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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA - CAMPUS LARANJEIRAS

DISCENTE: BRUNO LIPTON MONTEZANO DE ALMEIDA SOARES

PERIODO: 2016.1

A FORMAÇÃO DAS FASES ARQUEOLÓGICAS E A INFLUÊNCIA DA


EXOGAMIA NESTE PROCESSO.

LARANJEIRAS
2016
A FORMAÇÃO DAS FASES ARQUEOLÓGICAS E A INFLUÊNCIA DA
EXOGAMIA NESTE PROCESSO.

Trabalho do Curso de Graduação


em Arqueologia, na Universidade
Federal de Sergipe, na cadeira de
Metodologia Científica Aplicada à
Arqueologia.

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INTRODUÇÃO

É notável a quantidade de fases arqueológicas, mudanças estilísticas de curta duração, na


Amazônia Central. Tal profusão frenética e enlouquecedora é um verdadeiro martírio para a
classificação cerâmica. Mas o que teria causado esta diversidade ainda é um ponto em debate.
A região compreendida do médio Madeira ao médio Amazonas, foi palco de um
adensamento populacional notável, durante os séculos IX e X D.C.. Existiam ali grandes
grupos com milhares de indivíduos, cada um deles com seu líder, responsável pelas decisões
internas e articulação política. Com isso, vieram as guerras, o comércio e as alianças políticas,
por meio de subterfúgios como a exogamia.
Teriam sido estes três fatores os responsáveis pelas mudanças anteriormente citadas?
Pretendo com este trabalho com este trabalho analisar como as fases arqueológicas da
Amazônia Central pré-colombiana foram impactadas pelas guerras, comércio e a exogamia.
A hipótese é que a exogamia é o principal fator para que estas mudanças ocorram. Eram as
mulheres as responsáveis pela produção cerâmica. Elas aprendiam enquanto novas as técnicas
de suas mães, que por sua vez seguiam a técnica do resto do grupo de ceramistas locais.
Quando acontece a exogamia, a mulher, portadora do know-how, leva para seu novo lar as
técnicas as técnicas que ela sempre usou, causando assim uma mudança estilística. Mangeló
(2011) ilustra esta relação:
Destaca-se também a presença de alguns fragmentos híbridos, que
apresentam características tanto da fase Paredão como da fase Manacapurú.
Apesar de quantitativamente representar pouco no conjunto total da coleção
analisada, a presença desse material híbrido é de extrema importância para o
entendimento dos contextos de intercâmbio de tecnologias e de bens. A
inferência inicial, sabendo que a atividade da produção cerâmica era
predominantemente da população feminina das comunidades, é da existência
de casamentos exogâmicos.

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REVISÃO DE LITERATURA

A Amazônia Central foi alvo de muitas missões de pesquisa durante a história, principalmente
interessadas no material cerâmico da região de confluência do rio Negro com o rio Solimões
(Imagem 1).

Imagem 1: Recorte da região de confluência do rio Negro com o rio Solimões, com a presença dos muitos sítios
identificados na região.

A primeira cronologia, atualmente bem consolidada, foi feita pelo arqueólogo Peter Paul
Hilbert, que tentava dar embasamento aos argumentos de Betty Meggers e Clifford Evans
“Sobre uma possível rota de entrada dos povos produtores da cerâmica da tradição Polícroma
da Amazônia desde os Andes através do rio Solimões.” (MORAES e NEVES, 2012). Anos
depois, seus trabalhos foram revisados por “Lathrap (1970), Brochado (1986), Lathrap e
Oliver (1987).” (MORAES e NEVES, 2012). Hilbert formulou vários modelos para as fases
arqueológicas que são utilizadas ainda hoje para a classificação cerâmica. As revisões feitas
em seus trabalhos, colaboraram para a formação do Modelo Cardíaco, que vai contra a teoria
de Meggers e Evans de uma diáspora andina para justificar a complexidade do meterial da

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região, propondo então que, a região era uma área de ocupação humana desde o Holoceno
(MORAES e NEVES, 2012).
Uma segunda ação intensa de pesquisas na região aconteceu com o desenvolvimento do PAC,
Projeto Amazônia Central, que tentou testar as hipóteses formuladas por Lathrap para a
ocupação do médio Solimões e baixo Madeira. Foi desta ação que surgiu a discussão sobre a
existência de grandes chefaturas naquela região. (NEVES e PETERSEN, 2006)
Atualmente as pesquisas na região são, majoritariamente, executadas pelo ARQUEOTROP,
Laboratório de Arqueologia dos Trópicos, coordenado por Eduardo Goés Neves.
Estudos sobre as inteirações entre os grupos da Amazônia Central foram também realizadas
por Lima (2008) e por Mangeló (2011). Muito ainda precisa ser estudado e debatido nesta
área.

OBJETIVO

O objetivo principal deste trabalho é analisar como as fases arqueológicas da Amazônia


Central pré-colombiana foram impactadas pelas guerras, comércio e pela exogamia, usando
como lente as novas visões sobre a ocupação do território do médio/baixo Madeira e médio
Amazonas.
Os objetivos específicos deste trabalho são: analisar até que ponto cada um destes fatores
impacta nestas mudanças; constatar, por meio da análise de coleções, se o comércio de
produtos exóticos motivaria a produção cerâmica voltada para este fim, o que causaria
impacto no modus operandi; observar se em sítios com estruturas defensivas é mais frequente,
o que indicaria ou não que a dominação de um grupo sobre o outro, por meio da guerra, seria
capaz de uma fagoculturação; averiguar, por meio da análise de peças diagnosticas de sítios
multicomposicionais, se a exogamia seria impactante o suficiente para mudar a produção
cerâmica de determinado local.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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