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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO TECNOLÓGICO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

ARQ 5621 – HISTÓRIA DA ARTE, ARQUITETURA E URBANISMO


PROFº PEDRO ERNESTO BUHLER

ESCOLA DE CHICAGO

Carlos Henrique de Carvalho Silva Corrêa

Florianópolis/SC
Maio/2013
Os caminhos da nova arquitetura

No ano de 1804, no encontro do rio Chicago e do lago Michigan, foi fundado pelo
exército americano o Forte Dearborn (fig. 1), em seu entorno começaram a se assentar
moradores, até quem em 1833 é fundada a vila de Chicago, povoada por 200 habitantes. Após
a expulsão dos povos nativos da região, a vila passou a crescer rapidamente, sendo elevada no
ano de 1837 ao posto de cidade, na qual residiam 4 mil habitantes. O investimento do estado
americano no setor de transportes fomentou a ocupação da região, através da construção do
canal que interligava o lago Michigan aos rios Mississipi e Missouri, além da nova malha
ferroviária americana, cujo projeto tornou Chicago o centro ferroviário mais movimentado do
mundo (fig. 2).

As necessidades de moradia do rápido adensamento populacional foram supridas


através das construções em madeira, que eram realizadas com base no projeto prático e
econômico de George Washington Snow, com base no antigo estilo enxaimel de construção
alemã, chamado “balloon framing” (fig. 3). Snow, que além de empresário e comerciante de
madeiras ocupou cargos na administração da cidade de Chicago, criou um sistema estrutural no
qual não existia hierarquia de elementos, visto que ele era composto por ripas de madeira de
dimensões uniformes, dispostas sob distâncias modulares e unidas por rebites de aço. Esta
estrutura se popularizou pois atendia as necessidades estruturais e possuía baixo custo, já que
a única dimensão de peças permitiu sua fabricação industrial, aliada ao baixo custo dos
elementos de ligação (rebites).

Em 8 de outubro de 1871, iniciou na cidade de Chicago um grande incêndio, que em


dois dias conseguiu destruir quase completamente a cidade (fig. 4), deixando grande parte da
população, que totalizava cerca de 300 mil pessoas, sem habitação. Por conta disso, era
necessário que a cidade fosse reconstruída com base em uma arquitetura inovadora, que não
fosse tão suscetível à destruição por incêndios e que pudesse ser erguida rapidamente.

O território da cidade tem seu centro delimitado pelo leito do rio Chicago e pela
margem do lago Michigan, tal restrição de espaço (fig. 5), aliada à importância econômica da
cidade e à especulação imobiliária, fez com que as novas construções fossem verticalizadas, de
modo a ocupar o mínimo possível do solo possuindo a maior área construída possível.

A desejada verticalização das edificações tornou-se algo possível devido à utilização de


elevadores, que eram conhecidos desde antes da era cristã, mas nunca amplamente utilizados
pois somente no ano de 1853 foi agregado a ele um sistema eficaz de segurança, projetado por
Elisha Gravis Ortis (fig. elevador). Após 1880, o dispositivo foi aprimorado por Werner von
Siemens, que introduziu no mercado o elevador elétrico, ainda mais seguro e eficiente. Além
disso, equipamentos como telefone e correio pneumático.
As influências e as soluções do novo estilo

O “balloon frame” utilizado até então, foi substituído por Le Baron pelo “steel frame”,
ou “gaiola equilibrada” (fig. 8), ou seja, a construção através de peças indiferenciadas de aço,
que poderiam estruturar edificações de qualquer porte. A utilização de estruturas de aço foi
favorecida pela localização da cidade, próxima a muitas indústrias de ferro.

A fundação dos novos edifícios não mais foi feita de pedra, e sim de concreto,
material que ainda não era amplamente utilizado (Chicago Caisson).

Para diminuir o peso das edificações, o tijolo maciço foi substituído por lajotas
cerâmicas nas abobadilhas, o que reduzia o peso dessas estruturas pela metade.
Características

- Volumetria cúbica presente nos edifícios, que eram compostos de fachadas compostas por
superfícies planas ortogonais.

