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Documento de Revisão do Estado da Arte: O

Uso de BIM na Construção e Gestão de


Subestações de Energia Elétrica

Universidade Federal de Uberlândia


Grupo de Realidade Virtual e Aumentada

Uberlândia
2020
Gestão do Projeto
RESERVADO

Revisão do Estado da Arte acerca da uti-


Documento: lização do BIM aplicado a subestações de
energia elétrica.

Coordenador de Projeto: Alexandre Cardoso (UFU)


Código do Documento: CDGPD-2020.1-1.1

Data de Criação: 05/07/2020

Data de Versão: 28/08/2020


Número de Páginas: 49
Estado: Para avaliação

Aprovador:

Assinatura:
Autores

Dr. Alexandre Cardoso alexandre@ufu.br


Dra. Ana Marotti amarotti@furnas.com.br
Dr. André Luís de Araujo andre.araujo@ufu.br
Dr. Arnaldo J. P. Rosentino Jr arnaldo.rosentino@uftm.edu.br
Dr. Edgard Afonso Lamounier Jr. lamounier@ufu.br
Dr. Gerson Flávio Mendes de Lima gersonlima@ieee.org
Diogo Martins Azevedo diogo.ma@ufu.br
Victor Biagiotti Saint Martin. victor.saintmartin@ufu.br

Contato: (34) 99166-1249


Histórico do Documento

Versão Data Autores Comentários


1.0 05/07/2020 Diogo e Victor Concepção do documento
1.1 07/07/2020 Alexandre, Edgard, Gerson e André Revisão
1.2 07/07/2020 Diogo e Victor Correções
1.3 07/08/2020 Diogo e Victor Incrementos textuais
1.4 25/08/2020 Diogo e Victor Reestruturação e reescrita do documento
1.5 27/08/2020 André e Arnaldo Incrementos textuais
1.6 28/08/2020 Edgard Lamounier Incrementos textuais
1.7 27/08/2020 Alexandre Cardoso Incrementos textuais
Lista de ilustrações

Figura 1 – Vista simplificada das disciplinas de engenharia em projeto de


subestações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Figura 2 – Integração Geographic Information Systems (GIS) e Building
Information Modeling (BIM) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Figura 3 – Diferentes níveis de desenvolvimento de uma edificação. . . . . . 21
Figura 4 – Diferentes níveis de desenvolvimento de processo. . . . . . . . . 23
Figura 5 – Procedimento iterativo da fase de seleção de trabalhos para ela-
boração do estado da arte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Figura 6 – Modelo de malha de aterramento apresentado pela Duke Energy. 36
Figura 7 – Framework de concepção de projetos BIM . . . . . . . . . . . . 39
Lista de tabelas

Tabela 1 – Associação das funcionalidades BIM & GIS . . . . . . . . . . . 20


Tabela 2 – Quantidade de resultados obtidos em cada base de dados ou
motor de busca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Tabela 3 – Critérios de Inclusão (Critérios de Inclusão (CI)), Critérios de
Exclusão (Critérios de Exclusão (CE)) e suas respectivas des-
crições. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Tabela 4 – Questões da pesquisa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Tabela 5 – Lista dos resultados selecionados e das questões de pesquisa
respondidas por cada um deles . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Tabela 6 – Tabela de comparativa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Lista de siglas

AECO Arquitetura, Engenharia, Construção e Operação

AIA American Institute of Architects

AV Ambiente Virtual

BIM Building Information Modeling

CAD Computer-Aided Design

CI Critérios de Inclusão

CE Critérios de Exclusão

ERP Enterprise Resource Planning

GIS Geographic Information Systems


LoD Level of Development

QP questões de pesquisa

RSB Revisão Sistemática Bibliográfica

SE subestação

SLR Systematic Literature Review


Sumário

1 ESTADO DA ARTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.1.1 Contextualização Histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.1.2 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1.3 Conceitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.2 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.3.1 Proposta de uso de BIM e GIS no contexto de subestações de
energia elétrica de alta tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.3.2 Proposta para integrar BIM e GIS em um ambiente virtual . . . 29
1.3.3 Projetos de sistemas elétricos utilizando BIM e GIS . . . . . . . 30
1.3.4 Estudo de associação do BIM com ciclo de vida de fazendas eó-
licas na costas marítima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.4 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

2 APLICAÇÕES BIM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.1 Duke Energy Case . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

3 NORMATIVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.1 Jurídica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.1.1 Normativa BIM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.1.2 Definição do BIM MANDATE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
10

1
Estado da Arte

1.1 Introdução
1.1.1 Contextualização Histórica
Embora se possa considerar a revolução digital do início dos anos 2000 como
um marco fundamental para a Tecnologia da Informação, devido, em grande parte,
pela introdução contundente das linguagens de programação nos processos de mo-
delagem, o estreitamento da relação entre a engenharia e a computação é bem
anterior a isso. No início do século anterior, os primeiros experimentos que con-
duziram ao que se entende hoje por estruturas espaciais trianguladas ou treliças,
utilizadas com frequência em coberturas, pórticos de edifícios e subestações elé-
tricas, foram desenvolvidas por Alexander Graham Bell, que em 1906 fundou a
Aerial Experiment Association, uma organização destinada a construir kits de tor-
res pré-fabricadas (SHANNON, 1948). Ao produzir suas estruturas espaciais, Bell,
provavelmente, não imaginava que um século mais tarde elas seriam projetadas uti-
lizando a mesma tecnologia digital de fluxo de informação presente nos telefones
(ARAUJO, 2018).
A partir dos anos 60, as indústrias automobilística e aeroespacial passaram a
utilizar os computadores como uma ferramenta de auxílio aos processos de projeto
Computer-Aided Design (CAD)1 e, pouco tempo depois, estas tecnologias aden-
1
Computer-Aided Design, pode ser traduzido com projeto assistido por computador; não deve
ser confundido com o aplicativo AutoCAD (Autodesk, Inc.).
1. Estado da Arte 11

traram também os escritórios de engenharia (MITCHELL, 1975). Iniciadas por


essa época, duas práticas fundamentais se consolidaram nos processos de design,
em suas diferentes instâncias (GERO; SUDWEEKS, 1996): 1) a representação da
geometria de objetos por meio de uma prancheta eletrônica; 2) a automatização de
tarefas repetitivas de desenho por meio das linguagens de programação. Enquanto
a primeira se popularizou nos escritórios, por meio de aplicativos comerciais como
o AutoCAD, de 1982, a última se restringiu a experimentações e aplicações especí-
ficas das grandes empresas e universidades norte-americanas, que naquele período
possuíam as workstations, isto é, computadores com capacidade de processamento
compatível com esta atividade.
Utilizando equipamentos deste tipo, Eastman (1975) começou a investigar mo-
delos virtuais cuja a construção se baseava em informações numéricas, imaginando
que uma geometria, em suas versões 2D e 3D, pudesse estar vinculada à infor-
mações não-geométricas, ambas dando origem conjuntamente a um mesmo objeto
gráfico. O avanço desse conceito foi traduzido pela incorporação das linguagens
de programação dentro dos aplicativos gráficos, como o Autolisp no AutoCAD. A
partir dos anos 90, com a difusão da Internet, este conceito evoluiu para a possi-
bilidade da troca virtual de informação, que permitia nutrir modelos digitais com
características físicas e funcionais, oriundas do trabalho de profissionais diversos. A
união entre estes dois conceitos, da programação orientada a objetos geométricos e
interoperabilidades entre o trabalho dos profissionais culminou no que entendemos,
atualmente, como BIM - Building Information Modeling (EASTMAN, 1975).

