Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Como Os Planos de Dados Abertos No Governo Federal Consideram As Demandas e A Participação Do Usuário Final
Como Os Planos de Dados Abertos No Governo Federal Consideram As Demandas e A Participação Do Usuário Final
Como Os Planos de Dados Abertos No Governo Federal Consideram As Demandas e A Participação Do Usuário Final
Resumo e palavras-chave:
1
presença de atividades que envolvam o usuário nos PDAs. Finalmente
apresentamos os resultados que não comprovarão totalmente a proposição
inicial, mas que poderão contribuir com a construção de melhores PDAs no
futuro.
Introdução
1
Mais de 30 organizações da sociedade civil se reuniram em Sebastopol, nos Estados Unidos, em dezembro de
2007 para desenvolver um conjunto de princípios de dados abertos do governo. A reunião foi concebida para
desenvolver uma compreensão mais robusta do porque dados abertos governamentais são essenciais para a
democracia.
2
pesquisa; poderoso recurso para negócios inovadores e engajamento por
meio de mídias sociais, sempre baseado na colaboração entre os setores
público e privado.
Em 2009, o movimento ganha impulso com a publicação das Diretrizes
para Governo Aberto, do Presidente Obama, dos Estados Unidos, que
determina aos órgãos de governo que sigam os princípios de transparência,
participação e colaboração, incluindo a recomendação para que as
informações sobre as ações de governo sejam feitas em formato aberto
(OBAMA, 2009). A seguir, o Primeiro Ministro do Reino Unido, David
Cameron, também publica, uma carta a todos os Ministros de Estado onde
faz um apelo para que os ministérios abram seus dados (CAMERON, 2010).
Tanto a maior autoridade do governo do Reino Unido como a dos Estados
Unidos reforçaram seus compromissos com a abertura de dados nos anos
seguintes (CAMERON, 2011; OBAMA, 2013).
Somente a partir da iniciativa Open Government Partinership (OGP),
em 2011, ganharam corpo práticas de tentativa e erro de uso de DGA. No
entanto a promessa de benefícios não tem se realizado por completo até o
momento, levando pesquisadores e practioners a buscarem maior
compreensão sobre o fenômeno.
HELBIG et all (2012) afirma que o número de conjunto de dados
abertos disponível supera em muito o número de história de sucesso do seu
uso. Em parte porque os governos estão mais preocupados em aumentar a
sua lista de conjunto de dados abertos nos “Catálogos de Dados Abertos”. No
entanto, os dados que estão de fato disponíveis, a partir de sistemas
administrativos, como "dados abertos" foram coletados ou criados para
outros fins. Eles tem valor potencial inegável, mas corre-se riscos
substanciais em termos de validade, relevância e confiança. (DAWES, 2012).
Ao estudar o ecossistema de dados abertos, REINHARD e GERMANO
(2016) também consideraram a existência dos intermediários dos dados e
propõem que o produtor de dados se aproxime daqueles para conhecer como
eles utilizam os dados e criar um canal de diálogo para aprimoramento
mútuo.
3
Já PELED (2013) sugere investimentos em atividades que reduzam as
diferenças em habilidades de tratar os dados, como por exemplo, treinar
ativistas a converter dados brutos em dados que produzem informações
úteis. Assim reduziria a desigualdade entre os “sem dados” e os “com dados”.
Razões são muitas. Elas promovem como resultado geral um
processo que reproduz no acesso e uso de dados uma estrutura de
desigualdade social: concepção original falha do movimento de dados
abertos, com muito foco na tecnologia e pouco no resultado; baixa qualidade
e relevância dos dados disponíveis; cultura organizacional resistente à
abertura de dados; ator governo com peso excessivo no ecossistema;
ausência de exemplos matadores (“killer applications”) de impacto
significativo na sociedade e descolamento entre oferta e demanda (PELED
2013; DAWES 2012; JANSSEN et all 2012).
Pouco se fala sobre a oferta e demanda por dados abertos e o
necessário alinhamento entre elas. Como se trata de uma relação de
produção e consumo de dados a qual poderia estar sujeita a variáveis
semelhantes à produção e consumo de bens intangíveis, seria importante
desenvolver estudos mais aprofundados sobre qual a importância que a
demanda por dados deveria ter no ciclo de vida de dados abertos.
Nesse estudo nos limitaremos a verificar se os PDAs elaborados por
alguns órgãos selecionados da administração pública federal consideram a
demanda por dados abertos e a participação dos usuários como variáveis
que afetam cada plano.
O Decreto 8.777, de 11 de maio de 20162, do Governo Federal, institui
a Política de Dados Abertos do Poder Executivo. Ela estabelece uma série de
compromissos a todos os órgãos da administração pública federal,
relacionados ao tema, tais como, publicar o Plano de Dados Abertos até 11
de julho de 2016 e publicar dados priorizados em formato aberto a partir de 8
de novembro de 2016.
