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CAPÍTULO 26

CONCORDÂNCIA NOMINAL

REGRAS BÁSICAS

A CONCORDÂNCIA nominal se ocupa da relação entre os nomes, ou seja, entre as classes de


palavras que compõem o chamado grupo nominal (substantivos, adjetivos, pronomes, artigos e
numerais). Para estudar como essa relação se estabelece, é necessário lembrar que adjetivos
e palavras de valor adjetivo podem atuar como adjuntos adnominais ou predicativos dos
substantivos a que se referem. No estudo que você fará a partir de agora, considere que o
comportamento dos adjetivos é extensivo às outras palavras de emprego adjetivo.

Quando atuam como adjuntos adnominais de um único substantivo, os adjetivos concordam


em gênero e número com esse substantivo:

Suas mãos frias denunciavam o que sentia naquele momento.

Quando atuam como adjuntos adnominais de dois ou mais substantivos, os adjetivos


antepostos devem concordar com o substantivo mais próximo. Quando estão pospostos aos
substantivos, os adjetivos pedem concordar com o substantivo mais próximo ou com todos
eles. Observe:

A empresa oferece perfeita localização e atendimento.


A empresa oferece perfeito atendimento e localização.
A empresa oferece localização e atendimento perfeitos.
A emprésa oferece localização e atendimento perfeito.
A empresa oferece atendimento e localização perfeita.
A empresa oferece atendimento e localização perfeitos.

A forma adotada no terceiro e no sexto exemplo é a mais clara, pois indica que o adjetivo
efetivamente se refere aos dois substantivos. Você notou que, nesses casos, o adjetivo foi
flexionado no plural masculino, que é o gênero predominante quando há substantivos de
gêneros diferentes.
O adjetivo anteposto a nomes próprios deve sempre concordar no plural:

O disco Tropicália 2 é uma obra-prima dos brilhantes Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Quando um adjetivo atua como predicativo de um sujeito ou de um objeto compostos, concorda


com todos os núcleos desses termos. Se o predicativo do sujeito estiver anteposto ao sujeito,
pode concordar apenas com o núcleo mais próximo (coisa que acontece também com o verbo
da oração):

Mãe e filho são talentosos.


Marido e mulher são bem-educados.
Considero inteligentes a professora e a aluna.
Julguei desconexas sua atitude e suas palavras.
São vergonhosos a pobreza e o desamparo.
É vergonhosa a pobreza e o desamparo.

Quando um único substantivo é modificado por dois ou mais adjetivos no singular, podem ser
usadas as construções:

Admiro a cultura italiana e a francesa.


Admiro as culturas italiana e francesa.

A construção:

Estudo a cultura italiana e francesa.- provocaria incerteza (trata-se de duas culturas distintas ou
de uma única, ítalo-francesa?). Por isso, deve ser evitada.
No caso de numerais ordinais antepostos a um único substantivo, podem ser usadas as
construções:
Convoquei os alunos da primeira e da segunda série
Ou

Convoquei os alunos da primeira e segunda séries.

EXPRESSÕES E PALAVRAS QUE MERECEM ESTUDO PARTICULAR

Próprio, mesmo, anexo, incluso, quite e obrigado concordam em gênero e número com o
substantivo ou pronome a que se referem. Observe:

Muito obrigadas, disseram elas, nós mesmas nos servimos.


Seguem anexas as faturas requeridas.
Seguem inclusos os comprovantes solicitados.
Já lhe paguei a dívida: estamos quites.
A moça agradeceu: - Muito obrigada.

Meio e bastante podem atuar como adjetivos ou como advérbios. No primeiro caso, referem-
se a substantivos e são variáveis. No segundo, referem-se a verbos, adjetivos ou advérbios e
são invariáveis:

Pedi meia cerveja e meia porção de batatas fritas.


Meia classe terá de permanecer após o sinal de meio-dia e meia.
Ela ficou meio nervosa quando soube que precisaria esperar na fila até meio-dia e meia.
A aluna foi mal na prova porque estava meio tensa.
Ficamos meio chateados.

- nota da ledora: propaganda da Casa Olga, especializada em meias, com o seguinte


texto: - Casa Olga. Sete décadas. E Meia.
- fim da nota.

O redator deste anúncio elaborou uma brilhante mensagem de aniversário empregando


ambiguamente a palavra meia. A primeira leitura, entendemo-la como adjetivo ("sete décadas e
meia (década"). Mas, quando atentamos para a pontuação do texto e para o ramo de negócios
da Casa Olga, vem-nos à mente a hipótese de que meia está sendo usada como substantivo.