1.1.2 Motivação
Dentro do contexto da evolução da computação já citado, é importante ressal-
tar o fato de que o uso dos conceitos do BIM auxiliam no planejamento, concepção
e operação de um empreendimento. Essa característica é decorrente de uma docu-
mentação que permite um aprimoramento dos sistemas de produção (KOSKELA;
BALLARD, 2003). Paralelamente, a concepção, a operação e a manutenção de
subestações de energia elétrica utilizam os mesmos conceitos. Atualmente, os pro-
jetos dessas subestações, tanto em suas ampliações quanto em substituições de
equipamentos, utilizam arquivos em extensões de desenho do tipo .dwg, com pou-
1. Estado da Arte 12

cas possibilidades de vincular, em um mesmo modelo, geometria e informações


não-geométricas.
Com isso, concessionárias e proprietários de ativos estão enfrentando desa-
fios crescentes de gerenciamento. Uma vez que, em geral, os arquivos utilizados
para o gerenciamento de subestações consistem em uma base de dados de vis-
tas ortogonais, com constante necessidade de atualização. Em alguns casos, estas
especificações técnicas são elaboradas ao longo de vários anos, englobando desde
ampliações operativas até alteração de ativos de campo. Portanto, tais arquivos
se tornam imprescindíveis no contexto do setor de energia elétrica nacional (PE-
REIRA; SPRITZER, 2007). Isto inclui elevados requisitos para alcançar a con-
fiabilidade do fornecimento de energia em ambientes desafiadores (KOBAYASHI,
2016).
Em projeto de subestações elétricas é comum o envolvimento de diversas equi-
pes oriundas à distintas áreas (AKINTOYE; MCINTOSH; FITZGERALD, 2000).
A título de ilustração, a Figura 1 destaca de forma simplificada as disciplinas
envolvidas em um projeto de subestação.
Uma característica importante de um processo de projeto bom e econômico
é que ele seja executado em etapas definidas, com o fornecimento de pontos de
controle ou revisão em pontos apropriados do processo. Esses pontos de revisão
garantem que os requisitos de projeto sejam atendidos e que quaisquer suposições
iniciais, riscos iniciais ou descobertos ou propostas de mudanças de projeto estão
sendo avaliados e finalizados de uma forma apropriada e controlada que consi-
dera, tanto quanto razoavelmente possível, os impactos potenciais dos riscos ou de
propostas de alterações de projeto.
O projeto de uma subestação tende a ser um processo iterativo, onde um projeto
inicial é proposto e este é, então modificado para atender às condições específicas do
local, requisitos de acesso, restrições de custo e outros aspectos até que um projeto
ótimo seja alcançado. Um bom processo de projeto garantirá que essas iterações
sejam realizadas de maneira controlada para minimizar o esforço desperdiçado ou
mudanças inesperadas.
Também deve ser observado que, embora um processo linear estrito possa aju-
dar a garantir que nenhum retrabalho seja necessário, esta abordagem tende a
resultar em prazos longos de projeto. Dessa forma, normalmente, uma certa quan-
1. Estado da Arte 13

tidade de atividades são realizadas em paralelo para encurtar os prazos do projeto.

Figura 1 – Vista simplificada das disciplinas de engenharia em projeto de subes-


tações.

Fonte: TONKING (2018)

Geralmente, suposições iniciais devem ser feitas, onde um projetista faz inter-
face com outras disciplinas para permitir o início do trabalho de projeto.
Muitos riscos podem ser reduzidos, ou preferencialmente eliminados, na fase de
projeto e, portanto, o feedback de todas as etapas e de todas as partes interessadas
no projeto da subestação é fundamental para melhorar o gerenciamento de riscos
1. Estado da Arte 14

futuros (BUCHS, 2018).


Não obstante, a falta de detalhes pode levar a retrabalho caro e demorado.
Adicionalmente, a interface entre áreas distintas se mostra como fontes comuns
de erros. Além da dificuldade de desenvolver o projeto de maneira colaborativa,
conjunta e simultânea, ainda existe a dificuldade de se manter, periodicamente,
todos os desenhos atualizados, de tal forma que a substituição de um simples ativo
seja contemplada (MANZIONE, 2013).
O processo geral do projeto deve garantir que quaisquer suposições iniciais do
mesmo sejam verificadas antes que os desenhos finais de construção sejam emi-
tidos. De fato, esta área é, possivelmente, a mais comum de erros de projeto.
Os projetistas não devem presumir que verificar o projeto é o fim da questão. O
processo de projeto também deve garantir que quaisquer dimensões críticas ou
detalhes de instalação, por exemplo, a orientação correta dos transformadores de
corrente, seja verificada o mais rápido possível, logo após a instalação do item
específico. Isto para que o impacto de qualquer instalação ou erro de construção
possa ser revisado, e consequentemente, chegar a uma solução apropriada. Neste
sentido, há uma tendência de usar a abordagem BIM para adicionar informações
de gerenciamento de ativos aos modelos com a intenção de desenvolver uma cópia
digital completa da instalação física, a qual pode fornecer uma única fonte com
todas as informações associadas com o ativo (TONKING, 2018)
Assim, a utilização de Building Information Modeling (BIM), que está em
franca expansão nas áreas da Arquitetura, Engenharia, Construção e Operação
(AECO), emerge como uma alternativa à prancheta eletrônica e a processos su-
portados por CAD. Além disso, é caracterizada como um dos maiores avanços da
última década na área (KIM et al., 2012). Por meio desse conceito, é possível gerar
um modelo virtual com suporte e maior precisão às atualizações. Ademais, pode-se
adicionar a este modelo inúmeros dados, como: geometria do objeto, sua localiza-
ção espacial, descrição das características do modelo e informações fundamentais
para seu funcionamento (EASTMAN, 1975).
Dentre as alternativas abertas a partir da utilização do BIM, os gêmeos digitais
(digital twins), que podem ser entendidos como réplicas de uma entidade física
contento diferentes informações vinculadas a mesma geometria (SADDIK, 2018),
surgem como possibilidades promissoras a gestão de projetos em subestações. Com
1. Estado da Arte 15

esta caracterização do modelo, torna-se viável o uso de um Ambiente Virtual (AV)


para o gerenciamento, de forma à conceber um Gêmeo Digital (Digital Twin).
Portanto, ao produzir um gêmeo de uma subestação, acredita-se que será possível
visualizar, virtualmente, uma representação fidedigna da subestação real. Este
modelo será carregado com informações pertinentes atribuídas aos ativos, assim,
possibilitando que distintas áreas acessem esse modelo com objetivos diferentes.
Além disso, através desse tipo de visualização pode-se analisar e simular a
inserção de arranjos dentro de um subestação (SE) em construção ou já existente.
É importante ressaltar, ainda, outros benefícios dessa forma de visualização como
o gerenciamento de ativos de campo, o planejamento de times de manutenção e a
simulação de manobras operacionais.
Contudo, a proposta para este projeto transcende a união dos conceitos de BIM
à subestações de energia elétrica, pois abordará também a união com as tecnologias
GIS. Esta é uma ferramenta de gerenciamento que permite coletar, armazenar,
recuperar e manipular informações georreferenciadas (BURROUGH et al., 2015).
Logo, ao associar estas duas ferramentas será possível obter um melhor sistema
de gestão. Enquanto o GIS permitirá uma análise espacial macro, as informações
advindas dos modelos BIM permitirão análises pontuais (IRIZARRY; KARAN;
JALAEI, 2013).

1.1.3 Conceitos
Nesta seção, serão apresentados os principais conceitos que norteiam a temática
do BIM atrelado ao GIS, no contexto de subestações de energia elétrica.

