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SALVADOR - BA
2016
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SALVADOR - BA
2016
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AGRADECIMENTOS
Ninguém conquista algo sozinha e chegar até aqui não foi fácil, muitas pessoas
importantes contribuíram para a o sucesso dessa longa jornada.
Agradeço a minha mão Shirley (in memorian) eterna fonte de inspiração e exemplo de vida,
grande responsável pela minha formação como mulher.
À minha irmã, companheira, amiga e filha, Maria Joana, sempre ao meu lado.
À Anne, irmã grande companheira que sempre me serviu como exemplo e a responsável por
colocar meu sobrinho Joaquim na minha vida, pessoinha que me enche de alegria.
Um agradecimento especial para aqueles e aquelas que tiveram participação direta para a
concretização deste trabalho. à Thayse, principal motivadora, parceira nos estudos desde a
graduação. à Profª drª Sonia Maria da Silva Gomes, por ter me recebido em seu grupo de
pesquisa e por me orientar durantes esses anos, contribuindo para meu crescimento
acadêmico, profissional e pessoal. Muito obrigada!
Aos meus amigos que sempre me motivaram e sempre torceram pelo meu sucesso,
principalmente à Chico, Viviane e minha comadre Jamile.
À quem mandou pensamento e vibrações positivas para que eu chegasse até aqui,
Muitíssimo obrigada!
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“Ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos
nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.”
(Paulo Freire)
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RESUMO
Este estudo buscou identificar os fatores determinantes para a escolha das empresas listadas
na BM&FBOVESPA em auditar seus Relatórios de Sustentabilidade (RS) e se elas ao
realizarem esta opção obtiveram retornos anormais no valor de suas ações. A amostra foi
composta pelas empresas que elaboraram relatórios de acordo com as diretrizes do Global
Reporte Initiative GRI, no período de 2011 a 2014. Os determinantes da escolha por auditar
utilizados na pesquisa foram: Tamanho, Endividamento, Rentabilidade, Effective Tax Rate
(ETR) ou taxa de tributação efetiva, Origem do Controle Acionário e Setor de Atividade. Para
a identificação dos fatores foi elaborado um modelo de regressão logística binária robusta,
sendo excluída a variável Setor de Atividade, que foi analisada separadamente através da
tabela de referencia cruzada e teste qui quadrado. Para analisar se a escolha pela verificação
externa proporcionou para as empresas retornos anormais no valor das ações, foi definido um
segundo modelo de regressão linear múltipla robusta baseado no método de mínimos
quadrados ponderados. Os resultados evidenciaram que Tamanho e ETR determinam a
escolha do gestor em optar pela auditoria, ou seja, empresas de grande porte e que possuem
uma maior taxa de tributação efetiva tenderam a realizar a verificação externa, confirmando
assim as hipóteses H1 e H5. Dessa forma, não foi encontrada relação entre auditar os RSs e as
demais variáveis analisadas no estudo. O modelo de regressão logística proposto, apesar de
estatisticamente significativo, apresentou baixo poder preditivo, com um pseudo R² de
0,1481. Por outro lado, o nível de acerto do modelo em classificar corretamente as empresas
que auditam ou não os relatórios com um percentual geral de acerto de 64,3%. Os achados
permitiram aceitar a hipótese H7, empresas que optaram por realizar a verificação externa dos
RSs lograram retornos anormais no valor de suas ações. Os resultados aqui encontrados estão
consonantes com a Teoria da Legitimidade, uma vez que esta prediz que as empresas com
maior visibilidade adotarão práticas que atendam à demanda de suas partes interessadas, a fim
de garantir sua continuidade. Esta investigação contribui para a discussão acadêmica em torno
da divulgação de informações socioambientais, sobre quais elementos estão associados a estas
e a sua relevância para a gestão estratégica das empresas. Os resultados se limitam ao período
e a amostra investigada. Além disso, a amostra se limitou às empresas que elaboraram os RSs
de acordo com as diretrizes do GRI. Ressalta-se, também, o baixo poder preditivo do modelo
de regressão logística, explicado pela multicolinearidade entre algumas das variáveis
estudadas. Nesse contexto, sugere-se que futuras pesquisas ampliem a amostra, incluindo
empresas que elaboram RSs de acordo com outras diretrizes e que se estabeleça uma analise
comparativa com outros países, principalmente para análise da questão tributária. Ainda sob
esse tema, sugere-se que sejam utilizadas outras proxies para análise esta variável, a exemplo
do Book-Tax Differences (BTD). Adicionalmente, inserir outras variáveis econômico-
financeiras para análise do impacto da escolha da auditoria no desempenho da empresa, a
exemplo do Q de Tobim e Retorno sobre Ativos (ROA).
