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1- ESTUDOS DE CASO

O Brasil sempre foi um país carente de cultura no geral. O acesso à cultura e ao


lazer é direito previsto na Constituição da República Federativa do Brasil, vigente desde
1988. Esses elementos são importantes para formação da sociedade, bem como à
composição da identidade local e ao desenvolvimento das relações de pertencimento da
comunidade.

A função de um centro cultural é concentrar e promover essa cultura local, por


meio da oferta de atividades que levem lazer, conhecimento e educação para a
sociedade. Nos últimos anos os a criação de centros culturais cresceu bastante, mas
mesmo assim essas propostas não chegaram para toda a população. Quando se fala de
toda uma população, isso abrange todas as classes sociais, mas infelizmente na prática
não é bem isso que acontece.

Os Centros Culturais, resumidamente falando, consistem em equipamentos de


propriedade estatal, cooperativa ou, em raros casos, privada, uma vez que costuma
tratar-se de instituições sem fins lucrativos. Comportam uma estrutura de uso coletivo, ou
seja, todos tem direito de assistir e de também manifestarem suas artes onde são
realizadas oficinas e exposições de música, literatura, dança, teatro, artes plásticas,
dentre outras manifestações artístico-culturais (PINTO et al., 2012). Neste sentido, o
termo cultura é resumido no seu sentido mais amplo e contemporâneo, descrito então por
Jaeger (1989, p. 06) apud Silva e Camargo (2012, p. 05):

Hoje estamos habituados a usar a palavra cultura não no sentido de um ideal


próprio da humanidade herdeira da Grécia, mas antes numa acepção bem mais
comum, que se estende a todos os povos da Terra, incluindo os primitivos.
Entendemos assim por cultura a totalidade das manifestações e formas de vida
que caracterizam um povo.

Cunha (2010) apud Silva e Camargo (2012) complementam a acepção do termo


cultura caracterizando o mesmo como o cuidado em “alimentar” o espírito e o intelecto,
através de um mundo singular voltado para a contemplação, para a consolidação da
sabedoria e valorização da memória, do bem, da verdade e do belo.
Um centro cultural, tem uma importância ímpar para a sociedade, pois além de
possuir espaços destinados à exposição e contemplação das mais variadas expressões
artístico/culturais, deve também funcionar como um laboratório de criação ao proporcionar
atividades e espaços voltados para o ensino, como diversos ateliês e cursos das mais
variadas tipologias artísticas. Assim, consegue inserir a sociedade como um todo,
atingindo todas as vertentes e levando arte, cultura e acessibilidade. Seguindo essa
lógica, Milanesi (1997, p. 28) afirma que não há um modelo pré-definido de centro cultural,
mas sim bases que permitem diferenciá-lo de edifícios com outros usos: [...] é a reunião
de produtos culturais, a possibilidade de discuti-los e a prática de criar novos produtos.
Segundo Pinto et al. (2012), ações como estas podem resgatar o desejo interno
de cada indivíduo, dando a oportunidade de viverem em uma sociedade mais igualitária,
despertando a inclusão sociocultural.
Abaixo estará três estudos de caso que enriqueceram essa proposta de projeto.

PARQUES BIBLIOTECA EM MEDELLÍN

A Espanha Parque Biblioteca Pública, mais conhecida como Biblioteca de


Espanha, faz parte de um conjunto de projetos urbanos e sociais desenvolvidos em
Medellin para a transformação cultural e social da cidade. A ideia deu tão certo que
conseguiu diminuir bastante os crimes na região. Trouxe uma transformação cultural e
social para a região.
Esse projeto foi tão importante que o arquiteto responsável Giancarlo Mazzanti foi
premiado na Sexta Bienal de Arquitetura e Urbanismo, Lisboa 2008. A biblioteca que
homenagem a Espanha que agradeceu a Espanha pelo contributo dado pelo governo
espanhol, através da Agência de Cooperação Internacional com a oferta de uma
audiência.

