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Análise da Cadeia Produtiva Leiteira e Estratégias de Incentivo à

Melhoria da Qualidade da Produção Local.

Marcus V. Barbosa(1), Bianca G. do Carmo(1), George A. Moreira(1), Jeanne N. Oliveira(1) e


Sâmela S. Martins(1)

RESUMO

O presente trabalho discute os principais mecanismos voltados à qualidade do leite pelos produtores
já instalados no mercado leiteiro na região Sul Fluminense. Objetiva-se traçar uma análise da
competitividade do complexo lácteo da nossa região, enfocando sua estrutura, estratégias e os
processos de interação, presentes no processo de coleta do leite, motivado principalmente pelas
mudanças e aumento de renda da população de baixa renda. Buscou-se também avaliar as
expectativas dos agentes quanto às evoluções e perspectivas dos produtores. Para tanto, o estudo
baseou-se em fonte de dados primárias e entrevistas diretas com produtores rurais. Verifica-se que o
elo da produção pecuária mais frágil está no pequeno produtor, onde pequenas ações por parte da
empresa pesquisada buscam incentivar maior produtividade, escala e melhor qualidade. As ações
localizadas inicialmente na administração da empresa têm induzido a uma postura mais sistêmica de
todos os produtores por ela atendidos, com abertura a novas ações coletivas visando agregação de
valor à matéria prima.
Palavras-chave: Qualidade, competitividade, estratégias, leite, produção
__________________________________________________________________________________

1. INTRODUÇÃO
A cadeia produtiva do leite, apesar dos avanços observados durante a década de 90,
aspectos associados à melhoria da qualidade do produto ainda representam desafios a serem
superados. A produção informal do leite se torna um fato preocupante, pois o consumo
indiscriminado de produtos lácteos aumenta consideravelmente nas classes de baixa renda,
comprometendo a saúde desses consumidores, por utilizar cada vez mais produtos sem o
devido controle de qualidade.
As empresas buscam a qualidade total, e manter o padrão de qualidade tem sido um
desafio constante para atender às principais exigências do Programa Nacional de Melhoria da
Qualidade do Leite (PNMQL). A indústria mudou o perfil da coleta de leite, adotando a
granelização, e isso tem estimulado a busca pela qualidade, com critérios baseados no
resfriamento, análise bacteriana dos componentes e volume da produção. Entretanto, os
rebanhos diferem vários aspectos, como seu tamanho, as condições de manejo e sua estrutura
organizacional.
O aumento do consumo exige uma atenção voltada para a qualidade da produção
desde a matéria prima in natura e o seu produto comercializado de forma que ainda na
fazenda, inicie o monitoramento da cadeia produtiva.
Assim exposto, é evidente que o produtor de leite deve ter conhecimento, em termos
de qualidade, do que a indústria transformadora exige desde o início da ordenha. Isto implica
em um programa de qualidade em nível dos rebanhos, envolvendo a garantia de que os
animais recebam alimentos adequados e seguros, a prevenção no uso de aditivos e agentes
(1)
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potencialmente contaminantes para o leite, e a certeza de que o rebanho leiteiro esteja


