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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CAMPUS DE RIO PARANAÍBA


INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
AGR 358 - MECÂNICA E MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

Custo operacional dos conjuntos mecanizados

Prof. Renato Ruas

Rio Paranaíba - MG
Junho - 2011
CUSTO OPERACIONAL DOS CONJUNTOS MECANIZADOS

Os custos das operações mecanizadas representam 45% do custo de produção dos


produtos agrícolas. No caso da colheita florestal mecanizada este custo chega a 50-70% do
custo final.
Entende-se por custo operacional (R$ h-1) como sendo o valor da hora trabalhada da
máquina ou implemento. Trata-se de um dos fatores mais importantes para o processo de
gerenciamento dos sistemas agrícolas, pois, dele depende tomada de decisões como: é mais
viável economicamente comprar ou alugar certo maquinário? Qual o possível valor do aluguel
do maquinário? Os equipamentos estão dando lucro? Estão sendo considerados todos os
fatores econômicos importantes para a determinação do custo final? Entre outras análises.

1. Tipos de custos

De modo geral, os custos podem ser divididos em custos fixos, custos variáveis e custos
operacionais totais.

1.2 Custos fixos

São todos os custos que permanecem inalteráveis durante o curto prazo e independem do
nível de produção. Ocorrem mesmo quando o recurso não for utilizado.
Características:
 Tem duração superior ao curto prazo.
 Não se incorporam totalmente no curto prazo.
 Não são facilmente alteráveis no curto prazo.
Entende-se como sendo curto prazo o período durante o qual um ou mais recursos
produtivos são fixos na quantidade e não podem variar. Já o longo prazo é definido como o
período durante o qual a quantidade de recursos produtivos varia.

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1.2.1 Principais componentes dos custos fixos

A) Depreciação

A depreciação está relacionada com o desgaste natural da máquina à medida que esta
envelhece e com o surgimento de novas máquinas com melhor desempenho, tornando obsoleta
a máquina usada. A depreciação pode ser atenuada com bons serviços de manutenção e
operação criteriosa por parte de operadores habilidosos.
Do ponto de vista contábil, a depreciação é um importante componente dos custos fixos
uma vez que representa uma reserva contábil destinada a prover fundos necessários para a
substituição do capital investido em bens produtivos de longa duração. É a maneira que a
empresa rural dispõe para recuperar um bem de capital para repô-lo quando não for mais
economicamente viável utilizá-lo.
Para se determinar a depreciação, convencionou-se estabelecer seu preço final, ou de
revenda, ou de sucata, em 10 % do seu preço inicial. Entretanto, isso pode ser definido por meio
de pesquisa de mercado, ou seja, realizando uma análise quanto custa uma máquina
semelhante com a mesma idade.
Existem vários métodos para determinação da depreciação de um bem, por exemplo, o
método do saldo decrescente que considera uma depreciação maior nos primeiros anos. Porém,
o mais comum e de mais fácil determinação, é o método da linha reta, ou das cotas constantes.
Esse método se baseia na determinação de um valor de depreciação igual para toda a vida útil
do bem, pode ser determinado pela seguinte equação:

Em que:
D = custo da depreciação, R$ h-1.
Vi = valor inicial, R$.
Vf = valor final ou valor de sucata, R$.
T = tempo de vida útil, h.

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Entende-se por vida útil como sendo aquele tempo em que os bens ainda estão
retornando ao proprietário todo o investimento feito nele. Após o fim da útil, as máquinas
atingem o chamado “momento de renovação da frota”. Na prática elas ainda podem prestar
serviços na propriedade, porém, muitas vezes, os gastos com manutenção são elevados e não
compensa o retorno obtido. A seguir, são listadas as vidas úteis de algumas máquinas e
implementos agrícolas.

Tabela 1 – Vida útil de algumas máquinas e implementos agrícolas


Vida útil
Item
Em anos Em horas
Ancinho mecânico 5 1800
Arado de aivecas 6 2000
Carregador de feno 6 2000
Ceifadora-trilhadora 8 2000
Ceifadota rotativa 6 2000
Colhedora 10 2000
Enfardadora 6 2500
Ensiladora 6 1200
Enxada rotativa 6 1500
Escarificador 6 1200
Grade de dentes 5 2500
Grade de discos 5 2000
Grade de molas 5 2500
Plantadora de milho 6 1200
Pulverizador 5 1200
Rolo compressor 8 2500
Semeadora a lanço 5 800
Semeador em linha 6 1200
Subsolador 5 1500
Taipadora 5 2500
Trator de rodas 10 10000
Trator de esteiras 15 15000

B) Juros sobre o capital empatado

O custo referente aos juros sobre o capital empatado representa o custo de oportunidade
a ser considerado. É o valor que o proprietário está deixando de ganhar por investir na atividade
“A” ao invés de investir na atividade “B”. É importante de ser considerado, pois é uma maneira

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que o investidor tem de valorizar o seu empreendimento frente à outras atividades existentes
no mercado. De modo geral, consideram-se os juros do mercado financeiro (5 a 10%).
São contabilizados em função do valor médio do somatório do valor inicial e de sucata,
podendo ser determinados pela seguinte equação:

Em que:
J = custo dos juros sobre o capital empatado, R$ h-1.
Vi = valor inicial, R$.
Vf = valor final, R$.
i = taxa de juros, %.
T = tempo de referência em horas, de acordo com período da taxa de juros considerada.

