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Ephemeroptera (Insecta) do Parque Estadual do Cantão, Pium,

Tocantins, Brasil

Iury César Pires de Andrade¹; Tiago Kütter Krolow²

¹Aluno do Curso de Ciências Biológicas; Campus de Porto Nacional; e-mail:


iuryrasec.bio@gmail.com “PIVIC/UFT”

2 Orientador do
Curso de Ciências Biológicas; Campus de Porto Nacional; e-mail:
tkkrolow@gmail.com

RESUMO

Visando contribuir com a ampliação do conhecimento da ordem Ephemeroptera


no Estado do Tocantins foi realizado o levantamento taxonômico deste grupo no Parque
Estadual do Cantão. Popularmente conhecidos como siriruias ou efeméridas, os
efemerópteros são considerados, dentre os insetos voadores, um dos grupos mais
antigos, além de ser um dos táxons mais utilizados para monitoramento ambiental no
que tange a qualidade da água, já que as ninfas (aquáticas) apresentam diferentes
respostas a fatores de degradação ambiental. Estudos acerca da fauna de efemerópteros
para o Estado do Tocantins são exíguos. A partir do material coletado foram
contabilizados 791 espécimes, representados em seis famílias (Baetidae,
Polymitarcyidae, Leptophebiidae, Leptohyphidae, Oligoneuriidae e Coryphoridae). As
famílias com maiores abundâncias foram Polymitarcyidae (45,76%) e Baetidae
(26,54%), algo já esperado, pois as duas têm maiores representatividade em número de
espécies registradas para o Brasil. Havendo grandes possibilidades de novos registros
por ter poucas espécies descritas, a família Coryphoridae totalizou 14,41%. A família
Oligoneuriidae (10,74%) apresentou números relativamente altos em relação às duas
primeiras famílias citadas. Essa família possui poucas espécies registradas para o Brasil,
entretanto, com uma quantidade gêneros consideravelmente elevado, apontando um
suposto número alto de espécies a serem descritas. Por fim as famílias Leptophebiidae
(0,63%) e Leptohyphidea (1,89%) tiveram números significativamente menores, e
provavelmente representem novos registros para a região estudada, já que as duas estão
entre as famílias com maior quantidade de gênero e espécie registrada em todo mundo.

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Palavras-chave: Tocantins; Ephemeroptera; Registros; Ecótonos

INTRODUÇÃO

A ordem Ephemeroptera é considerado um dos grupos mais antigos dentre os


insetos voadores (Salles et al. 2004), devido as características primitivas de seus
adultos, tais como, a incapacidade de dobrar as asas sobre o abdômen, a vasta venação
alar e presença dez segmentos abdominais (Elouard et al. 2003). As ninfas constituem
um dos principais grupos dentre os insetos aquáticos. Além de abundantes e diversas,
ocupam a maior parte dos meso-hábitats disponíveis, desde áreas de remanso até forte
correnteza (Edmunds et al. 1976).

Para o Brasil foram registradas até o momento 320 espécies, agrupadas em72
gêneros e dez famílias (Salles et al. 2015). Entretanto, o conhecimento é mais amplo
nas regiões Norte e Sudeste, onde estão concentradas as principais coleções e
pesquisadores do grupo (Salles et al. 2004). Estimativas de riqueza pressupõem que o
número de espécies para o Brasil deve ser pelo menos três vezes maior (Salles & Silva
2012).

O estado do Tocantins possui raros inventários de Insecta, os quais dedicados


geralmente a táxons específicos, desse modo, o conhecimento sobre a diversidade de
insetos ainda é incerto. Esse desconhecimento dificulta uma análise dos padrões
históricos e ecológicos das espécies, assim como a elaboração de chaves de
identificação regionais e estudos taxonômicos. Isso exposto, este trabalho visa ampliar
significativamente o conhecimento relativo à biodiversidade da ordem Ephemeroptera
no Estado do Tocantins.

MATERIAL E MÉTODOS

As coletas foram realizadas no Parque Estadual do Cantão, Pium,TO, nas


imediações da sede do Centro de Pesquisas Canguçu. As coletas foram realizadas

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através de armadilha luminosa, que consiste de um lençol branco, iluminado com
auxílio de lâmpada de 250/500W com objetivo de atrair insetos. Esse método foi
utilizado em diferentes áreas com objetivo de coletar a maior riqueza de espécimes. Os
insetos adultos foram fixados em álcool 80%.
Após a amostragem, todo material foi levado ao laboratório e preparado
conforme os procedimentos padronizados para material entomológico: armazenado em
álcool e etiquetado, para posterior identificação em estereomicroscópio óptico com
auxílio de chaves taxonômicas. Todos os espécimes coletados estão depositados na
Coleção de Entomologia da UFT (CEUFT).

