Você está na página 1de 47

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

CENTRO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E JURÍDICAS


DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

LILIANE BARBOSA DOS SANTOS GADELHA

“UMA ABORDAGEM SOBRE A TEORIA DO EXCEDENTE DO


CONSUMIDOR COMO MEDIDA DE BEM-ESTAR ECONÔMICO”.

BOA VISTA
2007
LILIANE BARBOSA DOS SANTOS GADELHA

“UMA ABORDAGEM SOBRE A TEORIA DO EXCEDENTE DO


CONSUMIDOR COMO MEDIDA DE BEM-ESTAR ECONÔMICO”.

onografia apresentada à Universidade


Federal de Roraima como pré-requisito
para obtenção do grau de Bacharel em
Economia, sob a orientação do Professor
Ruben Eurico da Cunha Pessoa, no
segundo semestre do ano de 2007.

BOA VISTA
2007
A monografia “UMA ABORDAGEM SOBRE A TEORIA DO EXCEDENTE DO
CONSUMIDOR COMO MEDIDA DE BEM-ESTAR ECONÔMICO” elaborada por
LILIANE BARBOSA DOS SANTOS GADELHA, foi submetida à banca examinadora
como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Bacharel em Ciências
Econômicas, outorgado pela Universidade Federal de Roraima – UFRR, conforme
resolução nº 065/93 – CEPE e 079/94 – CEPE.

Tendo sido aprovada em 18/12/2007, conforme manifestação da Banca

Examinadora abaixo:

Banca Examinadora:

__________________________________________ ___________
Orientador: Professor Ruben Eurico da Cunha Pessoa

_________________________________________ ____________
1º Examinador: Professora M.Sc. Verônica Fagundes Araújo

_________________________________________ ____________
2º Examinador: Professor Doutor Genival Ferreira da Silva
E existe outra razão pela qual sempre damos
graças a Deus. Quando levamos a vocês a
mensagem de Deus, vocês a ouviram e
aceitaram. Não a aceitaram como uma
mensagem que vem de pessoas, mas como a
mensagem que vem de Deus, o que, de fato,
ela é. Pois Deus está agindo em vocês, os
que crêem.
(1 Ts 2:13 BLH)
A sabedoria que vem do céu é antes de
tudo pura; e é também pacífica, bondosa
e amigável. Ela é cheia de misericórdia,
produz uma colheita de boas ações, não
trata os outros pela sua aparência e é
livre de fingimento.
(Tiago 3:17; BLH)
RESUMO

Os tomadores de decisão partem da análise dos ganhos e perdas que o


consumidor aufere em sua participação no mercado. Para tanto, utilizam
ferramentas econômicas que propiciam tal mensuração. Tais medidas de bem-
estar econômico podem ser denominadas com excedente do consumidor,
variação compensatória e variação equivalente que nos condicionarão a
mensurar em termos monetários a variação de bem-estar auferido pelos
consumidores.

Palavras chaves: bem-estar, excedente do consumidor, excedente do produtor,


variação compensatória e variação equivalente.
ABSTRACT

The decision takers analyses and losses that the consumer in your
participation in the market. For so much, they use economical tools propitiate such
measure. Such measures of economical welfare state can be denominated with the
consumer's surplus, compensatory variation and equivalent variation that will
condition us to measure in monetary terms the welfare state variation gained by the
consumers.

Key words: welfare state, the consumer's surplus, compensatory variation and
equivalent variation.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - O formato em escada da curva de demanda proporciona medir os 1


diferentes níveis que o consumidor estaria disposto a pagar............ 3
Figura 2 - Excedente do Consumidor no caso geral.......................................... 1
4
Figura 3 - Excedente do consumidor e do produtor........................................... 1
6
Figura 4 - Variação do Excedente do consumidor e do produtor devido ao 1
controle de preços............................................................................. 7
Figura 5 - Efeito do controle de preços quando a demanda é inelástica........... 1
8
Figura 6 - Captura do excedente do consumidor............................................... 1
9
Figura 7 - Custos e benefícios das tarifas para o país importador..................... 2
1
Figura 8 - Efeitos líquidos das tarifas sobre o bem-estar................................... 2
3
Figura 9 - Efeitos dos subsídios à exportação................................................... 2
4
Figura 10 - Análise de Riemann, sobre o excedente do consumidor................... 2
7
Figura 11 - Análise de Riemann, sobre o excedente do produtor........................ 2
9
Figura 12 - Variação Equivalente......................................................................... 3
3
Figura 13 - Variação Compensatória.................................................................... 3
4
Figura 14 - Compensatória e variação equivalente para bens ofertados 3
gratuitamente até certo limite............................................................. 6

Figura 15 - Variação equivalente e variação compensatória com a aplicação da 4


função de utilidade métrica monetária.......................................... 1
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO:....................................................................................................10

2. Fundamentação Teórica sobre o Excedente do Consumidor:......................11

2.1. Princípios sobre o comportamento do consumidor......................................11

3. Os efeitos sobre o Excedente do consumidor e do produtor:.....................16

4. A política comercial internacional e seus efeitos sob Excedente do


consumidor e do produtor:...............................................................................20

5. Calculando o excedente do consumidor e do produtor através da integral


definida................................................................................................................26

6. Medidas de variação de bem-estar:.................................................................31

6.1. Medidas teóricas que avaliam as mudanças no nível de bem-estar:..........32

6.1.1. Variação Equivalente:.................................................................................33

6.1.2. Variação compensatória:...........................................................................34

7. Função de utilidade indireta com métrica monetária aplicada a Variação


Compensatória (VC) e a Variação Equivalente (VE):......................................39

8. CONCLUSÃO:.....................................................................................................43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:...........................................................................45
1. INTRODUÇÃO:

Tendo em vista que o papel do economista é de imbuir-se de instrumentos


econômicos para avaliar comportamento econômico para sociedade, este trabalho
desenvolve-se a partir da moldura teórica do comportamento do consumidor,
embasada em procedimentos da teoria neoclássica que busca a mensuração dos
bens e serviços em termos monetários e através da teoria do excedente do
consumidor que proporciona um modo de classificar as diferentes distribuições de
utilidades entres os consumidores.

A oportunidade referencial deste trabalho é enfatizar nos meios acadêmicos a


moldura teórica do comportamento do consumidor. O que nos leva a instigar e a
responder questões como: Quanto o consumidor estaria disposto a aceitar uma
variação na renda que evitasse uma modificação no nível de preços, mas que o
mantivesse em seu nível satisfatório? Ou quanto seria necessário para compensar o
consumidor, quando este sofrer uma variação em seu nível de satisfação, para que o
mesmo mantenha sua disposição a pagar?

