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DEPARTAMENTO DE ARTES
CURSO DE PRODUÇÃO CULTURAL
Niterói/RJ
2018
Adonay Ferreira Guerra
Niterói/RJ
2018
“Se tudo mudou, eu abro as velas da embarcação
Na esperança que pela manhã
Avistarei o porto onde te encontrarei,
O porto onde te encontrarei
Lá...”
Thiago Arrais
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Deus por todos os benefícios que me tem feito e
por me dar a oportunidade e o privilégio de estar contribuindo cientificamente para a vida de
outras pessoas, mesmo que de uma forma ainda pequena, mas é um começo.
Gostaria de agradecer também à minha família, meus pais Jorge e Eliete, e meu irmão
Leonardo, que sempre me ajudaram, financeiramente e espiritualmente, além de nunca me
deixarem desistir de continuar firme com meus estudos, mesmo que o ambiente não favoreça
àqueles que querem alçar voos maiores. Agradeço também minha namorada e futura esposa,
Tamirys, que esteve comigo nos momentos difíceis e auxiliou-me com a revisão do texto.
Agradeço também à minha igreja, Primeira Igreja Batista na Estrada do Engenho, da qual faço
parte há 18 anos e que me ensinou tudo o que sei sobre fazer parte e ser uma igreja. Sem
deixar de lado, claro, de todas as amizades e relacionamentos que fiz e que ainda tenho. Sou
grato a todos pela ajuda e pelo carinho para comigo.
Agradeço, por último, à toda comunidade acadêmica da UFF, todos os professores com os
quais tive oportunidade de ouvir e aprender sobre diversos e variados temas. Tenho certeza
que carregarei os ensinamentos por toda a vida. Em especial, a professora Fernanda Abreu,
que tive a honra de ser orientado por ela, sempre disposta e atenciosa a ouvir sobre minhas
dúvidas e problemas. No fim, gostaria de agradecer também a todos os alunos de Produção
Cultural, sem eles a longa caminhada teria sido um grande pesar.
RESUMO
O presente trabalho monográfico tem como objetivo analisar como o Marketing Cultural pode
servir de ferramenta para atração de fiéis em uma igreja e melhorar sua imagem frente à
comunidade onde se insere. Foi realizado um estudo de caso da Igreja Batista da Lagoinha,
situada em Charitas, Niterói, que possui uma gama de atividades e fazeres culturais em sua
programação e é referência no universo evangélico em termos de administração de igreja
protestante no Brasil. Para o estudo, serão utilizados autores que versam sobre Marketing
Cultural, Administração e alguns sobre Teologia e Protestantismo no Brasil. Procura-se, assim,
construir uma relação, uma vez observado o objeto, entre a prática do Marketing Cultural na
Igreja e o alto número de membros, fato incomum para a grande maioria das igrejas no Brasil.
The present monographic work aims to observe and analyze how the field of Cultural Marketing
can serve as a tool to attract the faithful in a church and improve its image in front of the
community where it is inserted. A case study will be carried out at Lagoinha Baptist Church,
located in Charitas, Niterói, which has a range of activities and cultural activities in its
programming and is a reference in the evangelical universe in terms of Protestant church
administration in Brazil. For the study, will be used authors that deal in Cultural Marketing,
Administration and some on Theology and Protestantism in Brazil. We are searching for, in this
monography, to build a relationship, once observed the object, between the practice of Cultural
Marketing in the Church and the high number of members, an unusual fact for the great majority
of the Churches in Brazil.
5. CONCLUSÃO ...............................................................................................................64
6. ANEXOS.........................................................................................................................70
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1 Introdução
Desde os primórdios do Marketing, como uma ciência social aplicada, ela está
conectada a um sentido de lucro, próprio de grandes empresas que visam o lado financeiro de
seus “negócios”. Em uma definição simples de Phillip Kotler, podemos analisar “Marketing é
o conjunto de atividades humanas que tem por objetivo facilitar e consumar relações de troca”
(KOTLER, 2002).
Com o avanço dos meios tecnológicos, o marketing não apenas se tornou um método de
divulgar e propagar uma marca, mas se tornou uma estratégia de diferenciação entre as
empresas. Aquelas que utilizavam o marketing para elaborar estratégias de cativar o
consumidor, ouvir suas demandas e conseguir solucionar problemas de maneira eficiente se
tornavam bem sucedidas em um mercado tão competitivo.
No século XX, o marketing, de fato, foi concebido como um campo científico e não era
apenas uma ferramenta utilizada pelas grandes empresas. O olhar para as dificuldades que o
mercado apresentava, como em relação às duas grandes guerras e a crise que se abateu nos
Estados Unidos em 1929, fez com que o mercado como um todo precisasse evoluir num sentido
de uma produção mais consciente, em que se evitasse desperdícios e concentrasse em um
público específico para uma produção mais eficaz.
Ainda hoje no século XXI, existe uma conexão imediata do emprego do marketing com
as empresas com fins lucrativos, mas assim como este trabalho busca evidenciar, o campo de
atuação é muito maior. Existe a necessidade, vista pelas organizações, de alcançarem o público
em geral. Segundo Reed Moyer, o marketing extrapola essas fronteiras e pode servir de grande
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ferramenta para todos os tipos de instituições “Instituições que não visam lucro – Hospitais,
sindicatos, museus, partidos políticos, igrejas – compartilham com as empresas comerciais uma
comum razão de ser: servir e satisfazer as necessidades humanas” (MOYER, 1972. p.9).
Em um dos seus livros mais recentes, Marketing 3.0, Phillip Kotler afirma que tais
práticas abordadas no parágrafo anterior estão sendo deixadas no passado e que, apenas as
marcas autênticas e que sejam transparentes com os seus consumidores terão espaço no
mercado, uma vez que os consumidores estão tendo cada vez mais opções de compra e a
diferenciação será focada na genuinidade, tanto da marca quanto dos produtos. Kotler afirma
que:
Os consumidores estão não apenas buscando produtos e serviços que satisfaçam suas
necessidades, mas também buscando experiências e modelos de negócios que toquem
seu lado espiritual. Proporcionar significado é a futura proposição de valor do
Marketing. O modelo de negócio baseado em valores é o que há de mais inovador no
Marketing 3.0. (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010, p. 21).
Neste princípio, o texto pretende realizar uma análise teórica e um estudo de caso que
examinará como o Marketing Cultural pode ser utilizado por uma igreja, uma empresa sem fins
lucrativos, e conseguir, por meio dele, alcançar seus objetivos de mudança social. Porém, mais
do que isso, a monografia abordará a relação da utilização de um Marketing Cultural bem-
sucedido com a adesão de mais fiéis à igreja, fato que é um dos grandes objetivos de qualquer
instituição religiosa pelo objetivo evangelístico e expansão da doutrina.
