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O que são os princípios do direito do consumidor?

Para entender os princípios que estão consagrados pelo Código de Defesa do


Consumidor é um dos pontos de partida para uma boa compreensão do
sistema protetivo dos vulneráveis.
É uma forma de definir que o consumidor é vulnerável, mas nem todo
consumidor é hipossuficiente. Isso ocorre porque processualmente o
consumidor pode ou não possuir meios de obtenção de prova.
Afinal o CDC adotou um sistema aberto para proteção sobre a base em
conceitos legais indeterminados e ainda em construções vagas que
possibilitam a melhor adequação aos casos concretos.
Realizando a confrontação principiológica entre o CDC e o Código Civil
percebemos que muitos de seus conceitos encontram raízes na Lei
8.078/1990. E devido à aproximação entre o C.C. de 2002 e o CDC.
No plano conceitual os princípios são verdades fundantes de um sistema de
conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido
comprovadas, mas também por motivos de ordem operacional, isto é, como
pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e das práxis.
Os princípios podem ser extraídos nos arts. 1º, 4º e 6º do CDC e, ainda
existem os princípios implícitos, como é o caso do princípio de boa-fé objetiva.
Sendo esses os princípios básicos do direito ao consumidor, para que tenha
todo o conforto em obter um consumo de forma consciente e seguro que tenha
como base as características a ser informadas, o seu modo de utilização,
riscos e o preço justo dos produtos ou serviços. O Código do Consumidor foi
reconhecido como a Lei Principiológica, uma vez que o seu sistema se baseia
em normas de princípios.

Qual a importância dos princípios do direito do consumidor?


O Código de Defesa do Consumidor tem por objetivo primordial proteger e
defender o consumidor que em regra é a parte hipossuficiente nas relações de
consumo. Por hipossuficiente nesse sentido compreende-se que o consumidor
é a parte mais fragilizada.
Considerando que o Código de Defesa do Consumidor adotou um sistema
aberto de proteção, os princípios desempenham importante função nesse
sistema. Isso porque, possibilitam a melhor adequação do texto legal aos
casos concretos.
Sanções constantes do CDC para o fornecedor que desrespeitar
suas regras
No Código de Defesa do Consumidor existem penas para aquele fornecedor
que descumprir suas disposições. Referidas penas são chamadas sanções
administrativas, e encontram-se elencadas no artigo 56, incisos I ao XII, in
verbis:

Art. 56- As infrações das normas de defesa do


consumidor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes
sanções administrativas, sem prejuízo das de natureza
civil, penal e das definidas em normas específicas:

        I - multa;

        II - apreensão do produto;

        III - inutilização do produto;

        IV - cassação do registro do produto junto ao órgão


competente;

        V - proibição de fabricação do produto;

        VI - suspensão de fornecimento de produtos ou


serviço;

        VII - suspensão temporária de atividade;

        VIII - revogação de concessão ou permissão de


uso;

        IX - cassação de licença do estabelecimento ou de


atividade;

        X - interdição, total ou parcial, de estabelecimento,


de obra ou de atividade;

        XI - intervenção administrativa;

        XII - imposição de contrapropaganda.

        Parágrafo único. As sanções previstas neste artigo


serão aplicadas pela autoridade administrativa, no âmbito
de sua atribuição, podendo ser aplicadas cumulativamente,
inclusive por medida cautelar, antecedente ou incidente de
procedimento administrativo. 
1. Princípio da precaução
Esse princípio encontra-se implícito no Código de Defesa do Consumidor , e
tem por objetivo resguardar o consumidor de riscos desconhecidos relativos
a produtos e serviços colocados no mercado de consumo. Não deve ser
confundido com a prevenção, que é forma de resguardo de riscos conhecidos.
Um bom exemplo da aplicação do princípio da prevenção pode ser notado na
regulação do fornecimento de alimentos transgênicos, uma vez que a ciência
ainda desconhece todos os efeitos dos gêneros alimentícios geneticamente
modificados sobre a saúde humana.