A partir desses fatores, o objetivo deste trabalho de conclusão de curso é


descrever os princípios teóricos sobre o excedente do consumidor. No
desenvolvimento desta monografia abordaremos de modo descritivo, o referencial
teórico que fundamenta este instrumento, utilizando uma abordagem gráfica e
linguagem matemática sofisticada sobre o excedente do consumidor e sobre as
variações comparativas e equivalentes. A pesquisa foi embasada em referencias
bibliográficas através de livros técnicos, cadernos tecnológicos, textos para
discussão, artigos científicos.

9
Fundamentação Teórica sobre o Excedente do Consumidor:

.. Princípios sobre o comportamento do consumidor1.

O comportamento do consumidor é base para formulação de muitas hipóteses


no campo das análises econômicas, ao que abrange o excedente do consumidor
parte-se da aplicação da Teoria do Consumidor através da análise da demanda. A
demanda é uma estimativa da utilidade, porque a curva de demanda reflete a
disposição a pagar dos compradores e pode ser usada para medir o excedente do
consumidor.

Doutrinas econômicas proporcionaram a mensuração do comportamento do


consumidor seguindo hipóteses de cardinalidade, onde neste contexto se destacam
as seguintes características: o consumidor age de modo racional e tem
conhecimento perfeito tanto de suas preferências quanto das condições de mercado;
a maximização da utilidade se limita ao nível de renda; a utilidade é passível de
mensuração, através de sua função aditiva da utilidade.

A partir da teoria ordinal propõe-se que as preferências 2 dos consumidores


são quem determinam sua curva de indiferença, ou seja, seu nível de consumo, não
observando nenhuma medida de utilidade. Apenas a ordenação do comportamento
do consumidor através de suas preferências em relação a dois bens distintos

X  x1, x 2 ,..., xn  e Y  y1, y 2 ,..., y n  , o consumidor saberá se é preferível X é

preferível a Y , se Y é preferível a X ,ou se X é indiferente a Y . Utilizando de

símbolo Y  X para dizer que Y é preferível a X , e X ~ Y , para exprimir que X

é indiferente a Y , o que equivale a seguinte ordem: X > Y , ou Y > X , ou X ~


Y.

Nessa perspectiva teórica da mensuração cardinal das preferências do


consumidor, a utilidade que cada bem proporciona ao consumidor passa a ser

1
Fundamentado segundo a teoria ordinal do comportamento do consumidor descrita em Simonsen,
1993, vol. 1, pág. 61 a 64.
2
Preferências são de modo subjetivo o desejo de cada consumidor, ou seja, as preferências são
determinadas hipoteticamente.

10
mensurada, da mesma forma que se mede o peso de um objeto. Onde utilidade é
definida como a capacidade de satisfação de desejos humanos, provenientes do
consumo de determinada quantidade de bens e, adicionalmente3. Outro conceito
que contribui na analise do comportamento do consumidor está na utilidade marginal
decrescente - a satisfação obtida pelo consumo da última unidade do bem se difere
da utilidade total, que mensura a satisfação adicional decorrente do consumo de
uma quantidade adicional. Respectivamente dadas pelas equações:

x1, x 2 ,..., xn   1x1   x 2   ...  x n  (2.1.1)

UMgi d2ui
 2  0 para toda mercadoria i. (2.1.2)
qi dqi

Alfred Marshall (1842 – 1924), em sua principal obra Princípios de Economia,


contribuiu para o pensamento econômico marginalista, analisando o modo racional
do comportamento do consumidor através da curva de demanda marshalliana
descrita por medir os benefícios recebidos pelos consumidores quando adquirem
determinado bem. Dada em função de:

x1  x1p, m (2.1.3)

sendo P é o vetor de preços relativos e M é a renda monetária individual.

Os condicionantes algébricos apresentados subsidiam a descrição do


comportamento do consumidor através do conceito de excedente do consumidor,
que representa a diferença entre o que o consumidor está disposto a pagar e o que
ele efetivamente paga por um bem (FILHO, et. al., 1998, p.88). Para exemplificar o
conceito, suponhamos que Lara após uma longa caminhada foi à procura de água. E
o produto estava sendo comercializado por ambulantes ao custo de R$ 2,00 (preço
de mercado). A sede de Lara era muito grande, o que sugeriu a ela a disposição a
pagar até R$ 4,00 pelo produto. Essa diferença R$ 4,00 – R$ 2,00 = R$ 2,00, é o

3
Possui característica aditiva devido ao fato que o consumidor poderá designar um número de
qualquer quantidade de um produto, e a utilidade total será a soma das utilidades associadas a cada
produto consumido, conforme expresso na equação (1);

11
excedente auferido por Lara, ou melhor, quanto ela ganhou com a comercialização
da água.
Uma maneira de verificarmos o nível de satisfação obtido por um consumidor
individual estar em analisarmos a curva de demanda individual de modo que ela se
pareça com uma escada.

Preço
(R$)
4

3,5

2,5
Excedente do
consumidor
2

C Quantidade
0 1 2 3 4
(x)

Figura 1 - O formato em escada da curva de


demanda proporciona os diferentes níveis que o
consumidor estaria disposto a pagar.

O excedente do consumidor corresponde ao benefício total obtido pelo


consumo de determinado bem produto menos o custo total de sua aquisição. Na
Figura 1, o excedente do consumidor associado ao consumo de quatro garrafas
d’água é dado pela área sombreada em cinza.

Quando estiver decidindo quanto de água consumirá, Lara poderá efetuar os


seguintes cálculos: a primeira garrafa custa R$ 2,00, mas vale R$ 4,00 (valor
máximo que Lara pagaria para adquirir a primeira garrafa d’água). Nessa primeira
aquisição Lara adquiriu um excedente de R$ 2,00. Ao adquirir a segunda unidade
seu excedente corresponde a R$ 1,50, na terceira unidade R$ 1,00, na quarta
unidade R$ 0,50. A quinta unidade lhe seria indiferente, pois não traria nenhum grau
de satisfação.

12
O excedente do consumidor total é obtido por meio da soma dos valores dos
excedentes correspondentes a cada uma das unidades adquiridas. No caso da
Figura 1 o excedente do consumidor é igual a:

R$ 2,00  R$ 1,50  R$ 1,00  R$ 0,50  R$ 5,00 (2.1.4)

Ao associarmos a curva de demanda que corresponde à disposição a pagar


de vários consumidores temos o mesmo argumento utilizado pelo formato escada da
curva de demanda, neste caso, conforme mostra a Figura 2. Para calcularmos o
excedente do consumidor agregado em um mercado, calculamos a área situada
abaixo da curva de demanda de mercado e acima da linha de preço.