saudável.
Deve-se ainda orientar o manuseio do leite desde a ordenha até o seu processamento
final de forma que os seus parâmetros de qualidade permaneçam inalterados. A melhoria da
qualidade do leite cru tem sido um grande desafio, refletindo a mudança de paradigma que
experimenta o agronegócio do leite. As perspectivas de avanço tecnológico são permeadas
pelo envolvimento de todos os setores da cadeia, de forma colaborativa e associativa, com
legítimas representações técnica, política e institucional. Segundo Rios (2001), “a própria
indústria de laticínios tem interesse nas medidas de avaliação da matéria-prima, para
implementar o pagamento por qualidade de leite aos produtores e expandir a área de controle
sanitário dos rebanhos”.
Neste sentido, o objetivo geral deste estudo consiste no delineamento de um quadro
analítico da qualidade no processo de coleta do leite dos produtores em um complexo lácteo
da nossa região, enfocando os processos de interação entre a indústria beneficiadora e seus
fornecedores, presentes nos elos da produção pecuária. Buscar-se-á, igualmente, avaliar as
expectativas dos produtores quanto às futuras evoluções e perspectivas para a cadeia láctea.
A garantia da qualidade se tornou uma expressão de grande impacto nas relações
comerciais. Como resultado, a matéria se refere à qualidade do leite. O uso do modelo de
garantia de qualidade de ingredientes para a alimentação animal, em uso desde a ordenha até a
mesa do consumidor, permite alguma claridade que pode dispersar alguns dos temores
associados com o termo garantia.
Os produtores de leite estão no ramo de produção de alimentos e assim, devem
garantir que leite cru que produzem possa satisfazer às exigências dos laticínios e do
consumidor final quanto ao sabor, à qualidade e à segurança.
Oliveira afirma que:
As transformações recentes têm induzido os produtores de leite
em busca de maior competitividade, e as suas percepções sobre
maior volume, produtividade e qualidade da matéria-prima têm
evoluído. A atividade leiteira avançou em produção e
produtividade, entretanto, caminhou pouco para melhorar a
qualidade, em que pese o processo da granelização da coleta do
leite e a tentativa de implementação de um programa nacional
de melhoria da qualidade do leite (Oliveira et al., 2000).
O SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, apresenta as características
que o leite normal deve apresentar:
- pH – entre 6,5 e 6,7 – acima de 6,7 pode indicar uma infecção no úbere, abaixo de
6,5 indica de presença de colostro ou atividade microbiana;
-Acidez titulável – deve estar entre 0,16 e 0,20g de acido lático a cada 100 ml de leite;
- Densidade do leite, onde a 15ºC, o mesmo deve apresentar desnidade entre 1,027 e
1,035; estando abaixo desses limites caracteriza uma possível fraude por agauagem (adição
de água) ou adição de leite desnatado, afim de reduzir o percentual de gordura;
- Índice Crioscópico, que determina o ponto de congelamento do leite, considerando o
ponto de no máximo de -0,512º C, e objetiva verificar se houve fraude no produto por adição
de água e;
- Ponto de Ebulição do Leite, ao nível do mar, onde o ponto de fervura do leite é de
100,7º C.
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Até a década de 50, a indústria de alimentos contava apenas com a análise laboratorial
dos lotes produzidos para fins de controle da segurança e da qualidade. Assim, um lote era
preparado e, se a análise apresentasse as condições desejadas, era liberado; se não, era retido.
Nos anos 50, a indústria de alimentos adaptou a Boas Práticas (BP) da indústria farmacêutica,
com a denominação específica de Boas Práticas de Fabricação (BPF), dando um grande passo
para melhorar e dinamizar a produção de alimentos seguros e de qualidade. Com as Boas
Práticas (BP) começou o controle, segundo normas estabelecidas, da água, das contaminações
cruzadas, das pragas, da higiene e do comportamento do manipulador, da higienização das
superfícies, do fluxo do processo e de outros itens, segundo normas estabelecidas por
entidades representativas do mercado, agências de regulação e o Codex Alimentarius. Este
último, segundo o INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial, é definido como :
“Programa Conjunto da Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação - FAO e da Organização Mundial
da Saúde - OMS. Trata-se de um fórum internacional de
normalização sobre alimentos, criado em 1962, e suas normas
têm como finalidade proteger a saúde da população,
assegurando práticas eqüitativas no comércio regional e
internacional de alimentos, criando mecanismos internacionais
dirigidos à remoção de barreiras tarifárias, fomentando e
coordenando todos os trabalhos que se realizam em
normalização.” (INMETRO)
Assim, as BP, juntamente com a análise do produto final, davam maior garantia à
segurança dos alimentos. Com o início dos vôos tripulados, a NASA, sigla de National
Aeronautic and Space Administration considerou que o principal veículo de entrada de
doenças para os astronautas seria os alimentos. Principalmente porque deixavam uma grande
margem de incerteza. Considerou-se assim que apenas as BP e as análises não eram
suficientes para garantir a segurança dos alimentos próxima a 100%. Por esse motivo, a
NASA desenvolveu, junto com a Pillsbury Co., o sistema “Hazard Analysis and Critical
Control Point” (HACCP), traduzido no Brasil como Sistema de Análise de Perigos e Pontos
Críticos de Controle (APPCC). Esse sistema permite levantar os perigos (biológicos,
químicos e físicos) significativos que podem ocorrer na produção de um determinado
alimento em uma determinada linha de processamento e controlá-los nos Pontos Críticos de
Controle (PCC), durante a produção. Assim, é um sistema dinâmico e, quando aplicado
corretamente, o alimento produzido já tem a garantia de não ter os perigos considerados já
que foram controlados durante o processo de produção. Portanto, as BP (pré-requisito para o
APPCC) e o Sistema APPCC, quando aplicados, dispensam a análise de cada lote
produzido. A CNI – Confederação Nacional da Indústria, através do SENAI –Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial, sensibilizada pela falta de informações e inexistência
de uma sistemática para implantação do Sistema APPCC e de seus pré-requisitos, aliada à
pressão cada vez maior do mercado externo por alimentos seguros, e em parceria com
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas, criaram o Projeto
APPCC para as indústrias de alimentos.
Dessa forma, o Projeto APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) teve início
em abril de 1998 por uma iniciativa da CNI/SENAI, visando desenvolver e levar as
ferramentas para apoio a produção de alimentos seguros pelas empresas da cadeia dos
alimentos.
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O Projeto APPCC coaduna os seguintes objetivos gerais:


• Consolidar uma infra-estrutura (desenvolvimento de metodologia, elaboração
de manuais, capacitação de técnicos e outros recursos de suporte) para divulgar essas
ferramentas e capacitar empresas no Sistema APPCC;
• Mobilizar empresários, capacitar e apoiar as indústrias de agronegócios na
implantação das ferramentas de segurança dos alimentos, atuando nos segmentos de pescado,
carne, leite, sucos e vegetais.
Em agosto de 2002, houve um fato relevante quanto à mudança de nome: de APPCC
para Programa Alimentos Seguros - PAS, em virtude da expansão de sua abrangência e da
natureza da atuação, que se mostra constante e permanente, já que a atividade de implantação
deverá ser demandada continuamente, devido ao grande número de empresas no país que
necessitam implantar e manter esses instrumentos de qualidade em seus processos produtivos.
Outro fator para a mudança do nome foi a constatação de que a sigla APPCC
(oficial no Brasil) já estava satisfatoriamente difundida no país, no âmbito das empresas de
alimentos. Agora, com o foco cada vez maior na conscientização do consumidor e da
sociedade, de modo geral, a sigla PAS (Programa Alimentos Seguros) ficou mais adequada
para a assimilação e conexão com as ações do Programa, além de melhor caracterizar a
ampliação de seu escopo, com a inclusão de grande quantidade de ações de implantação de
Boas Práticas.
Segundo o site Programa do Alimentos Seguros, o PAS tem por finalidade:
- reduzir os riscos dos alimentos a população, atuando no desenvolvimento de
tecnologia, metodologia, conteúdos, formação e capacitação de técnicos para disseminar,
implantar e certificar ferramentas de controle em segurança de alimentos;
- aumentar a segurança e a qualidade dos alimentos produzidos pelas empresas
brasileiras, ampliando a sua competitividade nos mercados nacional e internacional;
- reduzir as doenças causadas aos consumidores, pela contaminação na ingestão e
manipulação dos alimentos.
Como um programa que atinge toda a cadeia dos alimentos, o PAS é mantido através
de uma parceria abrangente, que procura reunir instituições com focos de atuação nas
empresas de sua base de contribuição, desde o campo até o consumo final do alimento, tais
como: SENAI, SEBRAE, SESI, SENAC, SESC, SENAR, SENAT E SEST, onde as duas
primeiras organizações supracitadas assumem a manutenção do Programa.
Segundo Pesquisa Trimestral do Leite, realizada pelo IBGE – Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, de Abril de 2009 a Março de 2010, a produção do leite cru, no Brasil
apresentou um crescimento de aproximadamente 16%, conforme tabela 1 :
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Quantidade de leite cru, resfriado ou não (mil litros) - Brasil


Industrializado
Período Adquirido pelo
estabelecimento
abril 2009 1.452.709 1.449.872
maio 2009 1.434.486 1.422.256
junho 2009 1.407.484 1.396.702
julho 2009 1.553.601 1.546.210
agosto 2009 1.641.471 1.635.318
setembro 2009 1.700.529 1.692.745
outubro 2009 1.795.083 1.786.644
novembro 2009 1.803.057 1.791.476
dezembro 2009 1.880.564 1.869.406
janeiro 2010 1.862.918 1.848.071
fevereiro 2010 1.615.308 1.600.237
março 2010 1.736.003 1.722.689
Tabela 1 – Quantidade de Leite Cru, resfriado ou não (IBGE)
Segundo entrevista concedida a Ricardo Torres pelo Professor Glauco Carvalho, o
mesmo afirma que “ o aumento da demanda de produtos lácteos, como a maioria dos bens de
consumo não-duráveis, tem uma relação estreita com o aumento de renda. Ou seja, melhorias
de renda provocam incremento na demanda de lácteos.” (Milknet, 2007)
Faz-se dessa forma, mister a implantação do PAS como principal ferramenta para a
gestão da qualidade da produção.