1.1.3.1 Building Information Modeling

O conceito de BIM tem origem no início dos anos 1970 com um protótipo
proposto por Charles M. “Chuck” Eastman, a partir de um protótipo proposto por
Eastman (1975), que propôs a vinculação entre as geometrias virtuais e as suas
informações físicas e funcionais. Com este tipo de instrução, se tornou possível
descrever objetos segundo suas partes a partir de instruções alteráveis e com a
mesma referência tridimensional: seções planimétricas, vistas e perspectivas se
referindo ao mesmo objeto 3D. Desse modo, qualquer alteração em qualquer parte
1. Estado da Arte 16

do modelo resulta em uma alteração completa do mesmo, podendo ser realizada


apenas uma única vez (EASTMAN, 1975).
A expressão Building Information Modeling (BIM) não foi cunhada na mesma
época em que a sua ideia foi proposta. Contudo, diversas pesquisas foram desen-
volvidas a partir da ideia seminal de Eastman (1975). Na década de 80, como
resultado da fusão entre as expressões Building Product Model, de origem norte-
americana e Product Information Models, de origem europeia, definiu de maneira
global o termo Building Information Modeling para todas as iniciativas que par-
tiram dessa ideia original (EASTMAN et al., 2014), passando a ser utilizado for-
malmente em documentos no início dos anos 1990 (NEDERVEEN; TOLMAN,
1992).
Ainda que com diferentes nomenclaturas, as áreas de Arquitetura, Planeja-
mento Urbano e Engenharia Civil se apropriaram com certa rapidez do conceito
BIM, vislumbrando a possibilidade de controlar a alteração na forma dos elementos
construtivos, como vigas, lajes paredes e outros, de maneira integrada e simultâ-
nea. De maneira geral, o desenvolvimento da computação nestas áreas tem sido
reunido na sigla AECO, que tem por objetivo alinhar os conceitos de modelagem
da informação da construção nessas referidas áreas. Na última década, centenas
de escritórios de AECO no Brasil fizeram a migração das tecnologias CAD base-
adas no desenho de pontos, linhas e superfícies, para as novas tecnologias CAD
destinadas à geração da forma a partir da informação (EASTMAN et al., 2014).
Além do controle da geometria, outras implementações de BIM surgiram na
sequência, direcionando a informação produzida também para os processos de
gestão, operação e o ciclo de vida dos edifícios. Desse modo, um sistema produtivo
que pretende se apropriar do conceito BIM em sua plenitude, em geral, carregará
consigo diversos modelos, como os digital twins, com informações específicas, mas
que se referenciam, no fim das contas, ao mesmo objeto real. Essa ideia pode ser
considerada a espinha dorsal desse conceito (MANZIONE, 2013).
Portanto, a implementação de BIM ultrapassa, em muito, o âmbito de um
aplicativo ou mesmo de uma tecnologia. Trata-se de um conceito que orienta a
produção da informação com vistas ao seu compartilhamento em todos os ciclos
de vida de um objeto, seja ele um edifício ou uma subestação de energia elétrica,
incluindo, sobretudo, sua operação, manutenção e eventual descarte.
1. Estado da Arte 17

Para englobar todos os processos construtivos do empreendimento é impres-


cindível que o BIM adote distintos níveis de dimensões (CHAREF; ALAKA; EM-
MITT, 2018):

I BIM4D: Engloba os fatores de planejamento das atividades e os locais da


construção. A quarta dimensão permite que os participantes visualizem o
progresso das atividades ao longo das etapas de construção. Com o uso destas
técnicas, são fornecidos métodos para: gerenciar e visualizar informações do
status da construção, alterar impactos e apoiar a comunicação em várias
situações. Esta última é fundamental para informar a equipe de construção
ou advertir sobre os riscos;

I BIM5D: Esta dimensão é primordial para a composição do orçamento e aná-


lise dos custos das atividades. O uso das tecnologias que atingem o 5D re-
sultam em: maior acurácia nos orçamentos, mudanças de escopo de projeto,
de materiais, de equipamentos e de mão de obra;

I BIM6D: Com o uso desta dimensão é possível realizar análises sobre os con-
sumos energéticos do empreendimento. Assim, se obtém uma estimativa de
energia mais completa e precisa no início do processo de projeto. Ademais,
há a possibilidade de realizar medição e verificação durante a construção. Ou
seja, as tomadas de decisões referente a escolha de processos de instalações
de alto desempenho são facilitadas;

I BIM7D: Esta dimensão é utilizada para gerir a operação e manutenção das


instalações durante seu ciclo de vida. Além disso, vai de encontro com as
necessidades de uso de subestações, visto que permite os participantes geren-
ciarem dados de ativos relevantes, tais como: status do componente, especifi-
cações, manutenções, manuais de operação, datas de garantias etc. É válido
ressaltar que há um relação entre esta dimensão e o Level de Desenvolvimento
(do inglês, LOD ou Level of Development) dos modelos;

I BIM8D: Engloba aspectos de segurança e saúde ocupacional em todo o ciclo


de vida do projeto. Justamente por isso, necessita que todos os envolvidos
estejam engajados nesta etapa, desde a concepção do projeto até a demolição
da edificação.
1. Estado da Arte 18

1.1.3.2 BIM Aplicado à Subestações

Com o desenvolvimento das tecnologias humanas, surge a necessidade de ex-


pansões nos sistemas de energia elétrica. Assim, há constante procura por desen-
volvimento de novos meios de construção, expansão e operação destes sistemas
elétricos, enfatizando melhor qualidade, quantidade e continuidade dos serviços
oferecidos (MCDONALD, 2017).
Assim, consequentemente, surge um aumento nas construções e expansões de
subestações de energia elétrica, as quais representam os pontos de junção des-
tes sistemas de transmissões (GANIEV, 2016). Deste modo, ressalta-se a buscas
por tecnologias que otimizem o planejamento, construção, operação e manutenção
destes pontos. Diante desse cenário, a tecnologia que têm se destacado é o BIM.
Assim, com o intuito de entender o estado da arte das tecnologias BIM aplicadas
à subestações, foram desenvolvidas pesquisas no meio acadêmico dentro de três
bases de dados: IEEE Xplore, Springer e ACM Digital Library. Como resultado da
associação de BIM com subestações, foram obtidos os seguintes artigos: Kokorus,
Eyrich e Zacharias (2016), Hu, Zhao e Sun (2016), Pizarro (2019), Moncada e
Henao (2019) Foškulo e KokurosŠ (2018).
Estes artigos englobam trabalhos que associam BIM com subestações. No en-
tanto, há um reduzido nível de maturidade em relação aos modelos e informações.
Em alguns casos, o trabalho está limitados à ferramentas CAD, em outros casos
está mais focados nas áreas da arquitetura do que na engenharia elétrica.
Desta forma, pode-se inferir que mesmo que existam trabalhos desenvolvidos
nestas áreas, ainda há inúmeras lacunas para o aprimoramento da associação destas
tecnologias.

1.1.3.3 Associação de BIM e GIS

Geographic Information System (GIS) é uma ferramenta de gerenciamento que


possui a capacidade de coletar, armazenar, recuperar e manipular informações
georreferenciadas (BURROUGH et al., 2015). É possível fragmentar o GIS em
3 componentes importantes, sendo eles: um hardware (computador, smartphone
etc), um software de aplicação do programa e os usuários ligados ao banco de
dados e conexão de infraestrutura (LUNA et al., 2005)
1. Estado da Arte 19

A tecnologia de GIS, a ser avaliada para adoção em Furnas, deverá ser um


sistema subdividido em módulos. No que se refere à visualização da informação,
esta pode acorrer através de um dispositivo móvel ou uma página web. Ademais,
é imprescindível a utilização de um servidor, de um software e de um banco de
dados geográficos. É importante ressaltar que todos esses módulos devem estar
integrados entre si, conforme apresentado na Figura 2.