Preço
R$

CExcedente
do
consumidor

Gasto Efetivo Curva de


Demanda

Quantidade de
garrafas d’água

Figura 2 - Excedente do Consumidor no caso geral

13
Outra concepção de analise do excedente do consumidor partir do conceito
do preço de reserva, o preço máximo que o consumidor está disposto a pagar pelo
bem, dado pela diferença nas utilidades:

r1  1  0 
r2  2  1
r3  3   2
.
.
.
r1  r2  r3  3   0  (2.1.5)

O comportamento do consumidor é baseado no modo em que o consumidor


avalia os bens, e ele atribui o montante ri pela i-ésima unidade consumida, mas
pagando somente o preço p por cada um. Então o valor atribuindo a primeira
unidade ( r1 ) do bem consumido será r1  p , onde p  preço de reserva,
conseqüentemente temos que o excedente do consumidor será:

EC  r1  p  r2  p  ...  rn  p  rn  np (2.1.6)

Simplificando temos que:


EC  n  pn (2.1.7)

14
5. Os efeitos sobre o Excedente do consumidor e do produtor:

Como já definimos o conceito de excedente do consumidor, podemos aplicar


também aos produtores o mesmo conceito como uma medida análoga que se refere
aos ganhos dos produtores. E com base no excedente do consumidor e do produtor,
podemos avaliar os efeitos de bem-estar provocados por uma intervenção
governamental no mercado, Por exemplo:

Preço
R$

Excedent
e do
consumid
P0 or
Excedente do produtor

Q0 Quantidade

Figura 3 - Excedente do consumidor e do produtor.

I. Ao medir o beneficio agregado que os consumidores obtêm ao adquirir


produtos no mercado;
II. Na avaliação de custos e benefícios no mercado;
III. Na aplicação de políticas governamentais capazes de alterar o
comportamento dos consumidores e das empresas;
IV. Na avaliação dos efeitos de bem-estar provocados por uma intervenção
governamental no mercado. Determinando quem ganha e quem perde
com a intervenção e quanto se ganha e se perde.

15
Para demonstrarmos o item IV, consideremos uma situação onde a
intervenção do governo seja sob o controle de preços, onde não se permite que os
produtores cobrem mais do que o preço máximo, estabelecido abaixo do nível que
equilibra o mercado.

O preço máximo de um bem foi fixado em PMÁX , que está abaixo do preço de
mercado p0 . O ganho dos consumidores é a diferença entre o retângulo A e o
triangulo B. a perda dos produtores é a soma do retângulo A e do triângulo C. Os
triângulos B e C em conjunto medem o peso morto devido ao controle de preços. O
peso morto corresponde à perda líquida do excedente total.

Preço
R$

Peso morto S

Peso Morto

B
P0
C
A
Pmáx

Escassez D

FiguraQ4 Quantidade
1 - Variação do
Q0 Excedente
Q2 do consumidor e do produtor devido
ao controle de preços.

16
Em se tratando de uma curva de demanda inelástica, o controle de preços

pode resultar em uma perda líquida de excedente do consumidor, com ilustra a

Figura 5, onde o triângulo B mede a perda sofrida pelos consumidores que não

conseguem adquirir a mercadoria, maior que o triângulo A, que mede o ganho dos

consumidores que conseguem adquirir a mercadoria.

Preço
R$
D

S
B

P0

Pmáx A C

Q1 Q2 Quantidade

Figura 5 - Efeito do controle de preços quando a demanda é inelástica.

17
No caso de uma empresa (monopolística) cobrar apenas um preço de todos

os seus clientes, esse preço deverá ser P , que corresponde a quantidade Q . A

empresa gostaria de cobrar mais dos consumidores que estejam dispostos a pagar

mais do que P , captando assim uma parte do excedente do consumidor situado

sob a região A da curva de demanda.

A empresa gostaria também de vender para os consumidores que estejam

dispostos a pagar preços inferiores a P , mas somente se isso não acarretar uma

redução de preço para os demais clientes. Dessa forma, ela poderia também captar

uma parte do excedente do consumidor situado sob a região B da curva de

demanda. São essas formar de captar o excedente do consumidor e transferi-lo para

o produtor, visto na Figura 6.

R$/Q

Pmáx

A
P1

P*
B
Cmg

Pc

Rmg

Q* Quantidade

Figura 6 - Captura do excedente do consumidor.

18
6. A política comercial internacional e seus efeitos sob Excedente do consumidor e
do produtor:

As relações comerciais entre países, são dotadas por instrumentos políticos que
controlam o comercio entre as nações. E estes instrumentos produzem efeitos que
equilibram o mercado. Segundo a teoria do excedente do consumidor e do produtor
os custos e benefícios serão auferidos através da imposição de barreiras como:
tarifas, subsídios, cotas etc...

Conhecidos os conceitos de excedente do consumidor e do produtor


verificaremos o comportamento gráfico desse comportamento governamental
dessas ferramentas de controle sob as relações comerciais entre as nações.

O efeito de uma tarifa é de elevar o preço de um bem no país importador e


diminuir o preço desse bem no país exportador. Em decorrência dessas mudanças
de preços, os consumidores perdem no país importador e ganham no país
exportador, ao mesmo tempo, os produtores ganham no país importador e perdem
no país exportador. Além disso, o governo que impõe a tarifa, ganha receita.

Um exemplo para retratar o ganho com o país consumidor, quando este está
disposto a pagar US$ 8,00 por tonelada de trigo, mas o preço fosse de apenas US$
3,00, o excedente do país consumidor nessa compra seria de US$ 5. Esse
comportamento já apresentamos com a Figura 1.

Para melhor retratarmos o comportamento do país importador, adotamos as


seguintes condições: a tarifa aumenta o preço doméstico de P W para P T , mas
diminui o preço das exportações estrangeiras de P W para PT . A produção
*

doméstica aumenta de Q1 para Q2 , enquanto o consumo doméstico cai de D 1


para D 2 . Os custos e benefícios para diferentes grupos podem ser expressos como
somas entre as áreas de cinco regiões, representadas por a, b, c, d e e na Figura 7.

19
Preço,P
O

PT
b
a c
PW d
T*
e
P
D

Q1 Q2 D2 D1 Quantidade, Q

= ganho do produtor ( a )

= perda do consumidor (a + b + c + d )

= ganho da receita do governo (c + e )

Figura 7 - Custos e benefícios das tarifas para o país importador.

Considerando o ganho dos produtores domésticos. Percebemos que eles


recebem um preço mais elevado e, portanto, tem um excedente maior do produtor. J
á que o excedente do produtor é igual à área abaixo do preço, mais acima da curva
de oferta. Antes da tarifa, o excedente do produtor era igual à área abaixo de P W ,
mas acima da curva de oferta; com o aumento de preço para P T , esse excedente
tem um aumento igual à área representada por a. Isto é, os produtores ganham com
a tarifa.

Os consumidores domésticos também se defrontam com um preço maior e,


por isso, saem perdendo com a mudança. Já que o excedente do consumidor é igual

20
a área acima do preço, mas abaixo da curva de demanda. Como o preço com que
os consumidores se defrontam aumenta de P W para P T , o excedente do
consumidor cai pela área indicada por a + b + c + d. logo os consumidores são
prejudicados pela tarifa.