C) Abrigo e seguro

Tendo-se em vista o aumento de roubo, principalmente de tratores no campo, deve-se


considerar os valores gastos com o seguro da máquina, que é obrigatório, principalmente
quando ela é adquirida com financiamento de órgãos públicos de crédito. Em geral, a taxa de
seguro varia entre 1% e 2% sobre o valor inicial da máquina. Porém, independentemente de se
fazer ou não o seguro, deve-se computar o mesmo valor que seria pago, a fim de se formar uma
reserva para se cobrir eventuais acidentes ou furtos. O gasto com edificações deve ser dividido
pelo número de máquinas que dele se utilizam. Esse valor é estimado por meio de uma
porcentagem do custo inicial da máquina, que varia entre 0,75 a 1%. Normalmente não existem
abrigos somente para as máquinas, o que dificulta calcular um custo referente ao abrigo das
máquinas. A título de projeto, pode estimar os custos com abrigo e seguro como sendo um
valor entre 3 e 5 % ao ano.

Em que:

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SA = custo do abrigo e seguro, R$ h-1.
Vi =valor inicial, R$.
Tsa = taxa de abrigo e seguro.
T = tempo de referência em horas, de acordo com período da taxa de abrigo e seguro
considerada.

1.2.2 Custos fixos totais

É o somatório de todos os custos fixos analisados. Sempre vai existir independentemente


da intensidade de uso.

1.3 Custos variáveis

São aqueles custos que o administrador controla no curto prazo. Podem ser aumentados
ou reduzidos de acordo com intensidade de uso ou nível de produção. Se a máquina ou
implemento não for utilizado, o custo variável pode não existir, ou ser bastante reduzindo.
Características:
 Têm duração inferior ao curto prazo.
 Incorporam-se totalmente ao produto no curto prazo.
 São facilmente alteráveis no curto prazo.

1.3.1 Principais componentes dos custos variáveis

A) Mão-de-obra

A mão-de-obra responsável por operar a máquina deve ser computada mesmo que o
próprio proprietário seja o operador. O custo da mão-de-obra corresponde ao valor do salário
do operador mais encargos sociais. Os encargos sociais devem corresponder a 60 a 80% do valor
do salário total. Para a determinação do custo horário da mão-de-obra, leva-se em conta o
número de horas trabalhadas no mês, normalmente 176 horas, ou seja, 22 dias em uma jornada
de 8 horas por dia. O custo da mão-de-obra pode ser determinado pela seguinte equação:

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Em que:
Cmo = custo da mão-de-obra, R$ h-1.
S = salário do operador, R$ mês-1.
P = período de trabalho no mês, h.
E = encargos sociais, %.

B) Manutenção

Os custos referentes aos diferentes tipos de manutenções são computados de forma que
ao final da vida útil todos os gatos com as mesmas tenham sido cobertos. Considera-se uma
taxa de manutenção de 80 a 100 % para máquinas autopropelidas e de 10 a 20% para máquinas
e implementos em geral. Os custos com manutenção podem ser determinados pela seguinte
equação:

Em que:
Cm = custo da manutenção, R$ h-1
Tm = taxa de manutenção, %
Vi = valor inicial, R$
T = tempo de vida útil, h

C) Combustíveis

O consumo de combustível é um parâmetro difícil de ser determinado com precisão em


função das diversas condições de uso a que as máquinas autopropelidas são submetidas.
Entretanto, pode-se fazer uma estimativa por meio de ensaios previamente realizados em

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centros de pesquisas especializados. Além disso, é possível se fazer uma estimativa por meio da
consulta em catálogo de fabricantes.
De acordo com a ASABE, para tratores de potência até 200 cv, pode-se estimar o
consumo de combustível por meio da seguinte equação:

Em que:
Cc = custo do combustível, R$ h-1.
Ptdp = potência máxima disponível na tomada de potência (cv).
Vc = valor do combustível, R$ L-1.

D) Lubrificante

O custo total com lubrificantes é determinado pelo custo com óleo e graxa.
D 1) Óleo:

Em que:
Co = custo com óleo lubrificante, R$ h -1
PN = potência nominal do motor, cv
VL = valor do lubrificante, R$ L-1

D 2) Graxa:

Em que:
CG = custo da graxa, R$ h-1
Vkg = valor da graxa, R$ kg-1

De modo simplificado, pode-se considerar que o gasto total com lubrificantes (óleo +
graxa), representa cerca de 20 % do valor gasto com combustível, ou seja:

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Em que:
Cl = custo total com lubrificantes, R$ h -1.
Cc = custo com combustíveis, R$ h-1.