Figura 2 – Integração GIS e BIM

Fonte: Li et al. (2005)

Assim, a junção destas duas tecnologias devem ser associadas a um sistema


servidor, através da associação dos bancos de dados GIS com as informações dos
ativos modelados, utilizando os conceitos BIM. Assim, para esta comunicação, a
leitura dos arquivos devem se basear em um método interoperável entre os softwa-
res envolvidos.
Ademais, essa funcionalidade servidora deverá fornecer outros serviços, como:
processamento geográfico, codificação geográfica (conversão de coordenada x, y
para endereço e vice-versa), serviço de mapa, serviço de imagem (dados em raster)
e serviço de dados geográficos (provimento de dados geográficos salvos em banco
de dados geográficos ou arquivos) (LI et al., 2005).
1. Estado da Arte 20

Dentro da literatura acadêmica há maior associação entre a disciplinas de BIM


e GIS em outras áreas da Engenharia, do que com subestações elétricas. Inclusive
existem artigos acadêmicos que fazem uma revisão válida para a associação destas
tecnologias Liu et al. (2017).
Liu et al. (2017) ressalta que esta associação entre BIM e GIS apresenta um
resultado de duas perspectivas diferentes. Tal fato é consequência de uma sobre-
posição de áreas. Enquanto o GIS apresenta informações do ambiente externo, o
BIM apresenta informações internas.

Tabela 1 – Associação das funcionalidades BIM & GIS


GIS BIM
Ambiente de Foco em ambiente interno, sendo o externo
Foco em posicionamento de ambiente externo.
modelagem somente áreas externas de construções.
Dados geoespaciais sempre georeferenciados.
Sistema de Objetos BIM possuem seu próprio sistema
Objetos são definidos no mundo físico com sistema
referência de coordenadas.
global de coordenadas ou projeções mapeadas.
Cria a partir de um objeto preexistente. Abrange
Detalhamento Cria em larga escala com maior nível de
uma maior área com menor nível de detalhamento
do esboço detalhamento.
e em menor escala.
Área de Unidades singulares e seus atributos, como
Áreas urbanas.
aplicação edifícios.
Trabalha em ambientes 3D e tem um rico
Modelo 3D Limitado a formas 2D.
conjunto de atributos espaciais.

Fonte: Adaptado de Irizarry e Karan (2012)

Contudo, a associação dos conceitos de BIM com o GIS ainda é um desafio


no que se refere à transformação de informação. Os modelos 3D que são asso-
ciados ao BIM e os que são associados ao GIS são de perspectivas diferentes e
foram amadurecidos de formas distintas (LIU et al., 2017). Assim, embora estas
duas tecnologias apresentem a interoperabilidade como uma aproximação, ainda
há dificuldades quanto a comunicação entre os distintos bancos de dados.

1.1.3.4 Nível de Desenvolvimento de um Modelo (LoD)

A natureza do processo de elaboração e execução de um projeto é variável. Na


concepção inicial, o desenvolvimento do conteúdo das informações possui um alto
impacto na solução final. Conforme o processo progride o impacto das informações
diminui, correspondendo à passagem de um estado menos estruturado para um
1. Estado da Arte 21

estágio bem definido. Ou seja, há um aumento da complexidade do fluxo das


informações com o número crescente de agentes envolvidos (MANZIONE, 2013).
Com isso, o Instituto Americano de Arquitetos, do inglês, American Institute of
Architects (AIA), desenvolveu métricas para definir um nível de desenvolvimento
dos modelos BIM (Level of Development (LoD)), variando entre uma escala de 100
a 500. A Figura 3 apresenta as diferenças práticas entre os distintos LoD. Além
disso, cada nível da escala pode ser definido da seguinte forma:

Figura 3 – Diferentes níveis de desenvolvimento de uma edificação.

Fonte: Adaptado de Manzione (2013)

I LoD 100: Um modelo de edificação com volumetria, englobando: área, al-


tura, localização e orientação. Este modelo é utilizado para análise de vo-
lume, orientação e custos baseados em áreas, por exemplo, o custo de con-
domínio;

I LoD 200: Além da volumetria são inseridos, de forma generalista, outros


modelos dentro do ambiente. Assim, é possível aproximar os quantitativos,
ou seja, são inseridas informações não geométricas. O modelo fornece uma
análise mais precisa de custos e começa a surgir um escalonamento de tempo
(BIM 4D e 5D);

I LoD 300: São inseridos modelos específicos para a edificação, de forma a


permitir: um quantitativo, uma percepção de volumetria, uma localização e
1. Estado da Arte 22

uma orientação precisa. Neste nível de desenvolvimento o modelo já apre-


senta uma estimativa de custo precisa, o escalonamento de tempo já está
ordenado e com detalhamento de elementos e sistemas. Além disso, são
gerados documentações e desenhos necessários para a construção;

I LoD 400: Além dos detalhamentos especificados no LoD 300, são inseridas
informações referentes à fabricação, de forma a permitir a construção dos mo-
delos propostos. As estimativas de custo, baseadas nos custos dos elementos
inseridos e o escalonamento das atividades, já estão definidas;

I LoD 500: O modelo atinge um nível de detalhamento que auxilia nas ativi-
dades de gerenciamento da edificação, englobando componentes e sistemas
construtivos de forma precisa em: tamanho, formato, localização, quanti-
dade e orientação. São inseridas informações não geométricas, como data
da instalação, garantia etc. Este modelo é utilizado para a manutenção e
operação.

Notadamente estas definições de LoD foram definidas dentro do âmbito da


arquitetura. Assim sendo, futuramente será necessário desenvolver novos conceitos
de definições de LoD e uni-los com os conceitos já existentes. Desta maneira,
surgirá novos níveis de desenvolvimento do modelo com função específicas para as
subestações de energia elétrica.

1.1.3.5 Nível de Desenvolvimento do Processo

Ao avaliar o nível de desenvolvimento do processo do uso de BIM, avalia-se a


maturidade em que os modelos estão. Desse modo, foi proposto uma forma de
quantificar esta maturidade, sendo dividida em níveis de intervalo que variam de
0 a 3 (GROUP et al., 2011).
Para definir o nível de maturidade, avalia-se as características técnicas, colabo-
rativas, processos e ferramentas utilizadas. A Figura 4 retrata as diferenças entre
os distintos níveis de processo. Ademais, cada nível pode ser descrito da seguinte
maneira:

I Nível 0: Um desenho auxiliado por computador (CAD), bidimensional, ge-


ralmente, em forma de papel ou papel eletrônico;
1. Estado da Arte 23

I Nível 1: Surgem desenhos tridimensionais, com um baixo nível de detalha-


mento dos modelos, iniciam-se os trabalhos colaborativos e há um início de
gerenciamento de custos;

I Nível 2: Há uma biblioteca de modelos com um bom detalhamento, dife-


rentes ferramentas BIM em um mesmo ambiente, ambiente tridimensional
gerenciável e há um gerenciamento de custos e de tempo gastos;

I Nível 3: Sistema integrado via "Web Services", com possibilidade de comuni-


cação entre as distintas padronizações de formatos BIM (IFC/IFD), sistema
colaborativo gerenciável e integração entre distintos bancos de dados (GIS e
Enterprise Resource Planning (ERP)).

Figura 4 – Diferentes níveis de desenvolvimento de processo.