ABSTRACT
This study sought to identify the determining factors for the choice of companies listed on the
BM & FBOVESPA to audit its Sustainability Reports (SR) and they realize this option to
obtain abnormal returns in the value of their shares. The sample was composed by companies
that produced reports in accordance with the Global Reporting Initiative GRI guidelines in
the period 2011 to 2014. The determinants of the choice of audit used in the research were:
size, indebtedness, profitability, Effective Tax Rate (ETR) or effective tax rate, Control Source
Equity and Business Sector. For the identification of factors has produced a robust regression
binary logistic model, and deleted the variable business sector, which was analyzed
separately by cross-reference table and chi-squared test. To examine whether the choice of
external verification provides for abnormal returns companies in the value of shares, it
defined a second model of robust multiple linear regression based on the method of weighted
least squares. The results show that size and ETR determine the choice of manager to opt for
the audit, ie large companies and have a higher effective tax rate tend to perform the external
audit, thus confirming the hypothesis H1 and H5. Thus there was no correlation between
audit the SRs and the other variables analyzed in the study. The regression model proposed
logistics, although statistically significant, showed low predictive power with a pseudo R² of
0.1481. On the other hand, model accuracy level to correctly classify the companies they
audit or not the reports with an overall percentage of success of 64.3%. The findings allowed
to accept the hypothesis H7, companies that choose to perform the external audit of the SRs
manage to abnormal returns in the value of their shares. The present results are in line with
the theory of legitimacy, since it predicts that companies with greater visibility adopt
practices that meet the demands of its stakeholders in order to ensure its continuity. This
research contributes to the academic discussion on the disclosure of environmental
information, which elements are associated with these and their relevance to the strategic
management of businesses. The results are limited to the period and the sample investigated.
In addition, the sample was limited companies that developed the SRs according to the GRI
guidelines. It is noteworthy also the low predictive power of the logistic regression model,
explained by multicollinearity among some of the variables. In this context, it is suggested
that future research expand the sample including companies preparing SRs according to
other guidelines and to establish a comparative analysis with other countries, mainly to
analyze the tax issue. Still under this theme, it is suggested that other proxies for analysis this
variable are used, such as the Book-Tax Differences (BTD). Additionally, insert other
economic and financial variables for analyzing the impact of the audit choice on company
performance, such as the Q ṭobim and Return on Assets (ROA).
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ..................................................................................... 16
1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA ..................................................................................... 17
1.2.1 Objetivo Geral .............................................................................................................17
1.2.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................17
1.3 JUSTIFICATIVA ..........................................................................................................17
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................................................18
2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................19
2.1 TEORIA DA LEGITIMIDADE ....................................................................................19
2.2 AUDITORIA DOS RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE............................. 22
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................. 29
3.1 POPULAÇÃO E COMPOSIÇÃO DA AMOSTRA ................................................... 30
3.2 MODELO OPERACIONAL DA PESQUISA E HIPÓTESES ................................30
3.3 PROCEDIMENTOS PARA OBTENÇÃO DOS DETERMINANTES DA
AUDITORIA ................................................................................................................ 33
3.4 PROCEDIMENTOS PARA OBTENÇÃO RETONO ANORMAL ............................35
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................ 37
4.1 ANÁLISE DESCRITIVA DAS VARIÁVEIS ..............................................................37
4.2 TESTE DE HIPÓTESES ................................................................................................40
5 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 46
REFERÊNCIAS............................................................................................................ 50
APÊNDICE A - Lista de empresas que elaboraram Relatório de Sustentabilidade de
acordo com as diretrizes do GRI.
14
1 INTRODUÇÃO
Percebe-se a importância dos stakeholders nas ações incorridas pelas empresas, pois as
suas expectativas veem sendo consideradas por estas em seu processo de gestão.
