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Araraquara, SP
2004
KEITE AZEVEDO LIMA
Araraquara, SP
2004
Aos meus pais, Sebastião e
presentes, me apoiando,
incentivando e acreditando em
meus sonhos.
Agradecimentos
À profª. drª. Maria Jacira Silva Simões, profª. drª. Sônia Maria Villela
Bueno, profª. drª. Lisete Diniz Ribas Casagrande e ao prof. dr. Edson do Carmo
Percebemos que o diabetes traz consigo uma marca muito forte na vida das
ainda não conseguiam aceitar esse fato. O tratamento proposto muitas vezes
knowledge from the diabetic patient assisted in a unity of the Family Health
Program, in Araras, São Paulo, Brazil. The work was based on the methodology of
The sample was constituted by 10 diabetic women aged between 46 years old and
education by Paulo Freire. At the end of the meetings, four categories were
building the knowledge. They refer to the disease, treatment, eating and meaning
of life. It is noticed that diabetes brings with it a very strong sign in the patient lives
committing its meaning. The acceptance of the disease did not show an easy
process, and some participants still could not accept the fact at the end of the
meetings. The proposed treatment often causes intense difficulties to the patients.
The main difficulty was related to the eating adequacy because the received
directions gave prestige to a very restrictive diet based on a direction not on the
nutritional education. The results of the work led to the sense of making evident
individual and also collective way. We concluded that the group favored more than
Introdução.............................................................................................................13
Seção 1. Considerações gerais sobre o Diabetes Mellitus..............................23
1.1 Definição e Epidemiologia................................................................................24
1.2 Classificação e Patogenia................................................................................26
1.3 Quadro Clínico, Complicação e Condições Associadas..................................27
1.4 Diagnóstico do Diabetes Mellitus.....................................................................29
1.5 Tratamento do Diabetes Mellitus.....................................................................32
Seção 2. Referencial teórico – Educação em Saúde e/ou Educação
Nutricional: Educação Nutricional como campo específico da Educação em
saúde.....................................................................................................................35
2.1 Educação em Saúde........................................................................................36
2.1.1 Recuperação Histórica..................................................................................36
2.2 Práticas Educativas Problematizadoras em Educação em
Saúde.....................................................................................................................50
2.3 Educação Nutricional.......................................................................................57
2.3.1 Recuperação Histórica..................................................................................57
2.3.2 Relembrando.................................................................................................78
2.3.3 Definição.......................................................................................................80
2.3.4 Importância da Educação Nutricional e os objetivos desse
Estudo....................................................................................................................82
Seção 3. Considerações teóricas: a metodologia da pesquisa
eleita......................................................................................................................86
3.1 Diferentes tipos de pesquisa qualitativa...........................................................89
3.2 Etapas de trabalho da metodologia qualitativa................................................92
3.2.1 Fase Exploratória..........................................................................................92
I Como definir os objetivos da pesquisa................................................................93
II Análise documental.............................................................................................94
III O processo de escolha da amostragem............................................................94
IV Triangulação......................................................................................................96
3.2.2 Trabalho de campo.......................................................................................96
I Instrumentos da pesquisa....................................................................................97
- Entrevista.............................................................................................................97
- Observação participante....................................................................................100
- Anotações de campo.........................................................................................101
3.2.3 Tratamento dos dados................................................................................102
3.2.4 Desafios da pesquisa qualitativa.................................................................105
Seção 4. O percurso metodológico construído..............................................108
4.1 O estudo exploratório.....................................................................................109
4.1.1 A inserção do pesquisador..........................................................................110
4.1.2 Local do estudo: aproximação à temática...................................................111
4.1.3 Entrevista inicial com a equipe....................................................................112
4.1.4 Definição dos critérios a amostragem.........................................................119
4.1.5 Os instrumentos da pesquisa......................................................................120
I Análise documental............................................................................................120
II Entrevista..........................................................................................................120
III Observação participante..................................................................................121
IV As reuniões do grupo.......................................................................................123
V As visitas domiciliares.......................................................................................124
4.3.6 A demarcação do tempo da pesquisa de campo........................................125
Seção 5. Organização do material obtido e discussão dos dados
empíricos............................................................................................................126
5.1 Caracterização dos sujeitos...........................................................................127
5.2 As entrevistas iniciais com os sujeitos...........................................................132
5.2.1 A primeira questão......................................................................................133
5.2.2 A segunda questão.....................................................................................136
5.3 Os encontros..................................................................................................148
5.4 As avaliações após cada encontro................................................................178
Seção 6. As marcas do caminho......................................................................192
Seção 7. A construção de conhecimentos do paciente diabético................208
7.1 A doença: a grande vilã.................................................................................209
7.2 O tratamento: minimizando traumas..............................................................213
7.3 A alimentação: tudo ou nada?.......................................................................214
7.4 A vida: resgatando seu sentido......................................................................216
Referencias Bibliográficas................................................................................221
Anexos................................................................................................................230
INTRODUÇÃO
________________________________________________________
Introdução
sofrendo modificações em seu valor calórico até atingir 300 Kcal. Durante o
mellitus ser uma patologia de importância mundial, com repercussões graves que
educação em saúde como uma das estratégias necessárias para atingir tão amplo
nos serviços tem como meta superar o fosso cultural existente entre a instituição
e fortalecimento de autonomias.
cotidiano destes.
paciente.
Boog (1991); Boog (1996, 1997); Smeke e Oliveira (2001); Vasconcelos (2001),
podemos omitir que utilizamos também pesquisas que apenas tangenciam nosso
tema, sendo destacada sua importância para as conclusões a que chegamos, não
análise.
1999) como:
DE DIABETES, 2000).
idade, apontando ainda, variações entre as capitais estudadas, sendo que o valor
mínimo foi de 5,22% e o máximo de 9,66%, respectivamente de Brasília e de São
Encontramos dados que evidenciam que 90% dos diabéticos apresentam o tipo 2
2002).
principalmente quando nos deparamos com o dado que indica que 5 milhões de
1980 pela OMS, tendo sofrido algumas modificações em 1985. No ano de 1992, a
Diabetes gestacional1
Fonte: Consenso Brasileiro sobre Diabetes, Sociedade Brasileira de Diabetes, 2000, p.06.
1
O diabetes mellitus gestacional é a diminuição da tolerância à glicose, de magnitude variável,
diagnosticada pela primeira vez na gestação, podendo ou não persistir após o parto. Abrange os
casos de diabetes mellitus e de tolerância à glicose diminuída detectados na gravidez.
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2000, p.05).
Neste momento trataremos do diabetes tipo 1, no qual devido a
esclarecida, mas alguns aspectos são claros: existe um distúrbio nas células β
que levam a uma secreção de insulina deficiente, assim como tecidos periféricos
Vale ressaltar ainda uma outra complicação que surge nos casos
2000).
sanguíneo e que este nível é controlado devido a ação da insulina, temos que
indivíduos diabéticos apresentarão glicemia elevada caso não se tratem com esse
(IMC) maior ou igual a 25Kg/m2 e apresentar algum fator de risco adicional, como
por exemplo ser hipertenso, ter apresentado diabetes gestacional, não praticar
anos ou o intervalo entre cada exame seja menor que 3 anos (AMERICAN
DIABETES ASSOCIATION, 2003a). No entanto temos a recomendação de um
1990 e 1998, houve um aumento de 33% para 76% dos casos de diabetes, em
ENDOCRINOLOGISTS, 2001).
utilizado como único método para monitorar o diabetes, uma vez que poderá
são três, sendo que recomenda-se que seus resultados sejam confirmados no
aleatoriamente, em qualquer momento do dia, sem jejum prévio, seja maior que
sua glicemia de jejum for superior a 126mg/dl (GUYTON e HALL, 1997; OMS,
ASSOCIATION, 2004).
Quando os valores de glicose plasmática, no jejum, são maiores ou
soro ou plasma, nos tempos de 0,5; 1; 1,5 e 2 horas após a ingestão da glicose
além de voltar para o valor inicial apenas 4 a 6 horas após a ingestão, e nunca
ASSOCIATION, 2004).
mantivessem entre 100 e 125mg/dl, e não mais, maiores que 110mg/dl e menores
visa também manter dentro dos níveis normais as taxas de colesterol, total, HDL e
porcentagem que sobe para 25% em outros países. Em relação ao uso dos
dos indivíduos diabéticos tipo 2 poderiam ter seu controle metabólico equilibrado
superior ao do tipo 1.
uma vez que o tratamento que prevê essas alterações nos padrões alimentares
tem como objetivo ‘fornecer aos indivíduos diabéticos um caminho para ter uma
articulação com seu nível sócio econômico e cultural. Nesse contexto, a condição
Nutricional.
seu foco voltado para a população e para a ação. De uma maneira geral,
Brasil, com o intuito de mostrar como vem sendo exercitada ao longo dos anos
teve uma origem marcada por discursos e práticas normatizadores, que sugeriam
como fica conhecido, tem sua influência ampliada com o novo Regulamento
2001).
que tenta diminuir, ou até mesmo terminar com o crédito do mito religioso que é
2001).
eugenismo, que traz a tona nada mais do que o lado facista desta doutrina, que
- Décadas de 30, 40 e 50
tinha uma nova concepção dos serviços de saúde, que vinha se formando desde
e OLIVEIRA, 2001).
que passa a ser visto como uma forma de se consumir a tecnologia através da
capitalismo que, nessa época, procura se impor contra uma visão socialista. É um
Pública (SESP), para a prestação de serviço sanitário, com vistas ao controle das
(MELO, 1987; BUSS, 1995; SMEKE e OLIVEIRA, 2001). Esse serviço utiliza
é considerado como incapaz de pensar e tomar suas próprias decisões. Isso faz
OLIVEIRA, 2001).
nova ordem econômica e política, em que espaços vão sendo abertos onde até
constatando que pode intuir suas chances de superação dos limites existentes. A
- Década de 60
(PEREIRA, 1993).