O governo ganha ao arrecadar a receita das tarifas. Tendo essa receita valor
igual a alíquota da tarifa t vezes o volume de importações: QT  D2  Q2 . Como

t  PT  PT
*
, a recita do governo é igual a soma das áreas c e e.

Outra forma de interpretar é calcular o efeito líquido de uma tarifa sobre o


bem-estar, já que os ganhos e perdas incidem sobre diferentes pessoas, partindo do
pressuposto de que, na margem um dólar de ganho ou de perda para cada grupo
tem o mesmo valor social. o custo líquido de uma tarifa é:

Perda do consumidor - ganho do produtor - receita do governo

ou, substituindo esses conceito pelas áreas da Figura 7,

a  b  c  d   a  c  e   b  d  e (4.1)

21
Preço,P
O

PT

b
PW d
e
PT* D

Quantidade, Q
Importações

= perda de eficiência (b + d)

= ganho de termos de troca ( e )

Figura 8 - Efeitos líquidos das tarifas sobre o bem-estar.

Os efeitos líquidos das tarifas sobre o bem-estar podem ser verificados pela
perda de eficiência que sugere quando uma tarifa distorce os incentivos para
consumir e produzir, e pelo ganho dos termos de troca que surge porque a tarifa
diminui os preços das exportações estrangeiras.

Os efeitos negativos consistem nos dois triângulos b e d. O primeiro


representa a perda pela distorção da produção, resultante do fato de que a tarifa
leva os produtores domésticos a produzir o bem em demasia. O segundo triângulo
representa a perda pela distorção do consumo doméstico, resultante do fato de que
a tarifa leva os consumidores a consumir muito pouco do bem. Essas perdas
opõem-se o ganho dos termos de troca, representado pelo retângulo e , que resulta
do declínio do preço das exportações estrangeira causada pela tarifa.

22
Preço,P
O
S
P
a c d
Subsídio PW b
e f g
PS*

Quantidade, Q
Exportações

= ganho do produtor (a + b + c)

= perda do consumidor (a + b)

= custo do subsídio governamental (b + c + d + e + f + g)

Figura 9 - Efeitos dos subsídios à exportação

Outro instrumento de política comercial está no subsídio à exportação que é


um pagamento a uma firma ou indivíduo que envia um bem para o exterior. Este
pode ser especifico (uma soma fixa por unidade) ou ad valorem (uma proporção do
valor exportado). Quando o governo oferece subsídios, os exportadores exportam
até o ponto em que o preço doméstico excede o preço estrangeiro pelo montante do
subsídio.

Os efeitos dos subsídios à exportação sobre o preço (Figura 9), são


exatamente o inverso dos ocasionados pelas tarifas. O preço no país exportador
aumenta de P W para P S , mas, como o preço no país importador cai de P W para

P S* , o aumento do preço é menor que o subsídio. No país exportador os

consumidores são prejudicados, os produtores ganham e o governo perde porque


deve gastar dinheiro com o subsídio.

23
No país exportador, os consumidores são prejudicados, os produtores
ganham e o governo perde porque deve gastar dinheiro com o subsídio. A perda do
consumidor é representada pela área a + b, o ganho do produtor, pela área a+ b+ c,
e o subsídio do governo (a quantidade de exportações vezes o montante de
subsídio), pela área b + c + d + d + e + f + g. A perda líquida de bem-estar é,
portanto, a soma das áreas b + c + d + d + e + f + g. Dessas b + c pela distorção do
consumo e da produção. Além disso, o subsídio a exportação piora os termos de
troca, na medida em que baixa a preço das exportações no mercado estrangeiro de

P W para P S* . Isso leva a perda adicional dos termos de troca e + f + g, igual a

PW - P S* , vezes a quantidade exportada com o subsídio. Logo, os subsídios à


exportação geram, sem dúvida, custos que excedem seus benefícios.

24
7. Calculando o excedente do consumidor e do produtor através da integral
definida.

Através do conceito de excedente do consumidor, conhecemos as medidas de


ganho que os consumidores obtêm por adquirir certa mercadoria. Conceitualmente,
temos que o preço que um consumidor pago por uma certa mercadoria está abaixo
do que ele estaria disposto a pagar para não ficar sem ela.

Para conhecermos o nível de satisfação que o consumidor aufere ao consumir


um produto a um preço máximo que ele estaria disposto a pagar para não abrir mão
do bem, e diferencia-lo do preço que o consumidor efetivamente paga. Nos
reportaremos a transcrever neste trabalho a aplicação da integral definida, dada por
Riemann4, que calcula a medida da área de uma região, conhecida por soma de
Riemann:

n
 _

  f  i   p  x , (5.1)
i 1  

Onde:

A curva de demanda dada pela equação p  f x  , esboçada na Figura 7, as


coordenadas x, p  representam o ponto A, onde p é o preço de mercado e x é o
números de unidades na demanda correspondente. Neste caso, a função f é
contínua no intervalo 0, x ;
x pode assumir qualquer valor no intervalo,
logo,
sendo este dividido em subintervalos n , cada um com o comprimento x . E

respectivamente, n é xi 1, xi  , onde i  1, 2, ... , n .

4
Matemático George Friedrich Bernhard Riemann (1826 – 1866)

25
p

i, f i 
f i   p  
A x, p
p  f x 
p
i
0

x x x x
Figura 10 - Analise de Riemann, sobre o excedente do consumidor.
x
i 1 i

Ao escolhermos qualquer número i tal que x i 1  i  x1 em cada

subintervalo. Quando i unidades de mercadoria são demandadas, o preço é f i  ,


que é maior do que o preço de mercado p , assim o excedente de satisfação

proporcionado é f i   p . Para x próximo de zero o excedente de satisfação para

cada valor de x em xi 1, xi  está próximo de f i   p . O produto f i   p x é  


uma aproximação do excedente de satisfação total proporcionado quando a

demanda x assume todos os valores do intervalo xi 1, xi  , dados pela Soma de
Riemann na equação (5.1), que é uma aproximação do que os economistas tomam
intuitivamente de excedente do consumidor.

Tomando o limite quando n   desta soma de Riemann (o limite existe


dada a exigência da continuidade de f em 0, x , temos a integral definida:
 f   f x  pdx
n x
lim
n  
i 1
i  p x  
0
(5.2)

O primeiro membro acima pode ser descrito como:

 f x dx    f x dx  p x
x x x

0 0
pdx 
0
(5.3)

26
que dá a área da região abaixo da curva de demanda e acima da reta p  p.