Primeiramente, com o aumento das publicações dos RSs e, posteriormente, com o
crescimento da verificação externa destes. Essas afirmações são respaldadas através de uma
pesquisa realizada pela KPMG em 2011, que constatou um número crescente de publicações
de relatórios socioambientais assim como a submissão destes à auditoria externa, mesmo que
em menor proporção. Esse crescimento é fruto da percepção dos stakeholders de que as
organizações devem elaborar relatórios desta natureza com informações confiáveis e de
qualidade para proporcionar maior valor corporativo.
Eugénio (2010) afirma que as organizações constituem o sistema social, sendo assim,
estas só existem por que a sociedade lhes confere um estado legítimo, e a sua sobrevivência é
ameaçada caso venha a infringir este contrato. Desta forma, a auditoria dos RSs proporciona
mais legitimidade às empresas no momento em que transparece para a sociedade o seu
compromisso com a fidedignidade das informações acerca das suas práticas socioambientais.
a) Definir as variáveis que determinam a auditoria dos RSs baseadas nas características
das empresas, que são: tamanho, rentabilidade, endividamento, setor de atividade,
origem do controle acionário e Effective Tax Rates (ETR), a taxa de tributação
efetiva;
b) Calcular a taxa de retorno anormal das ações das empresas componentes da amostra
do estudo;
c) Verificar se há um retorno anormal das ações das empresas que optam por auditar o
RS em comparação com as que não exercem essa opção.
1.3 JUSTIFICATIVA
Diante do exposto, este estudo justificou-se por abordar o mercado brasileiro, trazendo
à tona dados a respeito deste ambiente pouco conhecido no que concerne à área de auditoria
dos RSs, este mercado que está dentre os que mais se destacaram nesse quesito. Perante o
atual momento em que o entendimento da importância do papel das empresas para o
desenvolvimento sustentável e o aumento da exigência para que as mesmas o exerçam, e
considerando que o Brasil é provido de muitos recursos naturais, torna-se ainda mais
relevante esta pesquisa.
Outra contribuição trazida pelo presente estudo se deu no tocante à metodologia, pois
segundo O’dwyer, Owen e Unerman (2011) poucas pesquisas foram além da análise de
conteúdo, revelando mais uma lacuna na construção do conhecimento sobre o tema e que este
estudo visa subsidiar, utilizando dados financeiros e de mercado analisados estatisticamente.
As poucas pesquisas realizadas no contexto brasileiro, que versam sobre o tema, utilizaram
como procedimento metodológico a análise de conteúdo (ALMEIDA, 2014; CALIXTO,
2013; NAGANO et al, 2013; BORÇATO, YAMADA E PEREIRA, 2011; TEIXEIRA, 2011;
PACHECO E SOUZA, 2008).
No que tange às variáveis utilizadas como determinantes da opção pela Auditoria, esta
investigação traz um diferencial, inserindo uma proxy, a taxa de tributação efetiva, para
analisar se o aspecto tributário possui algum impacto na decisão das empresas. De acordo com
Cabello e Pereira (2015), diversas pesquisas têm utilizado a Effective Tax Rate (ETR), para
analisar os efeitos tributários decorrentes das escolhas gerenciais, sendo esta a medida para
avaliação da efetiva carga tributária das empresas (MARTINEZ E DALFIOR, 2015).
Contudo, a aplicação desta variável em matérias ambientais ainda é baixa.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
empresarial. Neste sentido, Meyer e Rowan (1977) são de opinião de que as empresas adotam
práticas e procedimentos para alcançar legitimidade, atingindo seus objetivos de continuidade
no mercado, independente destas práticas serem ou não eficientes.
Nesse sentido, as empresas tentam assegurar que suas atividades sejam percebidas
pelos diversos stakeholders como legítimas (ISLAM & DEEGAN, 2008), isto é, congruentes
com o conjunto de valores e expectativas prevalecentes no ambiente em que operam. Isso
porque, de acordo com Deegan (2002) essa teoria parte do pressuposto de que existe um
contrato, uma espécie de acordo entre as companhias e a sociedade, o qual estabelece os
direitos e deveres para as partes. Na opinião de Dias Filho (2009) esse contrato é construído
em função do sistema de crenças e valores predominantes no contexto social.