Temos naquele momento o que Melo (1987) chamou de período
determinados espaços, uma vez que instituições são fechadas, gastos com
- Décadas de 70 e 80
OLIVEIRA, 2001).
Vale ressaltar que no período entre 1964 e 1980, são criadas
al., 1998).
constitui. Cabe dizer que a partir daí a Constituição Brasileira recebe a inscrição
A Previdência Social sofre uma forte crise nos anos 80, o que obriga
- Década de 90
1995).
como suas crenças e seus valores, a educação em saúde deixa de lado as ações
socialmente sustentadas pelas práticas político-econômicas (STOTZ, 1993;
emaranhado que apenas os coloca como responsáveis, mas não lhes mostra uma
em Saúde torna-se instrumento para uma luta política que vislumbre a melhoria
se por dizer que o papel do educador em saúde deve estar mediado pelo
“ajudar o grupo a pensar do que pensar pelo grupo, mais de questionar do que
costumes, e até mesmo remodelar velhos conceitos, sendo certo que prestam um
respeito, pois aqueles meios criam suas verdades como únicas, além de muitas
2001).
Analisando toda a trajetória histórica da educação em saúde,
podemos concluir que esta se deu sob várias formas no âmbito da saúde de
nosso país.
para inculcar valores nos trabalhadores, que através dela a ditadura Vargas
intuito de instigar sujeitos contra a política de saúde vigente, sem propor saídas; e
seus direitos. Esse fato não permitiu que a educação em saúde fosse totalmente
negligenciada e esquecida.
constituir uma saída real para construirmos um país onde todos possam ter seus
educativas.
respostas.
indivíduos.
A educação existe sob várias formas, sendo que muitas vezes o que
as regras básicas para sua sobrevivência. Quando atinge uma certa idade, vai
inserção na sociedade. Brandão (2001, p.67) coloca em seu livro que: “o ‘fim da
(BRANDÃO, 2001).
vai ensinar será o que ele imagina que o educando quer aprender e também o
educando adquira uma visão crítica, apenas devendo aceitar passivamente o que
não aceitar passivamente o que lhe é imposto. Segundo Paulo Freire (1988), os
processo educacional.
pode aprender com o educando, que, ao ter suas idéias respeitadas, consegue
respeitar-se (FREIRE,1988).
apud Bordenave e Pereira (2001) que a representa por um “arco” que propõe idas
“arco”.
Método do Arco
Teorização
Pontos Hipótese de
chave solução
Observação Aplicação a
da realidade realidade
Realidade
para a área da saúde, nos deparamos com a pertinência dessa discussão para as
al., 1998).
Podemos então concluir que o planejamento é feito pelos
suas crenças e juízos, com noções vagas, porém mais fortes que uma simples
que apenas encubram diagnósticos realizados por pessoas que vivem longe da
educador e o educando criam uma relação dialógica, onde todas as idéias são
importantes, ninguém sabe mais ou menos, apenas detêm conhecimentos
referidos por outros autores, de modo especial L’Abbate (1988, 1989), assim
Nutricional.
- Década de 30
conseguiu-se realizar uma síntese dos principais temas tratados até então,
respeitando a trajetória política dos Programas de Alimentação e Nutrição
(L’ABBATE, 1988).
criar medidas políticas a fim de expandir para toda a população suas idéias
(L’ABBATE, 1988).
Não encontramos referências explícitas sobre a proposta de
que ainda se buscava o apoio estatal para difundi-las. Dessa maneira, não
propriamente dita. Vale dizer que nas décadas seguintes essa primeira análise vai
se comprovando.
- Década de 40
nutricional, sendo que nos Estados Unidos foi formado um comitê de profissionais
Previdência dos Industriários (IAPI) era dirigido por Josué de Castro (L’ABBATE,
mais técnico para as elites. Em seu texto, L’Abbate (1988, p.110) deixa clara a
(VASCONCELOS, 2002).
ouviu-se as classes populares, que eram tomadas como ignorantes. Vimos uma
novos produtos desidratados da indústria. Estes produtos eram mais caros do que
- Década de 50
educação nutricional, foi apenas em 1951 que Ritchie publicou o primeiro livro
alimentação, mas enfatizando que se alimentar configura-se num ato social e não
pode ser despido da cultura, etnia, religiosidade, dentre outros fatores inerentes
orienta ainda métodos de ensino e avaliação dos programas. Para Boog, esse
dentre outros. Esse fato mostra que os objetivos não foram unicamente realizar
uma educação nutricional, mas sim, acalmar o clima de tensão social nesses
1997).
1988).
Nesse período, a organização das Nações Unidas (ONU) inicia um
programa de ajuda alimentar a vários países, dentre eles o Brasil. Fica evidente
(VASCONCELOS, 2002).
- Década de 60
aspectos, e não apenas uma transmissão de informações. Relatam ainda que não
segundo livro, observa que técnicos em nutrição não eram vistos como
2
Ensino behaviorista ou comportamentalista se caracteriza pelo primado do objeto (empirismo).
O conhecimento é uma ‘descoberta’ e é nova para o indivíduo que a faz. O que foi descoberto,
porém, já se encontrava presente na realidade exterior. Considera-se o organismo sujeito às
contingências do meio, sendo o conhecimento uma cópia de algo que simplesmente é dado no
mundo externo. (MIZUKAMI, 1986. p. 19).
No Brasil, as atividades desenvolvidas na área de educação
homem é visto como uma máquina que precisa trabalhar e gerar lucros e, para
1988).
cursos de nutrição passam por uma reestruturação e o que vimos nessa década é
- Década de 70
vez, como o responsável técnico da educação nutricional e não apenas como seu
características mais técnicas do que sociais, quando realizam seus estudos sobre
como melhorar as condições de saúde dos trabalhadores, pudemos notar que seu
mais adequado, mas sem perder de vista o respeito a cultura e hábitos dos
- Década de 80
primeiro caso, um trabalhador bem nutrido teria uma maior capacidade para o
seres humanos e passou a ser apenas uma maneira para obtenção de maiores
lucros.
No ano seguinte, Jelliffe, publicou um texto afirmando ser a
partir das experiências relatadas por eles, ou seja, valoriza a participação ativa
Nesse contexto, muito pouco sobre nutrição foi identificado. Por outro lado
3
Preocupação decorrente do ideário behaviorista implementado na Educação, tendo o
planejamento sistêmico como importante característica.
nenhum momento os aspectos sociais que permeariam os hábitos alimentares
garantir bem estar a população, respeitando sua etnia, cultura, religião (BOOG,
1996, 1997).
- Década de 90 a 2002
Uma vez mais, a OPAS publica um manual para ser utilizado nos
dos manuais anteriores, de 1983 e 1988, sendo apenas uma revisão ampliada
hábitos saudáveis e a escola seria o local onde isso poderia ocorrer. Desta
1996, 1997).
1996, 1997).
vemos de novo, nos anos 90, é o enfoque dado para a escola como um caminho
empresas (INSTITUTO CIDADANIA, 2001). Isso nos mostra que, mesmo após
anos de sua criação, o PAT ainda servia a interesses dos donos das empresas,
que visavam apenas aumentar seus lucros e somente por esse fator se
Alimentação.
crianças até seis anos de idade, em situação de risco nutricional. Vale lembrar
CIDADANIA, 2001).
governo FHC. Sua base estava na distribuição dos alimentos armazenados nos
indivíduos que passam fome não deixa de ser uma atitude necessária, porém não
fome e a miséria.
- Atualmente
nossa constituição o “direito à vida”, que não deixa de forma clara o direito à
que pode ser oferecido à população e passa a ser uma função constitucional do
população, o Brasil, assim como outros países de terceiro mundo, não consegue
garantir todos os direitos básicos para toda sua população. No entanto, sabemos
que o direito à alimentação poderia ser garantido a toda a população carente, mas
renda -, mas que foram deixados de lado por todo o período restante.
preocupação em criar condições para que esses indivíduos possam deixar essa
que gera a exclusão social, sendo esse fator o principal responsável pela fome,
E ainda:
nesse capítulo, são ações próprias da política social que, visa amenizar as
1998).