O edifício como diferencial arquitetônico na América do Sul


O local é composto totalmente por casas de alvenaria pequenas e resíduos de
construção e auto áreas verdes, tudo isso aconteceu por conta da incapacidade de
construir na área nas encostas tão íngremes. A organização produz uma cidade com
textura uniforme sem qualquer elemento de hierarquia visível, é por isso que o edifício
que foi proposto, visto como uma genialidade arquitetônica.
O projeto é grande e obviamente visível por grande parte da cidade, como um
símbolo da nova Medellín, fazendo com que as pessoas se identificam seu setor e
desenvolver um maior sentido de pertença, tanto que hoje é um dos pontos turísticos da
região. Ou seja, esse projeto trouxe uma cara nova para a cidade e trouxe também
modificações sociais, culturais e educacionais.
Localização
O projeto está localizado em uma lugar que é um dos mais afetados pela violência
que aconteceu nos anos oitenta, Santo Domingo, capital do departamento de Antioquia ,
na Colômbia, e faz parte da inclusão social, com o intuito de proporcionar igualdade de
oportunidades no desenvolvimento econômico e social para o povo.
Foi considerada por muitos anos umas das cidades mais perigosas do mundo,
Medellín colocou em prática uma série de medidas para promover o bem-estar social e a
segurança pública. Entre campanha de desarmamento, formação de mediadores de
conflitos de bairro e melhor transporte público (incluído aí o famoso teleférico que sobe a
“favela” da cidade), estava a ideia de levar os livros para perto das chamadas zonas de
risco, a periferia pobre e marginalizada. Essa ideia deu tão certo que hoje outros países
se inspiram para tentar levar o mesmo propósito para as suas regiões mais
marginalizadas.
Conceito
É preciso entender que o conceito principal desse projeto não fica resumido
apenas em um edifício. O que é proposto é a construção de uma geografia operatória,
que é parte do vale como um mecanismo para a organização do programa e a área,
dando então uma ênfase escondida parcialmente e que resolve os contornos irregulares
de montanha, e não como metáfora, mas como uma maneira organização do espaço no
lugar, dobrado e cortado edifício como as colinas.
Um edifício paisagem que redefine e tridimensiona a estrutura dobrada da
montanha como forma e espaço, daí surge a sua estrutura, negando a ideia de paisagem
como pano de fundo e aumentar a ambiguidade edifício – paisagem.
Este terreno montanhoso é o tag de Medellín, e é essa imagem de cidade que
aponta a proposta, como parte da paisagem que inspirou a construção e interpretação da
topografia.
.
Primeiro nível
Este andar seria ocupado por uma sala polivalente que será acessado através de
um hall de entrada, onde você pode ver as escadas que levam para os próximos níveis .
Segundo nível
Sala de informática
Terceiro e Quarto nível
Em ambos os pisos de grandes salas dedicadas a conferências, espaço para
palestras, exposições e todos os tipos de reuniões relacionadas com a cultura e a
erradicação da exclusão social.
Estrutura
O projeto está organizado em duas estruturas:
A primeira é composta de rochas artificiais, edifícios verticais como objetos que
organizam o programa em três seções cujas estruturas são independentes para cada
volume.

A segunda é composta por uma plataforma onde as rochas são amarradas


edifícios, compostos por uma estrutura mista de colunas de aço preenchidos com
concreto e gabião retenção de parede de pedra e concreto nas costas. Este telhado serve
como uma praça pública e ponto de vista para a cidade.

Parque Biblioteca Medellín- Torres, 2018 Parque Biblioteca de Medellín visto de cima- Colômbia-2018
Para uma das piores favelas de Medellín, onde viveu a gangue de um dos
maiores traficantes do mundo, Pablo Escobar, Mazzanti, arquiteto responsável,
projetou três edifícios intercomunicados. É uma biblioteca, um núcleo com salas de
treinamentos e um auditório. Os volumes foram construídos em blocos de pedra e
ligados por uma esplanada pública aberta. Em outros pontos da cidade, ele previu
quatro instalações esportivas que serviram, inclusive, para os Jogos Sul-americanos
de 2010.

