Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Um novo modelo de política econômica passou a ser adotado no Brasil no período
pós-1990, cujo principal objetivo é o estabelecimento e a manutenção de taxas de
inflação baixas e estáveis. Estas recomendações em relação à formulação das
políticas macroeconômicas de curto prazo e as relações teóricas entre as principais
variáveis econômicas são sintetizadas pelo Novo Consenso Macroeconômico. O
objetivo deste artigo é analisar as condições que levaram à adoção do regime de
metas de inflação no Brasil. Os resultados das políticas adotadas entre 1994 e 2010 têm
sua análise influenciada pela incidência de choques externos adversos entre 1997 e
2003. No período 2004-2010, a economia brasileira entrou em uma trajetória contínua
de crescimento, ainda que não muito significativa, e a inflação se estabilizou em um
patamar de cerca de 5% ao ano, tendência interrompida apenas pela crise
internacional de 2008. A análise demonstra que o Brasil, por ser um tradicional
exportador de bens primários, de baixa elasticidade-renda e elasticidade-preço da
demanda externa, é extremamente suscetível a choques adversos externos, o que
pode restringir o seu crescimento econômico, fato que tem sido verificado nos anos
mais recentes.
Abstract
A new model of economic policy was adopted in Brazil in the 1990’s, whose main
objective is the establishment of low and stable inflation rates. The recommendations
about the formulation of macroeconomic policies in the short term and the theoretical
relationship between the main economic variables are summarized by the New
Consensus Macroeconomic. The aim of this paper is to analyze the conditions that led
to the adoption of inflation targets in Brazil. The results of the policies adopted between
1994 and 2010 have their analysis influenced by the incidence of external shocks
between 1997 and 2003. In the period 2004-2010, the Brazilian economy had a
continuous growth trajectory, though not very significant, and inflation has stabilized at
a level of about 5% per year, a trend interrupted only by the international crisis of 2008.
The analysis shows that Brazil, being a traditional exporter of primary goods, low income
elasticity goods and low price elasticity goods, is extremely susceptible to external
adverse shocks, which may restrict its economic growth, a fact that has been seen in
recent years.
1. Introdução
Um novo modelo de política econômica passou a ser adotado por diversos
países no período pós-1990, cujo principal objetivo é o estabelecimento e a
4 Isto é, uma taxa de desemprego que não acelera a inflação (Non-Accelereting Inflation Rate of
Unemployment).
5 Segundo Say (1980, Vol.I, p.139), “É bom observar que um produto acabado oferece, a partir deste
instante, um mercado para outros produtos equivalente a todo o montante de seu valor. Com efeito,
quando o último produtor acabou um produto, seu maior desejo é vendê-lo para que o valor desse produto
não fique ocioso em suas mãos. Por outro lado, porém, ele tem igual pressa em desfazer-se do dinheiro que
sua venda lhe propicia, para que o valor do dinheiro tampouco fique ocioso. Ora, não é possível desfazer-se
do dinheiro, senão comprando um produto qualquer. Vê-se, portanto, que só o fato da criação de um
produto abre, a partir desse mesmo instante, um mercado para outros produtos”.
olhos dos agentes para ser efetiva, uma vez que a inflação presente depende
diretamente das expectativas desses agentes. A busca de credibilidade é um
argumento utilizado em defesa da implantação da independência dos bancos
centrais em relação aos governos nacionais. Por outro lado, conforme ressalta Spahn
(2001), a credibilidade do Banco Central está relacionada a sua capacidade de
produzir resultados macroeconômicos favoráveis mesmo na incidência de choques
aleatórios sobre o sistema econômico e não especificamente em seguir uma regra de
política monetária estável e rígida, tal como era defendido pelos economistas novo-
clássicos, anteriores ao novo consenso. Segundo o autor (2001, p. 12),
Y g t a0 a1Y g t 1 a2 Et (Y g t 1 ) a3 [ Rt Et ( pt 1 )] a4 rert s1
(1)
pt b1Y g t b2 pt 1 b3 Et ( pt 1 ) b4 [ Et ( p wt 1 ) Et ert ] s 2
(2)
Rt (1 c3 )[RR * Et ( pt 1 ) c1Y g t 1 c2 ( pt 1 p T ) c3 Rt 1 ] s3
(3)
por uma média ponderada dos desvios da inflação e do produto em relação a suas
trajetórias previstas.
