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CAPITULO VI Conjuntura do final de século: a evidéncia em questdo? ma-se apenas de notas, extraidas do caderno de um historia- a mais do que esbocos rapidos de varias caracteristicas da a recente. Fazer historia, atualmente? Em primeiro lugar, yformular a questo, trinta anos depois dos volumes dirigidos Le Goff e Pierre Nora (1974), publicados sob esse titulo damente, se tornaram famosos com sua triparti¢io: novos abordagens, novos problemas?!"4 seguintes prolongam os capitulos precedentes, focali- re as disputas da narrativa, assim como sobre a testemunha e -maneiras modernas de retomar a questao da evidéncia. capitulo sugeria abordar a questo da narrativa e de seu sim como, de forma mais abrangente, o fendmeno da ca sob um prisma de duracio mais longa. O mesmo 0 segundo capitulo, que apresentava as relagGes esta- emunha e o historiador.A recente ascendéncia ‘0 piiblico é, com efeito, um nitido indicio \tura e, em particular, da posi¢io ocupada, ‘ia do presente (Harroc; Revel, 2001). re o olhar distanciado de Lévi-Strauss | em perspectiva. nos ainda trés caracteristicas pelos arquivos, a questio tae con camscet CConTURA 00 FNAL OF SECA: A EDEN EM QUESTOR Arquivos e historia (1979-2001) para 0 mundo antigo, a historia se faz porque nao se tem nenhum vento, Para o mundo moderno, ela nao se fez pone se dspde il? (eri meu). Porque se dispoe de documentos ~ e em st ae 5 sada quantidade, pretendia dizer, evidentemente, Charles Péguy. ja escrito, atualmente, esse pensador no momento em que, 4945, volume de documentos foi multiplicado por cinco e ;, uma superficie superior a trés mil quilémetros em linha reta jaruncK, 1995)?!" Como lidar com essa proclugiio em massa? tudo? O que guardar (eis a questio a resolver pelos “novos 3")? De que modo conservar? Em arquivos? Quantos quiléme- prateleiras ter’o de ser construidos — poderia sera questao a ser mulada (ou, melhor, tem sido formulada) pelos sucessivos ministros 2 Questées subsididrias: sua distribuigo seria feita em que Que critérios utilizar para as divisdes ou os agrupamentos? os problemas suscitados hi um méimero respeitivel de anos, con- sendo atuais para um amanhi que jé € bem presente.A essas ses de natureza técnica e politica, acrescentam-se — jé formulados rente — outros problemas: aqueles relacionados com a histéria, onta agora com dois séculos, da instituicio dos Arquivos (ver ».151);¢, em especial, aqueles (equacionados, frequentemente, ima década) decorrentes das condig@es legais ¢ priticas 0s arquivos contemporineos. onto de vista do quadro legislativo, passou-se, h4 vinte 1979 (a primeira desde a Revolugio Francesa) para 1 de uma nova lei: 1999 deveria ter sido “o Ano dos Ar- 05, fica-se sabendo que, finalmente, nio haveri lei. m decorrido quase dois séculos para claborar sario recorrer, tio rapidamente, de novo, 20 parecia ter condi¢des para perdurar. Pela sido atribufda uma defini¢ao (bastante uivos: “Os arquivos sio 0 conjunto de sua data, de sua forma e de tae con camscet vets 04 HsTORA ~ O GLE 05 MSTORADORES Veen geu suporte material produzidos ou recebidos por quale, es fic ou urine por qualquer servo ou organism pay 4 privado, no exercicio da sua atividade, ou A conservagio desses documentos & organizada “ng ing publico, tanto para as necessidades de Bestio © da istifcagig as direitos das pesoas fisicas on juricieas, pablicas ow privagas a to para a documentagao hist6rica da investigacio” @ em 1979, um decreto tinha fixado as missdes da Direction ‘ Archives de France: "Gerenciar ou controlar os arquivos pias que constituem a meméria da nago e uma parte essencial de patrimonio histérico”. Como havia sido assinalado por Kr, Pomian, a problematica da lei em seu conjunto é Permeada pely “ 19). Aindg ZYSztof E precisamente nesse ponto que hao de surgir as contestacdes: em relagZo aos prazos de consulta e ao sistema de derrogacdes (com seu inevitivel cortejo de suspeitas). “Memoria da nacio”,“patriménio histérico”: 1980 foi o Ano do Patriménio. A grande engrenagem do patriménio se pos em movimento, os arquivos encontravam ai seu lugar, mas os arquivistas terao tido provavelmente o sentimento de ter sido os esquecidos dos anos patriménio, na medida em que os museus ¢ as bibliotecas € que acabaram ganhando notoriedade. © governante!”” decidit construir uma biblioteca “muito grande”, mas nio um grande centro de arquivos! No entanto, os arquivos dos Departamento, dependendo dos Conseils généraux,'"* dispuseram de mais recursos: além disso, um grande nimero de cidades de porte médio criaram, tae con camscet CConMTUA D0 INA E SECIS: A EVBENCH eM CUETO? Je anos, servigos. de arquivos modernos, justamente onder js novas exigencias. e ha nnutito tempo, os historiadores ~ que haviam apren- ca historia se fazia com documentos” ~ tinham empre- camninho dos arquivos als, Michelet vangloriava-se de jmeiros a tomar talianiciativa, Quando se impée, s Annales, a ymstoraa econdmica e social, com contagens © na constitui¢ao de séries, que recorre ao trata- estatistico dos dados e ao computador, os pesquisadores vio Benes arquivos com uma assiduidade cada vez maior. Mas o pred do. gue ie procurado nesses centros é algo diferente: regis- _paroquiais, atos notarias © séries demograficas. Os historiadores njstas S10 0S pioneiros dessa “nova arquivistica”.Aprofunda-se isin ja entre arquivo e acontecimento, assim como entre arquivo © arquivo, por sis6, nao diz nada, ou quase nada. Sem mas produzido, ele se torna, de fato, um objeto de segunda pstrato. Como escreve, na época, Michel de Certeau: “Ele questionamento geneal6gico do qual havia surgido para ferramenta de uma produ¢io”. s mesmos anos (1970 e 1980), falava-se — aliés, de bom teira de Foucault — do “arquivo” no singular (embora entre “o arquivo” de L’archéologie du savoir, concebido a geral da formacio e da transformagao dos enun- do, ¢, por outro,'“os arquivos” nio seja realmente ‘a revista Tiaverses viria a intitular um de seus n 1986, L’archive. Se a questio principal inci- co emergente no sentido de arquivar tudo, dam os arquivos e a meméria coletiva. Com historiadora Arlette Farge, langado a-se de um arquivo para 0 outro, periodo moderno (0 século XVIII tivo visado ja nio € a abstragio, 0 do: sua materialida- inten d lo 0 so um dos Pr _oucos, com O tae con camscet Oe eS Vi jo, tornado objeto do discurso, que q Je razio, 989).V ota dey, é om ser de 9230. cot” (FARGE, 1989). rites egg . : tar como ichelet. a so ida por Mich vine do que os arquivistas ~ ¢, igualmente, 05 hi Com alhata na enO aC Bravidade, esses 4 dores — nao trabal relacionados a uma conjuntura que pas, tas aces eve e001 PSN TO termos sie, ao RieeeeeT een cla ea expe tantas palavras-chav neméria ¢ patrimdnio (termos jj ect mem, aa 875 feresencel Cn KORN 0 presente tos na lei de 1979), presente (0 dah dentidade, go oe trond “passado que se recusa a pasar”), identidade, Senocidio » crimes esata a humanidade, testemunha, Juiz ¢ historiador, fransparencia € responsabilidade. Mas, & importante palavra de ordem Msparén. cia”, opde-se, no caso dos arquivos, outro Principio que é também, bastante enfatizado por cada um e por todos: 0 da Protecao da pri. vacidade. Se for acrescentada ainda a queda do muro de Berlim ea abertura dos arquivos no Leste Europeu (ncluindo, durante algum tempo, uma série de furos midiaticos), existem elementos que per. mitem analisar o investimento maci¢o que se opera em telacio ag contemporineo, o que nio impede ~ antes, pel importante demanda relativamente 4 memoria. Com efeito, tudo contribuiu (tendo como Pano de fundo os julgamentos Por crimes contra a humanidade) para transformar, na Franca, os arquivos do periodo de Vichy (ver Supra, p. 205) em uma questao central, en- guanto os da Guerra da Argélia e da coloniza life; © Contrario — uma ¢40 