Informações importantes sobre a Biblioteca Espanha em Medellín


Arquiteto Responsável
Giancarlo Mazzanti
Promotor Projetado em
Prefeitura de Medellín 2005-2006
Fundador Ano de Construção
Santo Domingo, Medellín, Colombia 2006-2007
Área construída
3.727 m2
O projeto de Medellín:

Localização do Projeto

Ano 2005

Planta do Projeto, 2005-2006

Projeto em 2D
PRAÇA DAS ARTES DE SÃO PAULO
A Praça das Artes foi inaugurada no ano de 2012 e levou seis anos
para ser construída. O projeto é fruto da parceria de dois escritórios de
arquitetura, o Brasil Arquitetura e o Marcos Cartum Arquitetos Associados.
Ambos os escritórios são referência em Arquitetura e Urbanismo no Estado de
São Paulo. A Praça das Artes foi muito bem pensada, tanto que surpreende
quem passa pelo Vale do Anhangabaú, a Avenida São João e a Rua
Conselheiro Crispiniano, no centro da cidade de São Paulo.

PRAÇA DAS ARTES: PROJETO


Praça das Artes: Planta do Térreo Praça das Artes:
Fachada

Planta 2º Pavimento Praça das Artes:


Corte A

Praça das Artes: Corte B Praça das Artes: Corte C


DIAGRAMA DE USO – PRAÇA DAS ARTES

Croqui 1 Croqui 2

Croqui 3 Croqui 4
A Praça das Artes veio para solucionar um problema antigo do Teatro
Municipal, que fica logo à frente do local. Durante décadas os artistas que se
apresentavam lá não tinham um lugar dedicado aos ensaios. Isso fez com que
a ideia fosse tirada do papel, a fim de melhorar a qualidade das apresentações
dos artistas e obviamente colocar a arte como um importante movimento social,
político e cultural para o Estado de São Paulo.
Além da construção da Praça das Artes, também foi feito um excelente
trabalho de restauração da sede do antigo Conservatório Dramático e Musical,
conhecido como Edifício Centenário. A sede do Antigo Conservatório
Dramático de São Paulo é um importante marco histórico e arquitetônico da
cidade. Ele abriga uma rara sala de recitais, que há décadas estava inutilizada.
Com a sua restauração, os poetas voltaram a sorrir e a cultura agradece por
esse resgate necessário para a sociedade.
Abaixo imagens atuais do conservatório Praça das Artes:

Praça das Artes–Espaço de Exposição no Térreo Conservatório praça


das artes

Praça das Artes: Características


Um dos principais desafios dos arquitetos Marcelo Ferraz, Francisco
Fanucci e Marcus Cartum no projeto da Praça das Artes foi criar vários
espaços mesmo com as limitações do terreno, cercado de áreas degradadas.
É interessante observar como a Praça das Artes consegue abraçar o entorno,
criando um espaço que conseguiu se inserir perfeitamente no centro da cidade.
A relação com os prédios históricos ao redor é muito harmoniosa, já que a
Praça das Artes não oculta os edifícios e nem é apagada por eles.

PROJETO SESC POMPEIA


O Sesc Pompéia é certamente uma das unidades do Sesc com a sua
arquitetura mais marcante e um espaço único na cidade de São Paulo. O
projeto foi desenvolvido pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi,
reconhecida nacionalmente pelo Museu de Arte de São Paulo (MASP) e outras
inúmeras obras. Recebe, em média, 5000 pessoas por dia e 1,5 milhão de
visitantes por ano.
O projeto desse centro de lazer está intimamente ligado à história do
local de sua implantação. Durante a década de 30, a empresa alemã Mauser &
Cia Ltda. construiu no local uma fábrica de tambores de óleo. De acordo com
estudos, durante a Segunda Guerra Mundial, ela foi abandonada e leiloada
para a Indústria Brasileira de Embalagens (Ibesa), que implantou uma linha de
montagem de geladeiras. Os galpões tinham uma arquitetura inspirada nas
fábricas inglesas do século XIX. O que trouxe também uma certa inspiração
para o plano de arquitetura final.

Sesc Pompeia antes da execução do projeto era um galpão abandonado.


Fonte: Google Fotos, ano de 1972.

Abaixo segue a planta do referido projeto

Planta Baixa do Sesc Pompeia

Lina Bo Bardi, 1977.