Power (2003) escreveu sobre o mesmo tema e afirma que a Auditoria produz e/ou
aumenta a segurança no objeto auditado, sendo assim um relatório auditado é mais confiável
do que um não auditado. O crescimento da importância dada pela sociedade às questões
socioambientais incentiva as empresas a investirem em atividades dessa natureza e na sua
divulgação, para assim se legitimarem. A auditoria dos relatórios de sustentabilidade tem
aumentado nos últimos tempos, porém ainda é escassa (CORTINHAS, 2013). Esse aumento
21
Sob o olhar da Contabilidade, Farias (2008) afirma que a Teoria da Legitimidade pode
ser interpretada com base nas informações dadas pela empresa à sociedade, tendo a
Contabilidade o papel de prestar essas informações. Sendo a informação importante, as forças
sociais pressionam as empresas para que as divulguem. Segundo Eugénio (2010) a
Contabilidade contribui com o discurso ambiental no momento da investigação da veracidade
e autenticidade e das informações relatadas. Ainda sob esta perspectiva, Sancovschi e Silva
(2006) ressaltam que as imposições institucionais ou regulatórias também podem determinar
o surgimento de mudanças no grau de legitimidade das organizações. Sendo assim, é provável
que as empresas mais expostas politicamente tenham maior probabilidade de buscar a
22
A GRI usa a expressão “verificação externa” para denominar atividades que tenham
por finalidade emitir conclusões a respeito da qualidade e da veracidade das informações
publicadas no RS, incluindo o processo de elaboração dessas informações. Na opinião de Beja
(2005), os auditores que irão realizar a verificação externa devem preencher requisitos
essenciais, como: independência, capacidade de discernimento relativo aos interesses dos
stakeholders, isentar-se dos processos de controles internos e de elaboração do RS,
competência e experiência profissional para execução da atividade.
23
auditoria pode fornecer para eles, pois para agregar valor esse processo carece de atributos
como independência e clareza.
O predomínio das grandes empresas, conhecidas como Big Four, no cumprimento das
atividades de auditoria dos RSs pode ser, de certa forma, explicado pelo trabalho de O’Dwyer,
Owen, Unerman, (2011) no qual tiveram como objetivo desenvolver uma compreensão sobre
o processo de legitimação dessas atividades por parte dos profissionais da auditoria, para isso
analisaram uma grandes empresas de auditoria que compõem as Big Four. Os autores
identificaram a importância dos usuários e também dos não usuários para o aumento da
importância dos processos de auditoria em novas áreas como na área socioambiental. Gray
(2000) afirma que há uma necessidade de se esclarecer a terminologia em matéria de
auditorias socioambientais e uma fraqueza nas práticas de verificação externa e um déficit na
formação e educação do profissional da área.
Ainda com enfoque na Euronext Lisbon, o estudo de Matos (2010) analisou o grau de
cumprimento e do controle das informações socioambientais divulgadas e estabeleceu uma
comparação entre as empresas listadas na Euronext Lisbon e na Nyse Euronext, para isso
efetuou análise de conteúdo dos RSs divulgados no ano de 2007. Foram selecionadas 45
empresas de cada bolsa e estas foram subdivididas em pouco poluentes, poluentes e muito
poluentes. Os achados identificaram que as empresas da Nyse Euronext possuem maior
divulgação e maior busca por Auditoria do que as empresas da Euronext Lisbon.
O ambiente da África do Sul foi foco de pesquisa para Ackers e Eccles (2015) que
analisou o impacto do The King Code of Governance for South Africa (King III) sobre o
desenvolvimento de práticas de auditoria pelas empresas sul-africanas. Foram analisadas as
empresas listadas Johannesburg Stock Exchange (JSE) antes (2007 e 2008) e depois (2010 e
2011) da vigência da norma, os achados constataram um aumento significativo no volume de
relatórios auditados desde a implementação do King III. Constatou-se também que auditorias
realizadas por especialistas proporcionam maiores níveis de segurança, ainda que o rigor em
seu processo de assurance seja questionável. Os autores concluem que práticas de
verificações externas voluntárias resultam em aplicações incoerentes das mesmas
prejudicando a compreensão das partes interessadas quanto à natureza e alcance dos trabalhos
de auditoria e a solução para esse problema é a imposição de uma norma obrigatória para
essas atividades.