seriam em breve retirados dos pordes, pelea con amtset onuntn 99 FAL OE ECU: A VEENCA OH ESR partosek, Les aveue: des archives (1996), cuja cont ue “cada pagina é uma revelagio”, Com Pathe pies? siimo autor, houve no fundo duas histrias:“a sae pee a de aparencia e“a que realmente ocorreu”. Justamente sit 205 arguivos porque, paradoxalmente — pelo menos, 4 syistar, esses TegiMES burocraticos foram igualmente arquie Biosos do. ave realmente ee ekecely Encontra-se a divisio eice yé e 0 que nao se ve, entre a aparéncia e a realidade, 2 Glusio € 0 que realmente existe. «fchirio judaico”, encontrado em 1991 no Ministério oleitor q 10. ‘4. dos Antigos Combatentes (e, finalmente, depositado no de la Shoah, em Paris), aos arquivos da passeata de 17 de ibro de 1961, organizada pela FLN!” e reprimida brutalmente ‘policia parisiense, OS tiltimos dez anos foram marcados por uma ria de questionamentos pablicos, repercutidos amplamente ‘om relacao Alei de 1979, a0 funcionamento dos arquivos mais geral, a uma cultura do sigilo por parte da Admi- tensdes relativamente aos arquivos sio acompanhadas -mentos da memé6ri: feria sido o resultado dessas polémicas? Os historiadores s contestaram também de forma vigorosa 0 fato de que, tito, havia pairado a grave suspeita de terem sido pes- cooptados. Apanhados, por assim dizer, de surpresa por Glo, os arquivistas — antes de mais nada e sobretudo, mn enfrentar o crescimento tio ripido do volume de adaptar aos novos ptiblicos — nao souberam ou ifestar outra reaco além desta réplica:“Somos ‘as administrag6es fornecedoras de docu- nos a aplicar a lei; alias, concedemos io € possivel”. Resta-nos acreditar tas, os arquivos nao comegam em na ajuda do presentismo, eles se Nacional]:movimento francés durante a Guerra tae con camscet ie Evotncia os wst6n ~ © GUE 05 MSTORADORES vee Quanto ao poder politico, ele comegou — de acordo com costume que poderia precisamente ser testemunhado pela consulta dos arquivos — por encomendar um relatorio: © Rapport Braibane apresentado a0 primeito-ministo francés em junho de 1996, segidg dois anos mas tarde, por outro relat6rio, o Rapport Bélaval, nome do diretor dos Arquivos, na época (em novembro de 1998), $6 faltava, dizia-se entio, esperar por 2001 e pela nova lei sobre a organizagig dos arquivos (que, a partir dessa data, deixou de ser oportuna), Entre 0s dois relatorios, houve todavia uma circular do pri. meiro-ministro, datada de 3 de outubro de 1997 (ou seja, poucos dias antes da abertura do julgamento de Papon'” e pouco depois da declaracao de arrependimento da Igreja da Fran¢a'™), que flexibiliza asregras de consulta dos documentos relativos a0 perfodo 1940-1945, Recordando que “a Repiiblica tem o dever de perpetuar ameméria dos acontecimentos que se desenrolaram no nosso pais, entre 1940 e 1945”, essa circular convida a avangar mais longe em matéria de derrogacdes, sem se apegar “A personalidade ou motivacio das pessoas que solicitam uma derrogagio”. E, em suma, por parte do politico, tradugdo para a Administrago do dever de meméria;além disso, 0 comum mortal deve ter direito 4 sua derrogagio ou, mais precisamente, sua qualidade de comum mortal nio pode constituir motivo suficiente para lhe recusar tal solicitacio. Uma segunda cir- cular, de 5 de maio de 1999, do mesmo primeiro-ministro socialista, Lionel Jospin, anuncia:“Com a preocupagio da transparéncia,e por _ respeito pelas vitimas e suas familias, 0 governo decidiu facilitar as '"Trata-se de Maurice Papon, condenado, em 1998, por “cumplicidade em crimes contra a h nidade”, a dez anos de prisio por ter assinado ~ entre 1942 e 1944, enquanto secretiio tae con camscet CCowbNTUR DO FNAL DE SECO: A EVDENI En ESTO a pistoricas sobre a manifestagio organizada pelo FLN mje outubr de 1961”. Uma vez mais, Papon vai servir de em Peegizode 7 ele perdeu o processo de difamagio qu a pee entado, desta vez enquanto ea ieataipolicia a if ele