Fonte: Group et al. (2011)


1. Estado da Arte 24

1.2 Metodologia
O objetivo deste item consiste em desenvolver uma Revisão Sistemática Bibli-
ográfica (RSB) (do inglês, Systematic Literature Review (SLR)) (KEELE et al.,
2007). Neste tipo de documento é desenvolvido um estudo secundário através da
seleção e análise de estudos primários, os quais são selecionados por meio de uma
metodologia consistente, definida previamente. É importante ressaltar que para
os artigos primários serem selecionados, devem se encontrar alinhados com todos
os tópicos do estudo desenvolvido.
Através da utilização de uma metodologia consistente é possível reduzir os
vieses da pesquisa, diferenciando, assim, a RSB de uma revisão tradicional da
literatura.
No caso particular do presente documento, esta RSB almeja delinear o estado
da arte acerca do uso de BIM atrelado ao uso do GIS em projetos de subestações
de energia elétrica. Para isto, a string de busca, apresentada, foi utilizada para
selecionar os artigos primários. É válido ressaltar que pequenas alterações foram
aplicadas à string de busca para que atendessem às particularidade de cada base
de dados utilizada.

I ((BIM OR "Building Information Modeling") AND (GIS OR "Geographic


Information System") AND ("Power Substation"OR "Electric Substation"OR
"Electrical Substation"OR "Electric Facility"OR "Substation Design")).

A string de busca, apresentada anteriormente, foi utilizada em distintas bases


de dados e motores de busca, assim como apresentado na Tabela 2. É importante
ressaltar que a baixa quantidade de resultados obtidos está diretamente relacionada
com a complexidade e especificidade da string de busca, uma vez que o cenário
analisado foi restringido a três tópicos correlacionados de formas restritiva. Em
contrapartida, garante-se que os artigos analisados mencionam os três principais
tópicos que norteiam este projeto de P&D.
1. Estado da Arte 25

Tabela 2 – Quantidade de resultados obtidos em cada base de dados ou motor de


busca.
Base de Dados / Motor de Busca Resultados Obtidos
ACM 0
Google Scholar 31
IEEE 1
ISI Web Of Science 4
Mendeley 10
Science Direct 0
Scopus 10
Springer 5
Wiley 3
Total 64

A diferença entre um motor de busca e uma base de dados está no fato de que
está última considera apenas o seu banco de dados bibliográficos para procurar
resultados que possuam as palavras chave da string de busca. Já o motor de
busca, realiza a mesma análise das palavras chaves, porém em diferentes bancos
de dados. Justamente por isso, foi encontrado, inicialmente, 64 resultados que,
na teoria, satisfazem a string de busca criada. Posteriormente, identificou-se que
21 resultados eram repetidos ou apresentavam um ou mais critérios de exclusão.
Desta forma, o desenvolvimento do projeto acerca do estado da arte contou com
a análise 43 trabalhos.
Para a análise desses 64 resultados foi utilizado o software Mendeley para fa-
zer o controle dos trabalhos, possibilitando, assim, excluir os registros duplicados.
Posteriormente, os trabalhos restantes foram analisados individualmente. Para
isto, a Tabela 3, apresentada a seguir, foi utilizado como parâmetro de classifi-
cação do documento para a próxima fase ou exclusão do mesmo. É importante
ressaltar que para a classificação do trabalho era necessário que todos os Critérios
de Inclusão (CI) fossem satisfeitos. Além disso, caso o trabalho apresentasse um
dos Critérios de Exclusão (CE), o mesmo seria desclassificado da análise.
1. Estado da Arte 26

Tabela 3 – Critérios de Inclusão (CI), Critérios de Exclusão (CE) e suas respectivas


descrições.
Tipos de Critério ID Descrição
CI.1 Trabalhos publicados a partir de 2015 e até o dia 13 de agosto de 2020
CI.2 Trabalhos que utilizam o conceito de BIM
Inclusão
CI.3 Trabalhos que utilizam GIS
Trabalhos que apresentam a subestação de energia elétrica
CI.4
como cenário principal
Trabalhos que não analisam, simultaneamente, a utilização de
CE.1
BIM e GIS em subestações de energia elétrica
CE.2 Trabalhos que são livros, teses ou dissertações
Exclusão
CE.3 Trabalhos que não são primários
Trabalhos escritos em uma linguagem diferente do português
CE.4
ou do inglês
Artigos não encontrados na base de periódicos da Capes
CE.5
ou artigos pagos

Inicialmente, cada trabalho teve o seu título, resumo e palavras chave analisado,
almejando encontrar todos os CIs e nenhum dos CEs. Como consequência desta
primeira análise, apenas 4 resultados apresentavam todos os CIs e nenhum dos CEs.
Ou seja, os demais 39 resultados foram excluídos por conta de um dos CEs ou por
não satisfazerem, simultaneamente, todos os CIs. Antes de avançar para a etapa
seguinte da seleção, foram realizadas duas técnicas manuais (forward snowballing
e backward snowballing), visando adicionar novos resultados aos trabalhos obtidos
através dos bancos de dados e motores de busca analisados. A primeira técnica
consiste em analisar as referências dos resultados pertinentes (n = 4), selecionados
na primeira fase, buscando encontrar novos trabalhos que abordem todos os CIs
do projeto e que não apresente nenhum dos CEs. A segunda técnica se assemelha
quanto à busca por novos resultados com todos os CIs e nenhum dos CEs. No
entanto, ao invés de analisar as referências dos resultados pertinentes, analisa-
se trabalhos que referenciaram estes resultados. Infelizmente, com os resultados
obtidos através da string de busca não foi encontrado um novo resultado que
englobasse as disciplinas, GIS, BIM e Subestações de energia elétrica.
Posteriormente, os mesmos CIs e CEs (Tabela 3) foram utilizados, porém, ao
longo de todo o texto, para avaliar, dentre os 4 trabalhos, quais seriam selecionados.
Ademais, além dos CIs e CEs foram associadas, como critério de avaliação, algumas
questões de pesquisa (QP)s, como pode ser visualizado na Tabela 4. Assim sendo,
1. Estado da Arte 27

para que um trabalho seja selecionado para compor as bases desta RSB é necessário
que o documento apresente todos os CIs, nenhum CEs e que responda, pelo menos,
uma das QPs. A Figura 5 resume simplificadamente a quantidade de resultados
remanescentes em cada etapa da seleção.

Tabela 4 – Questões da pesquisa.


QP Descrição
QP.1 Quais softwares foram utilizados para desenvolver esta aplicação?
QP.2 Em qual fase de desenvolvimento do projeto principal se encontra o estudo analisado ?

Figura 5 – Procedimento iterativo da fase de seleção de trabalhos para elaboração


do estado da arte.

Adaptado de: Conforto, Amaral e Silva (2011)


1. Estado da Arte 28

1.3 Resultados
Ao final da etapa de seleção dos trabalhos alinhados com o tema do presente
projeto, foram selecionados 4 artigos como resultados da pesquisa. Inicialmente,
será fornecido uma tabela que correlaciona o trabalho selecionado com as res-
pectivas QPs respondida por ele (Tabela 5). Posteriormente, cada trabalho será
apresentado, de maneira individual, considerando os principais aspectos abordados
por cada autor.