O caso francês foi analisado por Gillet (2012) de maneira exploratória, apara analisar a
práticas de auditoria de informações socioambientais no país. A amostra foi composta pelas
empresas da bolsa de valores que integram o CAC 40 Index (Cotation Assistée em Continu) e
que auditaram seus RSs no ano de 2007. Foi realizada a análise de conteúdo dos relatórios de
auditoria assim como entrevistas com executivos das empresas que auditam e não auditam e
com os profissionais que realizam as verificações externas. Os resultados permitiram concluir
que os relatórios de garantia carecem de precisão e explicação sobre os processos seguidos.
Outra fragilidade detectada foi quanto à independência dos auditores e por fim, as empresas
recorrem a processos de verificação externa dos relatórios na busca de se legitimarem.
necessidade de realização de pesquisas em cada ambiente, pois cada país possui suas
especificidades.
O tema no país ainda está insipiente e para dar maior conhecimento da temática
Eugénio e Gomes (2013) elaboram um artigo para apresentar os principais pontos sobre o
assunto, trazendo trabalhos já realizados em outros países e destacando os principais
conceitos. A mesmas autoras, em outra pesquisa realizada no mesmo ano, investigaram
conhecimento dos profissionais da auditoria quanto à temática do relato de sustentabilidade e
à verificação externa dos RSs. Por meio de questionário com 21 questões, 68 auditores
compuseram a amostra. Os resultados evidenciaram que a maioria dos pesquisados tem um
claro entendimento a respeito do tema e, na opinião desses profissionais a
gerencia/administração da empresa é quem deve se responsabilizar pela elaboração dos
relatórios, e ainda consideram de grande importância a obrigatoriedade deste tipo de relato.
Em sua dissertação, Gomes (2012), ainda com enfoque em Portugal, dividiu sua
pesquisa em três análises as quais chamou de ensaios; no primeiro, foi feita uma revisão sobre
a literatura do tema Auditoria dos Relatórios de Sustentabilidade, o segundo identificou as
características das empresas que recorrem à auditora dos RSs e o terceiro visou determinar a
percepção os auditores sobre o assunto. A conclusão para o primeiro ensaio foi de que os
setores de “Serviços Públicos” e “Transporte e Logística” são os que mais relatam e auditam
essas informações. No segundo ensaio foi identificado que não existe relação entre Setor de
Atividade, se é uma empresa cotada em bolsa ou não, o Total do Ativo, Total do Passivo,
RLE (Resultado Líquido do Exercício), Volume de Negócios (Volume de Vendas), EBITDA
e Número de Colaboradores, ou seja, a opção por auditoria dos RSs é determinada por outros
29
fatores. E por fim o terceiro ensaio permitiu concluir que os auditores concordam com a
relevância do tema, porém ainda desperta pouco interesse entre a classe.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
30
Este estudo investigou os fatores determinantes para a submissão dos RSs à Auditoria
externa e o impacto desta no retorno anormal das ações das empresas listadas na
BM&FBOVESPA que emitiram Relatórios de Sustentabilidade entre os anos de 2011 e 2014.
Dessa forma, para apresentar as variáveis utilizadas foi elaborado um modelo operacional de
pesquisa (figura 1).
Ainda que a elaboração e posterior verificação externa dos RSs sejam voluntárias, é
crescente o número de empresas que adotaram essa prática com vista a ganharem visibilidade
no mercado. Esse comportamento é explicado pela Teoria da Legitimidade, a qual parte da
premissa que as organizações correspondem às expectativas de suas partes interessadas com o
propósito de se legitimarem, obtendo, dessa forma, maior garantia de sua continuidade.
Para responder a questão formulada por este estudo foi utilizada a técnica estatística de
regressão que é utilizada para analisar a relação entre uma variável dependente e um conjunto
de variáveis independentes (GOMES, 2012), e a tabela de referencia cruzada. Quando a
variável dependente é dicotômica a regressão logística é mais apropriada, para variáveis
dependentes contínuas foi utilizado o método dos Mínimos Quadrados Ponderados. Sendo
assim, foram elaborados dois modelos de regressão apresentados a seguir. A variável setor de
atividade será analisada por meio do teste qui quadrado por ser uma variável qualitativa.
previstos são alterados pela exclusão de uma observação e as que impactaram nos erros-
padrão.