A política social:
A primeira linha requer ações a médio e longo prazo, que visem corrigir os
social que busca resultados permanentes, e para isso procura modificar o padrão
ações da política social. Essas requerem uma efetiva participação do Estado que,
fazem parte da terceira linha de ações, que deve ocorrer a curto prazo. Para isso,
nas 3 linhas de ação das políticas sociais. A seguir transcrevemos do site oficial4
Políticas Estruturais
São voltadas para as causas profundas da fome e da pobreza, que
devem ser desenvolvidas pelo poder público:
Geração de Emprego e Renda;
Previdência Social Universal;
Incentivo à Agricultura Familiar;
Intensificação da Reforma Agrária;
Bolsa Escola e Renda Mínima;
Segurança e Qualidade dos Alimentos
Políticas Específicas
São voltadas para atender diretamente às famílias carentes, no que se
refere ao acesso ao alimento. Podem ser desenvolvidas pelos governos
dos estados, dos municípios, e pela sociedade civil organizada:
Doação de Cestas Básicas Emergenciais;
Combate à Desnutrição Materno-Infantil;
Cozinhas Comunitárias;
Ampliação da Merenda Escolar;
Restaurantes Populares;
Programa Cartão-Alimentação;
Ampliação do PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador);
Bancos de Alimentos;
Manutenção de Estoques de Segurança;
Educação para o Consumo e Educação Alimentar;
Segurança e Qualidade dos Alimentos.
Políticas Locais
Serão implantadas por prefeituras e pela sociedade civil organizada em
cada município:
Nas áreas rurais: apoio à agricultura familiar e à produção para
consumo próprio;
Nas pequenas e médias cidades: Bancos de Alimentos, parceria com
varejistas para doação de alimentos, feira do produtor, modernização
dos equipamentos de abastecimento, agricultura urbana;
Nas cidades grandes: restaurantes populares, bancos de alimentos,
parcerias com varejistas, modernização dos equipamentos de
abastecimento. (PROGRAMA FOME ZERO, 2003).
4
http://www.fomezero.gov.br
especificações a respeito da metodologia proposta pelo governo para realizar
esse trabalho.
miserável do país. Para que essa inclusão ocorra, há proposta de políticas que
2.3.2 Relembrando
foi se delineando como um retrato cultural de cada época estudada. Como todo
processo educativo, a educação nutricional não pode deixar de existir isenta dos
constituir um risco para a saúde, esta área foi retirada de cena (BOOG, 1996).
utilizada, ao longo dos anos, para uma efetiva ação educativa da população, mas
sim como mais uma manobra das classes dominantes para “domesticarem” os
2.3.3 Definição
Nosso conceito tem como base Boog (1996), que, em sua tese de doutorado, nos
Nutricional:
nutricional, como especialidade, não poder atender aos objetivos a que se propõe,
nutricional, para que cumpra seus objetivos, necessita ter clareza conceitual para
costumes, cultura, fatores sócio econômicos, ou outros que possam interferir nos
alimentação que o paciente deve ter, sendo que não são admitidos
(BOOG,1996).
nutricional, temos uma completa mudança desse quadro, que passa a ser
que o paciente já traz consigo. Ela procura estabelecer uma relação de confiança
(BOOG,1996).
transgressões (BOOG,1996).
nutricional.
município de Araras.
Nutricional.
SEÇÃO 3. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: A METODOLOGIA DA
PESQUISA ELEITA
________________________________________________________
3. Considerações teóricas: A metodologia de pesquisa eleita
conceitual.
dificuldade para sua conceituação que decorre, segundo Bogdan e Biklen (1994)
formas e passar por múltiplos contextos. Esses contextos são provenientes das
(TRIVIÑOS,1987).
gênero “pesquisas sociais”. Isso quer dizer que tanto a pesquisa etnográfica,
“Pesquisa social não pode ser definida de forma estática ou estanque. Ela só pode
que não poderá ser visualizado como isolado, mas como parte de um contexto
que a pesquisa qualitativa “evita números, lida com interpretações das realidades
sociais”.
suas causas e efeitos nos sujeitos que vivem a situação pesquisada. Ela
solucionar a questão.
Outro objetivo é contribuir para uma maior aproximação teórica do foco estudado
utilizaremos o conceito de Thiollent (1988), autor que trabalhou muito bem esse
dado:
Pesquisa ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é
concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a
resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os
participantes representativos da situação ou do problema estão
envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT,1988,
p.14).
pesquisa ação, existe uma real ação dos indivíduos que estão envolvidos
ressaltar, ainda, que o que diferencia a pesquisa ação de outros tipos de pesquisa
seguinte forma:
diferenciam no sentido da primeira contar, como o próprio nome diz, com uma
ação por parte do investigador conjunta com a dos participantes. Já a pesquisa
estudo.
de:
sujeitos.
BIKLEN, 1994).
apresenta alguma diferenciação, o que não impede que seja analisada em seus
Temos que a pesquisa qualitativa exige como etapa inicial uma fase
denominada exploratória.
também pela forma através da qual irá explorar seu campo de pesquisa,
MINAYO, 1996).
financeira.
ser feita em forma de uma questão e, para que surja a primeira pergunta, o
II Análise documental
BIKLEN, 1994).
muito bem definida para a pesquisa quantitativa, mas para a pesquisa qualitativa
posições.
local. Contudo este tipo de escolha pode trazer sérios problemas ao investigador
1988).
não é numérico [...] uma amostra ideal é aquela capaz de refletir a totalidade nas
permitir que haja uma triangulação, que consiste em não haver restrição a uma
abordagens (MINAYO, 1996). Por exemplo, temos nossa pesquisa, que tem como
uma cultura, possuindo vínculos com uma realidade social mais complexa. Nesse
I Instrumentos da Pesquisa
(Minayo, 1996).
- Entrevista
(MINAYO,1996).
passivas, ativas, que podem utilizar técnicas como o questionário, história de vida,
entrevistador tem que seguir um roteiro de perguntas, que deve ser seguido
pesquisador, sendo mais vantajoso o primeiro modo, uma vez que se podem
LÜDKE e ANDRÉ,2001).
silêncios, são registrados; o que deixa a desejar é não haver registro algum de
verbal. Todavia, a falha é suprida com o uso em conjunto das anotações (LÜDKE
colocam um dado, que na nossa opinião pode ser extrapolado para qualquer tipo
de entrevista, que se chama “fala conclusiva”. Essa fala nada mais é do que a
para sua transcrição, obtendo-se como resultado um material cru, que necessita
sempre ser comparado com a gravação e anotações do material (LÜDKE e
ANDRÉ, 2001).
- Observação Participante
uma prática de observação participante”. Sendo que Schwartz & Schwartz (1955)
definem:
Porém, para que tenha valor científico, é necessário um planejamento deste ato, a
fim de definir o que vai ser observado e quais aspectos do problema escolhido
serão captados, assim como com qual “olhar” será visto (LÜDKE e ANDRÉ,
2001).
A observação tem a vantagem de colocar o investigador em contato
direto com o fenômeno estudado, o mundo real em que o indivíduo vive. Além
disso, através da observação, outros aspectos antes não conhecidos podem vir à
meio, pode ser conduzido a uma visão distorcida pelo seu relacionamento com os
- Anotações de Campo
deverá anotar dados sobre o que vê e sente. Dessa maneira, temos que as
BOGDAN e BIKLEN,1994).
Já as notas de campo do tipo reflexivo mostram os sentimentos, do
hipóteses novas que podem ser criadas (TRIVIÑOS, 1987; BOGDAN e BIKLEN,
1994).
Para que uma anotação reflexiva seja bem feita, é necessário que o
pesquisador, para que ele possa refletir de maneira a observar os dados com
André (2001) e Bogdan e Biklen (1994) sugerem que sejam feitas o momento
mais próximo da ocorrência, a fim de que nenhum dado possa ser perdido devido
seus achados (MINAYO, 1997) e também irá inserir suas descobertas no contexto
social de onde suas mensagens foram tiradas (BARDIN, 2002). Nesse momento,
teórico.
A análise dos dados implica a ordenação de todo o material
análise de conteúdo, sobre qual podemos dizer sucintamente que visa enxergar
(MINAYO, 1996).
campo em que irá focar sua atenção, utilizando indicadores nos quais,
conteúdos manifestos, ou seja, aqueles que são mais evidentes, mas também
analisa o conteúdo latente, que evidencia o fenômeno social como um todo, com
usando Orlandi (1987, p.11) que a define “como proposta crítica que procura
Para que não ocorra esse fato, o pesquisador deve procurar fazer
com que o indivíduo aceite voluntariamente participar, estando sempre ciente dos
aos riscos, eles não podem ser superiores aos benefícios que o sujeito possa
social, o cultural e, até mesmo, com questões políticas dos indivíduos (MINAYO,
pesquisa qualitativa enfrenta, para não suscitar dúvidas sobre seus resultados,
seus valores, o que torna possível um julgamento sobre o peso que estes
e ANDRÉ, 2001).