2. Princípio da dimensão coletiva


Esse princípio prestigia a proteção da coletividade, mesmo que em detrimento
de outrem, significando que o interesse coletivo deve prevalecer sobre o
interesse individual. A dimensão coletiva das questões envolvendo direitos do
consumidor pode ser facilmente percebida pelo sistema de defesa coletiva do
consumidor, através de regras específicas estampadas no Título III do CDC,
considerado verdadeiro “Código” das ações coletivas. O princípio em comento
é também o norteador do art. 4º do CDC e das figuras nele arroladas.

3. Princípio da boa-fé
Significa que, nas relações de consumo, as partes devem proceder com
probidade, lealdade, solidariedade e cooperação na consecução do objeto do
negócio jurídico, de forma a manter a equidade nesse tipo de relação. Tal
princípio encontra-se explícito no art. 4º, III, do CDC, in verbis:

Art. 4º - A Política Nacional de Relações de Consumo tem por objetivo o


atendimento das necessidades dos consumidores, a respeito a sua
dignidade, saúde e segurança, a proteção de sua qualidade de vida, bem
como a transferência e harmonia das relações de consumo, atendidos os
seguintes princípios:
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo
e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de
desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios
nos quais se funda a ordem econômica (art.  170  da  Constituição
Federal),  sempre com base na boa-fé  e equilíbrio nas relações entre
consumidores e fornecedores  (grifei).

3.1. Boa-fé objetiva


Da simples leitura do dispositivo legal transcrito, nota-se que a preocupação
primária do legislador foi a de harmonizar os interesses de consumidores e
fornecedores, porquanto a harmonia e o equilíbrio são fatores indispensáveis
para que haja a tão esperada justiça.

Não há como negar que o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor


mostra-se altamente protecionista, se comparado a outros diplomas
legislativos, como, por exemplo, a legislação francesa, a qual, como dito,
naquele país possui a denominação de Código do Consumo (Code de la
Consommation), pois tutela não somente os interesses dos consumidores,
mas também os interesses dos fornecedores. Ou seja, na França não se
tutelam sujeitos específicos (consumidor e fornecedor), mas sim o consumo
(atividade).
Da mesma forma, pode se notar que o legislador brasileiro não se preocupou
tão somente com os interesses dos consumidores, mas sim de todos os
fatores que propiciam o desenvolvimento do mercado de consumo. Tal
conclusão é, no mínimo, lógica, uma vez que, para que haja desenvolvimento
econômico e tecnológico, é preciso que haja quem consuma, ou seja, quem
diga se os produtos e serviços colocados no mercado estão atendendo à
demanda de forma satisfatória. A crítica do consumidor aos produtos e
serviços acaba por obrigar as empresas a investirem em novas técnicas de
produção, técnicas de marketing, merchandising etc.

Todavia, a estática da lei codificada nem sempre permite que a justiça seja
sentida. E é essa mentalidade que o Código de Defesa do
Consumidor procurou incorporar, pois a experiência pós-Revolução Industrial
mostra que as transformações sociais se tornaram tão grandes e sequenciais
que o Estado, em seu labor jurídico, acaba por quedar-se diante das mesmas,
pois as demais ciências, que não a jurídica, pelo menos em sua devastadora
maioria são despidas das formalidades que envolvem a ciência jurídica.
Por isso é que a boa-fé objetiva veio, na lei consumerista brasileira, como
cláusula geral, regra padrãode conduta, um princípio ao qual se pode socorrer
na falta da lei, porquanto é ele maior que a norma, é um princípio, um
mandamento nuclear, cujo respectivo desrespeito colocará todo um sistema
em xeque, posto que lhe é o norteador.

É no campo dos contratos que se torna ainda mais evidente a aplicação


desse princípio, pois a cláusula geral de boa-fé foi adotada implicitamente
pelo Código do Consumidor, devendo reputar-se inserida e existente em
todas as relações jurídicas de consumo, mesmo que não inserida de forma
expressa nos contratos de consumo. Nesse sentido, vale aqui citar o art. 51,
inciso IV do diploma legal acima referido, que diz in verbis:
Art. 51 – São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem
o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam imcompatíveis com a
boa-fé ou a eqüidade.
Segundo os autores do anteprojeto do código, a verificação da presença de
boa-fé na conclusão do negócio jurídico cabe ao magistrado, no intuito de
constatar se determinada cláusula contratual é ou não válida perante o
dispositivo supra transcrito.