E que nos leva a seguinte definição, o excedente do consumidor é dado pela área
abaixo da curva de demanda e acima da reta de preço. Logo, o EC é o numero de
unidades monetárias correspondente ao excedente do consumidor.

 f x dx p x
x
EC 
0
(5.4)


 gp dp
b
EC  (5.5)
p

onde b  f 0 

Para auxiliar a compreensão do texto acima, tomemos como exemplo 1,


onde as equações de oferta e demanda para uma certa mercadoria são,
respectivamente 3 p 2  p  x  0 e 3 p  x  32 . Onde o p é o preço unitário e x
unidades é a quantidade. Determine o excedente do consumidor se prevalecer o
equilíbrio de mercado, e faça um esboço mostrando a região cuja área dá o
excedente do consumidor.

32  x 8
3 p 2  p  32  3 p   0
24
EC  dx   24
0 3 3
3 p  4 p  32  0
2
24
32 1 
 x  x 2   64
3 p  8 p  4   0 3 6 0

8  96
p , x  24
3

 8
E 24, 
 3

Ao tratarmos sobre o excedente do produtor dentro da concepção de


Riemann, verificamos que a curva de oferta dado por p  hx  ,com interseção nos
ponto A x, p , onde x são as unidades ofertadas, quando o preço de mercado é
p . Da mesmo forma exigi-se que a função p  hx  seja contínua em 0, x .
Dividindo o intervalo 0, x  em n subintervalos da forma xi 1, xi , onde i  1, 2, ... , n

27
e onde cada intervalo vale x . Em cada subintervalo escolhemos o número i , tal
que x i 1  i  x1 .

p  hx 
i, hi 
p

A  x, p 

a
i

o x i 1 xi x x
x
Figura 11 - Analise de Riemann, sobre o excedente do produtor.

Para uma oferta de i unidades o preço ofertado é hi  . O preço de

mercado , dado por p , é maior que hi  , assim o ganho do produtor com o preço

de oferta hi  é p  hi  . Para obtermos x próximo de zero, o ganho do

produtor para cada valor de x em xi 1, xi  é próximo de p  hi  , e o produto

p  h x é uma aproximação do ganho dos produtores quando a quantidade


i

ofertada assume todos os valores do intervalo xi 1, xi  . A soma de Riemann:

 p  h x
n

i
i 1

É uma aproximação do que os economistas tomam intuitivamente como


sendo o excedente do produtor. Como h é contínua em 0, x , o limite da soma
acima, quando n   , existe, e temos a integral definida:

28
 p  h x   p  h dx
n x
lim i i
n   0
i 1

pdx   hx dx


x x
 
0 0

ou equivalente,

 p dp ,
P
EP   0
onde a = h(0).

Para auxiliar a compreensão do texto acima, tomemos como exemplo 2,

1  12 x  1
dada a equação p  hx   , determine o excedente do produtor. Tendo o
6

 8 8
ponto de equilíbrio  24,  , x = 24 e p = ; assim , se EP é o excedente do
 3 3

produtor temos.
8 24 1  12 X  1
EP   24   dx
3 0 6
24
1 1 
 64   1  12x 3 2
 x
2 18 0

358
  13,26
27

Logo o excedente do produtor é $ 13,26. A região cuja área sombreada


representa o excedente do produtor.

29
8. Medidas de variação de bem-estar:

Marshall ao argumentar que apenas as decisões racionais do consumidor


favorecem uma medida de bem-estar, observa-se uma fragilidade ao modelo, que
negligenciam as variações de preço e renda que influenciam na decisão do
consumidor. Sendo assim, os teóricos economistas apresentaram novas medidas de
variação de bem estar que apresentaram cardinalidade ao modelo econômico, ou
seja, atribuíram valores monetários ao método.

Simonsen, 1993, constrói uma análise crítica sobre o excedente do


consumidor, admitindo que este método torna-se inadequado para medir o ganho do
consumidor com a divisibilidade dos bens, partindo assim, para redefinição do
excedente do consumidor e introduzindo os conceitos de variação compensatória da
renda e de variação equivalente do preço.

Hicks (1987) apresenta argumentos para interpretar a demanda do

consumidor, segundo as variações de preço, e descreve desta forma:

“...procuramos conhecer as condições que determinam as

quantidades compradas por certos preços para que possamos usá-las

para descobrir as alterações de quantidades compradas quando os

preços mudarem.”

A versão hicksiana é uma interpretação da teoria de Marshall, a qual através

da utilidade marginal do dinheiro, supõe que esta função seja constante. E se o

preço cai, a utilidade marginal também deve reduzir-se. Portanto Hicks considerou

que a hipótese de constância da utilidade marginal do dinheiro significava que a lista

de demanda do consumidor não seriam afetadas por mudanças na sua renda real, e

sim por um efeito-renda pequeno.

30
John Richard Hicks (1904-1989), reformulou a analise do excedente do

consumidor a partir da teoria ordinal que se concentra em mudanças relativas, onde

as medidas monetárias de bem-estar do consumidor podem ser desenvolvidas

independentemente das hipóteses de Marshall sobre as preferências dos

consumidores. Portanto, a curva de demanda hicksiana é a variação na renda que

seria necessária para desenvolver esse consumidor ao mesmo nível de satisfação

de antes da variação do preço.


h  p1, p2 , U  (6.1)

A variação na renda necessária para fazer com que o consumidor seja devolvido

a sua curva de indiferença original é conhecida como compensação hickisiana da

renda. O que faz com que a linha orçamentária final se desloque, e surja um novo

ponto de equilíbrio precisamente sobre a curva de indiferença original .

.. Medidas teóricas que avaliam as mudanças no nível de bem-estar:

Hicks desenvolveu quatro medidas teóricas para avaliar mudanças no nível


de bem-estar do consumidor provocadas por variações nos preços: variação
compensatória (VC), variação equivalente (VE), excedente compensatório (EC) e
excedente equivalente (EE). As medidas de excedente (EC e EE) são aplicadas para
os casos em que os preços variam, mas as quantidades consumidas são mantidas
constantes. Em contrapartida, as variação compensatória (VC) variação equivalente
(VE) se aplicam quando o consumidor é livre para ajustar as suas quantidades
depois dessa mudança de preços. [Harley e Spash, 1993, p 32 in Nogueira, 1998].

Para Hicks (1987) negligenciar as variações na renda produz uma


interpretação muito vaga. Ao considerar este efeito em termos monetários, sugere os
seguintes questionamentos: a) quanto em adicional seria necessário “dar” ao
consumidor para compensá-lo pela variação de preço do bem (VC); b) quanto o
consumidor estaria disposto a pagar para evitar uma variação no preço (VE).

