionais darfugaaumclienteeraapresen-
é entregar o arquivo para uma em janeiro de 1979. Naquele tá-lo à Justiça Militar. Era 1968
universidade, como a Unicamp mesmo ano foi aprovada, em quando a arquiteta Lino Bo Bar-
(Universidade Estadualde Campi- agosto, a Lei de Anistia. di teve a prisão decretada. Lina Teatro e perigo. Pivetta se dividia entre o Dias difíceis. Lula no Dops: anos em que
nas), para qualquer pesquisa- abrigara em sua casa uma reu- palco e a ajuda a oposicionistas ameaçados qualquer forma de resistência era arriscada
dor ter acesso”, disse Belisário, nião do que os militares chama-
umdosidealizadores doprojeto. de teatro: de conflito em confli- vam de “cúpula da subversão em nunca foi preso como Idibal Pi- teatro universitário, encenava era a rotina, escutar os gritos.”
De 1970 a 1983, o criminalista to”, afirmou Belisário. Havia São Paulo”. “Ela era simpatizan- vetta, que passou 94 dias no Des- na zona leste a peça Rei Momo Tãoimportantequanto conse-
Belisário acostumou-se aos cor- pouco mais de uma dezena des- te e emprestou a casa. Enquanto tacamento de Operações de In- quando foi detido por agentes guirsentençasmaisbrandaseab-
redores das auditorias militares ses advogados em cada cidade eles se reuniam, ela ficou traba- formações (DOI), no Departa- doDOI,queconsiderouoespetá- solviçõesde clientes era mostrar
– defendeu estudantes, sindica- importante do País. Eram pou- lhando em sua prancheta”, disse mento de Ordem Política e So- culo subversivo. No DOI, Pivet- às autoridades que a prisão de
listas e militantes políticos co- cos, mas estavam entre eles o ca- Tales.Quandotudofoidescober- cial (Dops) e no presídio do Hi- ta encontrou cerca de 20 clien- alguém não era mais um segre-
moosenadorAloysioNunesFer- tólico Sobral Pinto, o professor to, ela foi se refugiar em Milão, pódromo, na zona leste. Pivetta tes, a maioria alunos da geologia do. “Muitas vidas foram salvas
reira (PSDB-SP). Só uma parte Heleno Cláudio Fragoso, Pivet- sua terra natal. defendeu quase 600 acusados da USP. “Imagine a situação: eu, desse jeito”, disse Belisário.
do que ele e outros defensores ta e jovens como José Carlos Seu marido, o então diretor do departicipaçãoem gruposarma- o advogado que deviatirá-los da- Depois da anistia, em 1979, a
fizeramnessesanosestáregistra- Dias. Por tradição, não cobra- Museu de Arte de São Paulo dos e outro tanto que militava li, estava preso”, afirmou. atividadedosadvogadosnaJusti-
donos processos.Oque ficoufo- vam pelo trabalho. Muitas vezes (Masp), Pietro Maria Bardi, pro- em partidos ilegais. ça Militar minguou. Passariam
ra, na lembrança de advogados e foram ameaçados ou acabaram curou o advogado. “Tive de con- Também entrou com cerca de Gritos. Em 1973, Pivetta ficou pelo banco dos réus toda a cúpu-
clientes, é um mundo cheio de na cadeia por causa dos clientes. vencê-lo a chamá-la de volta. Ti- 400 ações na Justiça para passa- na cela onde antes estivera o es- la do PCB e Luiz Inácio Lula da
denúncias contra o arbítrio das O criminalista Tales Castelo nha certeza de que revogariam a porte para os exilados, como o tudante Alexandre Vannucchi Silva, enquadrado pelas greves
leis de segurança nacional e con- Branco, de 75 anos, era um deles. prisãoseelavoltasse.”Talesesta- dramaturgo Augusto Boal, que Leme, morto pouco antes pela que comandou no ABC. Foi as-
tra as torturas, os desapareci- Entre os seus mais de 50 clientes va certo. Lina retornou, e a Justi- viveu na Argentina, Portugal e polícia.Oadvogadonãofoifisica- sim até o fim do regime, em 1985.
mentos e os assassinatos. acusados de delitos políticos es- ça Militar a absolveu. França. mente torturado, mas presen- “Foram anos terríveis. Ninguém
“Vivíamos como em uma peça tavam o diretor de teatro José Tales sofreu ameaças, mas Pivetta, que trabalhava com ciou muitos que foram. “O pior dormia em paz”, lembra Pivetta.

ENTREVISTA
MARCIO FERNANDES/AE
dos advogados de presos políti- ● Como era defender um cliente zes disseram que aquela era uma
Belisário dos Santos Júnior, cos no Brasil com os de outros sabendo que ele podia ser conde- situação de guerra, que a morte
Membro da Comissão Internacional de Juristas países da América Latina? nado à morte? do tenente não era um vilipen-
Advogados de direitos humanos A gente tinha no fundo uma con- dio ao oficialato. Eles se recusa-
‘Na ditadura, advogar no Brasil atuavam na área pe-
nal. Advogar era denunciar tor-
vicção de que a pena de morte
não seria aplicada. Tínhamos a
ram a aplicar a pena de morte.

tura ou atuar na defesa dos pro- confiança de que no Superior ● Era possível, então, advogar,
era denunciar tortura’ cessos criminais. No Peru, eram
os defensores das grandes lides
Tribunal Militar e no STF essa
pena não seria aplicada e essa
mesmo sem o habeas corpus?
Sim. Nós inventamos a comuni-
trabalhistas. Na Bolívia, os advo- confiança foi justificada no caso cação de prisão. Uma coisa que
Nascido em 1948, em São Paulo, ticos durante a ditadura militar gados dos mineiros. No Chile, fi- do Ariston Lucena (militante da devia ser feita pela autoridade
Belisário dos Santos Junior mili- (1964-1985). Secretário da Justi- cavam na resistência em associa- Vanguarda Popular Revolucioná- competente, os advogados fa-
tou na Juventude Estudantil Ca- ça de Mário Covas (1995 a 2001), ções internacionais, assim co- ria condenado à morte pela audi- ziam. O clamor público salvava
tólica (JEC) e era estudante de ele hoje é integrante da Comis- mo no Uruguai. Ali não havia ad- toria militar de São Paulo pela vidas. Quando alguém era pre-
direito na Faculdade do Largo são Internacional de Juristas. vogados de dentro, pois eles morte do tenente da PM Alberto so, a primeira coisa que se fazia
São Francisco, da USP, quando eram perseguidos. Na Argenti- Tática. ‘O clamor público Mendes Junior), quando o minis- era ligar para o advogado, para
começou a defender presos polí- ● É possível comparar a atuação na, quem não saiu desapareceu. salvava vidas”, diz advogado tro Alcides Carneiro e outros juí- a imprensa, para o STM. / M.G.

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