No que se refere à eqüidade, esta constitui regra de julgamento apenas nos


casos prescritos em lei, consoante prescrição do art. 127 do Código de
Processo Civil. Sendo assim, nesses casos o juiz não julgará com base na
eqüidade, mas tão somente observará o que está de acordo com a eqüidade
e a boa-fé.
Traço interessante encontrado no Código de Defesa do
Consumidor brasileiro, intimamente ligado ao princípio aqui estudado, diz
respeito ao direito à informação previsto no artigo 6º, III do diploma legal
acima citado. Nesse sentido, ensina Tereza Negreiros que “o mais típico
dever acessório derivado do princípio da boa-fé é o dever de informar”. Na
verdade isso se verifica porque em uma relação de consumo não só a
obrigação principal é objeto de tutela, mas sim o interesse global, ou seja, ao
adquirir um produto ou serviço o consumidor tem o direito de acesso a todas
as informações acerca do que está adquirindo.
4. Princípio da proteção
Implícito no art. 6º do CDC, o princípio da proteção consagra a proteção
básica aos bens jurídicos mais relevantes, a saber:
4.1. Incolumidade física (inciso I)
Refere-se ao direito à vida, à saúde e segurança do consumidor em relação
aos riscos oferecidos por produtos e serviços considerados perigosos ou
nocivos;

4.2. Incolumidade psíquica (inciso II)


Diz respeito à liberdade de escolha e igualdade nas contratações;

4.3. Incolumidade econômica (incisos III e IV)


Relaciona-se aos riscos de lesão econômica afetos a preço, características
dos produtos e serviços, práticas abusivas etc.

5. Princípio da confiança
Enfatiza a legítima expectativa dos consumidores, pois ninguém contrata
acreditando que será lesado, ou seja, o consumidor contrata acreditando que
o negócio será bem sucedido, e que o parceiro contratual agirá com lealdade
no decorrer da execução do contrato. Deve ser amplamente observado nos
contratos de consumo.

6. Princípio da transparência
O princípio da transparência deve ser observado no momento da formação do
vínculo contratual, de forma a informar o consumidor sobre os riscos do
negócio, para que o consumidor aja conscientemente.

Principio da vulnerabilidade: considera-se requisito essencial para a


caracterização do consumidor. Essa vulnerabilidade deverá ser jurídica, fática,
socioeconômica, informacional. Trata-se do reconhecimento da fragilidade do
consumidor em relação ao fornecedor.

2. Princípio da hipossuficiência do consumidor


Para analisarmos o segundo dos princípios do direito do consumidor,
precisamos ter em mente que o conceito de hipossuficiência nesse ramo do
direito vai além da caracterização da condição financeira e
econômica (hipossuficiência fática) analisada no campo processual para a
obtenção de gratuidade de justiça.
É necessário destacar que vulnerabilidade e hipossuficiência não se
confundem. A vulnerabilidade é intrínseca ao consumidor, como visto
anteriormente todo consumidor é vulnerável. Já a hipossuficiência diz respeito
ao conhecimento técnico que possui o consumidor em relação ao produto ou
serviço adquirido e em relação às suas condições de comprovação em juízo de
seu direito.

 Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

        I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por


práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou
nocivos;

        II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e


serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;

       III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,


com especificação correta de quantidade, características, composição,
qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;            

        IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos


comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das
necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de
seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e
harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:              (Redação dada
pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

        I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de


consumo;

        II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o


consumidor:

        a) por iniciativa direta;

        b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações


representativas;

        c) pela presença do Estado no mercado de consumo;

        d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de


qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

        III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de


consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de
desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios
nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal),
sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e
fornecedores;

        IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos


seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;

        V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle


de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos
alternativos de solução de conflitos de consumo;

        VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no


mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de
inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos
distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores;

        VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos;

        VIII - estudo constante das modificações do mercado de consumo.

        Art. 5° Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo,


contará o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros:

        I - manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o


consumidor carente;
        II - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no
âmbito do Ministério Público;

        III - criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de


consumidores vítimas de infrações penais de consumo;

        IV - criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas


Especializadas para a solução de litígios de consumo;

        V - concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações


de Defesa do Consumidor.

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