31
8.1.1. Variação Equivalente5:

Quando questionamos qual é a variação na renda de um consumidor que


seria para ele tão desejável quanto uma eventual mudança na posição de sua
restrição orçamentária? Estamos tratando sobre a variação equivalente que indicaria
a compensação necessária para que essa mudança não fosse feita. Observando a
Figura 12 temos:

q2
D

VE/p2
A

E2

E1
E0
I1

I0
B F C
1
VE/p 1
q1

Figura 12 - Variação Equivalente

A representação da restrição orçamentária do consumidor está no segmento


AB, aos preços originais p10 e p2, com renda inicial de R0. O equilíbrio original do
consumidor é representado pelo ponto E 0. Quando o preço do bem 1 cai para p 11 , a
linha da restrição orçamentária se desloca para AC e o consumidor atinge um novo
equilíbrio em E1 sobre uma curva de indiferença mais elevada que a original. Um
equilíbrio sobre essa curva também seria atingido se, em vez de uma redução no
preço do bem 1 de p10 para p11, houvesse uma elevação na renda do consumidor de
tal monta que a linha de restrição orçamentária desse consumidor se deslocasse
para DF. Essa elevação na renda é a variação equivalente. Obtida por VE = AD x p 2
ou por VE = BF x p10. Se p2 = 1, ela será dada pela distância AD.

5
Fundamentado em VASCONSELLOS, Marco Antonio S. de, OLIVEIRA, Roberto Guena de,
Manual de Microeconomia. 2ª ed. São Paulo : Atlas, 2000.

32
Um exemplo pode facilitar a compreensão sobre variação equivalente. Seria o
programa desenvolvido pelo governo de Roraima, denominado “Programa Vale
Alimentação”, com o objetivo de complementar mensalmente com recursos parcela
da população do Estado, que se encontram em situação de vulnerabilidade social e
possui renda mensal per capita igual ou inferior a meio salário mínimo. Tendo em
vista essa situação o governo através deste programa indeniza o consumidor pela
não realização da assistência devida, seja referente à geração de emprego,
aumento salarial, assistência médica a idosos, etc.

8.1.2. Variação compensatória6:

De modo geral a variação compensatória pode ser pensada como uma


medida da disposição a pagar do consumidor para que haja uma mudança no preço
de um bem, ou simplesmente, para que haja uma alteração em sua linha de
restrição orçamentária. Observando o gráfico temos:

VC/p2
D

E1
E0

E2

B F C
1
VC/p 1

Figura 13 - Variação Compensatória

A variação compensatória na renda é a redução na renda do consumidor que,


aplicada após a redução no preço da mercadoria 1, faz com que esse consumidor
fique exatamente tão bem quanto ele estava antes dessa redução de preço. A linha
6
Fundamentado em VASCONSELLOS, Marco Antonio S. de, OLIVEIRA, Roberto Guena de,
Manual de Microeconomia. 2ª ed. São Paulo : Atlas, 2000.

33
DB indica qual seria a sua restrição orçamentária se após a redução no preço da
mercadoria 1 de p10 para p11 (p10 > p11). ´

Após a compensação na renda, o consumidor deve encontrar o equilíbrio


sobre sua curva de indiferença original. Isso acontece no ponto E 2. Sendo R0 a renda
original do consumidor e R1 a renda desse consumidor após a compensação ter sido
efetuada, a variação compensatória (VC) é dada por VC = R 0 – R1. Dados que

R0 R1
OA  ; OD  ; o segmento DA tem sua medida dada por DA = OA – OD =
p2 p2

R0 R1 VC
  . Assim, o segmento DA representa a variação compensatória na
p2 p 2 p2

renda medida em termos do bem 2. ou ainda VC = DA x p 2. Se o preço do bem 2 for


exatamente igual a 1, então a variação compensatória será dada exatamente pelo
tamanho do segmento DA. Por raciocínio, podemos concluir que a variação

VC
compensatória da renda também é dada por  FC , ou seja, VC  FCxp11 .
p11

Para melhor compreendermos o método de variação compensatória supomos


que haja uma redução no preço da mercadoria 1, e o consumidor tenha que pagar
alguma soma monetária Q. Seria como se ele pudesse comprar reduções no preço
dessa mercadoria. Se esse fosse o caso e se o consumidor “comprasse” essa
redução no preço, então a sua linha de restrição orçamentária ficaria, após a
redução no preço, abaixo da linha AC. Isso aconteceria porque sua renda disponível
para a compra dos bens 1 e 2 seria dada pela sua renda original , R0 menos a
quantia Q. Esta interpretação, ocorre porque, o consumidor pagando a variação
compensatória, está sofrendo uma variação em sua renda exatamente igual à
compensação hickisiana.

Outra interpretação da variação compensatória está quando surge uma


disposição a pagar de um consumidor para que ocorra uma variação no preço de um
bem. Quando há uma redução no preço de um bem sem que a renda do consumidor
seja por isso afetada, o consumidor é contemplado com um benefício pelo qual ele

34
estaria disposto a pagar o valor dado pela variação compensatória. Neste caso a
variação compensatória como uma medida monetária do ganho obtido pelo
consumidor em decorrência da redução do preço do bem.

Um exemplo para compreendermos o método de variação compensatória


está em observamos se caso o governo executasse um projeto que teria por impacto
reduzir o preço de uma mercadoria. Uma pergunta que ele poderia fazer é: quanto
esse consumidor estaria disposto a pagar por esse projeto? Aplicando o conceito
adequado seria o de variação compensatória concluímos que a oferta de um bem
público implica em custos para sociedade. Para o caso desses bens, o consumidor
tem sua utilidade afetada conforme a disponibilidade do mesmo se torna maior ou
menor. Por exemplo, a poluição do Baixo Rio Branco diminui a utilidade de água que
atende uma série de objetivos como, a pesca, o uso da água para irrigação, para
abastecimento dos moradores, para os banhistas etc.

RE

VE
R0 E0 E1

VC
RC
I1
I0

q1

Figura 14 - Compensatória e variação equivalente para


bens ofertados gratuitamente até certo limite.

Ao tratamos do comportamento do consumidor quando temos um bem que


não possui preço de mercado e são ofertados ao consumidor gratuitamente até um

35
certo limite. Verificamos que nestes casos o consumidor tem sua utilidade afetada
conforme a disponibilidade do bem se torna maior ou menor.

A representação do quanto que o consumidor pode consumir do bem sem

preço desde que esse consumo não ultrapasse um limite q10 . Terá sua restrição
orçamentária representada em um gráfico de duas dimensões; a renda disponível
para o consumo com todos os outros bens como sendo o bem representado no eixo
vertical. Se R0 é a renda disponível do consumidor, o conjunto de cestas de
consumo disponíveis a ele será dado pela área em cinza-escuro abaixo e sobre a
linha horizontal R  R0 . Nesse caso, o consumidor optaria por consumir no ponto
E0 sobre a curva de indiferença I0 .

0
Havendo um elevação no limite de consumo do bem sem preço de q1 para
1
q1 . O conjunto de cestas de consumo disponíveis seria acrescido da área cinza-

claro incluindo os pontos sobre a linha R  R0 à esquerda de q1 , e o consumidor


1

escolheria a cesta de consumo E1 , sobre a curva de indiferença I1 . Para fazer


com que o consumidor volte a consumir sobre a curva de indiferença I0 , seria
necessário reduzir a renda do consumidor para Rc . Portanto, a variação
compensatória na renda é igual a R0  Rc . Por outro, lado, se quiséssemos levar o
consumidor a consumir sobre a curva de indiferença I1 , mantendo a quantidade
0
disponível do bem sem preço em q1 , teríamos que elevar sua renda para RE .