Tabela 5 – Lista dos resultados selecionados e das questões de pesquisa respondi-


das por cada um deles
Referência Título QP Respondida
Utilização de tecnologia bim aplicada a projetos de subestações de
[Azevedo et al. 2019] QP.1 e QP.2
energia elétrica integrada a sistema de inteligência geográfica (sig)
Metodologia utilizando o conceito de bim (building information
[Cardoso et al. 2019] modeling) aplicada a projetos de subestações integrado a sistemas QP.1 e QP.2
de inteligência geográfico (sig)
Applications of building information modeling in electrical
[Farooq, Sharma et al. 2017] QP.1 e QP.2
systems design
Study on the application framework of bim in the life cycle
[Jia et al. 2019] QP.1
management of offshore wind farms

1.3.1 Proposta de uso de BIM e GIS no contexto de su-


bestações de energia elétrica de alta tensão
Azevedo et al. (2019) apresentam uma proposta de associação de BIM e GIS,
de forma que é possível obter um melhor desempenho nas fases de planejamento,
execução e operação. Assim, com a associação destas tecnologias torna-se mais
fácil as tomadas de decisões por parte da gerência de projetos e o alinhamento
entre as disciplinas envolvidas.
Os autores ressaltam que a associação destas tecnologias fornecem um apri-
moramento na visualização da informação, referente ao planejamento interno (au-
xiliado pelo BIM) e ao macro planejamentos (auxiliados pelo GIS). Entretanto,
essa associação apresenta problemas devido aos sistemas de coordenadas adotados
a nível de modelagem de cada tecnologia. Enquanto o GIS associa dados espa-
ciais à um sistemas de coordenadas cartesianas, os modelos BIM são geralmente
desenvolvidos dentro de um sistema cartesiano individualizado, em princípio, sem
vínculos com outros sistemas vetoriais.
1. Estado da Arte 29

A partir das análises, selecionou-se o aplicativo Inventor (Autodesk, Inc.) para


efetuar os procedimentos de modelagem. Este software permite o desenvolvimento
de uma modelagem geométrica atrelado com a inserção inicial de informações de
produtos dentro do próprio modelo.
Além disso, o trabalho, ainda em fases iniciais de desenvolvimento, está avali-
ando os fluxos de trabalhos e os métodos de interoperabilidade entre as plataformas
BIM e GIS. Ademais, apresenta-se uma proposta de integração em uma engine
separada. Em outras palavras, o trabalho se encontra no âmbito teórico, não
apresentando o desenvolvimento prático da integração entre essas plataformas.

1.3.2 Proposta para integrar BIM e GIS em um ambiente


virtual
O trabalho apresentado por Cardoso et al. (2019), é uma incremento do tra-
balho desenvolvido por Azevedo et al. (2019). Entretanto, esse apresenta a junção
das tecnologias BIM e GIS dentro de uma game engine, na qual os modelos são
associados a um ID, permitindo a associação dos bancos de dados destes mode-
los. Assim, torna-se possível associar as informações dos modelos em um ambiente
virtual único, sendo possível criar um ambiente completo em Realidade Virtual.
Este projeto está em nível inicial de desenvolvimento, avaliando fluxos de tra-
balhos e métodos de interoperabilidade entre as plataformas BIM e GIS. Ademais,
foram relacionados testes de associação entre um software BIM e uma game engine.
Entretanto, o trabalho não apresenta uma real integração entre BIM e GIS.
Devido ao fato de ser uma evolução do trabalho de Azevedo et al. (2019), o
mesmo utiliza o software Inventor, da Autodesk, para a modelagem. Entretanto,
para melhor gerenciamento e acesso dos dados, foi utilizado o Autodesk Revit para
a definição das informações dos modelos e associação a um ID dentro do projeto.
Assim, é possível visualizar estas informações a partir de outros softwares, como a
game engine utilizada (Unity3D).
1. Estado da Arte 30

1.3.3 Projetos de sistemas elétricos utilizando BIM e GIS


A proposta de Farooq, Sharma et al. (2017) descreve uma análise baseada em
estudos de casos do potencial das aplicações de BIM dentro do planejamento de
sistemas elétricos de energia.
O autor enfatiza a associação de informações em nível estático e dinâmico para
sistemas elétricos, de forma que se torne mais atrativo o uso de BIM dentro do
setor elétrico.
Farooq, Sharma et al. (2017) apresenta estudos preliminares da associação entre
tecnologias de informação, como o BIM e GIS. Como resultado desta integração,
foi obtido uma análise melhor do ciclo de vida do empreendimento. Por um lado,
os conceitos de BIM fornecem uma visão minuciosa do empreendimento, visto
que buscam fornecer estudos e análises que permitam a otimizações em níveis da
edificação e arquitetura. Por outro lado, o GIS fornece análises macroscópicas. As-
sim, com à associação destas tecnologias, é possível analisar o consumo de energia
elétrica de cidades.
O autor ressalta que existem vários níveis de integração entre essas tecnolo-
gias, sendo possível a integração a nível de serviço ou nível de aplicação. Contudo,
Farooq, Sharma et al. (2017) ressalta que para esta integração de tecnologias é
imprescindível a utilização de uma plataforma comum de integração, ou seja, esta
deve atender as especificações das duas tecnologias. Para isso tanto os modelos
virtuais quanto os bancos de dados vetoriais poderiam partilhar o mesmo pro-
tocolo de classes, por exemplo, que funciona como um compilador entre as duas
tecnologias.
Entretanto, a associação é uma tarefa complexa. Existem diversas barrerias
para essa comutação de tecnologias. Dentre elas, o autor ressalta a complexidade
dos arquivos BIM. Há também a necessidade de ferramentas especiais de conversão
de dados para exportar os arquivos BIM para uma plataforma GIS.
Assim, ao analisar o artigo é possível inferir que o mesmo está em um nível
de desenvolvimento, visto que o mesmo apresenta um estudo de caso associando
as três disciplinas analisadas. Embora o autor apresente a associação destas três
disciplinas, o artigo enfatiza mais os conceitos de BIM e seus benefícios do que
a associação de BIM com GIS, no contexto do setor de subestações de energia
1. Estado da Arte 31

elétrica.

1.3.4 Estudo de associação do BIM com ciclo de vida de


fazendas eólicas na costas marítima
O trabalho de Jia et al. (2019) é um estudo dos conceitos de BIM aplicado no
gerenciamento de ciclo de vidas de fazendas eólicas. Entretanto, o projeto utiliza
GIS para avaliar o impacto ambiental destas usinas geradoras.
Os conceitos BIM utilizados neste trabalho abordam as fases de planejamento,
construção, operação e manutenção. O autor ressalta que para as fases de pla-
nejamento o uso desses conceitos foram importantes para avaliar os impactos, o
planejamento de estruturas de fundação e o melhor planejamento de layout do
empreendimento.
Nas fases de construção, os conceitos BIM permitiram um melhor planeja-
mento, com simulação 3D, uma melhor avaliação de custos referente a lista de
materiais e, permitiu também, um melhor planejamento do uso de materiais alu-
gados. Por fim, nas fases de operação e manutenção, foi possível monitorar a
edificação em tempo real, obter gerenciamento de dados dinâmicos, planejar me-
lhor as manutenções e avaliar as performance do sistema construído.
Os softwares propostos por Jia et al. (2019) foram as soluções da Autodesk,
ressaltando o Revit, para aplicar o BIM. Para o GIS foi utilizado o ArcGIS.
Embora o autor ressalte a junção destes softwares, não é apresentado claramente
no artigo como foi feita a associação destas tecnologias.

1.4 Conclusão
A revisão apresentada neste trabalho identifica uma lacuna ainda não explorada
nos conceitos de BIM e GIS. A tendência de correlacionar os conceitos BIM, GIS e
subestações. No entanto, observa-se, até o momento, a inexistência da integração
de meio efetivo entre as áreas de GIS e BIM em projetos de construção e manu-
tenção de subestações de energia elétrica. Pelos trabalhos analisados, conclui-se
que essas tecnologias não foram reunidas de maneira consistente dentro de um
projeto de subestações de energia elétrica, mesmo que estes projetos abordem os
1. Estado da Arte 32

temas dessas tecnologias. Assim, é possível observar que há uma importante la-
cuna técnico-científica a ser desenvolvida na junção dessas disciplinas, visto que,
mesmo nos artigos que apresentam esta junção, ainda não há resultados concretos
(Tabela ).

Tabela 6 – Tabela de comparativa.

