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Gosto é um desdobramento da construção social? Artificialidade do verbo gostar.

É uma sexta-feira chuvosa e após acordar gasto de forma inerte 20 minutos de


introspecção tentando localizar qual dia da semana é. Olho para o aconchegante apartamento
verde abacate, e encontro inquietações da última aula que foi debatido Pierre Bourdieu. Surge
um fluxo intermitente de pensamentos, algo como brainstorming, e o questionamento de
como é construído o gosto percorre sinapses cerebrais em busca de alguma teoria razoável.
Nada parece suficiente. Na tentativa de compreender apelei para dicionário, e através da
semântica linguística me ressaltou aos olhos a complexidade essencial da palavra.
Semanticamente este verbo indireto requer uma preposição para se conectar com sujeito, ou
seja, carece de objeto externo para transitar até o sentimento de apreço. Visualize: Gosto de
flores, para que meu afeto seja manifestado tem de ter um agente externo efetivando isto.

Penso, se no momento que refletimos sobre a exterioridade dos gostos, identificamos


as formas pré-consentidas ou configurações que circunscreve nossas preferências. Portanto
observo que nossos objetos de predileção, desejo e de desfrute se apresentam através das
formas pré-existentes.

Mantendo o tom inquietante do texto, é interessante notar, como investimos em


justificativas para legitimar nosso gosto como belo. A menção da beleza aqui se refere ao
utilitarismo do belo como o dever harmônico das formas. Há uma necessidade em reafirmar
nosso favoritismo pelo crivo da beleza, onde haveria a convivência harmônica das formas.
Mas se a existência das formas precede a essência, como reivindicar simetria sobre a
imaterialidade?

Exposto primeira indagação, penso, se a área que viabiliza esta expressão é o campo
externo, portanto percebe-se o meio possui potencial de fomentar a construção de gostos.
Pode-se elencar que o acúmulo social, familiar e material que sujeito obtém, corrobora para
estruturar suas (minhas, nossas) preferências. A classe social que pertencemos oferece série
de oportunidades, experiências e limitações e isso afeta nossos afetos.

Porque não nasci gostando de berinjela, nem de carne, nem de homem hétero-cis-
normativo, nem de monogamia ou do neoliberalismo à toa. Foi me apresentado isso como
belo, agradável e o ideal de seguir. Consumo e a repetição do ato de consumir provêm do
contato prévio com este fenômeno. A reincidência do gosto é possível porque o objeto foi
transformado em algo palatável, o que não necessariamente em algo realmente agradável a
nós.

Alcançamos a conclusão, que o hábito da preferência depende de mecanismos


artificiais. Ou seja, presume que gostos são estruturas condicionadas a diversos fatores,
exceto pela assertiva tautológica de “sempre gostei disso.”

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