- Idéia de fachada como resultado da ossatura da construção, deixando evidente a estrutura


ortogonal em ferro

- Uso de novos materiais e tecnologias

- Paredes cortina, grandes áreas envidraçadas

- Janela Chicago (3 folhas, sendo a do meio fixa e a das pontas subdivididas e móveis)

- Bow e Bay Window: janelas que se projetam para fora do edifício

- Subdivisão clássica das edificações em três. Pavimento de base, geralmente com uso
comercial, com decorações “finas” que pudessem ser observadas pelos usuários do exterior da
edificação. Sobre ela os pavimentos em repetição, nos quais ocorria a rarefação da
ornamentação. Como “coroamento”, havia o ático, último andar da edificação com ornamentos
grossos, a ponto de serem vistos exteriormente de sua base.
A Escola

Ao coletivo dos protagonistas desse novo movimento estético e estrutural deu-se o nome de
“Escola de Chicago”, apesar de os próprios participantes não terem um caráter homogêneo.

Leonardo Benevolo, em seu livro intitulado História da Arquitetura Moderna, subdivide a escola
em duas partes, a primeira geração, que passa agir logo após o incêndio e é integrada por
engenheiros formados nas características militares durante a Guerra da Secessão, tal como
Boyington, Van Osdel e Le Baron Jenney. Além de uma segunda geração, a de projetistas que
começaram atuar algum tempo depois e que passaram pelo estúdio de Jenney, como Daniel
Burnham, John Root, Willian Holabird, Martin Roche e Louis Sullivan. Este último se associa com
Dankmar Adler, e desta parceria saem grandes edifícios característicos desta escola. (fotos dos
engenheiros)

PRIMEIRA GERAÇÃO

- Jenney

Jenney pode ser considerado o precursor do movimento por atribuir-se a ele a invenção do
steel frame, sistema fundamental para as construções de grande altura. Tal princípio foi
aplicado pela primeira ver no Leiter Building (1879) (foto), apesar de, nesse caso, ainda ser
mantida fortemente a alvenaria na parte externa do edifício.

Home Insurance Building (1885) primeiro edifício com estrutura completamente de metal em
Chicago.

Apesar do HIB ser tido como o primeiro edifício da escola de Chicago, o conceito de tal escola
se torna mais preciso somente nos edifícios seguintes de Le Baron, o Fair Building e o Leiter
Building II (prédio Sears) (1889), com a redução da utilização da alvenaria, convervando nos
pilares os capitéis clássicos.

O Manhattan Building (1890) foi o primeiro arranha-céu, erguendo em si 16 andares. Nele


aparece pela primeira vez a Bay Window e a Bow Window, que também se relaciona com a
altura do prédio, disposto em uma rua estreita, ganhou altura e janelas avançadas para poder
aproveitar a exposição solar.

SEGUNDA GERAÇÃO

Os contemporâneos de Jenney atuam com mais manifestação artística, e em maior contraponto


com o estilo neoclássico que era levado até então, mas não eram tão coerentes com relação
aos requisitos estruturais.

- Holabird e Roche

Em conjunto, constroem o Tacoma Building (1889), em estrutura mista com algumas paredes
de sustentação além da estrutura metálica. 12 andares. Aqui ocorre a rarefação dos elementos
decorativos relacionada à altura do edifício, contendo no alto um ático. Utilização de Bay
Window.

- Burnham e Root
Projeto do Monadnock Building (1891), edifício de 16 andares, com paredes externas de
sustentação em tijolos maciços sem qualquer ornamento, expondo pela primeira vez a chamada
“forma mural”, evidenciando o volume do edifício e as janelas bay window.

Great Northern Hotel (1892), onde adaptaram as características dos edifícios comerciais a um
hotel, que também assumiu a forma mural, além de bow e bay Windows.

Capitol Building, conhecido como “Templo Maçônico” atinge 22 andares, 90 metros, mais alto
edifício da velha Chicago, aqui a dupla perde a forma mural a arquitetura sem influências
históricas, já que usam de arcos na base, além de um telhado muito inclinado, de influências
românticas.

Reliance Building, último edifício da primeira geração. Exemplifica a verticalidade das


construções da Escola de Chicago. Foi construído pela dupla até o seu quinto pavimento em
1980, e teve outros 10 andares erguidos por Burnham e Shankland, após a morte de Root.
Assim é perceptível a multiplicação e a repetição constante nos edifícios do movimento. Um dos
primeiros edifícios onde a leveza da nova estrutura é passada para a fachada, bem recebido por
críticos.