1.1. Hipótese
Fundada em Belo Horizonte, Minas Gerais, a Igreja Batista da Lagoinha completou no,
ano de 2017, 60 anos de existência. Hoje, possui igrejas espalhadas por todo o Brasil e inclusive
nos EUA. Segundo o site oficial, em 2012, estimava-se que possuía mais de 54.0001 mil
membros espalhados por todas as suas igrejas. Começou a ser conhecida na década de 90 pelo
seu Ministério de Louvor “Diante do Trono” (Ministérios de louvor atuam nas igrejas liderando
a parte de cantos e músicas entoadas nos cultos. Composta por músicos, instrumentistas e
solistas. No caso do Ministério “Diante do Trono”, era o grupo de louvor da Igreja da Lagoinha
que, além de atuar nos cultos da própria igreja, decidiram seguir carreira para além dos muros
da instituição) que logo em seu primeiro CD conquistou multidões e a atenção do meio
evangélico. Apesar de tanto tempo ter passado, o grupo de música, liderado por Ana Paula
Valadão, ainda faz parte do repertório da maior parte das igrejas evangélicas no cenário
nacional. Hits como “Preciso de Ti” e “Coração igual ao teu” ainda permanecem na mente dos
cristãos na atualidade e perpetuam o nome do grupo e, também, da Lagoinha.
Seu início foi extremamente conturbado em sua relação com a CBB (Convenção Batista
Brasileira), que é o órgão que forma as diretrizes e, de certo modo, regula as igrejas batistas em
solo brasileiro, que a excluiu da lista de igrejas filiadas pouco depois de ser fundada, com a
1
FERNANDES, Érica. Somos 50.041 membros. Lagoinha.com. 2012.
15
alcunha de praticar algumas “heresias” e que não condiziam com a teologia reformada. A
denúncia era de que a igreja, de denominação batista, estava aceitando práticas
convencionalmente pentecostais, como danças nos cultos e dons espirituais como “línguas
estranhas” (mais à frente trataremos sobre estas práticas ditas Pentecostais). Até que em 1972,
o atual pastor Márcio Valadão, assumiu o comando da igreja e deu uma nova identidade. Uma
vez fora da Convenção Batista, o foco foi em expansão e criação de uma marca única e própria.
No campo das artes, além do grupo “Diante do Trono” e dos diversos cantores oriundos
dela, possui também a “Fábrica das artes”, uma escola de formação e capacitação em vários
segmentos artísticos localizada em Belo Horizonte, o que demonstra o foco da igreja na cultura
e nas artes.
Além do seu espaço ser um templo maior do que a grande maioria das igrejas, o foco
sempre foi na juventude, um público-alvo muito bem definido pelos pastores e que se pôde ver
os resultados imediatos:
2
JORNAL O DIA. Espetáculo da fé com jeito de boate e linguagem descontraída. 2014
16
Através de uma programação extensa durante a semana e nos finais de semana, a igreja
atrai visitantes em todos os cultos. Em sua grade possuem espetáculos musicais, de dança,
gastronomia, workshops, palestras, cinema etc. A igreja promove sua marca e mantém um fluxo
contínuo de visitantes em seus cultos e atividades semanais. A hipótese é de que a igreja utilize
o Marketing Cultural, através do entretenimento e de produções artísticas, como método de
atração de fiéis e novos membros para a congregação, tendo em vista que ela abandonou um
modelo antigo de sua condução e também dos cultos e optou por uma programação mais
condizente com a atualidade e que abre um diálogo maior com o mundo jovem do cenário atual.
1.4. Metodologia
Os métodos utilizados para este estudo de caso se dão em duas principais frentes, quais
são: A pesquisa de campo, com visitas realizadas aos cultos e eventos externos da igreja, que
ocorreram no período de 1 ano da formulação desta monografia, nos cultos de terças e domingos
e, esporadicamente aos sábados nos cultos Nexteen e Next (serão explicitados no estudo de
caso) e também nos eventos externos como os shows e palestras, observando como se dão as
relações entre os membros e os líderes e também coletando informações e depoimentos
pertinentes à pesquisa realizados espontaneamente com membros e visitantes da igreja, e
agendadas com líderes ministeriais; a segunda é a coleta de dados na rede através dos canais
oficiais da própria igreja e informações contidas em artigos científicos, matérias de jornais,
periódicos, websites sobre teologia.
Na parte teórica, serão analisados 2 pilares que irão sustentar a análise e os resultados
obtidos no estudo de caso:
A segunda parte será um estudo sobre o Marketing Cultural em si, suas variadas formas
e conceitos, seu diálogo com outros tipos de marketing e sua aplicação na igreja. Serão
18
No Brasil, existe ainda uma predominância Católica não apenas influindo na fé, mas nas
práticas do cotidiano. Trazida pelos Jesuítas Portugueses durante o período colonial em uma
missão evangelística, as raízes dessa vertente do cristianismo ainda são bem difundidas e
conhecidas pelas camadas diversas da população. Ainda que considerados cristãos, no stricto
sensu do termo, as diferenças entre católicos e protestantes não se detiveram na Reforma
iniciada por Martinho Lutero, na Alemanha. Perpetuam até os dias de hoje e se manisfestam
desde os cultos, em seus templos, até a cosmovisão de seus fiéis.
Por definição, Igrejas Protestantes são aquelas oriundas da Reforma Luterana ou que
guardam ainda hoje os princípios estabelecidos pelos reformadores. As principais famílias
denominacionais estabelecidas aqui são: Igreja Luterana, Metodista, Presbiteriana,
Congregacional e Batista.
- A Justificação Pela fé
Ao contrário de outras doutrinas Cristãs atuais, os protestantes acreditam que a fé, pura
e simplesmente, é capaz de redimir e salvar o homem, não sendo necessário obras materiais ou
algum tipo de missão que justifique a sua salvação.
Os Protestantes também primam pela autoridade da Bíblia, ao que creem ser a “Palavra
de Deus aos homens”. Acima de tradições e dogmas religiosos, a Bíblia está acima de tudo e
de todos e o homem é livre para ler e interpretar os seus escritos. A individualidade, tanto da
salvação quanto da vida religiosa em si, é algo que cabe destacar sobre a cosmovisão
protestante.
O último ponto se refere ao acesso do homem até Deus. A doutrina nega que o cristão
necessite de algum santo ou de algum homem, seja ele sacerdote, pastor ou missionário para
que se tenha uma comunhão entre os homens e Deus. Através de Jesus, “aquele que morreu na
cruz”, o acesso a Deus seria novamente restaurado, salientando mais uma vez a liberdade e o
caráter personalista de homem em relação ao divino.
Em 1907, fundou-se a Convenção Batista Brasileira. órgão esse que existe ainda hoje e
que regulamenta e fundamenta as diretrizes doutrinárias das Igrejas Batistas que a ela são
filiadas. A base doutrinária Batista, além destes 3 pontos principais, é caracterizada por outros
pontos importantes para a Igreja:
2º) O conceito de igreja como sendo uma comunidade local democrática e autônoma, formada
de pessoas regeneradas e biblicamente batizadas
Dos seus principais pontos destacados, retirados de sua Declaração, cabe destacar a
importância concedida pelos fiéis ao conceito de “liberdade”. Esta se manifesta de diversas
formas, como em relação ao Estado, defendendo a posição do Estado Laico e a não interferência
religiosa no ensino das escolas; liberdade em relação a Deus, tanto em questão da Livre
Agência, grande marca doutrinária, que defende livre escolha do homem em relação a sua
salvação e também de acesso ao mundo espiritual através de sacramentos e devoção
individual;( cabe destacar que, para os batistas, só existe liberdade através de Deus, e que, sem
ele, somos escravos da natureza humana) por último, liberdade em relação a igreja, que se
manifesta na forma das decisões democráticas que permeiam as escolhas feitas pelos membros
de determinada comunidade e em relação aos costumes e ritos que diferem umas das outras
igrejas, podendo haver diferenças de acordo com o bom entendimento dos membros.