Sistema Único de Saúde, a fim de que este se volte para suas raízes ideológicas
outro cuidado fica evidenciado, que é o da busca por um maior entendimento das
relações dos sujeitos envolvidos, como suas relações sociais, culturais, religiosas.
Este fato implica uma releitura da realidade com um olhar muito mais aberto
(VASCONCELOS, 2001).
ação dos demais atores sociais e restrinja “sua própria ação a subgrupos e
exploratório.
4.1.1 A Inserção do Pesquisador
Divisão de Saúde, que recebeu uma cópia de nosso projeto e relatou que
reunião na unidade onde ela estava trabalhando enquanto o novo prédio passava
entregamos uma cópia do projeto. Combinamos entrar em campo vinte dias após
é responsável pelo atendimento dos bairros Vila Dona Rosa e Jardim Marabá; a
trabalho se desenvolveu.
pelos próprios profissionais do local. Outra questão encontrada nos revelou que a
outros você aguarda, faz a dieta, faz orientação dietética e vai aguardar
uma semana pra ver se, e os demais exames, pra ver se é necessário o
“Aí você consulta várias vezes e depois que entra na rotina, no equilíbrio,
mês com o médico, até normalizar. Aí, depois ele também passa com o
enfermeiro.” (Maria)
A ausência de um programa, não propicia uma padronização no
no serviço, não fica claro para os profissionais qual deve ser seu papel diante do
paciente diabético. Como exemplo, citamos a fala das enfermeiras, na qual elas
ele tem que ter, a alimentação que deve ser mantida. É feita uma
(Verônica)
Através dessa entrevista com a equipe, ficou claro que para ela a
educação nutricional, por sua vez, é um meio para se conseguir que o paciente
(Maria)
pacientes, e que esse trabalho requer tempo e não pode ser feito apenas durante
uma consulta.
consulta só, eu fiz uma orientação normal, que eu faço pra todas, pra
(Drª. Rebeca)
“Às vezes, só com uma orientação dietética o paciente fica até sem
Rebeca)
não deve ser excessivamente restritiva, mas sim saudável e, por esse motivo,
pode ser seguida por todas as pessoas que busquem manter sua saúde e
((Drª. Rebeca)
equipe, não apenas realizando um trabalho com os diabéticos, mas com outros
pacientes.
(Verônica)
obesas. Não falta comida na casa, falta orientação mesmo. É outra parte
que depois você precisa dar uma força pra gente.” (Drª. Rebeca)
como o diabetes mellitus. Questionando essa ausência, temos que ela pode
que haja uma padronização mínima e, desta maneira, não exista um controle
sua vez, achando que o médico já orientou o suficiente, procura apenas reforçar
para ocorrer.
(BOOG, 1996).
entanto, na prática, Boog (1996) ainda nos coloca frente a duas questões para
solucionarmos esse impasse. Uma das questões mostra uma visão técnica do
mobilizem sua categoria para conseguir conquistar seu espaço (BOOG, 1996).
2002).
Em nosso trabalho, observamos que os profissionais possuem
encontros, foi a freqüência dos indivíduos nas reuniões, pois muitos entrevistados,
I Análise Documental
II Entrevista
escolha final foi confirmada através das visitas domiciliares. As visitas ocorreram
(LÜDKE e ANDRÉ, 1986). Estas entrevistas visaram coletar dados a respeito dos
digitadas.
desenvolvimento do trabalho.
fechado e notei que a casa é bem segura, pois é toda fechada com um
muro e um portão que chegam até o teto. Dona Débora logo veio nos
uma senhora que fala pouco, pois não deu início a uma “boa” conversa,
ela não pararia de latir se não fosse para o colo. Ela abriu o portão e
outubro de 2002 até 02 de abril de 2003, sendo que, nos meses de dezembro e
recesso.
essa educação parte do pressuposto de que “uma pessoa só conhece bem algo
descrevemos as reuniões.
5
As reuniões ocorreram em uma sala do prédio da Polícia Militar Ambiental, devido a falta de
uma sala disponível no prédio da unidade do PSF.
“Explicamos que a questão dizia respeito ao que elas gostariam de
V As visitas domiciliares
uma data pré-estabelecida, mas sim de um critério que julgamos adequado para
fictícios, a fim de que se possa preservar a identidade das pacientes, e para que
6
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é considerada idosa, a pessoa que tenha
atingido a idade de 60 anos.
incluíam nessa faixa etária, apresentando 45 anos, 62 anos, 63 anos e 69 anos
de idade.
as demais moram em casa própria. Todas as casas são de alvenaria, com água
geladeira.
uma grande variação, sendo que uma delas fez seu diagnóstico há 6 meses e
série do ensino fundamental. Mora com o marido e uma filha em uma casa de
sete cômodos. No início das reuniões era pouco comunicativa, mas com o passar
decorrentes da doença. Faz seu tratamento no serviço público de saúde, pois não
casar passou a cuidar dos afazeres domésticos e deixou o trabalho fora de casa.
Cursou até a segunda série do ensino fundamental. Sua casa tem sete cômodos
e moram apenas ela e o marido, a renda familiar é de aproximadamente mil e
trezentos reais mensais. Seus filhos são casados, porém dona Madalena relata
que “ainda dão muita preocupação”. É uma senhora que se expressa bem. No
início dos encontros, ficava observando mais, já nos últimos relatava que tinha
feito amizades e ficou mais a vontade. Dona Madalena chegou a dizer que no
início não achou muito boa a idéia de várias mulheres se reunirem para
pernas”, o que nos leva a crer que realmente é diabética há mais tempo do que o
Nunca freqüentou a escola. Em uma casa de sete cômodos, moram oito pessoas
entre filhos, netos e sobrinhos. Dona Sara relata que os sustenta com a
aposentadoria que recebe, o marido a ajuda , desta maneira vivem com uma
renda de duzentos e oitenta reais mensais. É uma senhora falante e parece ser
Sua casa é bem humilde e com condições de higiene não muito adequadas. É
completou o ensino fundamental, não referindo até qual série cursou. Mora com o
marido e dois filhos, em uma casa de seis cômodos. A renda mensal da família
gira em torno de mil e setecentos reais. Nas entrevistas inicial e final foi falante,
entretanto nas reuniões não era muito comunicativa. É vizinha de dona Sara, mas
faculdade, mas não terminou o primeiro ano. Mora com o marido, três filhos e o
pai, com uma renda de aproximadamente setecentos reais, vivem em uma casa
de seis cômodos. Dona Isabel procurou o grupo por achar que era diabética e
aguardava o resultado dos exames. Ao receber o resultado constatou que não era
diabética, mas pediu para continuar nos encontros por achar que eram bons para
um neto em uma casa alugada, com quatro cômodos. Não sabe precisar há
público de saúde.
encontros nos contou que a neta, de 19 anos de idade, passou a morar com ela.
completou o ensino fundamental. Mora com quatro pessoas em uma casa de sete
costumava falar muito. Faz 6 anos que é diabética e não apresenta nenhuma
com o marido e dois filhos em uma casa de sete cômodos. A família vive com
uma renda de dois mil reais por mês. É uma senhora que se comunica bem,
diabética e dizia apresentar alteração na visão quando sua glicemia está elevada.
É uma paciente que também faz tratamento com médico conveniado, utilizando
algumas vezes o serviço público quando não tem possibilidade de comprar todos
os medicamentos.
completo. Mora com o marido e duas filhas em uma casa de cinco cômodos e
vivem com oitocentos reais mensais. Nos primeiros encontros era calada, mas
vidas.
pudemos perceber que em muitos casos a procura pelo médico não ocorreu
giram em torno dos tópicos levantados por nossas pacientes, no entanto, existem
diabetes:
“Ah, eu acho que foi assim, pode ser hereditário, e pode ser aquele de
(Isabel)
“Eu acho que causo porque veio da minha mãe. Hereditário”. (Judith)
“Minha mãe tinha, meu pai tinha, a minha irmã tem.” (Sara)
“Eu sempre gostei de comer muito doce. Adoro doce, eu penso, se fez
mal pra mim, tem que ser o doce, que o que eu exagero é no doce.”
(Madalena)
“Ah, Keite eu num sei, porque eu quase num comia doce, eu gostava
mais de coisa salgada. Num gostava de coisa doce. Num sei o que
aconteceu.” (Sara)
diabetes mellitus:
“O meu, eu acho que foi de nervoso. Daí aconteceu que meu marido
‘aposentô’ e não ‘falô’ pra mim. Depois ‘aposentô’. O salário num dava.”