Até então, ainda eram usados ornamentos nas fachadas, e ainda eram influenciados pelo
passado histórico da arquitetura, indo contra o movimento que pretendia dar destaque a
própria estrutura, e mostrar em seus projetos uma cultura moderna. Root notou tal contradição
em 1890, e obre ela escreveu:

“Era mais do que inútil espalhar profusamente neles uma abundância de ornamentos delicados,
eles deviam, antes, como sua massa e suas proporções, inspirar, num vasto sentimento
elementar, a ideia das forças conservadoras, grandes e estáveis da cultura moderna. Um
resultado dos métodos que indiquei será a decomposição de nossos projetos arquitetônicos em
seus elementos essenciais. A estrutura íntima desses edifícios se tornou tão vital que ela é que
deve impor de modo absoluto o caráter geral das formas externas.”

- Louis Sullivan

Sullivan não possuiu uma linha de características físicas na construção de edificações, e sim
uma linha teórica, visto que suas construções eram todas baseadas em longas pesquisas, que
muitas vezes não conseguiu exteriorizar visualmente.

Rotschild Building: edifício com ornamentação grossa e sem estilo característico, primeiro da
associação entre Sullivan e Adler

Marshall Field Warehouse: edifício de Richardson que influenciou claramente as construções de


Sullivan

Auditorium Building: edifício no qual a função não é demonstrada na fachada. Era um prédio
comercial, onde havia um hotel e várias salas de auditório. Considerado um passo para trás se
comparado aos outros edifícios, visto que nele a fachada é carregada de alvenaria.

Walker Building: influências claras de Richardson.

Wainright Building: tido como o antecessor dos arranha-céus de hoje. Localiza-se em Saint
Louis. Contraposição da subdivisão clássica em 3 através das linhas horizontais e verticais.

Carson, Pirie & Scott: último dos grandes edifícios de Sullivan, que mudou sua estratégia d
evidenciar claramente a subdivisão clássica da edificação, e preferiu enfatizá-la através da
repetição dos andares de pavimentos. Era para existir um ático recuado que não aparecesse na
fachada, mas a construção do mesmo foi abolida.
O fim

A Escola de Chicago recebe um golpe mortal com a Exposição Colombiana de 1893,


evento que comemorava o quarto centenário da descoberta da América, ocorrida nesta cidade.
Este episódio é conhecido como a Traição de Burnham.Daniel Burnham, que já havia assinado
importantes edifícios, principalmente associado a John Root, encarregado de projetar a
exposição deu a esta traços neoclássicos, abandonando a tendência construtivista em pleno
florescimento nos dez anos anteriores. Foi um retrocesso a volta ao conceito neoclássico de
cidade, horizontal e formalista, quase com um expiação ao pecado bíblico de aspirar aos céus.
Somente décadas mais tarde a experiência de Chicago seria avaliada com justiça

Referências
- BENEVOLO, Leonardo; História da arquitetura moderna; São Paulo: Editora Perspectiva, 1998

- http://www.fau.usp.br/cursos/graduacao/arq_urbanismo/disciplinas/auh0154/Professor_
faggin/Seminario_08.pdf

- http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Glasgow

- http://artenova.no.sapo.pt/modernismo.htm

- http://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/06/16/escola-de-chicago/

- http://www.arquitetonico.ufsc.br/chicago-uma-aula-de-arquitetura

- http://www.discoveramerica.com.br/usa/experiences/i/illinois/chicagos-architecture.aspx

- http://pt.scribd.com/doc/19981953/Arquitetura-do-Seculo-XX-Escola-de-Chicago

- http://pt.scribd.com/doc/90906616/A-Escola-de-Chicago

- http://www.estagiodeartista.pro.br/artedu/histodesign/3_arqui.htm

- http://www.ci.com.br/saiba-mais.chicago-capital-da-arquitetura-e-mae-dos-arranha-ceus

- http://pt.wikipedia.org/wiki/Chicago

- http://www.inquiring-eye.com/anatomy/framing.htm

- http://inventors.about.com/od/estartinventions/a/Elevator.htm

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