Autor BIM Subestações GIS


Azevedo (2019) V V V*
Cardoso (2019) V V V*
Farooq Sharman (2017) V V V*
Jia (2019) V V V*
PROPOSTA FURNAS V V V

Onde V*: Representa apenas uma proposta, sem resultados práticos desta
comutação das disciplinas.
Embora a associação do conceito BIM com o setor elétrico seja algo plausível,
trata-se de algo muito recente, de tal forma que a maioria dos artigos selecionados
mostram projetos que se encontram em fases iniciais do desenvolvimento. Assim,
não há ênfase, dentro dos trabalhos selecionados, dos ganhos obtidos através da
utilização efetiva do BIM e GIS aplicado à elaboração, execução, operação e ma-
nutenção de subestações de energia elétrica. No entanto, analisando e fazendo um
paralelo com o caso particular da aplicação do BIM dentro da engenharia civil,
espera-se que a utilização efetiva do BIM e GIS em subestações represente um ga-
nho significante na elaboração, execução, operação e manutenção de subestações
de energia elétrica.
No caso particular do Brasil, a adoção do BIM ainda se encontra em fase de
estudos. De fato, as empresas nacionais estão analisando as vantagens, viabilidade
e capacitação para tornar prático o uso deste conceito. Assim sendo, considerando
uma revisão técnica da literatura, não é possível mapear, com precisão, como estão
as empresas nacionais em relação ao nível de desenvolvimento de processo.
Ao analisar este panorama, torna-se evidente a necessidade de melhorar as
tecnologias existentes. Além disso, é primordial aprimorar técnicas computacio-
1. Estado da Arte 33

nais que permitam a integração e gestão de informações de todas as disciplinas


envolvidas no projeto de construção e manutenção de uma subestação elétrica.
Os trabalhos analisados constituem, também, uma inovação para a área de
elaboração, execução e gerenciamento de subestações elétricas. Ademais, apresen-
tam conceitos de interoperabilidade entre duas ou mais disciplinas de informações.
Assim, permite-se o compartilhamento de dados em diferentes níveis de controle
do empreendimento.
Neste documento, as lacunas identificadas permitem uma análise referente à
evolução do uso dos conceitos de BIM dentro de subestações de energia elétrica
com associação de GIS. Portanto, este projeto consiste de um artefato piloto que
compreende e integra as diversas tecnologias aqui apresentadas. Deste modo, para
alcançar esta integração, deve-se aplicar os conceitos de nível de desenvolvimento
do BIM, como um processo, os quais, devem transcender o nível 2. Contudo, isto
demanda um enorme esforço de pesquisa e desenvolvimento, visto que mesmo os
trabalhos apresentados não obtiveram um resultado concretos de integração de
distintos sistemas em uma única plataforma.
Embora a proposta deste projeto englobe a criação de um sistemas interligado
entre BIM e GIS é possível prever, com base em relatos científicos, dificuldades
que serão encontradas por Furnas ao utilizarem o conceito principal, ou seja, o
BIM. No trabalho desenvolvido por Farooq, Sharma et al. (2017), foi identifi-
cado que a principal dificuldade para a adoção do BIM se encontra no desafio de
uma mudança de mentalidade dos stakeholdes, uma vez que a dispersão de qual-
quer dos produtores de informação em projeto compromete os benefícios do BIM.
Dentre eles, destacam-se a interoperabilidade, a extração de quantitativos e, em
consequência, a engenharia de custos. Ademais, outras dificuldades encontradas
tangem aspectos financeiros visto que é necessário investir em hardware, software
e no treinamento dos funcionários que utilizarão a aplicação.
Essas ferramentas podem ser bastante caras tanto em relação aos custos de
compra inicial, tanto para o software e também para o hardware de ponta que é
necessário para que funcionem com eficácia, mas também em relação aos custos de
manutenção contínua de software e hardware. Por fim, destaca-se que o processo
de projeto de uma subestação pode ser (e tem sido) realizado de forma eficaz
com ferramentas básicas de CAD 2D. Portanto, uma cuidadosa revisão de custo-
1. Estado da Arte 34

benefício deve ser realizada de antemão se estiver considerando a adoção dessas


novas ferramentas de projeto (TONKING, 2018)
35

2
Aplicações BIM

Neste capítulo serão abordadas aplicações de BIM dentro do contexto do se-


tor de energia elétrica. O objetivo desta seção é avaliar quais são os processos,
ferramentas e sistemas adotados para a concepção de projetos BIM.

2.1 Duke Energy Case


A Duke Energy é um sistema desenvolvido nos Estados Unidos capaz de unir os
conceitos de BIM com sistemas de energia elétrica. Neste sistema há uma análise
nos modelos de subestações de energia elétrica referente às conexões realizadas
dentro do ambiente de modelagem da Autodesk, no software Inventor.
Dentro destes modelos desenvolvidos há análises de informações necessárias
para a operação. Assim, foram apresentadas análises de preços, tensão de operação
do ativo e especificações técnicas.
Contudo, esta proposta gira em torno de um software de extensão para o In-
ventor, o qual se encontra voltado para a modelagem eletromecânica, similar ao
Solidworks. Entretanto, a solução da Autodesk permite a inserção de informações
de construção dos modelos desenvolvidos dentro deste ambiente.
Dentro do trabalho apresentado, nota-se que o foco se encontra apenas na
criação de uma subestação de energia elétrica (figura 6). No entanto, não há
junção entre os distintos bancos de dados, que são necessários para o gerenciamento
e comunicação entre os conceitos de BIM e GIS.
2. Aplicações BIM 36

Figura 6 – Modelo de malha de aterramento apresentado pela Duke Energy.

Fonte: Duke Energy

Embora a proposta se atenha a um software de modelagem eletromecânica, as


pesquisas e desenvolvimento apresentadas pela Duke Energy apresentam resultados
e dificuldades que auxiliam no planejamento da criação de modelos futuros. Assim,
é possível utilizar esta proposta visando auxiliar o projeto de P&D desenvolvido
para Furnas.
Dentre as dificuldades encontradas no projeto da Duke Energy, é válido res-
saltar a discretização das superfícies em diversas faces poligonais, o que onera
a capacidade de processamento dos computadores, o que por consequência re-
quer um enorme esforço computacional para processar estes modelos. Assim, são
apresentadas algumas técnicas de simplificação de polígonos. Embora seja um
desenvolvimento de modelos BIM e de uma subestação, não há integração com
distintos bancos de dados, de forma a limitar o projeto desenvolvido.Uma vez que
os aplicativos exclusivamente ligados a modelagem eletromecânica não compreen-
2. Aplicações BIM 37

dem conceitos mais amplos de interoperabilidade com outras áreas, devendo, no


entanto, constituírem partes fundamentais de conceitos mais abrangentes.
38

3
Normativa

3.1 Jurídica
Tendo em vista a mudança de paradigma que o uso dos conceitos de BIM
representarão na indústria da construção, a temática que envolve a contratação
de projetos sofrerá drástica mudança, assim como apresentado por Succar (2009)
na Figura 7. Embora o diagrama proposto pelo autor represente uma versão mais
antiga, desenvolvida no ano de 2008, ainda possui aplicabilidade nos termos atuais
de concepção de Digital Twins.
Observa-se que no fluxo proposto por Succar (2009) há questões jurídicas que
devem ser adotadas na contratação de projetos. Dentre elas, podem ser citadas: a
definição de escopo do projeto, o nível de detalhamento adotado e quais fases da
edificação devem estar compreendidas pelo modelo (MEHRAN, 2016).
3. Normativa 39

Figura 7 – Framework de concepção de projetos BIM

Fonte: Adaptado de Succar (2009)


3. Normativa 40

Assim, a contratação de projetos que utilizam dos conceitos BIM, dentro deste
escopo especifico, é orientada pelo que se entende por BIM Mandate. Até o pre-
sente momento, embora não existam documentos jurídicos formalizados a partir
de leis federais, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC)
tem caminhado nesta direção a partir dos decretos federais. O mais recente deles,
é o Decreto de Abril de 2020 (FEDERAL, 2020). Neste é definido o modelo BIM
como uma base de dados fundamentada em objetos virtuais, que contém infor-
mações virtuais geométricas e não geométricas e incorpora seus relacionamentos.
Assim, é possível obter diversas visualizações, organizações e cálculos que integram
diferentes instâncias operacionais (interoperabilidade).
Estas questões jurídicas englobam também as responsabilidades dos envolvidos,
desde o gerente do projeto até os projetistas. Desta forma é delimitado o escopo e
a responsabilidades dos envolvidos.
Embora haja uma estratégia nacional para disseminação dos conceitos BIM,
ainda está em etapa de pesquisa-ação, com o intuito de estabelecer ações de im-
plementação destes conceitos em esfera jurídica, técnica e gerencial.