1.3.2 Custo variável total

É o somatório de todos os custos variáveis analisados. Podem ser reduzidos ou


simplesmente deixarem de existir caso a máquina ou implemento não seja utilizada.

1.4 Custo operacional total

Somando-se os custos fixos totais e os custos variáveis totais, tem-se o custo operacional
total do conjunto mecanizado.
Conhecendo-se o custo operacional é possível determinar o custo de produção (R$ ha -1,
R$ kg-1, R$ t-1- etc), obtido pela relação entre o custo operacional e a capacidade operacional do
conjunto.
Caso exista o interesse de alugar o conjunto mecanizado, a fim de se obter lucro,
acrescenta-se certa porcentagem sobre o valor do custo operacional total. Essa porcentagem é
determinada pelo mercado de acordo com a lei da oferta e da procura. Em geral, pode-se
considerar um acréscimo de 30% sobre o custo operacional total.

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Exercício:

De acordo com os dados a seguir, determine o valor da hora trabalhada de um trator


considerando um aluguel de 30% sobre o custo operacional.
Dados:

• Custo inicial = R$ 100.000,00 • Salário do operador = R$ 800,00

• Vida útil = 10 anos • Encargos sociais = 65% do salário

• Horas trabalhadas por ano = 1.000 • Número de horas trabalhadas por semana = 44

• Abrigo e seguro = 3 % do custo inicial • Preço do diesel = R$ 1,90 L

• Taxa de juros anual = 10 % • Preço do óleo lubrificante = R$ 8,00 L

• Potência do motor = 120 cv • Preço da graxa = R$ 8,00 kg

• Potência máxima na TDP = 100 cv

1) Custos fixos
a) Depreciação = (100.000 – 10.000)/10x1.000 = R$ 9,00 h
b) Juros =((100.000+10.000)/2)) x 0,1 = R$ 5.500 ano / 1.000 = R$ 5,5 h
c) Abrigo e seguro = 120.000 x 0,03 = R4 3.600 ano / 1.200 = R$ 3,00 h
Custo fixo total = 9,0 + 5,5 + 3 = R$ 17,50 h

2) Custos variáveis
a) Combustível
Co (L h -1) = 0,151 x 100 = 15,10 L h-1 x 1,90 = R$ 28,69 h
b) Lubrificantes
b.1 Óleo:
Co (L h) = 0,00043 x 120 (cv) + 0,02169 = 0,073 Lh x R$ 8,00 = R$ 0,58 h
b.2) Graxa:
Co (L h) = 0,05 kg h x R$ 8,00 kg = R$ 0,40 h

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c) Manutenção
Taxa de manutenção = 100%/10 = 10% ao ano, logo 100.000 x 0,10 / 1.000 = R$ 10,00 h
d) Mão-de-obra
MO = 800 + 65% = R$ 520,00 = (800 + 520) / (44h semanais x 4 semanas) = 1.320 / 176 h
por mês = MO= R$7,50h
Custo variável total = 28,69 + 0,58 + 0,40 + 10,00 + 7,5 = R$ 47,17 h

3) Custo operacional total = 17,50 + 47,17 = R$ 64,67 h

OBS: Considerando o aluguel do trator, objetivando um lucro de 30 % sobre o custo da


hora trabalhada, o valor do aluguel será de:
64,67 + 30 % = R$ 84,07 h

LITERATURA CONSULTADA

ATARES, A. BLANCA, A. Tractores ey motores agricolas. Bilbao Grafo. S.A. 1989.

BALASTREIRE, L. A. Máquinas agrícolas. Ed. Monole. São Paulo-SP. 307p. 1987.

BARGER, E.L., LILJEDAHL, J.B., CARLETON, W.M., McKIBBEN, E.G. Tratores e seus Motores.
Editora Edgard Blucher Ltda. São Paulo, SP. 1963. 398p.

CARVALHO, R., AMARO, M., FERREIRA, V. Máquinas agrícolas. Algumas normas, cuidados,
conselhos e esclarecimentos. Divulgação 14 : 1, 1982, p.69.

FERNANDES, H.C., VILLIOTI, C. A. Práticas de ENG 338 – Mecânica e Mecanização Agrícola.


Caderno didático 42. 2005, 55p.

HUNT, D. Maquinária Agrícola. Rendimento económico, costos, operacionales, potência y


selección de equipo. Editora Limusa. México, DF. 1991.451p.

MIALHE, L.G. Manual de mecanização agrícola. São Paulo. Ed.Agron.Ceres.1972.301p.

PELLIZZI, G. Meccanica agrária – Le macchine operatrici. Ed. Agricole Milano. 1988. 327p.

SILVEIRA, M. G. Preparo de Solo: Técnicas e Implementos. Ed. Aprenda Fácil. Viçosa-MG. Série
Mecanização, v.1, 229p, 2001.

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