Na década de 70, o Sesc comprou o imóvel em que antes era uma


fábrica de embalagem e convidou Lina Bo Bardi para fazer o projeto do novo
espaço. A arquiteta, ao se envolver com a obra, descobriu que antiga fábrica
de tambores possuía uma estrutura moldada pelo respeitadíssimo François
Hennebique, pioneiro da época quando se tratava de concreto armado, e
iniciou um processo para recuperação das paredes e retirada de elementos
que foram adicionados posteriormente.
Lina Bo Bardi transferiu então o mais rápido que pôde o seu escritório
para o canteiro de obras e boa parte do projeto foi definido lá mesmo. Os
galpões foram mantidos e apenas elementos para seu novo uso adicionados.
Foram construídos novos edifícios para assim abrigar o bloco esportivo,
distribuído em 2 torres de concreto conectadas por 8 passarelas, além de uma
torre cilíndrica de 80 metros.

Estrutura original do projeto

Maquete do projeto:
As duas torres já implementadas

Sesc Pompeia e Lina Bo Bardi: Durante a Obra


SESC POMPEIA
CIRCULAÇÃO

Sesc pompeia no Sketchup


Localização do Sesc

SESC POMPEIA EM DIVERSOS ANGULOS

A história do Sesc Pompeia começa com três volumes prismáticos de


concreto que aparentemente surgem ao lado dos antigos galpões da fábrica de
tambores da Pompéia: um prisma retangular de trinta por quarenta metros de
base e quarenta e cinco metros de altura; um segundo prisma retangular,
menor e mais alto que o primeiro, de quatorze por dezesseis metros de base e
cinquenta e dois metros de altura; e um cilindro de oito metros de diâmetro e
setenta metros de altura.
O prisma maior apresenta cinco pavimentos, com oito metros e
sessenta centímetros de altura entre pisos. Apresenta apenas paredes
perimetrais, que medem trinta e cinco centímetros de espessura, e nenhuma
estrutura interna complementar. São moldadas com tábuas horizontais de
madeira. As lajes nervuradas protendidas medem um metro de altura total.
Já o prisma menor apresenta doze pavimentos que coincidem a cada dois com
os pavimentos do prisma maior, tendo assim, quatro metros e trinta centímetros
de altura entre pisos. Os dois últimos pavimentos têm sua altura minimizada
para três metros e setenta centímetros. Esse prisma se apresenta girando trinta
e três graus horários em relação ao prisma maior.

Cada uma das passarelas elevadas apresentam um desenho diferente,


ainda que tenham as mesmas regras: partem de uma mesma abertura no
prisma menor e se ramificam levando a duas aberturas simétricas no prisma
maior. Têm dois metros de largura e peitoris de um metro e vinte centímetros.
A primeira passarela, a partir de baixo, forma um V perfeito. A segunda
também forma um V perfeito e leva a aberturas um pouco mais centralizadas
que as das primeiras passarelas, configurando um V mais fechado que o
inferior. A terceira passarela parte como uma linha reta perpendicular, e
somente depois da metade do vão se bifurca, assemelhando-se a um Y. Suas
aberturas de chegada no prisma maior estão um pouco mais centralizadas que
as inferiores, quase na mesma medida que as da segunda passarela em
relação às da primeira. A quarta e última passarela volta a ser um V, porém
imperfeito: um dos braços do V surge do outro, ou seja, não coincidem no
ponto de saída. Além disso, a saída no prisma menor é desalinhada em relação
às passarelas inferiores. As aberturas de chegada estão próximas aos
extremos do prisma maior, formando um V mais aberto que os demais.
É importante deixar claro que além da face recortada, o prisma menor
apresenta outros dois aspectos que quebram a sua condição de prisma
ortogonal perfeito. Isso faz com que esse projeto seja tão perfeito.
Primeiramente, a presença na esquina norte de faixas horizontais de concreto
que configuram os peitoris da escada externa: são os únicos elementos que
são moldados com tábuas verticais de madeira. E o alargamento da sua base
em um metro e meio para cada lado do perímetro, nos seus dois primeiros
pavimentos. A união dessa base maior com a base normal a partir de terceiro
pavimento é através de paredes inclinadas, favorecendo a uma percepção de
contraforte.
O último prisma que compõe o conjunto é um cilindro formado a partir
da concretagem sistemática de setenta anéis de um metro de altura cada. Une-
se ao prisma menor através de uma passarela metálica que parte da sua
cobertura. A fôrma que deu origem aos anéis tem formato de tronco de cone,
ou seja, tem suas faces externas inclinadas para dentro, o que permite com
que a fôrma se encaixe no anel inferior para a concretagem do anel superior
seguinte.

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