O país não dispõe de recursos bastantes para a obra.


Há bastantes pessoas insatisfeitas com o que ganham.
O time perdeu bastantes oportunidades para marcar.
Os jogadores ainda acreditavam bastante em si mesmos, apesar de estarem bastante
cansados.
Eles se amam bastante. E são bastante loucos a ponto de casar.

Substantivos desacompanhados de determinantes (artigos, pronomes e numerais adjetivos)


podem ser tomados em sentido amplo, genérico. Nesse caso, expressões como é proibido, é
bom, é necessário, é preciso, é permitido e similares não variam:

Em certas situações, é necessário paciência.


Não é permitido entrada.
Liberdade é necessário.
É preciso cidadania.
No inverno, sopa é bom.
A paciência é necessária nessa situação.
Esta sopa é ótima.
É proibida a entrada de estranhos.
A liberdade é necessária.
São precisas várias medidas de urgência.

CONCORDÂNCIA IDEOLÓGICA

Você pôde ler neste capítulo que muitas vezes os mecanismos de CONCORDÂNCIA
podem ser contaminados pela significação de palavras e expressões. Essa contaminação
às vezes faz a CONCORDÂNCIA formal e lógica ser substituída pela
CONCORDÂNCIA ideológica e psicológica. Em outras palavras: o falante às vezes é levado
a colocar um verbo ou adjetivo no plural ou no singular não porque o sujeito ou substantivo
tenha essa forma, mas sim porque significa isso. Às vezes, a alteração diz respeito à pessoa
gramatical ou ao gênero gramatical.

A CONCORDÂNCIA ideológica é chamada de silepse. Ocorrem silepses de número, gênero


e pessoa.

A silepse de número ocorre particularmente quando o sujeito é um coletivo e o verbo passa a


concordar no plural:
O público chegou muito cedo. Como o sol era forte e o calor, intenso, começaram a pedir
aos bombeiros que jogassem água.

Você notou que o sujeito da primeira oração é público, singular com ideia de plural. A forma
verbal chegou está no singular. No período seguinte, o verbo passou para o plural
(começaram). Isso se explica pelo distanciamento e pela consequente perda da força da forma
da palavra público. Passa a prevalecer o seu significado, plural (as pessoas, ou algo
equivalente).
Outra forma de silepse de número ocorre quando se utiliza o chamado "plural de modéstia", em
que a pessoa que fala ou escreve refere-se a si mesma como nós.
Os adjetivos referentes ao falante surgem no singular:

Nossas músicas fazem muito sucesso lá, o que nos deixa satisfeito e comovido.

A silepse de gênero ocorre quando se troca o masculino pelo feminino ou vice-versa:

Vossa Excelência está frustrado?


Sua Santidade ficou impressionado com a acolhida.
Alguém está com saudades e quer que você vá vê-Ia.
São Paulo continua caótica, bárbara e violenta.

A silepse de pessoa é bastante comum quando quem fala ou escreve se inclui num sujeito de
terceira pessoa:

Os brasileiros decentes queremos que acabem a impunidade e os privilégios.


Todos sabemos quais as soluções de que o Brasil precisa.

Na língua coloquial, é comum a silepse de pessoa com a forma "a gente":


"A gente somos inútil."

No padrão culto, essa construção é inaceitável.

TEXTOS PARA ANÁLISE

nota da ledora:
1a. propaganda, da Budget, texto: Entre num dos mercados que mais cresce no Brasil.
Abra sua franquia Budget Rent a Car.
2a. propaganda, da 3M com o seguinte texto: Já pensou poder gravar qualquer
informação, som e imagem e protegê-los por toda a vida?
3a. propaganda,: mapa do estado de Minas Gerais, com seguinte texto: Minas Gerais é o
Estado que mais cresce no país.
- fim da nota.

TRABALHANDO OS TEXTOS

1. Comente a concordância em "... num dos mercados que mais cresce...".


2. Comente a concordância em "Minas Gerais é o estado...".
3. Complete a frase "Minas Gerais e' um dos estados que mais..." e justifique sua
resposta.
4. justifique a concordância do pronome destacado na estrutura "... e protegê-(los)...".
Governos não têm dados confiáveis sobre cortiços. Precariedade das estatísticas oficiais
mostra que problema não tem a atenção que merece.

Referência:

CIPRO Neto, Pasquale: Gramatica de língua portuguesa, / Pasquale e Ulisses - São


Paulo/Scipione, 1998.

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