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São Paulo, Segunda-feira, 11 de Outubro de 1999

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PT, CPI e drogas


FERNANDO RODRIGUES

Brasília -A CPI do Narcotráfico não ganha nada ao deixar


correr solto o estereótipo preconceituoso "se for do Acre, é
suspeito".
Não é o caso de defender previamente nenhum dos acusados
com o envolvimento no tráfico de drogas. Mas de zelar pela
integridade da Câmara dos Deputados.
Tome-se o caso do deputado federal José Aleksandro (PFL-
AC), o substituto de Hildebrando Pascoal (cassado
recentemente).
Não é possível saber se Aleksandro é culpado ou inocente de
algum crime. Há muitos indícios, nenhum definitivo. Em vez
de fazer o caminho normal, legal, a CPI meteu os pés pelas
mãos. Solicitou a quebra dos sigilos bancário, fiscal e
telefônico do parlamentar sem ter formalmente votado essa
decisão.
Erro cometido, os deputados acochambraram o caso em
outra sessão -depois de já terem expedido ofícios aos órgãos
detentores das informações sigilosas. Uma ilegalidade.
É o tipo de erro que não fica bem para uma CPI. Muito
menos para a Câmara dos Deputados.
Quando isso acontece, qualquer um está autorizado a ter
dúvidas sobre os verdadeiros interesses da CPI. Por exemplo,
até hoje não foi ouvido formalmente pelos deputados o
empresário acreano Abraão Cândido.
Esse senhor foi acusado em 10 de junho, no plenário da CPI,
pela deputada estadual Naluh Gouveia, do PT do Acre, de
ser um dos colaboradores do narcotráfico.
Ocorre que Abraão Cândido foi um dos financiadores da
campanha de Jorge Viana (PT) para o governo do Acre -a
quem emprestou aviões.
Pode ser que as acusações contra Abraão Cândido se provem
todas falsas. Mas precisam ser investigadas. Uma a uma,
tudo de acordo com o regimento interno da Câmara.
Caso contrário, a CPI do Narcotráfico será apenas mais uma
CPI que cassou um deputado. E nada mais.

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