(Débora)
antecedente, por exemplo, eu num sei, meu pai, minha mãe num
família.” (Marta)
educativo a ser desenvolvido com essa população. Esse trabalho deve procurar
ainda não o tenham, ou que não o percebam de maneira clara, como também
bastante difícil para indivíduos que “de repente” se vêem diabéticos. Inicialmente
esses sujeitos não aceitam sua doença, chegando a vê-la como um castigo.
sei, sabe. Achava que eu num merecia ter essa doença, que eu achei
“Eu tinha vontade de ‘comê’ tudo que vinha na minha frente, pra vê se eu
“...eu ‘tô’ acostumada a ‘comê’, tem que ‘tirá’ tudo. Tirei pão, tirei doce,
tirei macarrão, tudo essas coisa, massa, tudo que era de massa ela
“Foi a parte da dieta. Porque até agora eu, é difícil, eu num consigo
achava que eu nunca ‘ía tê’. Gostava de ‘comê’, fazia doce, fazia bolo.
vida no sentido de prejudicar até mesmo o convívio social, uma vez que deixaram
eu ía. Depois disso num ‘tô’ indo mais. Mas eu ía, gostava de ir.”
(Débora)
“Ah, na hora que tinha que ‘tomá’ insulina. Eu ficava pensando, ‘aí,
tudo. Mas quando ela ‘falô’ que eu tinha que ‘tomá’ insulina, pra mim
foi muito difícil. Nossa, eu achava o fim do mundo. ‘Cê’ todo dia tinha
que fura a gente, todo dia, todo dia, todo dia.” (Esther)
Modificar sua dieta e seu estilo de vida tornam essas pessoas seres
que apenas contribuirá para que permaneçam nessa situação de dominação pela
doença.
pressão você pode vir aqui, mas o papel do diabete num vou ti dá
mais’.” (Débora)
“Não, não ‘falô’ nada. Num ‘falô’ nada. ‘Falô’ que eu tava com a
“Eu acho que ele é muito seco, assim, parece que ele num gosta de
processo educacional, subsídios para que possam ter uma maior capacidade de
tratamento.
“Aí ele começou a falar que eu ia ‘ficá’ cega, que meu rim ‘ía paralisá’,
1988, p.68).
altamente tecnológica, que reduz a autonomia dos sujeitos, tornando-os cada vez
1994).
pacientes está longe de ser alcançada uma vez que “problematizar é exercer uma
outros profissionais que não médico. Cremos que esse fato por si só já demonstra
altamente restritivas.
seguida:
salgadinho eu num ‘cômo’, pode ser o salgadinho mais gostoso que for,
bem longe de mim. Que é triste, ‘sabê’ que você tem isso daí e num vai
“Ah, foi tudo porque se você fizer certinho, você num pode ‘comê’ nada,
nada. Mas eu já notei, eu tratei um tempo com a doutora [...], então ela
sei lá, num sei se é porque quando a gente está proibido, daí que quer.”
(Débora)
“...eu estou acostumada a ‘comê’, tem que ‘tirá’ tudo. Tirei pão, tirei
doce, tirei macarrão, ‘tudo essas coisa’, massa, tudo que era de massa
ela proibiu de ‘comê’. Aí, a alimentação da gente ‘ficô’ mais fraca. Leite,
“Tirou toda massa, todo açúcar. Por exemplo, era três bolacha, tinha três
bolacha água e sal, ou um pãozinho pra substituir, mas ela me deu uma
dieta que não tinha pão, era três bolacha água e sal. ‘Pudia’ substituir
“Acostumada a ‘comê’ tudo, como a gente comia antes e ter que comer
vida dos pacientes, sendo fixado desde a infância, tanto pela família, como por
tradições, crenças e tabus da comunidade onde vive, o que significa que o ato de
suas orientações.
prescrevem alimentos light, que sabemos terem preços mais elevados que os
demais alimentos.
medicamentos prescritos.
“E no doutor [...] eu fui pra ver se ele ‘dáva’ um remédio mais barato.
Que custava cinqüenta e dois esse, trinta comprimido. Daí eu falei pra
ele ‘ah, tudo as mulher que toma remédio de pressão, aqui na rua, o
remédio é baratinho, deixa eu pedí porque’. Daí ele falô ‘sua pressão
relação à atividade física, muitas pacientes disseram ser uma questão importante
para controle da doença, mas apenas duas associaram essa questão com as
que teve uma abordagem a respeito de exercícios físicos. Isso pode evidenciar
que, ainda hoje, muitos profissionais não enfatizam a atividade física como parte
tratamento do diabetes deve ser realizado através da educação dos sujeitos para
seu estudo, colocando que 82,8% dos pacientes analisados não receberam
início.
orais, e outros ainda, 7,7%, com a insulina (MOTTA, 1996). Outras autoras
fim de que consigam manter uma alimentação saudável. São sugeridos também
exercícios físicos e, por fim, caso seja necessário, o tratamento prevê a utilização
de hipoglicemiantes orais ou insulina (FUNASA, 2002; SOCIEDADE BRASILEIRA
DE DIABETES, 2000).
fatalidade, em que nada pode ser feito a não ser medicar e prescrever a dieta,
de modificar a situação e podem auxiliar na educação dos sujeitos, que por sua
era autoritário, impositivo, passa a ser orientado por uma metodologia de diálogo
OLIVEIRA, 2001).
5.3 Os encontros
nossos temas geradores. Sobre a procura dos temas geradores Paulo Freire
(1988, p.96) nos lembra ser um “esforço que cabe realizar, não apenas na
que defendemos”. Ainda nos sugere que “investigar o tema gerador é investigar o
pensar dos homens referido à realidade, é investigar seu atuar sobre a realidade,
que é sua práxis.” (FREIRE, 1988, p.98). O principal tema sugerido pelos
pacientes foi a alimentação. Todas as pacientes relataram algum tipo ou grau de
técnicas8.
pacientes questões que as levassem a uma reflexão crítica sobre seu processo
diabetes.
diabetes não impede que tenham uma alimentação prazerosa, mas que, mesmo
que, em relação a alimentação, o fato de não poderem mais consumir doces era
doce feito tradicionalmente com açúcar, assim como preparações que fazem
quinze minutos.
com a paciente.
(p.139-147), com o seu significado escrito logo abaixo, por exemplo, feliz,
gravação.
pacientes.
1º Encontro – 01/10/2002
definirmos o dia da semana que seria mais propício para realização das reuniões.
Nesse primeiro encontro, estávamos apreensivos, com a
consentimento de todos para a realização das reuniões uma vez por semana,
técnicas e dinâmicas para grupos (p. 7), porém sua idéia principal foi mantida. O
qual o paciente assinalava uma figura que correspondia a sua opinião sobre o
paciente e outra sobre como ele poderia aplicar o que aprendeu em seu dia-a-dia.
questões (Qual a importância desse encontro para você?; Como você poderá
por estarmos nos encontrando. Desta maneira, julgamos que não haveria uma
outras pessoas. Dessa maneira pudemos observar que o grupo cumpriria três
funções:
- construção de conhecimentos;
- socialização de experiências;
- grupo de lazer.
2º Encontro – 08/10/2002
realizado o próximo encontro, levamos até a casa dos pacientes convites com o
horários fixos para as reuniões. Conjuntamente decidimos que o melhor dia para
diabéticos. Nosso objetivo, naquele momento, foi mostrar que, dentro de uma
situação pode ser equilibrada. Explicamos que quando comemos o açúcar é como
conseguem levar todos aos seus destinos, dissemos que os destinos eram os
pêssego em calda.
3º Encontro – 16/10/2002
pacientes disse que quando era jovem conseguia fazer várias coisas, mas agora
havia mudado muito. Aproveitamos a colocação para enfatizar que era necessário
passamos diversas fases e necessitamos nos adequar a cada uma delas. Dessa
maneira, ser diabético era uma nova fase e era necessário se adequar a ela para
participante uma fatia de panetone diet e um copo de suco artificial diet. Não
4º Encontro – 23/10/2002
diabética. Isso nos mostrou sua preocupação e seu interesse pelo grupo, pois
antes mesmo de ter certeza do diagnóstico, que ainda poderia ser negativo, optou
(Anexo E). Nosso objetivo com essa atividade foi conhecermos um pouco mais as
artificial diet, sabor pêra, uma porção de torradas com patê de ricota com
cenoura.
5º Encontro – 30/10/2002
dinâmica. Dessa maneira, fomos direto para a discussão do tema do dia. Cabe
pesquisa qualitativa.
6º Encontro – 06/11/2002
que precisava saber quais alimentos continham carboidrato, pois tinha dificuldade
de carboidratos.
7º Encontro – 13/11/2002
grupo. Uma das pacientes comentou que a atividade era muito interessante, pois
nas consultas médicas eram informadas apenas sobre alguns alimentos que não
alimentos.
tenham relatado que gostariam de falar sobre o colesterol, optaram por outro
assunto. Mais uma vez vemos que as necessidades dos pacientes podem se
tempo.