2
http://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:federal:decreto:2016-05-11;8777
4
Até 21 de novembro de 2016 havia 23 PDAs publicados pelos órgãos
da administração pública federal. Segundo o site da INDA – Infraestrutura
Nacional de Dados Abertos3, a situação era a seguinte:
Metodologia
3
http://wiki.gtinda.ibge.gov.br/Plano-de-Dados-Abertos.ashx
5
propuseram um modelo de análise de progresso dos portais de dados
abertos baseado nos oito princípios originais de dados abertos (vide nota 1).
Esse modelo foi usado para avaliar portais de 35 países diferentes. Ele
apresenta um quadro de duas dimensões. Em uma delas avalia a presença
de facilidades e recursos online para manipulação de dados nos portais e em
outra a capacidade que os portais oferecem para engajamento dos usuários.
Os portais serão Participativos se oferecerem ferramentas e sistemas que
permitem usuários participar da governança do portal, tais com enquete,
opiniões, notas de avaliação e troca de informações com outros usuários
moderada pelo administrador do portal. Para ser Colaborativo, o portal deve
prover ferramentas, métodos e sistemas que permitem usuários se
engajarem entre si.
KUCERA et all (2014) propuseram uma lista de requerimentos
necessários para publicar conjuntos de dados (datasets) em formato aberto
como parte do método criado por eles. Entre os requerimentos necessários
estão a participação do usuário na avaliação da demanda, no
desenvolvimento do plano de dados abertos e na preparação da publicação.
Para esse artigo, propomos um modelo que verifica a presença de
ações de engajamento dos usuários nos PDAs, seguindo o modelo de
Kucera et all, e se os PDAs são participativos ou colaborativos, conforme
modelo de Sayogo, Pardo e Cook. Selecionamos 5 variáveis que
representam engajamento e feedback conforme expresso pelos autores e
verificamos se os PDAs fazem a previsão de:
Avaliar as demandas por dados abertos;
Inserir os usuários na construção dos plano;
Oferecer mecanismos de feedback, sugestões dados e avaliação;
Oferecer mecanismos de engajamento como fórum de discussão,
blogs e compartilhamento de ideias;
Oferecer espaço para compartilhamento e desenvolvimento de
aplicações (ou apps).
Para efeito de análise dos PDAs, desprezamos os planos das
universidades e institutos federais por não serem representativos
6
estatisticamente e selecionamos 5 planos – 2 ministérios da área meio, 2
ministérios da área fim e uma autarquia. A lista abaixo apresenta os órgãos
federais selecionados e respectivos links de seus PDAs:
Resultados encontrados
7
Oferecer espaço para compartilhamento e
N N N S S
desenvolvimento de aplicações (ou apps)
Tabela 2: Presença de ações relativas à demanda no Plano de Dados Abertos dos órgãos do Governo Federal,
onde MP = Ministério do Planejamento, MF = Ministério da Fazenda, MS = Ministério da Saúde, MJ = Ministério da
Justiça e BC = Banco Central
4
Vale ressaltar que, embora nã o analisados nesse artigo, sabe-se que há outros ó rgã os de governo que realizaram
consultas pú blicas antes de concluírem seus PDAs. Vide MCTIC, http://www.brasil.gov.br/ciencia-e-
tecnologia/2016/09/governo-abre-consulta-publica-sobre-plano-de-dados-abertos, veja também Ministé rio da Defesa,
http://www.defesa.gov.br/noticias/22686-defesa-disponibiliza-plano-de-dados-abertos-para-consulta-publica.
8
não mencione claramente que canais seriam esses. Em seu plano, o MP
identifica quem é o responsável por cada base de dados previstas no plano,
com seu respectivo email e/ou telefone.
Por sua vez, o Banco Central explicitamente criou em seu PDA um
compromisso de “realizar, oportunamente, ..., consulta pública para a
elaboração da lista final de bases de dados do PDA” (BC, 2016). No entanto,
essa atividade não entrou na lista de atividades previstas.
A maioria dos PDAs analisados mostra que os órgãos não terão
dificuldades em oferecer mecanismos de feedback, sugestões de dados e
avaliação. Todos, exceto o MF, mencionaram essa intenção.
Por fim, a análise dos PDAs mostra que a maioria dos órgãos
considerados não tem grande interesse em criar uma comunidade de prática
e interessados no tema para contribuir com a sustentabilidade da iniciativa.
Apenas dois (MJ e BC) demonstraram planejamento objetivo para isso ao
considerar em oferecer um ambiente colaborativo para discussão, um
repositório de conteúdo relacionado às entregas e discussões; promoção de
eventos e concursos e consultas públicas (BC). Ou adicionalmente, realizar
workshops sobre sustentabilidade dos aplicativos desenvolvidos no contexto
de abertura de dados (MJ). Vale ressaltar que, embora não conste do PDA
do MP, sabe-se que existe uma comunidade de interessados reunidos numa
lista de discussão5 moderada pela equipe da INDA (Infraestrutura Nacional
de Dados Abertos).