O gap do produto equivale à diferença entre o nível de produto agregado real
observado e o seu nível considerado “natural”, de acordo com sua trajetória no longo
prazo, determinada pelo lado da oferta agregada, pelo equilíbrio nos mercados dos
fatores de produção. Esse nível natural de produto também pode ser interpretado
como a taxa de crescimento econômico compatível com uma taxa constante de
inflação, e que, na hipótese de que as empresas da economia operam em regime de
perfeita concorrência, seria igual ao nível de produto compatível com o pleno-
emprego. Segundo Arestis (2008, pg. 7),
Under perfect competition in full equilibrium, firms operate at full capacity; the
latter is where average costs are minimised with marginal cost equal to average
cost. The level and structure of output has certain optimal features, notably,
here, production at lowest unit cost. Perfect competition equilibrium involves
firms operating at full capacity and full employment so that the existing
productive capacity can support the full employment of the available work
force. If trend output corresponds to a perfectly competitive full equilibrium,
then it could be argued that deviations (positive or negative) from trend output
would entail some losses in that unit costs of production will be higher. But not in
other situations. For example, under monopolistic competition (…), firms in
equilibrium would operate with excess capacity with declining average costs.
The unit cost minimising level of output would be greater than the equilibrium
level of output. It is then not self-evident that the optimum level of output can
be identified with the equilibrium one. It should be noted at this stage that even
New Keynesians generally think in terms of imperfectly competitive markets,
where imperfect competition may be due to informational problems in
particular.
0 a0 a3 [ R E( p)] a 4 rer
a3 [ R E( p)] a0 a4 rer
The conclusion is simply that interest-rate policies cannot exert a perfect and
reliable control of goods and labour markets. The "optimal" central-bank rate at
times might be unknown; the current state of information at most indicates the
direction of interest-rate changes which should be executed with care.
Moreover, multipliers in the transmission process cannot be assumed to be
constant. The relationship between the application of policy instruments and the
economy's response is not linear. Macroeconomic activities is characterized by
strong auto-regressive forces, i.e. positive feedback mechanisms between
macro variables (e.g. profit expectations, investment and realized profits). The
change of output therefore depends on its own dynamic in the past.
10 Reunião do Institute for International Economics realizada em novembro de 1989, com participação de
economistas do FMI, Banco Mundial, e do Departamento do Tesouro Norte-americano.
11 Gremaud et al. (2002) ressaltam que as transações efetivadas no âmbito do PND ficaram abaixo das
metas estabelecidas, com contribuição abaixo da esperada para a realização do ajuste fiscal.
12 Os recursos bloqueados receberiam correção monetária mais juros de 6% a.a. O governo devolveria o
valor transformado em Cruzeiros em 12 parcelas iguais e sucessivas a partir de setembro de 1991 (GREMAUD
et al., 2002).
13 A TR baseava-se em uma média das taxas de mercado interbancário e introduzia um elemento foward
looking para a indexação no Brasil, reduzindo a memória inflacionária sobre a determinação da inflação.
14Na década de 1980, caso fosse adotada a proposta LARIDA, as Obrigações Reajustáveis do Tesouro
Nacional (ORTN) funcionariam como esta moeda temporária.
era a efetiva justificativa para sua alteração, sua divulgação e a realização do ajuste
necessário para a retomada do controle monetário. Tal procedimento era essencial
para garantir a credibilidade do regime de metas de inflação e sua contribuição para
um ambiente macroeconômico estável.
A política monetária baseada em altas taxas de juros foi fundamental para
sustentar a estabilidade de preços no Brasil e manter a inflação efetiva pelo menos
dentro dos intevalos estabelecidos, ainda que a manutenção desta tenha contribuído
para o aumento da dívida pública. Observa-se no período analisado, que o governo
brasileiro seguiu as principais recomendações de política econômica dos organismos
internacionais, orientadas para o mercado, de tal forma que sua política monetária
tinha como principal objetivo alcançar a meta de inflação.