XV - Liberdade Religiosa
Não há dúvidas de que o conceito da liberdade sempre foi e ainda é bem presente na
visão Batista do mundo material e também do espiritual. Muito do que se observa hoje se vê
refletido dessa mentalidade. Existem diversas igrejas Batistas que possuem crenças
discrepantes e formas de cultos distoantes, como grupos de danças e de teatro, ou até mesmo
inserção de práticas mais atuais inseridas no contexto de culto, como recursos audiovisuais, que
no passado eram inimagináveis, dentro da própria Convenção. Não é muito difícil encontrar
igrejas, próximas em suas localidades, mas que possuem pensamentos divergentes sobre
diversos pontos.
Algumas outras igrejas Batistas, por terem crenças em pontos cruciais da fé foram
excluídas ou se retiraram voluntariamente do rol de igrejas pertencentes à Convenção. Como é
o caso da Igreja Batista do Pinheiro, localizada em Maceió-AL, que foi excluída no ano de 2016
por efetuar o batismo de membros assumidamente homossexuais3. É o caso, também, da Igreja
Batista da Lagoinha que mantém seus ensinos e dogmas básicos da doutrina fundamentalmente
protestante e tem como símbolo não apenas cultos e programações costumeiras de uma
comunidade religiosa, antes porém, focam na experiência única e sensorial que os fiéis
vivenciam, sejam nas dependências da instituição ou nas redes sociais. O grande apelo se faz
no tocante ao pertencimento a essa instituição e se perceber parte de um organismo que preza
pelo bem estar dos seus membros e na busca constante de provocar novos momentos e
sensações transcedentais.
A busca incessante do indíviduo pelo que se revela novo e pela sua liberdade de viver e
agir conforme suas concepções de mundo, marca característica de nosso Pós-modernismo, não
poderia deixar de se impor aos cristãos, mais especificamente aos Batistas. São raros os casos
de igrejas da mesma denominação que tem suas práticas e ritos iguais a outras. Cada uma, de
acordo com suas próprias interpretações da bíblia e suas vivências no cristianismo, moldam a
3
GUSTAVO, Derek. Convenção Batista exclui igreja em Maceió por batizar homossexuais. G1.com. 2016
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comunidade e os dogmas elegidos por ela. Práticas tão comuns no passado estão sendo deixadas
de lado pelas novidades do pensamento e da tecnologia. Telões de alta resolução, instrumentos
potentes, equipamentos para transmissão para TV ou internet são requisitos para a igreja da
nova era e é preciso adaptação para a sobrevivência.
4
AZEVEDO, Reinaldo. O IBGE e a religião. Veja Abril. 2017.
5
CORREIO BRAZILIENSE. Mercado evangélico no país faz girar R$ 15 Bilhões em vários segmentos. 2014.
24
Para este tópico, utilizaremos alguns dos conceitos do sociólogo Stuart Hall sobre a
definições do sujeito Pós-moderno e suas mudanças ao longo dos séculos.
[...] O sujeito pós-moderno, conceptualizado como não tendo uma identidade fixa,
essencial ou permanente. A identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e
transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados
ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. (HALL,12ª Ed. 2014)
Sujeito do iluminismo;
Sujeito sociológico;
Sujeito pós-moderno.
Outra característica importante deste sujeito era o fator da mudança nas concepções e
personalidade humana. Era preponderante que o indivíduo continuasse “essencialmente o
mesmo – contínuo ou “idêntico a ele – ao longo da existência” (HALL,12ª Ed. 2014, p. 11).
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Um dos grandes desafios vividos pelo indivíduo religioso nos dias atuais é a grande
secularização pela qual o mundo passa. Diferentemente dos tempos onde as instituições
religiosas ditavam as regras e a cosmovisão totalitária, vivemos em um período onde as crenças
e religiões se proliferam e perdem a força de se entremear nas escolhas e modos de viver. “A
religião passa a ser moldada ao gosto dos indivíduos, diferentemente do que ocorria, uma vez
que, no passado a religião moldava o mundo – a exemplo o período medieval” (BRANDÃO,
2016, p. 70).
6
Jornal O DIA. Primeira Catedral gay do Brasil será inaugurada em Madureira.2015.
7
ARAGÃO, Jarbas. Onda Dura: a igreja que não parece igreja. Gospel Prime.2017.
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A Igreja, seja ela católica ou protestante, sempre teve seu respaldo e respeito pela
sociedade. Ainda que numa sociedade laica, a detenção do que é sagrado pela instituição
religiosa impõe respeito e devoção, mesmo daqueles que não professam a fé. Por definição, a
igreja possui um poder simbólico do que é sagrado “um poder de consagração ou de revelação”
(BOURDIEU, 2004: p.167).
Sempre em paralelo com os poderes governamentais, a religião foi, cada vez mais,
exercendo seu poder de autoridade sobre a fé e o sagrado, ainda que, na pós-modernidade, em
separação com o Estado. Como afirma Azevedo:
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A religião, sendo ela dotada de bens simbólicos como ritos cultualísticos e sacramentos,
teve na igreja a sua fonte primária de autoridade, tendo em vista ser um lugar ou um grupo
que alega ter o conhecimento acerca de Deus e construir uma relação de contato e intimidade
com o sagrado. Como um organismo dotado de poder, instituído inclusive pela própria Bíblia,
segundo interpretações (cabe aqui um texto que remeta a essa autoridade nas escrituras
sagradas do cristianismo: “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”; Mateus 16:18),
ela deteve o controle sobre o acesso a esses bens simbólicos. Uma vez que a obediência e a
devoção à igreja não eram cumpridas pelo fiel, sua obtenção da comunhão com os demais
membros e o relacionamento com o próprio Deus se encontravam defasados.
As ordenanças e ritos realizados pela igreja, comandados e preditos pelos líderes que,
através de conhecimento das escrituras e da doutrina denominacional, conquistaram a
obediência dos fiéis e, através do carisma, produziram a confiança na sua liderança para
exercerem seu papel de comando sobre a Eclésia. “A crença de que os bispos e padres são
homens dotados de poderes especiais que controlam a Igreja e a entrada no reino dos céus, faz
deles líderes sagrados cujas ordens devem ser obedecidas. ” (PEREIRA, 2008, p. 85).
Para além dos domínios da ordem espiritual, a igreja expandiu seu controle para a esfera
política, ditando o comportamento dos fiéis em sua relação com o Estado e com os governantes.