2. INFORMAÇÕES SOBRE A EMPRESA PESQUISADA


A organização pesquisada teve sua fundação no ano de 1940. A princípio era apenas
um posto de resfriamento, originada de uma parceria com um grande laticínio instalado na
cidade à época. O relacionamento tornara-se tão próximo ao ponto da população denominar a
tubulação que transferia o leite resfriado direto para os silos da empresa de “Leiteduto”. O
excedente gerado era vendido a granel no varejo.
Em 1969, a empresa investiu em maquinário (Prepac) para ensacar leite tipo C. Inicia-
se também o processo de fabricação dos derivados lácteos. Ao longo dos anos, houve
investimentos em vários outros maquinários melhorando assim sua capacidade de produção
em sua capacidade envase.
A planta produtiva da organização analisada possui atualmente capacidade produtiva
para 250.000 litros de leite/dia, ampliável até 500.000 litros/dia. Os investimentos em
maquinário foram realizados na planta já provam o crescimento da empresa e o interesse da
mesma em ampliar seus negócios.

Recentemente, em função de incentivos fiscais concedidos através do Programa Rio


Leite, a Secretaria de Estado de Agricultura, reduziu a carga tributária para a produção interna
de leite, e os benefícios previstos na legislação estadual de ICMS concedidos às plantas
industriais localizadas no território fluminense, fez com que a Indústria de Laticínios Bom
Gosto instalasse sua primeira planta produtiva no Estado do Rio de Janeiro em área explorada
pela Nestlé do Brasil, na cidade de Barra Mansa. A Bom Gosto, empresa com sede no Estado
do Rio Grande do Sul possui plantas instaladas em estados com tradição e renome na pecuária
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leiteira, tais como Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco e Mato Grosso do Sul (Foco
Regional, 2009). A empresa realizou investimentos da ordem de R$ 30 milhões em sua
unidade localizada no município de Barra Mansa. Os incentivos concedidos, a existência de
uma planta de produção leiteira desativada e a proximidade e facilidade de escoamento de
seus produtos à Região Metropolitana do Rio de Janeiro, foram os fatores determinantes para
que a empresa optasse por instalar-se na região.

Além de um forte concorrente instalando-se às portas, verifica-se em uma simples


visita a supermercados uma enorme variedade de marcas de leite e derivados lácteos.
Certamente essa grande oferta de leite e seus derivados no varejo fazem com que os preços no
varejo tornem-se mais acessíveis aos consumidores de baixa renda. Em visita a uma rede de
supermercado local, verificamos a existência de várias marcas de leite, alguns inclusive
envasados fora do Estado que fazem concorrência à marca local, inclusive com preços mais
competitivos. Nota-se que a diferença de preços entre a marca local e as demais varia em até
30%.
Indagado sobre a questão de uma gigante do ramo instalando-se na região, oferecendo
vantagens competitivas em relação ao preço de venda ao mercado, e com possibilidade de
reduzir sua participação no mercado regional, o presidente frisou que a política de preços de
venda do leite ultrapasteurizado, ou comumente denominado UHT (Ultra High Temperature),
permanecerão inalterados. Segundo o executivo, todos os produtos com a marca da empresa
têm saída total para o mercado e ainda falta produtos para atender à demanda de solicitações
de seus clientes. Até a conclusão do presente artigo nada em sua política fora alterado.

A empresa aposta na fidelidade dos clientes à marca em função de seu histórico e


renome no mercado como uma de suas “armas” para fazer frente à concorrência.

Os incentivos em treinamento, subsídios para aquisição de maquinários para


manutenção das características químicas do leite se tornaram diferenciais para que seus
fornecedores fossem fidelizados à empresa pesquisada. O presidente mencionou que seus
fornecedores tem sido assediados por representantes de outras indústrias de beneficiamento
com propostas de preços acima do valor base praticado pela empresa, porém os mesmos
optam por manter seu relacionamento direto com a empresa com quem já atendem.

No entanto, apesar da alta capacidade produtiva, o presidente afirma que a produção


de leite na região e especial de seus cooperados está muito aquém de atingir sua capacidade
instalada dia da planta. A empresa processa diariamente 80.000 litros de leite advindas de
seus cooperados. Para atender à sua capacidade de envase plena, a empresa estudada terceiriza
seu maquinário a outro grande laticínio, este pertencente ao maior grupo alimentício em
atuação no Brasil.

3. RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO

Com o objetivo de obter um espectro da atual situação da cadeia produtiva leiteira na


região, foram realizadas visitas de campo em três propriedades, sendo todos produtores locais,
cooperados da empresa pesquisada. Pedimos ao presidente da empresa direcionasse nossas
visitas aos proprietários indicando-nos um pequeno, médio e um grande produtor leiteiro,
considerados os parâmetros da própria organização pesquisada.
Os principais pontos pesquisados foram :
- média produção leiteira no ultimo semestre;
- alimentação (base e suplementos);
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- composição do rebanho;
- incentivos à qualidade produtiva;
Quanto a produção, nota-se uma correlação direta das quantidades produzidas com
alimentação fornecida. Na pequena e na média propriedades, a produção de litros de
leite/vaca/dia oscila entre 5 e 12 litros, enquanto em visita à propriedade de grande porte a
produção atinge o patamar médio de 18 litros de leite/vaca/dia.
Segundo informações obtidas no Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite no Estado
do Rio de Janeiro, elaborado pelo SEBRAE em parceria com a FAERJ (2003), verifica-se
que a melhor suplementação do gado leiteiro, acarreta maiores produtividades. A capacidade
produtiva do pequeno produtor torna-se relativamente pequena em comparação ao grande em
função principalmente dos custos associados aos suplementos alimentares, que atrelados ao
valor pago pelo litro de leite, acarreta a inviabilidade de maiores investimentos em
suplementos. Observou-se na propriedade pesquisada que o rebanho caracterizado como de
alta produtividade tem por base sua alimentação a capineira, comumente sendo utilizado o
capim elefante, onde segundo a EMBRAPA Gado de Leite (2003), “é a forrageira mais
indicada para a formação de capineiras, para corte e fornecimento de forragem verde picada
no cocho, pois, além de uma elevada produtividade, apresenta as vantagens de propiciar maior
aproveitamento da forragem produzida e uma redução de perdas no campo”, e que aliada a
rações e suplemento alimentar cítrico a base de casca de laranja tornou-se a base alimentar do
gado na grande propriedade e a mais indicada pelo responsável técnico que assiste aos
produtores. Situação diferente ocorre entre os pequenos e médios produtores, que tema base
alimentar de seu gado atrelados a pastos com menor valor nutricional, tal como a brisanta e
suplementação alimentar a base de sal mineral, farelo de pão fubá e soja.
Outro ponto a ser considerado, refere-se à composição genética do rebanho.
Geralmente rebanhos com boa procedência genética produzem mais leite. A grande
propriedade visitada tem por proposta de trabalho e objetivo institucional o melhoramento
genético contínuo do gado, investindo em matrizes selecionadas, projeto esse que foram
implantadas desde a aquisição da fazenda por seu atual proprietário, no ano de 2004. Não foi
mencionado em nenhum momento pelos pequenos e médios produtores a aquisição de gado
leiteiro de melhor capacidade produtiva e uma maior concentração de seu rebanho em
determinada raça. Em geral, os pequenos e médios produtores possuem espécies diversas ou
com baixo aproveitamento leiteiro. Verificou-se a existência de várias raças de bovino, tais
como : girolando, ¾, 7/8 e holandesas.
No entanto, nota-se em todas as propriedades visitadas uma melhoria na qualidade no
processo de ordenha do leite e o uso das Boas Práticas de Fabricação, não tendo contato
manual do leite ordenhado e o financiamento aos pequenos e médios produtores de tanques de
expansão alocados em suas propriedades ou em pontos estrategicamente localizados entre
pequenos produtores para que o caminhão isotérmico realize a coleta do leite resfriado. Esses
investimentos proporcionaram melhorias na preservação das qualidades nutritivas do leite,
bem possibilitou a minimização, em função de manutenção da estabilidade de sua
temperatura, preservando características químicas que preservam seu sabor e aroma.
Isso fez com que a empresa estabelecesse um programa de remuneração para uma
melhor qualidade da produção leiteira, onde segundo tabela fornecida pelos produtores, os
mesmos podem receber até 18% a mais sobre o valor de remuneração base estipulado pela
indústria, além de bonificar o produtor que faça maiores produções individuais de leite
mensalmente. A Figura 1 demonstra resumidamente o programa de remuneração, chamado
pelo grupo de “Leite Qualidade”. A pedido do presidente da empresa, suprimimos
logomarcas, bem como seu nome empresarial.
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Figura 1- Programa de Remuneração “Leite Qualidade”