8º Encontro – 20/11/2002
sangue que realizavam e se alguém havia percebido uma alteração nos níveis de
tratá-lo.
em receberem uma lista de alimentos proibidos e permitidos. Isso nos mostra que
essa forma tradicional de orientar um paciente é muito forte e mais fácil, tanto
permanente, uma substituição das idéias inculcadas, por idéias próprias. O sujeito
é levado a construir um saber crítico, no entanto, muitas vezes ele teme essa
(FREIRE, 1988).
9º Encontro – 26/11/2002
tema pelo fato dos sujeitos terem levantado interesse em discuti-lo em algumas
reuniões anteriores.
que discutíamos nas reuniões. Cremos que isso se deu pelo interesse em
encontros tem uma conotação de aula, de escola. Não se libertaram dessa idéia
na semana seguinte.
que as atendem não explicam esses valores, não relatam nada sobre os tipos de
diet.
10º Encontro – 04/12/2002
alimentos permitidos foi uma solicitação de uma participante. Com isso notamos
que o método prescritivo está enraizado nos sujeitos, o que acaba tornando uma
uma visão mais crítica a respeito dos alimentos que podem ingerir. Dessa
entrar na nossa lista. Além dos alimentos citados pelas pacientes demos outros
gelado de ameixa.
11º Encontro – 11/12/2002
encontros pacientes relataram que não consumiam feijão por ordem médica.
diabéticas, e que através de um controle adequado podem viver com saúde, sem
complicações.
Após a leitura servimos suco de maçã diet pronto para beber e uma
pequena quantia de leite condensado diet caseiro. Optamos por levar o leite
9
CÔRTES, M. Q. Eu e meu diabetes. In: OLIVEIRA, R. F. Diabetes dia-a-dia. 2. ed. Rio de
Janeiro: Revinter, 2002. p.260-264.
12º Encontro – 18/12/2002
diferente, fizemos uma festa para as pacientes. Levamos patê de ricota com
salsinha, torradas, panetone diet e bolo de abacaxi com maçã diet, além do
conscientização e começaram a ter uma visão mais crítica sobre sua doença e
sobre os alimentos que são mais apropriados para manter os níveis glicêmicos
Muitas vezes, sentimos a deficiência causada por uma formação tradicional, que
encontrar.
Primeiramente, conversamos sobre como passaram as festividades.
1996).
e quis saber a opinião das colegas e o que faziam para não consumir o doce.
sido trabalhados pelos próprios sujeitos e quais temas eram interessantes para os
mesmos.
produto contém ou não ingredientes que não possam ser ingeridos, como por
exemplo o açúcar.
também itens que mostram que o grupo estava cumprindo um papel de apoio na
vida das pacientes. Esse grupo diz ter aprendido a superar dificuldades,
percebendo que estão inseridas em uma sociedade e podem levar uma vida
assuntos que não haviam sido abordados até aquele momento, como o ácido
leite e chocolate. Essa preparação foi escolhida especialmente porque uma das
pacientes sempre nos pedia uma receita de sorvete, pois dizia gostar muito e por
uma delas iniciou relatando que sua pressão arterial estava “descontrolada” e
que achava que estava muito nervosa. Continuando a conversa, outras relataram
que também estavam muito nervosas e por esse motivo não conseguiam
acalmarem, pois duas pacientes relataram que sua glicemia estava elevada
início as entrevistas.
participantes.
anteriormente sobre as atividades que podem ser desenvolvidas para que elas se
um encontro com conversas, sentimos que foi útil para as pacientes, pois muitas
de fácil preparo, além de propiciar que tivessem contato com um produto vendido
oferecido no PSF.
diabetes é uma doença incurável, porém que pode ser controlada através de uma
chega a escrever o exemplo de um cardápio para ser seguido durante todo o dia.
vez mais optamos por levar uma sobremesa que encontramos em supermercados
e que, talvez, podia não ter sido ainda experimentada. Levamos a receita de outra
que deve ser evitado, conseguem também associar alimentos do mesmo grupo
para substituí-los.
solicitado na primeira reunião do ano. Discutimos quais eram as taxas que elas
normalidade.
cidade e que aprendeu muitas coisas. Dentre o que aprendeu citou a importância
das fibras. Depois comentou que naquele momento estava fazendo a dieta
para uma conversa. Mas o paciente também está habituado e mostra um maior
passiva, não podemos nos esquecer que têm o profissional médico como o
maionese.
bastante quando falamos sobre o ácido úrico, que, embora não esteja relacionado
atendimento que recebe de seu médico, alegando que ele não é muito atencioso,
carnaval.
Assim sendo, o tema do dia foi a atividade física e seus benefícios para a saúde.
ainda não se exercitam, de que a atividade física faz parte do tratamento para o
podiam comer. Uma delas relatou que poderiam comer as frutas desde que não
fim de orientá-la caso não fosse capaz de reconhecer alguma das figuras.
frutas.
alimentos que contém açúcar, assim como os que são ricos em gorduras.
diabetes, até que uma paciente comentou sobre sua irmã que controla os níveis
glicêmicos, tomando refrigerante diet e româ. Após ela dar esse exemplo, outra
paciente comentou sobre uma erva que pode controlar a glicemia. Percebemos
que esse assunto despertou interesse nas pacientes. Dessa forma, deixamos que
pacientes em conseguirem controlar sua glicemia e desta forma terem uma vida
No grupo 1 uma das participantes coloca uma frase que mostra que
ainda não consegue aceitar a doença, pois refere o desejo de esquecer que é
diabética.
restrição ao açúcar.
otimista por parte da maioria do grupo. Nela, disseram que embora a doença não
tenha cura, serem diabéticas não significa serem diferentes, doentes, mas sim
serem pessoas normais e, que podem realizar todas as tarefas que desejam.
“Ser uma pessoa normal, desde que mude o hábito alimentar e observar
os cuidados com a doença pode ser feliz e viver bem como qualquer
papaia.
5.3 As avaliações após cada encontro
que ficaram das discussões. Dessa maneira, forneciam-se dados sobre como se
escritas.
participavam do grupo.
aqui.” (Marta)
“’Tá’ muito bom. Gostei muito do encontro hoje. Aprendemos o que nós
(Ruth)
que podem realizar, tornando sua dieta mais variada e, ao mesmo tempo,
esse.” (Madalena)
“Do que nós vimos hoje, por exemplo, vendo os alimentos que tem
“O que nós ‘aprendêmo’ hoje, que a senhora ‘falô’ foi o que deve ‘comê’
almoço.” (Judith)
“Que nem esse negócio de ‘comê’ demais. Isso a gente pode maneirar.”
(Débora)
“Muda bastante coisa, porque você sabe, você tendo noção do que o
prato.” (Isabel)
(Dalila)
“Do que a gente pode da alimentação nossa. O que faz bem, o que num
faz.” (Ana)
“Aqui a gente já está aprendendo que tem mais coisa que a gente pode
“Aprendi e já vou ‘passá’ pro meu marido, que ele que tem problema de
o meu prato fica cheio, não passo fome e não deixei de comer nem o
“Ah, dá pra leva pro dia-a-dia e pros parente, pros conhecido que num
dia.” (Isabel)
“Leva pro dia-a-dia, dá até pra ‘fazê’ pra família, pelo menos vai
glicemia.
(Madalena)
“Eu gostei que ‘falô’ hoje do ácido úrico, que eu não sabia quase nada.”
(Madalena)
“Sim, deu pra gente recordar sobre o diabetes, sobre a doença. Então,
alguns pontos também que nós tínhamos dúvida, foi esclarecido, foi
“Eu ‘tô’ saindo contente como sempre. Porque cada dia a gente aprende
mais e se conscientiza mais do que a gente deve fazer para ter mais
saúde. Então como todos os dias, hoje a gente lembrou mais das coisas.
(Judith)
(Isabel)
“Hoje ‘tô’ contente. Sobre o colesterol, coisa que pra mim também era
“Também ‘falô’ sobre mais coisas, até sobre a pressão, sobre a anemia.
Isso é importante, porque as vezes a gente fica sem sabe como ‘agí’.
Então, já era pra mim ter perguntado sobre a anemia, mas semana
“Ah, você ‘explicô’ o jeito que é a pressão. ‘Sabê’ de onde que veio
tudo.” (Dalila)
“Ah, ‘tá’ muito bom. A gente vai aprendendo cada dia melhor sobre
“Você explica pra gente ‘fazê’ exercício, ginástica, é uma coisa melhor
“Eu num tenho colesterol, mas é bom a gente sabe, porque se um dia
(Esther)
(Sara)
muitas vezes não conseguem manter seus níveis glicêmicos adequados, o que
encontrem o que Valla chama “apoio social”, definido pelo autor como sendo:
não se sentiram mais como sendo as únicas que apresentavam diabetes, mas
dúvidas.