RESULTADO E DISCUSSÃO

O presente trabalho teve como resultado a coleta de 791 espécimes, distribuídos


em seis famílias (Baetidae, Polymitarcyidae, Leptophebiidae, Leptohyphidae,
Oligoneuriidae e Coryphoridae), das quais as famílias Baetidae e Polymitarcyidae foram
subdividias num total de 10 morfoespécies. Foi observada maior abundância para as
famílias Polymitarcyidae (45,76%) e Baetidae (26,54%), algo que, de acordo com a
literatura, é esperado, pois representam a família com maior número de espécies
registradas para o Brasil (Salles, et al. 2004). A família Coryphoridae totalizou 14,41%
no presente trabalho, entretanto, possui poucos registros para o Brasil, fato que pode
justificar um aprofundamento do estudo dos espécimes coletados, já que há grandes
chances de novas espécies (Salles, et al.2004). Segundo Salles et al. (2004),
Oligoneuriidae é um grupo com poucas espécies registradas para o Brasil, entretanto,
com uma boa quantidade gêneros, assinalando a possibilidade de um alto número de
espécies a serem descritas. No presente trabalho, Oligoneuriidae representou 10,74%
dos espécimes amostrados, entretanto apenas uma morfoespécie foi identificada. Nas
famílias Leptophebiidae (0,63%) e Leptohyphidea (1,89%) o número de espécimes
foram significativamente menores. Segundo Salles et al. (2004), Leptophebiidae e
Baetidae correspondem as duas famílias com maior número de gêneros (60%) e

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espécies (50%) registradas para o Brasil, podendo ser justificado devido as mesmas
compreenderem uma grande porcentagem de Ephemeropteras registrados em todo
mundo, bem como por serem alvo principal nos trabalhos registrados para a América do
Sul. Por tanto, apesar das famílias Leptophebiidae (0,63%) e Leptohyphidea (1,89%)
terem poucos espécimes mensurados no presente trabalho, pode haver também a chance
de novos registros de espécies para a região levantada.

Partindo do princípio que a área de coleta do presente trabalho está inserida


numa zona ecotonal com influência amazônica e que a sazonalidade do mesmo é
determinada por um contraste entre seca e chuva, acredita-se que este fato possa ter
influenciado no número de espécimes total de cada coleta realizada. Nota-se que a
família Baetidae apresentou maior abundância nas duas primeiras coletas, ou seja, nos
períodos pós-chuvas. Segundo Brittain (1982), a temperatura, em combinação com as
influências de fatores ambientais (por exemplo, qualidade dos alimentos, a velocidade
da corrente) influenciam no desenvolvimento das ninfas, fazendo com que elas
emerjam. Esta seria uma possível justificativa para explicar a abundância da família
Baetidae, já que a mesma é uma das mais ricas e abundantes no Brasil. A família
Polymitarcyidae teve maior abundância nos períodos com maior pluviosidade,
entretanto estes números podem representar um momento atípico. As outras famílias
também tiveram maior abundância nos períodos pós-chuvas, exceto a família
Oligoneuriidae. A mesma não teve registros de espécimes para o período de coleta na
seca, algo que pode ser esclarecido devido existir padrões no ciclo de vida na ordem
Ephemeroptera, onde algumas espécies podem levar dias ou anos para saíram do seu
estado de ninfa, demonstrando a possível sensibilidade da família nos períodos na seca,
da qual as condições para emergirem não seriam favoráveis.

As coletas de ninfas não foram possíveis de serem realizadas, visto que os


cursos d`águas da região de amostragem estavam inaptos a coleta por falta de água. Os
espécimes foram apenas identificados em nível de família devido à distância que o
especialista na ordem se encontra. Todavia o material será encaminhado para o mesmo

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com o intuito de confirmar as identificações, bem como obter os nomes das espécies e
realizar um checklist.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRITTAIN, J.E. Biology of mayflies. - Annual Review of Entomology n. 27: p. 119-


147, (1982).

EDMUNDS, G. F. JR.; JENSEN, S. L., BERNER, L. Mayflies of North and Central


America. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1976.

ELOUARD, J. M.; GATTOLLIAT, J. L.; SARTORI, M. The Natural History of


Madagascar. Ephemeroptera, Mayflies, p. 639, 2003.

SALLES, F. F.; BOLDRINI, R.; NASCIMENTO, J. M. C.; ANGELI, K. B.;


MASSARIOL, F. C.; RAIMUNDI, E. Ephemeroptera do Brasil. Disponível em
<http://ephemeroptera.com.br/lista/>. Acesso em: 11 de abril. 2015.
SALLES, F. F.; DA-SILVA, E. R.; HUBBARD, M. D.; SERRÃOS, J. E. As Espécies
de Ephemeroptera (Insecta) Registradas para o Brasil, p. 2-3, 2004.
SALLES, F. F.; DA-SILVA, E. R. Insetos do Brasil. Ephemeroptera, p.232-239, 2012.

AGRADECIMENTOS
Ao Centro de pesquisas Canguçu e seus servidores (CPC/UFT), em especial ao Dr.
Tarso Alvim por permitir a utilização dos alojamentos e instalações, e por todo o
suporte logístico. Ao Dr. Rafael Boldrini pelo auxílio e disponibilidade para
identificação dos efemerópteros.

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