Assim a variação equivalente é igual a RE  R0 .

Para auxiliar a compreensão do texto acima, tomemos como exemplo 3 7:

x1, x 2   x1 2 , x 2 2 ,
1 1
Dada a função utilidade os preços 1,1 , renda US$100,00 .

Sendo que o preço do bem 1 aumenta para 2. Quais são as variações


compensatória e equivalente.

Temos a função demanda Cobb-Douglas dadas por:

7
Extraído de Varian, 2007, pág. 274 e 275.

36
m m
x1  e x2  ;
2p1 2p 2

As quantidades demandas são:


1 1
1 1
 m 2  m 2
     50 2 50 2.
4 2

m  100 2  141.

Assim, o consumidor necessitaria de aproximadamente 141-100 = US$ 41,00


adicionais para após a variação de preço para fazê-lo ficar tão bem quanto antes.

Para calcularmos a variação equivalente, perguntemos quanto de dinheiro seria


necessário aos preços 1,1 para que o consumidor ficasse tão bem quanto estava
ao consumir a cesta 25,50  .
1 1
1 1
 m 2  m 2
     25 2 50 2.
2 2

m  50 2  70.

Neste caso, se o consumidor tivesse uma renda de US$ 70,00 aos preços originais
estaria tão bem quanto ao defrontar-se com os novos preços e ter uma renda de
US$ 100,00. A variação equivalente na renda é, portanto, de aproximadamente 100-
70= US$ 30,00.

37
9. Função de utilidade indireta com métrica monetária aplicada a Variação
Compensatória (VC) e a Variação Equivalente (VE):

Microeconomicamente, a variação compensatória mede quanto de dinheiro


adicional o governo8 teria de oferecer ao consumidor se quisesse compensá-lo pela
variação no preço. A função de utilidade que proporciona o detalhamento das
escolhas observadas é denominada por função de utilidade indireta com métrica
monetária9, através desta função obteremos a despesa mínima para obter um
determinado bem, dado à variação de preço, sendo que o consumidor se comporta
de forma tão boa quanto a que estava anteriormente.

mp, x   ep, x  (7.1)

Dado que x é fixo, sendo  x  fixo, conseqüentemente mp, x  . O dinheiro

necessário para esse ressarcimento é verificado pela igualdade da função utilidade


com métrica monetária com a função despesa (função de utilidade indireta).

p; q, m  ep, q, m (7.2)

Através desta função verificamos quanto dinheiro necessitaria uma pessoa


para que essa permanecesse, dado a variação de preços p , tão bem quanto se
estivesse enfrentado preços q e mantendo a renda m . Outro caso seria a
verificação direta do comportamento da função despesa onde p; q, m estão sob a
interferência p . De forma indireta que p; q, m está sob interferência de q .

A variação compensatória através da função utilidade com métrica monetária,


nos proporcionará a variação da renda necessária para compensar o consumidor
caso ocorra uma mudança no nível de preços, onde p 0 passa para p 1 , de forma

8
Quando tratamos os recursos naturais como bens públicos adotamos o governo como fornecer
deste bem, ou seja, o governa será encarregado de compensar o consumidor por variações de preço,
para que se possa preservar um recurso natural.
9
Ao adotarmos a função utilidade com métrica monetária, optamos por uma ferramenta
microeconômica que nos proporcionará medir o bem-estar, através da despesa mínima que o
consumidor terá de desembolsar para manter determinado recurso natural. Esta função assume
característica de uma função utilidade quase linear, ou seja, o comportamento das curvas de
indiferença são versão deslocadas de uma curva de indiferença.

38
que mantenha o consumidor no mesmo nível de utilidade inicial. Verificamos que a
medida está descrita por:

    
VC   p1; p1, R1   p1; p0 , R0  R1   p1; p0 , R0 (7.3) 

Aplicação da função de utilidade métrica monetária, serve para medir qual o


gasto mínimo necessário para que os preços q se alterem e o consumidor
permaneça como mesmo nível de utilidade alcançado com os preços p e a renda
m . Essa função nos permitir definir a despesa atribuída ao consumidor, por ter
função idêntica a função despesa. Observe a equação (7.2):

onde: q; p, m  é a função de utilidade com métrica monetária; e


eq, v p, m é a função despesa e v p, m é a função de utilidade indireta. Usando

a definição descrita pela equação anterior, a variação de bem estar pode ser
expressa como:

  
 q; p1, m1   q; p0 , m0  (7.3)

De posse desse instrumento pode-se determinar as variações equivalentes


(VE) e compensatória (VC). A variação compensatória corresponde ao adicional da
renda, positivo ou negativo, capaz de fazer com que o consumidor permaneça no
mesmo nível de utilidade diante de uma mudança no cenário econômico. Admitindo
que essa mudança de cenário seja representada por uma variação econômica nos
preços p 0 para p 1 ,
VC = p1; p1, m1   p0 ; p0 , m0 
Como:
   
 p1; p1, m1  e p1, v p1, m1  m1
Logo:
VC = m1  p1; p0 , m0  (7.6)

39
A variação equivalente mede o impacto, em termos de renda, de uma
mudança no cenário econômico. Em outras palavras, mede a variação de renda que
faz com que o consumidor permaneça no mesmo nível de utilidade anterior caso
houvesse essa variação. De outro modo, considerando a variação nos preços p 0
para p 1 ,
VE = p0 ; p1, m1   p0 ; p0 , m0  (7.7)
Ou
VE = p0 ; p1, m1   m0 (7.8)

x1 x1

 VC
Peso

 VE
Peso

p1
p0 p 1
0
Peso
p
Peso Peso A
Peso x2
B x2

Figura 15 - Variação equivalente e variação compensatória com a aplicação da


função de utilidade métrica monetária.

Neste diagrama p = 1 e o preço de bem 1 diminuições de p° para p¹. Na figura


A, ocorre uma variação equivalente em renda - de quanto dinheiro adicional é
precisado ao p° de preço original para fazer o consumidor tão muito bem quanto ela
estaria enfrentando p¹. Na figura B descreve a variação compensatória na renda -
quanto dinheiro deveria ser levado longe do consumidor para o deixar tão muito bem
quanto ele estava enfrentando p° de preço.

40
A moldura teórica fundamenta o Método de Valoração Contingente (MVC),
que utiliza as variações compensatória e equivalente para medir o maior grau de
satisfação dos indivíduos em relação à alteração na disponibilidade dos recursos. O
modelo sugere um apresenta tratamento matemático mais detalhado para explicar e
justificar as decisões do consumidor. Através de hipóteses que devem ser
formuladas sobre o comportamento do consumidor a fim de obter algum tipo de
previsão de suas decisões.