Uma vida íntegra e moral sempre foi uma ordenança primordial e, em relação aos governantes,
o respeito e obediência aos eleitos. Ainda que em uma condição de interiorização e pobreza, o
discurso de paz e respeito sempre foi a tônica dos discursos, o que contribuiu para a manutenção
da ordem e das estruturas vigentes e repressão à rebeldia política e o protesto contra os
escândalos do governo. “A religião cumpre uma função de conservação da ordem social
contribuindo, nos termos de sua própria linguagem, para a “legitimação” do poder dos
“dominantes” e para a “domesticação dos dominados”. (BORDIEU, 1992, p. 32).
Mostrem-me a moeda usada para pagar o imposto". Eles lhe mostraram um denário,
e ele lhes perguntou: "De quem é esta imagem e esta inscrição?" "De César",
responderam eles. E ele lhes disse: "Então, deem a César o que é de César e a Deus o
que é de Deus. (Bíblia Sagrada, Mateus 22:19,21).
Assim como afirma Gräb, apesar das instituições religiosas serem afetadas por este
processo contínuo de secularização e laicização da sociedade, a religiosidade ainda se faz
presente no cotidiano, principalmente o brasileiro, dotado de sincretismos e “bricolagens”,
próprias de um povo constituído da junção de diversos povos e etnias com crenças diversas.
Ainda que haja uma religião predominante, o campo do sagrado é entremeado de superstições,
crenças e mitos originados em outros credos e que estão intimamente ligados à origem dos
costumes e cultura nacional e regional.
A religião, não mais entendida apenas como uma instituição, cujo símbolo maior seja
uma igreja ou templo, ainda é parte inerente da vida humana na sociedade secularizada. O
sagrado ainda se faz presente e a fé cada vez mais almejada, principalmente nestes
movimentos de fé avivada pelo qual passam a igreja católica e protestante nas últimas décadas.
A sociedade vive um tempo de menos instituição e poder de influência dos poderes
reguladores da ordem social, porém, ao mesmo tempo, vive um “boom” de movimentos
religiosos onde a fé e a experiência pessoal são a essência do sagrado, onde o indivíduo se
coloca no centro da cosmovisão religiosa.
Essa situação representa uma severa ruptura com a função tradicional da religião, que
era precisamente um conjunto integrado de definições de realidade que pudesse servir
como um universo de significado comum aos membros de uma sociedade. Restringe-
se assim o poder que a religião tinha de construir o mundo ao da construção de mundos
parciais, universos fragmentários, cuja estrutura de plausibilidade, em alguns casos,
pode não ir além do núcleo familiar. (BERGER, 2004, p. 146)
Como já dantes abordado neste estudo, os protestantes formam o grupo religioso que
mais cresce no Brasil atualmente. Estes números revelam grandes investimentos em
evangelização, em preparo dos ministros e pastores, com a criação e abertura de seminários
teológicos e cursos voltados para a capacitação do trabalho eclesiástico, além dos montantes
aplicados no grandes templos e imóveis alugados ou pertencentes aos grupos religiosos.
O grande “serviço” de uma igreja ou templo religioso ainda são os cultos, porém, o
modo como eles são conduzidos e divulgados revela um pretensioso profissionalismo que
grande parte das igrejas ignora ou ainda julga ser um aproveitamento da fé alheia.
O entretenimento religioso surge, neste século, de modo a atrair a atenção dos fiéis,
permitindo que conceitos sagrados e ditames do dia a dia sejam mais facilitados ao
entendimento. Através de recursos multimídia e audiovisuais, produções artísticas e culturais,
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estruturas narrativas de drama são injetadas, aos poucos, nos cultos para um público que, se a
princípio, nunca imaginou que entretenimento e o sagrado pudessem caminhar juntos, tem
como hábito corriqueiro a fruição de produtos da “indústria cultural” em outras esferas da vida.
A religião se utiliza de tais artifícios em prol da sua mensagem alcançar novos nichos e ter o
interesse constante dos seus membros.
Ao nos determos sobre os meios televisivos, teremos dados muito conclusivos de que
as igrejas evangélicas se utilizam do entretenimento e, não apenas isto, o fazem de um modo
igual ou superior a conteúdos de mídias seculares.
Outras igrejas possuem não apenas programas de TV, como também canais televisivos
onde conseguem apresentar ao público conteúdo inteiro relacionado a fé e a doutrina específica
da detentora da rede e, também, divulgação dos cultos e programações em suas diversas sedes.
A Igreja Adventista com a Rede Novo Tempo, A Igreja Universal do Reino de Deus com a
Rede Record e a própria Igreja Batista da Lagoinha com a Rede Super.
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O marketing cultural, a que este texto se propõe a esboçar, existe na medida em que se
infere uma demanda latente que necessita ser atendida e, portanto, gerada um produto que
satisfaça essas tais necessidades ou desejos. A juventude, o target definido pela Igreja Batista
da Lagoinha, ao longo dos anos demonstrou insatisfação que existia em relação ao cenário
religioso protestante (DOLGHIE, 2004). Décadas se passaram desde a chegada das igrejas
8
PECCOLI, Victor. Igrejas ocupam mais de 20% da programação da TV aberta. TV Foco. 2016.
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Estas duas demandas foram captadas e analisadas. O jovem carecia de igrejas que
abarcassem a totalidade de si mesmos. Suas contradições, reflexões, desejos e anseios e, até
mesmo, seu estilo de vida. Uma igreja ultrapassada, com cânticos, estudos e pensamentos
retrógrados estava perdendo seu espaço. A secularização que a modernidade trouxe à sociedade
cooptou a igreja em trazer a cultura, costumes e estilos para dentro do seio da comunidade, a
fim de manter o jovem ativo e interessado. A TMI, ou Teologia da Missão Integral, surgiu
também, no Brasil, a fim de que as igrejas e o evangelho pregado por elas abarcassem o
indivíduo em toda sua totalidade e, não apenas, seu aspecto espiritual, mas emocional, físico,
social e cultural. Afinal, “Evangelho todo, para o homem todo, para todos os homens” (STOTT,
1984).
Do lado externo aos muros da igreja, existia bom entretenimento, boas produções
musicais e artísticas, material excelente para a captação de jovens, mas apenas do lado externo.
Dentro da igreja ainda reinava (e, na maioria, ainda reina) o amadorismo e a falta de
comprometimento com a boa execução do que era realizado em termos de liturgia e produções
de todo tipo. A juventude carecia de bons exemplos e profissionais que atuassem dentro da
Eclésia e produzissem, se não melhor, de igual modo ao que era produzido fora. Esta foi a
segunda demanda encontrada.
A insatisfação religiosa dos jovens se fez presente porque, além de não poderem
frequentar lugares comuns a outros de sua faixa etária como bares, danceterias e
shows, as igrejas protestantes não lhes ofereciam oportunidade de entretenimento.
Assim, o jovem cada vez se sentia distanciado da convivência social com grupos de
sua idade. Além disso, o estereótipo de “crente” distanciava-o das igrejas protestantes
históricas e principalmente das pentecostais clássicas, pois sua conduta não se
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Algumas igrejas no cenário brasileiro conseguiram enxergar que existia essa demanda
e reformularam suas atividades e modos litúrgicos a fim de integrar essa parcela do público em
seus templos, uma vez que não se encaixavam em outras praças. A igreja Renascer em Cristo,
que originou o grupo musical Renascer Praise, um dos percussores da música gospel, a Igreja
Batista Betania, uma das grandes defensoras da Teologia da Missão Integral no Rio de Janeiro
e outras duas mais recentes, a Igreja United e a Bola de Neve Church que adequaram totalmente,
desde seus cultos até seus templos, a fim de atrair os jovens com grande profissionalismo
artístico e programações inteiramente voltadas para este público.