Deste modo, o modelo de regressão logística que tem por objetivo identificar as
variáveis determinantes para a escolha das empresas que compõe a amostra desta pesquisa em
auditar seus RSs está exposto na equação 1.
Em que:
β0 é o intercepto;
Rent = Rentabilidade;
Endiv = Endividamento;
O retorno anormal das ações é a diferença entre o retorno efetivo deste ativo e o
retorno esperado (SARLO NETO, 2004). Para obtenção dos dados referentes ao retorno
anormal das empresas componentes da amostra da pesquisa, serão utilizados como base os
trabalhos realizados por Homero Júnior (2014), Fernandes (2011), Nossa, Lopes e Teixeira
(2010), que entendem o retorno anormal como resultado entre o retorno obtido pelas ações
das empresas e o retorno esperado. Assim, para cálculo da taxa de retorno obtido pelas
empresas componentes da amostra desta pesquisa utilizar-se-á a seguinte equação:
Onde:
Onde:
O Retorno Anormal (RA) será obtido a partir da subtração do retorno obtido com o
retorno esperado:
RA= - E(Ri)
Após a obtenção do retorno anormal, foi rodado o modelo de regressão linear robusta
baseada nos mínimos quadrados ponderados que objetiva verificar a relação entre a opção por
37
auditoria dos relatórios de sustentabilidade e o retorno anormal das ações. O modelo está
apresentado na equação 2.
Em que:
β0 é o intercepto;
Endiv = Endividamento;
Conforme o exposto na seção 3.1 a amostra da pesquisa foi composta pelas empresas
de capital aberto da BM&FBOVESPA que divulgaram Relatórios de Sustentabilidade de
acordo com as diretrizes do GRI entre os anos de 2011 a 2014, sendo excluído empresas do
setor financeiro, por possuírem tratamento contábil específico. O universo amostral da
pesquisa contou com 68 empresas e 272 observações, porém ao aplicar o método de regressão
robusta, que elimina a presença de valores extremos, as regressões contaram com 249
observações.
38
A tabela 1 exibe a frequência das empresas que auditaram ou não seus relatórios no
período em análise. Ainda que a maior parte delas não tenha optado pela realização da
auditoria (55,9%), há um equilíbrio entre os dois grupos. O que não se verifica na origem do
controle acionário, onde há uma predominância de empresas onde o controle é nacional
(77,9%).
Para se testar as hipóteses levantadas nesta pesquisa, foram definidos dois modelos de
regressão, além da realização do teste qui quadrado, conforme detalhado na seção 3.3. A
análise dos resultados é apresentada a seguir.
da mais baixa a mais alta, então faz um teste qui quadrado para determinar se as frequências
observadas estão próximas das frequências esperadas. Pra o modelo logístico elaborado pelo
presente estudo, o valor do teste de Hosmer-Lemeshow foi de 19,35, que para um valor de p de
0,0131, significa que o modelo global é estatisticamente significativo.
A razão de chance (Odds Ratio) no valor de 2.021751 e indica que a variação em uma
unidade no tamanho aumenta em 102% (2.021751 – 1) a chance de uma empresa auditar o seu
Relatório de Sustentabilidade. O valor de 1.110836 indica que a variação positiva em uma
unidade em ETR aumenta em 11,1% (1.110836 1) as chances de a empresa optar pela
verificação externa dos seus RSs. Os resultados aqui expostos permitem confirmar as
hipóteses H1 e H5, Tamanho e ETR são determinantes para escolha em submeter os RSs a
auditoria, ou seja empresas de grande porte e que pagam mais tributos são mais propensas a
adotar a prática de assurance aqui analisada. A Teoria da Legitimidade explica esse
comportamento, pois tais empresas maior visibilidade e por tanto buscam se legitimar para
manter seu status quo adotando práticas exigidas por suas partes interessadas.
previstas e dos valores da variável dependente e está baseada nos conceitos de sensitividade e
especificidade. A primeira é a proporção de acerto na previsão da ocorrência de um evento
para os casos em que ele ocorreu efetivamente e a segunda é a proporção de acerto na
previsão da não ocorrência de um evento para os casos em que ele ocorreu efetivamente não
ocorreu.