Retomando a metodologia sugerida por Sayogo, Pardo e Cook (2014)
para análise de portais de governo aberto, explicada acima, aproveitamos o
modelo aplicado para analisar as facilidades para o engajamento dos
usuários nos quais os portais poderão ser participativos se oferecem
ferramentas e sistemas que permitem usuários participar da governança do
portal ou colaborativos se permitirem a interação entre os usuários.
Ainda que o modelo de Sayogo et all tenha sido desenvolvido para
analisar portais, ele também pode ser aplicado para considerarmos os planos
de dados abertos dentro da mesma perspectiva de avaliar o engajamento do
usuário no processo.
5
Veja https://groups.google.com/forum/#!forum/lista-inda-gt3
9
No quadro acima, tabela 2, as três primeiras linhas referem-se a
modelos participativos e as duas últimas linhas referem-se a modelos
colaborativos. Assim, podemos afirmar que os PDAs avaliados, considerando
esse modelo, mostram que os tanto o Ministério da Justiça como o Banco
Central criaram planos de dados abertos colaborativos, considerando um
forte envolvimento do usuário final no processo de abertura de dados, desde
a criação do plano até a sua implementação. No lado oposto, o Ministério da
Fazenda elaborou um plano em que o usuário não é considerado em
nenhuma etapa de sua execução. E finalmente, os Ministérios do
Planejamento e da Saúde elaboraram planos participativos, nos quais os
usuários são considerados na governança desses planos, embora não
considerados em sua elaboração. Não há previsão neles de facilidades para
engajamento do usuário.
Conclusão
10
A análise dos PDAs mostrou que a proposição inicial não era
totalmente verdadeira uma vez que encontrou-se dois planos de dados
abertos colaborativos (MJ e BC) que consideram um forte envolvimento do
usuário final no processo de abertura de dados, desde a criação do plano até
a sua implementação. A análise identificou apenas um plano (MF) que
desconsidera o usuário final em seu planejamento e execução, tendo seu
foco prioritário na oferta de dados. Os dois outros restantes (MP e MS) são
participativos pois consideram parcialmente a participação do usuário, porém
não consideram o engajamento destes.
Os resultados encontrados sugerem que maior atenção deve ser dado
pelo órgão que coordena o processo de abertura de dados do Governo
Federal (INDA) ao envolvimento do usuário na formulação dos planos e na
sua governança. Conforme exposto acima, um dos motivos do fracasso nos
processos de abertura de dados está relacionado a ausência da perspectiva
do usuário final uma vez que a publicação de dados em formato aberto existe
para que estes sejam consumidos pelos usuários. Portanto, o foco deve estar
no consumo dos dados abertos e não em sua oferta para aumentar o número
de bases de dados no “Catálogo de Dados Abertos”.
Para pesquisas posteriores, os dados sugerem um trabalho mais
robusto quando todos os PDAs estiverem publicados e já em execução. Uma
avaliação com o universo dos PDAs trarão conclusões mais precisas com
relação ao planejamento e possibilitarão analisar o progresso dos planos.
Assim como os prazo para entrega dos PDAs não foram cumpridos ainda por
90% dos órgãos da administração pública federal, não seria surpreendente
que os planos também não fossem cumpridos.
11
Referências bibliográficas
DAWES, S. (2012). A realistic look at Open Data. W3C Using Open Data Workshop,
Bruxelas. Disponível em https://www.w3.org/2012/06/pmod/. Acesso em 07/11/2016.
KUCERA, J., CHLAPEK, D., KLÍMEK, J., NEKASKI, M. Methodologies and Best
Practices for Open Data Publication. Dateso, pp. 52-64, CEUR-WS.org/Vol-1343.
LEE, G., KWAK, Y. (2012). An Open Government Maturity Model for social media-
based public engagement. Government Information Quarterly 29 (2012) 492–503.
Elsevier.
12
Disponível em https://www.whitehouse.gov/open/documents/open-government-
directive. Acesso em 28/05/2016.
OBAMA, B. (2013). Executive Order -- Making Open and Machine Readable the
New Default for Government Information. White House, Office of the Press
Secretary. Washington, EUA. Disponível em https://www.whitehouse.gov/the-press-
office/2013/05/09/executive-order-making-open-and-machine-readable-new-default-
government-. Acesso em 28/11/2016.
PELED, A. Redesign Open Data 2.0. (2013). Conference for Democracy and Open
Government. Disponível em http://www.donau-
uni.ac.at/imperia/md/content/department/gpa/zeg/bilder/cedem/cedem13_2nd_ed_fin
al_version.pdf. Acesso em 21/05/2016.
SAYOGO, D., PARDO, T., COOK, M. (2014). A Framework for Benchmarking Open
Government Data Efforts. 47th Hawaii International Conference on System Science .
Disponível em http://ieeexplore.ieee.org/stamp/stamp.jsp?arnumber=6758838.
Acesso em 07/11/2016
13