Ainda nos dias atuais, seja no meio acadêmico ou no senso comum, ainda se tem uma
visão muito equivocada do que seja marketing. Frequentemente, é confundido com a
propaganda de um produto ou até mesmo com a promoção, que é um dos 4 P’s do marketing.
Esse erro comumente acontece devido à grande importância que é atribuída à divulgação ou
promulgação de um produto ou marca como sendo o fator diferencial para uma empresa crescer
e se destacar no meio de tantas outras. Serão necessárias algumas definições do que seja
Marketing, de acordo com especialistas no assunto, para podermos abordar suas ramificações
e sua aplicação no meio cultural:
e realização de trocas para com o seu meio ambiente, visando benefícios específicos
(RICHERS, 1986).
Marketing é um processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm
aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de
produtos e serviços de valor com outros (KOTLER e KELLER, 2006).
Com base nestas e outra definições, podemos concluir que o Marketing vai além da
atuação em apenas uma parte do processo, qual seja a publicidade, e atua em todas as etapas do
processo no ciclo mercadológico de um produto. Desde sua concepção e criação até o retorno
do cliente sobre sua satisfação ou não, podendo colher informações úteis para um
aprimoramento futuro.
planejamento.
Marketing da Cultura
Assim como descrito anteriormente, o marketing pode ser aplicado em diversas formas
e modelos de negócios e com a cultura a situação não é diferente. Seja através de empresas que
o produto final esteja inserido no que podemos denominar “indústria cultural” ou as próprias
artes, seja um espetáculo de dança, um álbum de música, uma minissérie para a televisão etc.
O mesmo acontece com empresas que obtém seus lucros de outros tipos de produtos como a
indústria e o comércio e encontram na cultura um vislumbre de aumento da exposição da marca
e perspectiva de crescimento.
9
BOCCHINI, Bruno. Ministério estima que a cultura é responsável por 4% do PIB. Agência Brasil EBC. 2017.
40
projetos artístico-culturais de diversas formas e esse processo de, por exemplo, desenvolver
uma mostra de arte, estabelecer sua forma de comercialização (que pode ser via cobrança de
ingressos ou captação de recursos de patrocínio ou, ainda, a venda ou leilão), lançá-la e divulgá-
la é um processo típico de marketing, e pelos seus fins, de marketing cultural.
A segunda instância é a da empresa que patrocina arte e cultura, empresa cujos fins de
negócios não são a promoção ou a difusão culturais, e sim, a produção industrial, a atividade
comercial ou a prestação de serviços. Essa modalidade se dá quando essa empresa, no âmbito
da sua função marketing decide adotar a atividade de marketing cultural como meio de
promoção institucional.
própria doutrina e no seio evangélico. Embora muitas destas práticas não estejam esboçadas no
escopo doutrinário que rege as denominações, qualquer prática de culto que se aproxime mais
do entretenimento e se distancie do “sagrado” acaba por ser rejeitado pelas alas mais
tradicionalistas da fé, no qual se encontram os batistas.
Tais críticas, porém, não serão de cunho teológico, haja vista que não é o objetivo central
deste estudo analisar se o marketing ou a produção cultural tem respaldo nas sagradas escrituras
para que sejam, legitimamente, aceitas e integradas ao contexto religioso. Tende-se, porém, a
uma certa noção de que determinadas crenças são apenas costumes e que podem variar de
acordo com o lugar ou o tempo onde a comunidade religiosa se insere. O tipo de vestimenta, os
horários, as programações extras, os cargos ministeriais e etc, nada destas e outras práticas tem
suas informações contidas e exemplificadas no texto bíblico e, portanto, se detém ao encargo
de seus fiéis decidirem sobre isto.
3.3.1 “O marketing não parece ser uma prática bíblica” (BARNA, 1994)
Como já exposto neste texto, um dos maiores motivos pelos quais a igreja ainda se vê
distante de qualquer profissionalização de seus esforços ministeriais seja a de que o marketing,
enquanto método, não seria válido para a igreja, tendo em vista que se aplica ao mundo dos
negócios, com a prática do lucro e estratagemas para atrair o “cliente”.
George Barna, já na década de 90, recebia essas indagações e críticas pelo seu ofício. O
fato, precisamente, de auxiliar a igreja em seu crescimento e expansão utilizando ferramentas e
técnicas de marketing beirava à “blasfêmia” (BARNA, 1994). Como observado em algumas
igrejas, alguns destes conceitos já foram ultrapassados, pelo menos em uma pequena parcela
que já tem um nível de profissionalização maior. Possuem departamentos de marketing e de
produção que auxiliam no planejamento estratégico e em todas as ferramentas e recursos que
ajudarão na expansão e promoção da igreja. Muitas são as que produzem conteúdo para internet,
para televisão, rádio, jornal, revista, e que possuem entendimento que a expansão não se
concretiza a não ser através do marketing.
Barna esclarece, portanto, em primeiro lugar que é necessário entender a igreja como
sendo um negócio:
43
O autor também se debruça sobre o fato de que, ainda que a igreja acredite que o
marketing não seja uma disciplina válida para as questões do sagrado e da religião, ela, mesmo
sem se aperceber disto, realiza ações de marketing:
Pense por um minuto na sua experiência. Quando você compartilha a sua fé com quem
não crê, está, na verdade, fazendo marketing da igreja. Quando anuncia ou informa às
pessoas sobre as atividades da sua igreja, está praticando marketing da igreja. Se na
frente da sua igreja há um aviso indicando o horário dos cultos, da escola dominical,
ou o título do próximo sermão, você está sendo alcançado pelo marketing. Toda vez
que o seu pastor aceita um convite para dar benção numa reunião pública, embora
tenha sido convidado dentro dos propósitos do ministério, sua presença e desempenho
ali representam uma atividade de marketing. (BARNA 1994, p. 16).
Martin Lindstrom, em seu livro “Brand Sense”, retrata também, agora em uma crítica
com um lugar de fala externo à igreja, como se percebe o marketing dentro de uma instituição
religiosa:
Nosso estudo também buscou determinar até que ponto o fator religioso (fé, crença,
pertencimento e comunidade) pode servir para orientar o futuro do branding. À
primeira vista, religião e marcas podem parecer distantes, quase a ponto do insulto.
Mas serão mesmo? Visite qualquer igreja e, mesmo antes de entrar, a primeira coisa
que você vai ver é um ataque sensorial de corpo inteiro. (LINDSTROM, 2012, p. 5-
6).