(Madalena)
“É, porque eu num converso com ninguém. Então ‘qué’ ‘dizê’ pra mim
“Foi bom, Keite, porque a gente conheceu mais amigo. A gente vai
“’Tô’ saindo mais aliviada. Dei um pouco de risada ‘cas’ menina aí,
bem, mesmo tendo diabete, pode comer bem. Que bom.” (Marta)
“Cada uma desabafou o que sentia, cada uma deu a sugestão do que
“Eu ‘tô’ gostando. Eu achei interessante essas ‘coisa’. E acho que vou
“A gente aprende com outro, as vezes um fala uma coisa, outro fala
outra.” (Ana)
“Bom, bom. É isso que ‘tô’ falando, hoje foi uma palestra, todo mundo
‘falô’ um pouco. Quer ‘dizê’ que foi uma experiência a mais.” (Ana)
Então a gente tendo esse encontro, então a gente vai vê que num é só
bastante sobre a vida. Sobre o que a gente pode leva, assim, no dia-a-
dia. Então a gente aprende muita coisa assim, assim, a gente encontra
(Judith)
participantes.
Isso só corrobora o apoio social do grupo, pois Valla (2003; 2001; 1999) coloca
que o apoio social é recíproco, atingindo de maneira positiva tanto quem oferece
reuniões, cabe ressaltar que essa falta de abertura por parte dos profissionais,
serviços.
“Não, dá pra levar muita coisa, porque a gente conhecendo, toda vez
que o médico dá exames pra gente, como a gente não sabe muito.”
(Marta)
“Nunca tive, assim, pra ‘orientá’. Então a gente num sabia.” (Judith)
“E o médico lá ‘falô’ assim pra ela que tem três tipo de diabete. Uma
deixa cego e o outro que cai, a terceira é essa que dá sintoma ruim
que num tem perigo, muito perigo, porque a gente ‘tá’ controlando ela
na boca.” (Dalila)
“Oh, ‘tá’ mais explicadinho. Porque os médico num explica não. Eles
‘fála’ ‘num pode isso, num pode aquilo’, mas você num sabe porque.
como professores.
aulas ou palestras.
“A gente vai, além da gente ‘tá’ assistindo a aula a gente ‘tá’ aprendendo
“’Tá’ jóia. ‘Tão’ fazendo a lição, colando. ‘Tá’ bom demais.” (Sara)
“É isso que eu ‘tô’ falando, hoje foi uma palestra, todo mundo ‘falô’ um
pouco.” (Ana)
(Ruth)
torná-las aptas a controlar seus níveis glicêmicos e a levar uma vida saudável.
‘levantá’, porque eu ‘táva’ caída. Você lembra quando eu vim? Agora que
num ponto eu ‘tô’ triste, porque ‘tá’ terminando, porque a gente vai ‘pará’
diabete, no que a gente acha que a gente pode ‘vivê’ com ele. Pode
‘vivê’ uma vida normal, sem muito, muito assim, tristeza, pensa muito,
alimentação e num ‘pensá’ que a gente ‘tá’ excluído. Tem que ‘pensá’
“ ’Tô’ saindo contente. Foi ótimo esses encontro que nós ‘tivémo’ todas
as quarta-feira.” (Judith)
“Achei bom. Deu pra gente ‘expressá’ o que tinha sobre o diabete. O que
“Nem tanto só para o diabete, até pra gente, pra quem não tem nada é
“Vou ‘procurá comê’ maçã. Porque eu como com a casca mesmo. Mas é
que eu não sabia que tinha esse efeito. Comia pra ‘alimentá’, mas eu
“E a carne, que a carne tem gordura. Que num pode ‘comê’ muito.”
(Dalila)
“Que pena que vai ‘pará’. Mais vai ‘voltá’, né? Você vai ‘voltá’, uma hora
“É, porque a gente já praticava. Então, mas praticava, assim por ir. Mas
assim você falando que é necessário, que é preciso. Então a gente tem
que você ‘falô’ a gente também sente. E dos remédio, que tem que
alcançado.
respeito das possíveis causas do diabetes. Uma vez mais, obtivemos respostas
(Madalena)
“Ah, eu num sei explicá pra você o que causou mesmo o diabete em
entendimento que cada um dos indivíduos tem dos temas abordados no decorrer
por seis meses, provavelmente para essas pacientes fosse necessário um tempo
processo educativo. Além disso, embora o nutricionista tenha orientado uma dieta
“ Aí ela deu a dieta, que era pra ‘cortá’ isso, ‘cortá’ aquilo. ‘Falô’ o que eu
“É o remédio. Nessa época ele ‘falô’ que o açúcar tinha que ‘tirá’ de tudo.
verdura, assim, cozida sem óleo, sem gordura, com uma pitadinha de
(Dalila)
“Ah, ele deu o Daonil pra mim ‘tomá’. Um por dia, na hora do café. E deu
que num era pra ‘comê’ massa, ‘diminuí’ a massa, o arroz.” (Débora)
“Ele deu a insulina [...] Ele ‘falô’ que era pra mim num ‘comê’ coisas
gordurosa, num era pra mim ‘comê’ fritura. Num era pra mim ‘comê’
janta.” (Sara)
“Ela deu uma dieta. Ela era baseada em alguns alimentos eu tinha que
‘deixá’, algumas frutas tinha que ‘deixá’. Era arroz pouquinho, feijão num
remédio.” (Marta)
“O tratamento ela falo pra mim na alimentação [...] Deu remédio,
orientando dietas, sendo um trabalho para o qual muitas vezes não estão
preparados.
“Mas ele fala assim pra você ‘você num come, você num pode ‘comê’
feijão, você num pode ‘comê’ arroz, arroz é duas colher de arroz e
legume é uma colher, e verdura’. Isso daí eles ‘fála’ pra você. Mas ele
num explica direitinho como você, o pouco tempo que eu freqüentei com
você eu achei ótimo, só que aí você sabe o que você pode come.”
(Esther)
“Ía no médico. O médico num tinha esse, se ‘olha, num pode’, num
“Ah, eles deram o papel com tudo que eu podia ‘comê’, que num podia.”
(Sara)
“Ele mesmo não ‘falô’ nada. Ele só ‘falô’ ‘não come gordura, não come
doce’. Foi só o que ele ‘falô’ pra mim. Num ‘receitô’ nada, num ‘falô’
nada.” (Madalena)
“Que você vai no médico ele num fica explicando coisa.” (Débora)
“Não, ele só ‘falô’ que não podia, mas num explicô. Disse que podia dá
“Porque através dos médico a gente num fica sabendo tudo certinho.
Eles só fala ‘você ‘tá’ com esse problema e você tem que diminui a
2002).
acompanhou desde o início do tratamento e também sobre qual teria sido a maior
dificuldade encontrada por elas, passamos para as questões que nos levariam ao
pacientes.
Pudemos perceber que as pacientes gostaram da experiência dos
encontros em grupo.
“Ah, agora consegui ‘mudá’ muito, muito. Porque nós indo nesse
‘exagerá’.” (Judith)
Agora num faço mais. Comia o frango com a pele, agora num ‘tô’
comendo mais. ‘Tô’ evitando fritura, mas do resto. Parei com o doce.”
(Madalena)
“Foi bom demais. Aprendi muita coisa que eu num sabia. Ah, o modo da
‘comê’ verdura. Agora eu ‘cômo’ verdura, era bem pouca verdura, agora
“Ah, depois que comecei ir lá, eu falei ‘não, deixa eu ‘vê’ se eu ‘manéro’
esse negócio’, porque daí eu fui ficando mais calma, sabe.” (Débora)
Não ‘misturá’ o arroz com feijão, com batata, mandioca. Punha tudo o
“Ah, aprendi que é pra ‘comê’ e o que num é pra ‘comê’. A ‘montá’ o
“Bem, eu tinha uma ansiedade, que eu, eu sou uma pessoa ansiosa, eu
“Depois que eu fui com você lá, que você ‘explicô’, que você vai numa,
‘jantá’ fora, tem que optar por uma comida. Se tem frango, então você
come só o frango. Num vai ‘comê’ o frango, vai ‘comê’ carne, vai ‘comê’
arroz, vai ‘comê’ feijão, macarrão, tudo junto, maionese, tudo. Então
come, e opta por uma comida, um pouquinho de arroz, um pedaço de
“Porque lá você viu, uma conversa com a outra, uma explica pra outra.
“Porque uma troca idéia. Uma troca idéia com a outra.” (Dalila)
“Eu gostei. Eu fiz amizade. A gente fez amizade lá, conheceu bastante
gente. Bateu bastante papo. Uma fala uma coisa, outro fala outra”.
(Ana).
“Principalmente eu, que não sou daqui de Araras, quanta gente fiquei
“[...]e também vendo a opinião de outras pessoas. Vendo que nós não
(Marta)
pessoa que tem, que num tem’, mas a gente nunca ‘entrô’ em contato
a gente até anima mais. Fala ‘num é só a gente’. Divide o problema junto
“Foi uma coisa boa. Uma forma que nós ‘encontrâmo’ também pra
alimentação.” (Ruth)
recíproca, onde tanto quem recebe, como quem oferece ajuda, se beneficia
“Eu acho que foi bom. Aprendi. Peguei mais amizade com as pessoa,
“Foi assim uma ajuda mútua. A experiência de outras pessoas serviu pra
“Uma conta da sua vida, conta da sua doença. Eu achei que foi bom.”