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Anteriormente, devido à falta de incentivos do governo do Estado do Rio, as empresas
alocadas no Estado, foram transferindo-se gradativamente para outros pólos industriais, como
Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo. O Estado do Rio de Janeiro, a produção foi
quase nula, quando não apresentou decréscimo. O Programa Rio Leite, desenvolvido pela
Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro é
uma boa iniciativa, segundo a visão do presidente da organização, porém considerada tardia,
visto que o Estado perdeu seu “poder de fogo” produtivo.
Segundo a Lei nº. Lei 5.764/71, as empresas que tem seu regime baseado no
cooperativismo, devem destinar 5% de seus ganhos para educação e treinamento de seus
funcionários, através do FATES- Fundo de Assistência Técnica Educacional e Social. Os
recursos têm sido aplicados a contento, como verificou-se nas ações de conscientização e
investimentos nos processos de ordenha.
A melhoria genética, aliada a seleção da alimentação do rebanho torna um diferencial
quantitativo e qualitativo no insumo fornecido.
Nas visitas realizadas às propriedades, alguns pontos das entrevistas são relevantes,
quais são :
- estímulos para produção do leite com melhor qualidade e produtividade;
- implantação de metodologias e ferramentas de apoio ao PAS;
- maior compromisso com a qualidade no manejo do insumo nas propriedades
visitadas, bem como um transporte seguro e eficiente e melhorias nas análises na indústria
beneficiadora;
Ademais, outro fato bem enfatizado pelos produtores são as políticas internas de
incentivo desenvolvidas como estratégia de conceder ao produtor uma melhor remuneração
em detrimento da qualidade do insumo fornecido. Premiar quem produz com mais qualidade
não apenas fideliza o fornecedor à empresa, como condiciona o produtor ao manejo correto de
seu processo de ordenha, independente de seu porte.
A adoção dessas estratégias como, traz consigo um avanço na gestão da qualidade
leiteira na região, visto que o laticínio terá por obrigação manter a política de qualidade
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propostas aos fornecedores também em todo seu processo de beneficiamento da matéria-


prima.

5. REFERÊNCIAS

Aumento de Renda Pode Impulsionar Produtos Lácteos. Disponível em :


http://www.milknet.com.br/?pg=materias&id=48&buscador=AUMENTO-DA-RENDA-PODE-
IMPULSIONAR-LACTEOS&local=1. Acesso em 18/09/2010
Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite do Estado do Rio de Janeiro: Relatório de Pesquisa. Rio de
Janeiro: FAERJ:SEBRAE, 2003
EMBRAPA Gado de Leite. Como manejar sua capineira de forma correta. Disponível em
http://www.cnpgl.embrapa.br/nova/sala/artigos/artigolinha.php?id=39. Acesso em 14/09/2010.
Inmetro – Comitê Codex Alimentarius Brasil (CCAB). Disponível em :
http://www.inmetro.gov.br/qualidade/comites/ccab.asp . Acesso em 17/09/2010.
OLIVEIRA, L. C.; GOMES, M. F.; VELLOSO, C. R. V. Modernização da legislação sanitária federal sobre
leite e derivados. In: CASTRO, M. C. D. C.; PORTUGAL, J. A. B. (Ed.). Perspectivas e avanços em laticínos.
Juiz de Fora: Epamig/ILCT, 2000. p 107-191.
Programa Alimento Seguro( PAS ). Disponível em : http://www.alimentos.senai.br Acesso em : 01/09/2010.
Retrospectiva Economia 2009. Barra Mansa tem Bom Gosto. Jornal Foco Regional. Edição 450. Ano VIII – 28
de dezembro de 2009 e 03 de janeiro de 2010.
RIOS, H. Consumidor: o ator principal do agronegócio do leite no Brasil. In: GOMES, A. T.; LEITE, J. L.
B.; CARNEIRO, A. V. O agronegócio do leite no Brasil. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2001. p. 101-
110.
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Administração Regional do Estado de São Paulo. Processamento do
Leite – Qualidade do Leite, Queijo de Massa Crua, Queijo de Massa Cozida, Iogurte, manteiga e doce de
leite. São Paulo. SENAR p. 7-20.

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