Uma outra crítica comum à utilização do marketing cultural dentro das igrejas é a de
que o culto ou as programações religiosas estejam dando espaço ao entretenimento puro e
simples e a mensagem tenha sido renegada em favor do meio. Diferente da utilização dos meios
tecnológicos e das práticas artísticas como a ênfase na música, no teatro e programações extras
para se veicular a mensagem da bíblia e “evangelizar”, a rejeição a esses métodos estejam,
talvez, no fato de que a igreja tenha se tornado uma “casa de espetáculos”, como afirma Patriota:
Recursos comuns aos espetáculos são usados para tornar a mensagem religiosa mais
atrativa e, consequentemente, mais superficial, ilustradas com histórias de vida e
testemunhos emocionais permeados de elementos cinematográficos e novelescos que
objetivam a construção de novas perspectivas para a antiga mensagem: é a hora do
entretenimento. (PATRIOTA, 2008, Pg. 72).
Segundo Patriota, as igrejas de hoje que se utilizam dos meios de comunicação e mídia
transformaram seus cultos e eventos em shows e espetáculos e que, embora haja um
distanciamento histórico entre o que é sagrado do entretenimento, a tendência é que esses
fatores cada vez mais se atravessem e formem um novo gênero de experiência religiosa.
Com efeito, na gangorra oscilante dos níveis do Ibope, vão se apartando da mensagem
religiosa ícones até então intocáveis, como a teologia. A superficialidade agora é o
principal tempero do discurso religioso espetacular, como qualquer discurso ficcional
divertido. Afinal, como a teologia é algo racional, que exige reflexão intelectual, não
se ajusta no entretenimento. As pessoas buscam na religião a experiência religiosa, o
transe, o êxtase, o espetáculo e não a doutrina. (PATRIOTA, 2008, p.80).
45
Para finalizar, a terceira e última crítica realizada se detém sobre o aspecto doutrinário
em que se insere a Igreja Batista da Lagoinha. Ainda que distante das outras igrejas da mesma
ordem doutrinária, ela se insere em um cenário Batista que preza por certos costumes e
tradicionalismos que são, por caráter reflexivo, deixados de lado em prol de uma ótica bíblica
diferente das demais.
As igrejas batistas em cenário brasileiro são comumente conhecidas pelo seu apreço à
história de seus fundadores, sua doutrina reta e baseada apenas nas escrituras e pelo seu zelo na
leitura da bíblia. Por ser uma organização histórica “pode-se inferir que a tradição é de suma
importância para setores batistas, por invocarem para si e tomarem como sua a herança da igreja
primitiva. ” (MOREIRA, 2016, p. 44).
Diferentemente das igrejas batistas que prezam pela sua tradição, existem aquelas que
passam por renovações em sua doutrina e na liturgia, como é o caso da Lagoinha. Assim como
qualquer outra, ela sofre duras críticas por se identificar como pertencente à ordem batista, mas
seguir interpretações da bíblia e inserir dentro de seus cultos e missões práticas totalmente
diferentes do usual, tornando-a um símbolo de um movimento batista carismático.
Para os Batistas tradicionais, tudo deve ser feito com “ordem e decência”, como já
aponta o texto bíblico (1 Coríntios 14:40). A racionalidade e o domínio próprio são marcas
características desta doutrina e são cultivadas em seus membros. A crítica realizada a esse
movimento de renovação é a de “darem primazia à experiência religiosa em vez da fidelidade
doutrinária, aqueles devolvem a acusação alegando que a falta dessa experiência afeta os
resultados da leitura da bíblia” (MENDONÇA; VELAZQUES FILHO, apud MOREIRA, 2016,
p. 46).
por completo, em todas as suas esferas. Não se tarda a criticar a igreja como antropocêntrica ao
destacar o humano como o centro da fé.
Para finalizar, cabe aqui uma inserção de um trecho de um texto, de mesmo nome que
este tópico, escrito para Jornal Batista, datado de 20 de novembro de 1958 em que o escritor
Francisco Souza tecia duras críticas ao movimento carismático que se proliferava já naquela
época:
Este trecho retrata bem a mentalidade rigorosa com a ordem e discriminatória deste setor com
relação a outras manifestações religiosas em meados do Século XX. Apesar desta mentalidade,
no geral, ter se modificado ao longo dos anos e ter-se aberto ao diálogo com outros organismos
religiosos, este fundamentalismo religioso e severo com o ritual de culto ainda permanecem.
47
10
SOSSAI, Raissa. Lagoinha Niterói comemora um ano em novo templo. Lagoinha.com.2014.
48
do Rio de Janeiro que hoje conta com filiais em Cabo Frio, Teresópolis e na cidade do Rio, na
Barra da Tijuca.
Tendo como logo uma pomba (conforme pode ser visto na Figura 1 abaixo), que
representa a descida do espírito santo sobre os homens e com o nome “Lagoinha” (que remete
ao bairro de Lagoinha, em Belo Horizonte, onde foi fundada a sede) sendo utilizado com uma
tipografia escrita à mão, que remete a uma história sendo escrita, a IBL de Niterói tem como
slogan “Um lugar de novos começos”. Novos começos que remetem, principalmente, a pessoas
que estavam inseridas em alguma igreja ou instituição religiosa e, que por alguma razão,
abandonaram esse lugar. Para estas pessoas, seria uma nova chance de recomeçar do zero.
.
A IBL de Niterói também tem esboçado qual a sua missão como igreja11:
Cultos e Reuniões
DOMINGO
10H30
18H
20H30
TERÇA
20H – Culto Fé
QUARTA
PRAY – 20H (Culto de oração)
QUINTA
11
Lagoinha.com.2014
50
CULTO PINK (Cultos voltados às mulheres que acontecem uma vez ao mês).
SEXTA
GC A PARTIR DAS 20H (Grupos de Células, reúnem-se em casas).
SÁBADO
NEXTEEN (Culto de Adolescentes) – 19H
NEXT (Culto da Juventude) – 20H
Em consonância com o seu tempo, a IBL tem por propósito criar um novo formato de
cultura gospel existente hoje no Brasil. Baseado no que se conhece pelo termo “evangélico” na
atualidade, a igreja tenta transgredir com os estereótipos e padronizações, como o Pastor
Felippe Valadão prega.
O que se conhece por membros de igrejas evangélicas hoje se refere a não liberdade de
conhecer e apreciar os prazeres seculares, se abdicar de certos eventos e dedicar-se inteiramente
à instituição, que vai inteiramente na contramão do sujeito contemporâneo esboçado no capítulo
2, no qual a liberdade de agir e a constante mudança de opiniões e atitudes não se encaixa mais
nesse padrão de cristianismo e, a IBL tem, por princípio, ultrapassar todas estas barreiras
impostas pelo próprio meio evangélico como também fazem outras igrejas, como as já citadas,
todas elas a seu modo e perfil de atuação.