(Ana)
serviço público. Uma porque os remédios que necessita não são oferecidos pela
rede pública e a outra porque não é diabética10, e desta forma não faz uso
constante de medicamentos.
“Porque os remédio que eu tomo num tem nenhum. Já fui, diz que num
(Débora)
“Ah, ali ‘tá’ ótimo o posto. O médico dali, os médico são ótimo,
que num tem, num é sempre que tem o remédio pro diabete. Pra
‘pegá’ o remédio, porque é dificilmente pode ter aqui, viu bem. Mas
do, sobre os médico, nossa, ‘tá’ ótimo esse posto aí. Médicos,
não. As vezes manda pouco, termina logo, porque tem muito diabete
ali.” (Judith)
10
A participante não era diabética, mas foi mantida no programa por sua insistência em
permanecer nas reuniões, demonstrando abertura a novos conhecimentos.
“Ah, o meu do jeito que ‘tá’, eu acho que ‘tá’ tudo bom. Que o meu
num ‘tá’ alto assim de eu precisa insulina, que fala, né? Ainda não, só
com esses remédio que eu ‘tô’ tomando ‘tá’ sendo bom. E as vezes
porque num tem posto, as vezes a gente num tem dinheiro também
“Tem certos remédio que no centro médico num tem. Se você tem
condições de ‘comprá’ tem, se você num tem, fica sem, filha. Eles
‘precisa mandá’ mais remédio que a gente use. Que a insulina num
falta, que eu tomo duas vezes por dia, mas eu tomo aqui em casa,
minha filha faz. A insulina eles dão. Mas esse outro remédio que eu
“Ah, eu acho que ‘tá’ bom, porque, porque sempre, pelo o remédio do
fator faz com que a maioria das pacientes considere o serviço ótimo. Apenas uma
paciente relatou que o serviço poderia contar com outros profissionais da área de
processo curativo em si, o que torna o programa um novo alicerce para a atenção
primária à saúde. Essa prevenção deveria ser realizada por uma equipe
não exclusivamente o médico, como vinha ocorrendo até então (ASSIS, et al.,
2002).
inserção do nutricionista nas equipes do PSF, afim de, garantir aos sujeitos um
atendimento de fato diferenciado, de acordo com o modelo proposto para o
DIABÉTICO
7 A construção de conhecimentos do paciente diabético
indivíduos, afetando não apenas suas condições de saúde físicas, mas também
entre si.
idéia de que:
doença, indo desde a aceitação do diabetes até uma grande revolta em relação a
ser diabético.
um certo grau de revolta por estarem doentes. Muitos não se conformaram com
padrões, dos hábitos nos quais vivemos, talvez irrefletida ao longo dos anos. Ela
pode nos fazer “questionar determinados valores, prioridades e maneiras [...]. Ela
“Eu nunca pensei que fosse ter diabete, eu via diabetes nas outras
bem.” (Marta)
“Eu tinha vontade de ‘comê’ tudo que vinha na minha frente, pra ‘vê’ se
eu morria mais depressa. Daí o médico ‘pois’ na minha cabeça que num
era assim. Ele ‘falô’ pra mim ‘a senhora precisa ‘vivê’, precisa ‘tratá’. Eu
já num pensava assim. Eu procurei de ‘tratá’ depois que o meu pai veio
simples, mas tem que ‘tomá’ muito cuidado, porque ela prejudica.”
(Esther)
“Da doença num tenho que ‘sabê’, você tem que ‘sabê’ como você tem
que se ‘alimentá’, pra você ‘tratá’ dela, porque essas coisa de massa,
essa coisa que num ‘podê comê’ coisa de açúcar, num ‘podê comê’ pão.
A doença num tem aquela dúvida de você ‘sabê’ como que vai ‘tratá’
dela. Você tem que ‘tomá’ um, se quer remédio, é remédio, se você
‘tomá’ insulina, é insulina. E a comida você tem que ‘sabê’ o que você
“Eu acho que isso daí é uma coisa que, uma coisa da vida. Que se tem
que ser pra gente, a gente tem que ‘aceitá’ e tem mais que conseguir
que o diabetes provocou em sua vida. Dessa maneira, mesmo com o passar do
“’Mudô’, porque eu fiquei, como que eu posso ‘dizê’, ah, que nem um,
traumatizada, num sei, sabe. Achava que eu num merecia ter essa
(Madalena)
Saúde e doença co-existem em nossa sociedade e não podemos
estar dos indivíduos. Cabe ao Estado garantir que toda a população tenha
acesso aos recursos que possibilitem esse bem estar. Faz-se necessário o
(CONTANDRIOPOULOS, 1998).
pacientes ele não se deu de uma forma natural, principalmente quanto à dieta.
injeções.
“O que foi mais difícil pra mim foi quando ela ‘começô’ passar insulina.
“Do remédio, então, tudo bem., tomava, tudo. Mas quando ela ‘falô’ que
eu tinha que tomar insulina, pra mim foi muito difícil. Nossa, eu achava o
fim do mundo. Você todo dia tinha que ‘furá’ a gente, todo dia, todo dia,
todo dia. Mas é normal, agora a gente já ‘acostumô’, faz tanto tempo.
Mas quando ela ‘falô’ assim, que eu tava no consultório dela, que ela me
“Ah, na hora que tinha que toma insulina. Eu ficava pensando ‘ái, tomá
focado na alimentação adequada, que foi tema recorrente nas dúvidas das
pacientes.
e, por fim, somente quando esses itens não conseguem manter os níveis
alimentação foi o assunto que mais gerou dúvidas. Isso se deu talvez por nosso
restritivas, o que dificulta ainda mais a aceitação do tratamento dietético por parte
dos pacientes.
contribuindo para que as pacientes não consigam realizar uma parte fundamental
porque eu acho que vai fazer mal. Então eu ‘tô’ me sentindo, ‘tô’
lento, que muitas vezes passa por retrocessos. Porém, através do diálogo entre
indivíduos.
pacientes tiveram uma restrição em sua qualidade de vida, pois com a doença
deixaram de realizar tarefas que eram prazerosas e que faziam parte de suas
rotinas.
eu ia. É, isso, eu,saí assim, eu num pensava. Agora a gente sabe que a
“Comia de tudo. Comia feijão, comia batata, comia o que vinha na frente.
Depois que eu peguei meu pai pra ‘cuidá’, que eu comecei a ‘ponhá’ na
cabeça que eu tinha que ‘vivê’ pra ele. E hoje eu tenho que ‘vivê pros’
mais ainda, as atividade que lhe são prazerosas, caracteriza mais uma
doença.
Alimentação; a Vida.
faz com que esse se veja como integrante do processo educativo. O profissional
para a libertação.
BELIK, W.; DEL GROSSI, M. O programa fome zero no contexto das políticas
sociais no Brasil. 2003. Disponível em: <http://www.fomezero.gov.br>. Acesso
em: 05 abr. 2004.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 18. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1988.
184 p.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
22. ed. São Paulo: Paz e terra, 2002. p. 52-101.
MELO, J. A. C. Educação sanitária: uma visão crítica. São Paulo: Cortez, 1987.
p. 28-43. (Cadernos da Cedes nº 4).
PINTO, A. V. Sete lições sobre educação de adultos. 12. ed. São Paulo:
Cortez, 2001. 118 p.
REMEN, R. N. O paciente como ser humano. São Paulo: Summus, 1993. p. 40-
110.
Eu, _______________________________________________, de
______ anos, cliente do Projeto Médico de Família Maria Boquetti Menegheti,
Parque Industrial, Vila Dona Rosa e Jardim Marabá, moradora à Rua
_______________________________________________, bairro
_____________________, município de Araras, aceito participar do “Chá das
Duas”, comprometendo-me a comparecer às reuniões semanais, nos dias e
horários previamente combinados pelo grupo. Estou ciente de que esse trabalho
de educação em nutrição é oferecido gratuitamente e faz parte do projeto de
pesquisa da nutricionista Keite Azevedo Lima, que se compromete a manter sigilo
sobre as informações coletadas, que só serão divulgadas sem o nome da pessoa
que as ofereceu.
Araras, _____/_____/______
________________________ ____________________
participante pesquisadora
Anexo C: Formulário para Entrevista com a Equipe
2-) Entrevista
1.1-) Identificação
1.2-) Escolaridade
( ) Nenhuma
( ) Primeiro grau
( ) Segundo grau
( ) Terceiro grau
5-) Atividades
6.1-) O senhor (a) fuma? ( ) sim ( ) não, mas já fumou ( ) nunca fumou
Em caso de sim: quantidade e freqüência: _______________________________
7.3-) Qual era seu peso habitual antes do diabetes se manifestar? ____________
7.4-) Qual era seu peso na época em que o diabetes foi diagnosticado? _______
Questões
1.1-) Identificação
2-) Atividades
Questões