3.1.1 Normativa BIM


No Brasil, ainda há uma carência de normas regulamentadoras, referentes à
utilização dos conceitos BIM em construções. De acordo com o posicionamento fe-
deral, relacionado ao Decreto de 5 de junho de 2017 (DECRETO. . . , ), foi proposta
a criação de um Comitê Estratégico de Implementação do BIM.
Este comitê apresenta como intuito a proposição, no âmbito nacional, de estra-
tégias para disseminar os conceitos BIM. Ademais, tal comitê é responsável por
elaborar o regimento interno, além de avaliar e validar um mapa estratégico e o
plano de ações para a disseminação destes conceitos.
Embora a sucessão de decretos federais ainda não represente de maneira con-
tundente uma legislação capaz de orientar a produção de um BIM Mandate, sua
continuas publicações deflagram uma estratégia com claras intenções. Por meio
destes decretos, o governo federal tem apontado obras de interesse em âmbito
nacional como alvo principal da implementação e disseminação da estratégia BIM-
BR. A partir destas obras, diversos apontamentos sobre contratações de projetos,
3. Normativa 41

obras e operações em BIM poderão ter amplo respaldo jurídico, o que efetivamente
mudará o panorama da construção civil brasileira.
Atualmente, o mais próximo das normas técnicas para o desenvolvimento dos
projetos são os cadernos técnicos escritos, individualmente, em cada estado. Um
dos exemplos mais recentes é o caderno do Paraná (CURITIBA, 2018), o qual
apresenta diretrizes para elaboração de projetos de edificações públicas que uti-
lizarão a metodologia BIM. No entanto, não é abordado, de maneira direta, os
critérios necessários para elaboração de projetos de subestações de energia elétrica
utilizando o BIM.

3.1.1.1 Normas Internacionais - ISO 19650 – UK BIM Framework


(Standards Guidance)

Conforme destacado em TONKING (2018) todos os concursos para projetos


do governo do Reino Unido precisariam ter atingido um credenciamento BIM de
nível 2 até 2016. Essa abordagem atingiu um estágio de Especificação pública do
BSI (British Standards Institution) disponível como PAS 1192 e um padrão ISO
19650.
A norma abrange o gerenciamento de informações para a fase de capital / en-
trega de projetos de construção usando BIM e entrou em vigor no Reino Unido
em 2013. A PAS 1192 parte 2 refere-se a dados criados durante o estágio CAPEX
de novas construções e facilita a transferência para o novo proprietário. A parte 3
abrange os dados usados durante a vida útil do ativo. Eles fornecem uma estru-
tura alinhada às etapas do trabalho. Inclui-se ainda o PIM (Project Information
Model), que é uma combinação de dados gráficos (geometria), informações não
gráficas (atributos) e documentação associada (como uma especificação). Esses
pontos de troca de informações geralmente são definidos nos Requisitos de Infor-
mações do Empregador (EIR) e são importantes, pois permitem que o operador
da concessionária tome decisões informadas ao longo do caminho.
As PAS (Publically Available Specification) podem ser consideradas como pré-
normas, criadas pelo BSI, e foram publicadas para atender à exigência do governo
inglês de implementar a adoção da metodologia BIM na indústria nacional da
construção.
3. Normativa 42

Por outro lado, a ISO (International Organization for Standardization) é uma


organização internacional de normalização, não governamental e independente,
composta por 163 organismos nacionais de normalização, um para cada país. Neste
sentido criou-se grupos de trabalho para elaborar normas internacionais sobre a
metodologia BIM, que pudessem atuar como referência em licitações supranacio-
nais. Como conclusão dos trabalhos, os representantes do BSI decidiram retirar
as normas técnicas nacionais PAS 1192 (série 1192) para evitar a coexistência,
no mercado inglês, de normas técnicas de níveis diferentes, ambas relacionadas ao
mesmo assunto (AS. . . , ).
Portanto, destaca-se que as normas PAS 1192, relativas ao gerenciamento de
informações BIM na indústria da construção deixaram de ser desenvolvidas pelo
BSI e foram incluídas na ISO 19650, quais sejam (. . . , ):

I BS EN ISO 19650-1: 2018: Organização das informações sobre as obras de


construção – Gerenciamento das informações sobre o uso do BIM, Parte 1:
conceitos e princípios (Concepts and Principles);

I BS EN ISO 19650-2: 2018: Organização das informações sobre as obras


de construção – Gerenciamento das informações sobre o uso do BIM, Parte
2: fase de projeto e realização dos bens imobiliários (Delivery phase of the
assets);

I BS EN ISO 19650-3: 2020: Organização das informações sobre as obras de


construção – Gerenciamento das informações sobre o uso do BIM, Parte 3:
Especificação para gerenciamento da informação para fase operacional de
ativos utilizando BIM (Operational phase of assets);

I BS EN ISO 19650-5 Organização das informações sobre as obras de constru-


ção – Gerenciamento das informações sobre o uso do BIM, Parte 5: Requisi-
tos para o gerenciamento voltado para a segurança de informações confiden-
ciais na modelagem de informações de construção (BIM).

3.1.2 Definição do BIM MANDATE


BIM Mandate pode ser conhecido como um plano de exeução BIM. Trata-se
3. Normativa 43

de um documento que detalha os aspectos de modelagem das informações de um


projeto e deve especificar as diretrizes e os padrões construtivos definidos pelo
stakeholder. Assim, as partes interessadas, devem definir no BIM mandate as
seguintes especificações:

I Definição do uso do modelo e dos objetivos do modelo;

I Definição de extensões de entradas e saídas, softwares utilizados e versões;

I Diretrizes de integração dos modelos (interoperabilidade);

I Descrição do fluxo de trabalho;

I Cronograma do projeto;

I Procedimentos de comunicação;

I Requisitos de informação dos elementos;

I Nível de desenvolvimento do modelo em cada etapa de entrega (LOD);

I Coordenadas geográficas e pontos de referência base onde todos os envolvidos


devem referenciar seus modelos;

I Padronização de nomenclaturas;

I Matriz de responsabilidades;

I Padrões construtivos;

I Critérios para definir interferências;

I Documentações entregues.

Dentro desse contexto, o projeto de PD Furnas UFU é uma oportunidade tanto


para o desenvolvimento de novos conceitos e tecnologias, mas, ao mesmo tempo,
funciona como um importante contributo para a constituição de uma legislação
BIM específica aos projetos de subestações. A partir da identificação de lacunas
técnico-científicas nas bases de dados, da necessidades jurídicas e da aproximação
como os atuais sistemas operacionais da empresa, espera-se promover um avanço
3. Normativa 44

da áreas contempladas neste projeto, cujos impactos poderão ser experienciados


tanto no Brasil quanto no exterior.
45

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