A IBL de Niterói expande seus conceitos de liberdade e do que é ser evangélico e leva,
para dentro do seu templo, atividades que antes eram analisadas pelo prisma da secularização,
marca, já destacada neste texto, da relação entre o indivíduo e a religiosidade, A igreja entendeu
que, no mundo pós-moderno e plural, não existe a possibilidade de enxergar a cultura gospel
de uma só maneira e, sim, de múltiplas formas e ela provoca e propõe a seus membros que
invistam em sua diversidade e a não restrição de suas vontades por um julgamento do meio.
horizontes de seus fiéis e lhes proporcione novos modos de vivenciar a fé cristã. Ao mesmo
passo que, por se distanciar, positivamente, de outras instituições de mesmo viés doutrinário,
ela se destaca e atrai seguidores de diversas denominações. Abaixo, seguem alguns de seus
eventos e produções culturais:
Conferência Creative
A conferência estreia sua segunda edição no ano de 2018, em dois dias de junho,
trazendo uma programação extensa com palestras e workshops com grandes nomes da indústria
da economia criativa tais como a música, teatro, fotografia, cinema etc.
A IBL tem também uma estreita relação com o cenário da música gospel, não apenas
nacional, como também internacional. Em seu púlpito, diversos cantores e músicos já puderam
se apresentar e, inclusive, gravar seus DVD’s, como o caso dos cantores Thalles Roberto,
Anderson Freire, Gabriela Rocha e tantos outros.
Não apenas em seu templo, a igreja também aluga espaços como bares e restaurantes
pela cidade onde os cantores podem se apresentar e alcançar camadas da população que
geralmente não têm o hábito de frequentar cultos, como o caso do cantor Marcus Almeida que
se apresentou em um famoso bar na praia de São Francisco, em Niterói. Esta estratégia se torna
eficaz pelo fato de alcançar, não apenas pessoas que já são cristãs e tem o hábito de frequentar
igrejas, mas também, pessoas que estejam nesses locais por outros motivos e sejam alcançadas
por estes eventos e atraídas a visitar o templo da IBL.
Pelo fato de a IBL ter se popularizado entre os cristãos pelo seu viés artístico e musical,
tendo em vista o Ministério “Diante do trono”, a comunidade se tornou referência nesse campo
e possui grande influência entre as gravadoras e os próprios cantores, tendo facilitado a
53
produção destes grandes eventos que em geral, com suas pequenas exceções, são gratuitas ao
público.
Festival de FoodTruck
Charitas. Cabe ressaltar que a IBL produziu o primeiro festival de food truck da cidade de
Niterói, com entrada totalmente gratuita.
Como por costume, as igrejas evangélicas, e insere-se aqui a referência maior aos
batistas, costumam festejar a virada de cada ano em suas igrejas com programas que começam
antes da meia noite e terminam durante a madrugada. Nestes cultos, são realizados diversos
batismos, inclusive de pessoas que não pertencem a igreja, a santa ceia é celebrada e no final
do culto, normalmente, há uma ceia para todos os membros e visitantes participarem juntos,
além de uma festa de encerramento.
Desde seu início, a IBL se programou para estar sempre inovando em seus cultos de
Reveillon, que já teve sua edição dentro de seu templo, uma outra realizada na praia de Icaraí,
onde houve shows de diversos cantores gospel como Eli Soares e a banda Preto no Branco,
tendo seu término com queima de fogos de artifício. No ano passado, a comemoração foi
produzida no Ginásio Caio Martins em Santa Rosa, Niterói, onde, além das atrações de outros
“viradões”, houve também um festival de food truck antes do início do culto. Segundo
55
informações da Prefeitura de Niterói12, o ginásio comportou, nesta festa, 6.000 pessoas e que
ele não apresentava estes números há 30 anos. E o objetivo da igreja é estar sempre fazendo
festas e comemorações ainda maiores. Assim como na realização das feiras gastronômicas, a
festa de Reveillon da IBL de Niterói já faz parte do calendário anual da cidade e é uma
alternativa cultural, mais até do que religiosa, para a população, que permite uma divulgação
de seus cultos durante estes eventos.
Conferências e palestras
12
Facebook Lagoinha Niterói. 2018.
56
Redes Sociais
Assim como qualquer empresa que quer expandir os seus negócios e criar um veículo
de comunicação mais próximo com seus clientes, além de propagar a sua marca, a IBL faz uso
de diversas redes sociais, onde comunica sobre os seus eventos futuros, publica fotos dos seus
cultos e programações externas, além de efetuar a venda de tickets para seus eventos pagos.
Além desta comunicação efetiva com seus membros e visitantes, a IBL utiliza as redes
sociais como meio de produção de conteúdo audiovisual, gráfico e fotográfico. Através das suas
contas no Instagram e no Facebook, o material é publicado, demonstrando um minucioso
trabalho de seleção e produção desses conteúdos, trabalho realizado pelo Departamento de
Produção da IBL que além das redes sociais, faz a produção dos eventos e dos cultos.
57
Next e Nexteen
A IBL é reconhecida por ser uma igreja onde os jovens têm a possibilidade de atuar em
diversas áreas e isso é bem notável nos cultos e nas programações, onde podem ser observados
jovens em praticamente todos os departamentos, tornando tanto a linguagem como o formato
dos eventos bem mais despojado e moderno (ou pós-moderno, se é que cabe).
Rede Super de Tv
Assim como as grandes igrejas no Brasil como a Universal do Reino de Deus e a Igreja
Internacional da Graça de Deus, a IBL também possui seu próprio canal de televisão a cabo.
Com sede em Belo Horizonte, Minas Gerais, a televisão foi fundada em 1997 como uma
rede comunitária de TV e no ano de 2000 passou a operar via satélite em rede fechada. Com a
maior parte do seu conteúdo sendo voltado para o público cristão, a emissora se auto intitula o
maior canal de conteúdo evangélico do Brasil. Sendo administrada pela família Valadão,
presidente das igrejas IBL espalhadas pelo mundo, a emissora transmite conteúdos infantis,
documentários, filmes, talks shows e, além disto, transmite os eventos das suas igrejas como as
conferências, seminários, shows e seus cultos semanais.
4.3 CONSIDERAÇÕES
Como já exposto anteriormente, A IBL de Niterói pode ser entendida como uma
empresa que promove marketing cultural em suas duas tipologias, definidas pelo autor Manoel
Marcondes, quais sejam a de Meio e a de Fim.
Ao mesmo tempo, a igreja apoia e incentiva produções como shows, eventos esportivos
e gastronômicos, ultrapassando os limites do seu templo e de sua finalidade com o propósito
(Meio) de expandir a sua marca e torná-la reconhecida e referência na cidade de Niterói. A IBL
já se faz um modelo padrão de organização religiosa e de produção cultural de excelente
qualidade.
Diferentemente do que acontece, hoje, no cenário da produção cultural, onde existe uma
dependência exacerbada das empresas e produtoras em relação as leis de incentivo para a
cultura, a IBL conta apenas com a verba angariada pelos seus fiéis, através dos dízimos e
ofertas, entregues nos cultos. O resultado das produções retorna para a própria igreja. Uma vez
que o visitante ou não fiel visita alguma programação da igreja e se torna membro efetivo da
IBL, consegue-se o retorno do investimento realizado e aumenta o valor para as próximas
produções, sempre com o pensamento de realizar eventos maiores e em quantidade maior.
Além destes atributos, a IBL alia o fazer religioso com o entretenimento, característica
quase indissociável da produção cultural, nos dias de hoje.