A hipótese 6 será testada por meio da tabela de referencia cruzada e do teste zero do
qui quadrado que é destinado a avaliar a associação existente entre variáveis qualitativas
através da frequência. Na tabela 6 temos a distribuição das empresas estudadas pelo setor de
atividade, em termos absolutos e percentuais. Há uma predominância de empresas do setor de
Utilidade Pública e apenas uma pertencente ao setor de Petróleo, Gás e Biocombustíveis. A
classificação setorial utilizada foi a mesma da BM&FBOVESPA.
Total 68 100,0
Fonte: Dados da pesquisa, 2016.
0 1
Consumo não
19,5% 7,4%
Setor de Cíclico
% de
Atividade Auditoria
Materiais Básicos 19,5% 3,7%
RS
Petróleo. Gás e
2,4% 0,0%
Biocombustíveis
A segunda regressão foi rodada para testar a hipótese 7, que buscou identificar se a
escolha das empresas pela verificação externa dos RSs proporciona retornos anormais no
valor das ações, comparativamente com aquelas que não a realiza. Ressalta-se que
preliminarmente foram realizadas análises das principais propriedades estatísticas dos erros de
regressão: autocorreção serial, normalidade e homoscedasticidade dos resíduos, sendo estes
pressupostos atendidos. A estatística F foi aplicada para verificar se os coeficientes do modelo
estimado são diferentes de zero, o resultado encontrado foi de 4,76, que de acordo com o teste
de significância (0,0196) podemos afirmar que são estatisticamente diferentes de zero. A
tabela 8 sumariza os dados do modelo estimado.
Esses achados mostram que os investidores tende a buscar empresas que prezam pela
veracidade das informações socioambientais por elas evidenciadas para aplicar recursos. A
Teoria da Legitimidade explica e prediz esse fenômeno, pois ao optar pela verificação externa
do RS a empresa está atendendo uma demanda das suas partes interessadas, obtendo como
consequência, maior aceitabilidade e gerando ganhos econômicos financeiros.
47
5 CONCLUSÃO
Este estudo teve como objetivo identificar os determinantes para a escolha das
empresas optarem pela auditoria dos seus Relatórios de Sustentabilidade, a partir de variáveis
corporativas. As variáveis utilizadas foram Tamanho, Endividamento, Rentabilidade, Setor de
Atividade, Origem do Controle Acionário e taxa de tributação efetiva (ETR). Posteriormente
foi investigado se as empresas que optam por submeterem seus relatórios a verificação
externa obtiveram retornos anormais no valor das ações. Foram incluídas na análise todas as
empresas de capital aberto participantes da BM&FBOVESPA que elaboraram RSs de acordo
com as diretrizes do GRI entre os anos de 2011 a 2014.
Para alcançar o objetivo proposto, foram realizadas três etapas. A primeira identificou
os determinantes da escolha pela auditoria através da regressão logística, analise estatística
utilizada quando se tem uma variável dependente binária. Em seguida, procedeu-se com a
análise da variável setor de atividade através da tabela de referência cruzada e do teste do Qui
quadrado. E por fim, com o propósito de atender ao terceiro objetivo específico, foi
empregada a regressão linear múltipla de mínimos quadrados ponderados. A pesquisa
identificou que dentre as 68 empresas componentes da amostra estudada há relativo equilíbrio
entre o grupo de instituições que optam pela realização da auditoria e aquelas não a fazem,
sendo 44,1% para o primeiro e 55,9% para o segundo. Tem-se, ainda, um predomínio de
empresas onde o controle acionário é nacional, englobando 77,9% das empresas.
regressão, de acordo com as premissas da referida técnica estatística, porém explica o seu
baixo poder preditivo, evidenciado pelo valor do pseudo R2.
Dessa forma, futuras pesquisas podem ampliar a amostra incluindo empresas que
elaboram Relatórios de Sustentabilidade além do GRI. Sugere-se ainda, uma investigação
comparando setores de atividade, ou ainda, que verifique o comportamento entre as empresas
dividindo a amostra em diferentes níveis de impacto ambiental.
REFERÊNCIAS:
APÊNDICES