41
10. CONCLUSÃO:

Observamos que através da teoria neoclássica do comportamento do


consumidor pode ser medido, através da hipótese da racionalidade de suas
decisões de consumo objetivam a maximização a utilidade proporcionada pelo
consumo de bens e serviços.

A ferramenta do excedente do consumidor é definida como a maior utilidade


que um consumidor obtém ao adquirir bens. Explicitamente consumidores raramente
pagam por um bem o preço que realmente estariam dispostas a pagar. O que
produz uma diferença a seu favor. A diferença entre o que os consumidores
efetivamente pagam e pelo que estariam dispostos a pagar surge pela diminuição da
utilidade gerada pelo bem à medida que seu consumo aumenta (utilidade marginal).

Ao observarmos a variação compensatória como uma medida de variação de


bem-estar utilizada para verificar qual o nível de renda o consumidor está disposto a
perder para que não ocorra um aumento de preço em determinado bem de sua
cesta de consumo. Vemos uma política que produz um efeito sobre a renda do
consumidor que teria que pagar para comprar obter uma redução de preço. Nessa
posição o consumidor assume o risco de baixar o seu nível orçamentário para
manter o seu consumo. O que melhor se enquadraria seria a imposição de imposto
a um bem público. No caso mais comum o aumento do imposto sobre a água, onde
estaríamos pagando mais para usufruir um produto de melhor qualidade.

Enquanto a variação equivalente refere-se a uma medida de variação de


bem-estar, de forma a compensar o consumidor, um valor mínimo, para que este
não sinta, em outras esferas de assistência, a não realização desses serviços. Um
exemplo atual seria o governo subsidiando planos de assistência médica a seus
servidores, com intuito de proporcionar-lhe uma compensação, devido ao fato de
que a saúde pública não atenda satisfatoriamente a essa clientela.

42
As ferramentas apresentadas no desenvolvimento deste trabalho são técnicas
disponíveis para a mensuração de perdas e ganhos, tornando-se grande aliado na
aplicação de políticas publicas que visem promover a satisfação de seu público alvo,
na aplicabilidade de projetos e destinação de recursos para fins específicos de
atendimento social. Vimos também à aplicabilidade do instrumental no âmbito das
relações comerciais internacionais tendo os mesmos objetivos de mensurar ganhos
e perdas entre países com relações comerciais.

43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

AGÜERO, Pedro Humberto Vivas, Avaliação Econômica dos Recursos Naturais.


São Paulo, 1996. Tese de doutoramento em Economia. Faculdade de Economia e
Administração da Universidade de São Paulo.

BRASIL, RORAIMA. Decreto nº 4.735A-E, de 02 de maio de 2002. Institui o


Programa Vale Alimentação, em favor de famílias em situação de vulnerabilidade
social, mediante complementação mensal de recursos para a aquisição de gêneros
alimentícios indispensáveis à subsistência de seus integrantes. Publicado no Diário
Oficial do Estado nº 114, de 18 de junho de 2002.

CHIANG, Alpha C. Matemática para economistas. tradutor: Roberto Campos


Moraes, revisão técnica: Luiz Lopes Salvador, São Paulo: McGraw-Hill do Brasil:
Ed. Da Universidade de São Paulo, 1982

CUNHA, Sandra Baptista da; GUERRA, Antonio José Teixeira, org., Avaliação e
perícia ambiental, 5ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

FIGUEIREDO, Erik Alencar, Método de Avaliação Contingente: Notas


Introdutórias. P. 1 – 22

FILHO, André F. M. │et. al.│; Manual de Economia. Diva Benevides Pinho, Marco
Antonio Sandoval de Vasconsellos. (org.) 3ª Ed. São Paulo : Saraiva, 1998.

HENDERSON, James M.; QUANDT, Richard E. Teoria Microeconômica: uma


abordagem matemática. Tradução de Sérgio Góes de Paula, Sup. Antonio Zoratto
Sanvicente. 2ª edição. São Paulo: Pioneira; 1988.

LEITHOLD, Louis. Matemática aplicada à Economia e Administração. Tradução


Cyro de Carvalho Patassa. São Paulo: Habra. 1988.

44
MARKIW, N. Gregory; Introdução à economia. Tradução Allan Vidigal Hastings.
São Paulo: Thomson Learning, 2007.

MAY, Peter H.; LUSTOSA, Maria Cecília; VINHA, Valéria da, (organizadores).
Economia do Meio Ambiente. 2ª reimpressão. Rio de Janeiro : Elsevier 2003. cap
1. pág. 33 a 60.; cap 3, pág. 81 a 99.

NOGUEIRA, Jorge M, │et. al.│. Quanto vale aquilo que não tem valor? Valor de
Existência, Economia e Meio Ambiente. Caderno de Ciência & Tecnologia,
Brasília, v.16, n.3, p. 59-83, set/dez 1999.

______,Valoração Econômica do Meio Ambiente: Ciência ou Empiricismo.


Caderno de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.17, n.2, p. 81-115, maio/agosto 2000.

PESSOA, Ruben Eurico da C., O método de avaliação contingente, Roraima,


1996, Tese de Mestrado em Economia. Universidade Federal de Roraima. P. 19 –
28.

PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. Tradução e revisão


técnica: Prof.º Eleutério Prado. 5ª Edição. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

SILVA, Sebastião Medeiros da │et. al.│ Matemática para os cursos de economia,


administração, ciências contábeis, 5ª ed. Cap. 5São Paulo: Atlas,

SIMONSEN, Mario Henrique, Teoria Microeconômica, 11ª ed. Rio de Janeiro:


Editora da Fundação Getulio Vargas, 1993.

TAUK-TORNISIELO, Sâmia Maria, │et. al.│, Análise Ambiental: uma visão


multidisciplinar. 2ª ed, 3ª reimpressão. São Paulo : Editora da Universidade
Estadual Paulista, 1995, p. 99-103, 156-162.

45
VARIAN, Hal R. Microeconomic analysis. 3ª ed. W.W. Norton & Company, Inc;
1992.

______, Hal R. Microeconomia: princípios básicos. Tradução da 2ª ed. Original de


Luciene Melo. – Rio de janeiro: Campus; 1994.

______, Microeconomia: princípios básicos. Tradução da 5ª ed. americana de


Ricardo Inojosa, Maria José Cyhlar Monteiro. – Rio de janeiro: Campus; 2000.

______, Microeconomia: conceitos básicos. Tradução da 7ª ed. americana de


Maria José Cyhlar Monteiro Ricardo Doninelli. – Rio de janeiro: Elsevier; 2006.

VASCONSELLOS, Marco Antonio S. de, OLIVEIRA, Roberto Guena de, Manual de


Microeconomia. 2ª ed. São Paulo : Atlas, 2000.

46

Você também pode gostar