Assim como afirma ANDRADE (2013), os novos meios de comunicação hoje existentes
possuem seu valor aumentado quando conseguem ofertar múltiplas funções, além do seu
original. Como exemplo didático, uma televisão valerá o tanto de arranjos midiáticos que
conseguir conter em si, ao poder acessar internet (computador), ouvir transmissões de jogos
(rádio), conexão para entrada de videogames (monitor) entre outras funções. Quanto mais
funções midiáticas a televisão possuir, mais valiosa ela será, o que não inaugura novos formas
de comunicação, apenas aglutina em um só meio.
62
Isso pode ser transpassado para o modo como hoje as igrejas são pensadas e geridas.
Aquelas com maior número de membros e em maior evidência são aquelas que conseguem, em
suas programações e eventos, implementar diversos arranjos, que façam com que a instituição
deixe de ter apenas um caráter religioso, mas que gere entretenimento. A igreja valerá mais
quanto menos “pura” ela for (ANDRADE, 2013). Ou seja, assim como uma televisão vale mais
quando deixa de apenas transmitir canais da TV aberta e fechada e vai além, ofertando diversas
conteúdos e funcionalidades, assim funcionam as instituições religiosas hoje que precisam
oferecer mais ao público do que apenas cultos e liderança espiritual. Isto significa que ela
necessita ofertar múltiplas opções em seu leque de atividades para que consiga chamar a atenção
e captar o maior número possível de pessoas. Todos os elementos implementados são bem
pensados para que gerem divertimento, alegria, prazer e satisfação de estarem naquele
ambiente, o qual pode ser notado nas grandes programações da IBL.
Como já exposto, a Lagoinha de Niterói possui seu foco em jovens e isto interfere na
forma de comunicação exercida por seus preletores e os meios em que a igreja se comunica.
Através de festas à fantasia, pastores que se expressam e se vestem de forma despojada,
utilização da linguagem das redes sociais, inclusive durante o culto com a transmissão de fotos
e vídeos do youtube, a IBL está na vanguarda de um movimento que já se espalhou por todas
as esferas do mercado e da publicidade onde o entretenimento é utilizado, não apenas como
meio, mas também, como mensagem.
linguagem necessitam ativar os sentidos para que, quando forem ativados, eles retornem em
forma de recordação daquela marca. Isso, além de criar uma conexão profunda com os
consumidores, no caso das igrejas com os fiéis, os sentidos imprimem o conteúdo da marca nas
pessoas. Com a IBL, pode-se inferir que ela esforça-se por ativar todos os sentidos em seus
membros, como a visão através dos cultos presenciais e as fotos que revisitam os eventos
passados; a audição com as música e hinos, com os videoclipes, com os sermões; o tato através
dos momentos de comunhão com os outros membros e visitantes da igreja, que são impelidos
a ofertar apertos de mão e abraços; o olfato que pode ser percebido através dos eventos
gastronômicos e seus cultos que acontecem no templo da igreja; e o paladar, em especial, pode
ser associado à bala que é oferecida na entrada da igreja, em todos os cultos, como uma forma
de lembrança, além de ter, na embalagem, a marca da igreja, como mostra a imagem.
Não basta agora a mensagem ser audiovisual, deve ser multissensorial. Envolver, para
além da visão e da audição, o tato, o olfato e até o paladar, se possível. Martin
Lindstrom descreve os enormes esforços envidados por grandes marcas em busca de
expressões multissensoriais, capazes de identificarem e traduzirem para os públicos
suas presenças através de diferentes plataformas sensoriais. É o caso, por exemplo, da
Coca-Cola, que através do formato da sua garrafa conquistou uma expressão tátil
única para a sua marca. Os computadores da Apple ou os PCs que usam processadores
Intel, celulares de marcas distintas, todos possuem breves melodias associadas ao
comando “ligar”, que funcionam como logos sonoras para estas marcas. A Singapore
Airlines desenvolveu uma fragrância própria que pode ser sentida quando se entra nos
seus aviões e ao abrir a caixinha do “kit viagem” ofertada aos seus passageiros. Em
todos esses casos as marcas estão em busca de conquista de plataformas sensoriais
64
distintas para melhor serem percebidas e se afirmarem juntos aos seus públicos
(LINDSTROM, 2007). (ANDRADE PEREIRA, 2013, p.13).
5 Conclusão
Apesar de ser uma instituição de grande porte, a pesquisa e a coleta de dados, tanto na
igreja como na rede, foi muito facilitada pelo fato do grande número de material disponível
para consulta e a grande receptividade dos membros da igreja, sempre buscando divulgar para
o maior número possível de pessoas o perfil da igreja e a sua missão como agência religiosa.
Existem diversas seitas, cultos, igrejas, comunidades evangélicas hoje no Brasil. Todas
elas possuem algo de diferente umas das outras. Algumas delas optam por cultos mais
tradicionais, centrados na leitura de passagens bíblicas e cantam hinos históricos. Outras optam
65
pela sensorialidade e contato extremo com o mundo espiritual como expulsão de demônios e
seres malignos conjuntamente com realização de curas físicas. Mais recentes, frutos do
Neopentecostalismo, algumas delas são adeptas da “Teologia da Prosperidade” e esperam
bênçãos e dádivas divinas materiais, em uma relação de troca onde o culto é ofertado a Deus
com um retorno de bens e posses. As Igrejas Batistas da Lagoinha, assim como outras também
batistas, são adeptas de um pensamento de que o indivíduo é um ser cultural e que, por isso, ele
deve ser compreendido em todas as suas esferas e, não apenas, em seu lado espiritual. Desse
modo, a igreja pretende, através da cultura, adentrar em todas as esferas da vida humana e
quebrar os paradigmas que separam a vida secular da vida religiosa.
Uma nova cultura gospel tem surgido dentro do cenário cristão no Brasil que leva para
os templos e igrejas expressões artísticas e culturais que apenas eram vistas em centros e
equipamentos culturais a fim, não apenas, de superlotar os cultos e eventos, de dar publicidade
a uma marca específica de um segmento, mas tem o objetivo de mudar radicalmente a maneira
como estas instituições são, desde muito tempo, geridas, onde não havia espaço para o novo,
para o diferente e para o que era especificamente da ordem do secular ou do profano. O modo
de se gerir uma igreja no século 21 começa por entender que os membros das igrejas e os não
fiéis são formados da mesma matéria e possuem os mesmos desejos e ambições. O trabalho de
como lidar com estas questões e não deixar o cristianismo de lado resta à igreja.
Para futuros estudos, uma proposição que precisa ser mais estudada é a questão do poder
socializador, presente tanto no discurso como nas vivências proporcionadas pela igreja, não
apenas na IBL, mas nas igrejas evangélicas no geral. Muitas daquelas pessoas, frutos de uma
sociedade individualizada e secularizada procuram nas igrejas um ambiente de maior contato
com outras pessoas, transformando essas comunidades, não apenas em ambientes religiosos,
mas grandes locais de coletivização, da formação de amizades e laços de companheirismo. Isto,
talvez, reflita em um futuro, em um foco maior das igrejas em proporcionar aos membros e
visitantes mais do que um local de busca espiritual, mas de desenvolvimento coletivo e de
irmandade.
66
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69
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