Ressalta-se que o programa de estabilização não possuía uma estratégia de
longo prazo, de tal forma que a política econômica adotada no período sempre
esteve subordinada a este objetivo, o que gerou custos para a economia nacional. A
sinalização para os agentes concentrou-se nos objetivos de estabilização e pouco se
fez em relação à retomada do crescimento econômico. Apesar de importante, a
estabilização de preços não deveria ser a única meta de política econômica, pois
uma sinalização sobre a recuperação da produção é igualmente importante para
garantir as próprias condições para que as reformas sejam sustentáveis ao longo do
tempo. Assim, a ideia de que a estabilização permitiria a retomada do crescimento
estável não se verificou.
O comportamento do PIB, principalmente de sua taxa de variação anual,
oscilou significativamente ao longo do período analisado. Em 1994, logo na
implantação do plano Real, a economia brasileira encontrava-se em
sobreaquecimento, com uma taxa de crescimento próxima a 6% ao ano. Isso foi
interpretado pela equipe de política econômica do governo federal como uma
potencial ameaça à continuidade da estabilidade nominal obtida com o plano. De
acordo com Giambiagi (2011), havia a memória do fracasso do plano Collor, em 1991,
diante de um boom da demanda por bens de consumo. Por isso, a política
econômica foi cautelosa: em 1995, houve uma elevação da taxa de juros (SELIC) em
1% ao mês, com os objetivos de desestimular a demanda e de blindar os mercados
financeiros nacionais contra um possível contágio da crise mexicana, aproveitando o
momento de grande liquidez externa. Outro instrumento de combate à inflação
adotado, conforme já apresentado, foi a valorização cambial. De um modo geral, o
período 1995-1999 caracterizou-se pela convergência do PIB brasileiro para um
patamar estável em termos per capita, de cerca de R$ 18.000,00.
Em 1999 houve a mudança da política econômica, com a introdução do
câmbio flutuante, da política de metas de inflação e de superávit primário. Desse
5. Considerações finais
O artigo procurou analisar os efeitos do plano Real sobre a dinâmica
econômica brasileira, sob a ótica conceitual e teórica do Novo Consenso
Macroeconômico.
Conforme salientado, o Novo Consenso Macroeconômico, ou modelo Novo-
Keynesiano, é um approach teórico que inclui elementos das três correntes de
pensamento macroeconômico anteriores a ele. Da síntese neoclássica, ou teoria
Neokeynesiana, ficaram os modelos agregados estruturais, a dicotomia entre os lados
real e monetário da economia e a rigidez nominal, que faz com que a política
6. Referências
Abreu, M. P. (org.). A ordem do progresso: cem anos de política econômica
republicana 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus, 1989.
Angeriz, Alvaro & Arestis, Philip. Monetary Policy in the UK. Cambridge Journal of
Economics, vol. 31, pp. 863-884. 2007.
Arestis, Philip; Baddeley, Michelle & Sawyer, Malcolm. The Relationship Between Capital
Stock, Unemployment and Wages in Nine EMU Countries. Bulletin of Economic Research
59:2, 2007.
Arestis, Philip & Mihailov, Alexander. Flexible Rules and Constrained Discretion: A New
Consensus in Monetary Policy. October 2007. (Working Paper Series, 53). Disponível em:
http://www.reading.ac.uk/web/FILES/management/053.pdf.
Arestis, Philip & Sawyer, Malcolm. The Nature and Role of Monetary Policy When Money
Is Endogenous. Cambridge Journal of Economics, vol. 30, n. 6, p. 847-860, 2002a.
Arestis, Philip & Sawyer, Malcolm. “New Consensus”, New Keynesianism, and the
Economics of the “Third Way”. The Levy Economics Institute of Bard College, Working
Paper No. 364. 2002b.
Arestis, Philip & Sawyer, Malcolm. Macroeconomic Policies of the Economic Monetary
Union: Theoretical Underpinnings and Challenges. The Levy Economics Institute of Bard
College, Working Paper No. 385. 2003.
Gremaud, Amaury P., Vasconcellos, Marco A.S., e Toneto Jr, Rudinei. Economia
Brasileira Contemporânea. São Paulo, Ed. Atlas, 2002.
Spahn, Heinz-Peter. On The Theory of Interest-Rate Policy. Chair for Economic Policy,
Institute of Economics, University of Hohenheim. Stuttgart, Germany. October 2001.