Jean-Luc Finaudi sobre a questio das vitimas Mieke oe namero ort Braibant preconizava, nomeadamente, uma red ta (vinte e cinco anos, em vez ce te eS razos de consull casos, cinquenta anos, em vez de sessenta), por stia vez. de Bélaval, sob 0 titulo “Pour une stratégie d’avenir ee » concentra-se na propria institui¢io.Ao sublinhar sia “por um termo a anos de negligéncia”, ele enfatizava“o que pode € deve ser desempenhado pelos arquivos; a0 orem favor de “um grande centro da memoria moderna ea”, implantado na regiio de Paris, ele preconizava [Cité] dos arquivos para restituir os arquivos ao centro ide [Cité]” (DUCTERT. 1999). Nesse aspecto, procedia-se a ens cidadas em torno do tema da sociedade civil. os, formulados na—¢ marcados pel de forma mais nitida a constatagao de que simultaneamente, uma instituigao central € marginal: como marginal, s i¢40 ia bastante corrente na ¢s! 4 historia do Estado, es do papel que P. la —con- fera piiblica. Se seu presente € seul futuro ‘ode ou poder, pretende Estado, ou nao, no futuro. Constata-se slo desapossados Estado, os Archives nationales: stérios ou das assembleias soberanas: els © itutionnel’” em relagao tae con camscet —_— i veins 04 MSTOMA = © QUE 08 HSTORADORES ty institucionais ¢ intelectuais); alias, arquivig (materials, iam de tirar 0 maior proveito de Tefletir ¢ dores ave. Em suma, 08 arquivos, com letra oan, ay Eee conhecer ae seu Dee historiogrtgg rmormento rele: al dso todos os iteresado ei alguma vantagem em reconhecer tal fato.A qualidade de eatin <6 poderia beneficiar-se com isso. " Coy Julgar Empreender uma digressio pot Charles Péguy & um de introduzir uma reflexio sobre o julgamento. Ele nao fy tamente um vade-mécum para historiadores apressados em ‘a Maneigg TCE cop S€ Confinar em uma opinido, mas mostra um pensamento em a¢io na Sequincg dhs reviravoltas do caso Dreyfus. Antes de saber se © historindor ou no é um juz (€ que juiz’), vale a pena, de fato,refletc sob, significagao de “julgar” do ponto de vista hist6rico, Eevidente que ojulgamento histérico nao é ‘uma sentencajudicink sabemos por una experiéncia infélizmente abundante ~e dees experiéncia,o caso Dreyfus foi apenas uma ilustrgio ente ouns e depois de tantas outras —,sabemos por experiéncia prépia gio pouco os julgamentos judiciais, militares e civis, praticamente iguais entre si, sio juridicos, ¢ como sobretudo eles sio pouco Justos;ora,o que vamos pedir, em primeiro lugar, 20s julgamentos historicos ~ admitindo provisoriamente que existam tais julga- maentos ~ é que sejam justos (Péguy, 1987, t. 1,p. 1222). tae con camscet CCoNUNTURA DO FRADE SECUIO: A EVDENC Em Guest? 0% fe sua escrita, com suas repetig¢des € seus act yang seguintes essa laboriosa ruminagio hee acom| artilhar, tudo isso provocou irrita aa ene: S c§tTiO- Charles-Victor Langlois considerava or = pce eabitate” em disso, ca alguns textos de Rents a or na set publicados, apOs a sua morte, suas Eure ma niveis apenas desde 1992, gracas a bbe Ic. n estio dispo to, Péguy est4 presente, mas, em Z Be os historiadores — sabe o que ue ee, co roa de les Is2ac,ele tives tido um dscfpulo a c, 1959). No entanto, ele é incontestavelmente : ae tre 1897 e 1914, Retietiu e escreveu com maior ones historia. ao criticd-la, é verdade! Pelo menos, em rela¢ao a nada historia,a de Langlois e Seignobos (que nao deixavam ores de Dreyfus), sem esquecer Lavisse que exercia “sua sobre todos os aspectos, presidia a tudo” (Ibid., p. 266). agi, as criticas € as zombarias de Lucien Febvre em ria positivista terdo um aspecto bem académico (mas interior da disciplina e de seus antecessores). Em 1909, , Péguy apresenta, em vista de uma tese de doutora- De la situation faite a I’histoire dans la philosophie monde moderne” [A situacao da historia na filosofia moderno]. Em varias ocasides, ele anuncia que, ndé-la; no entanto, desse trabalho existe apenas sublicado sob 0 titulo “Notes pour une thése”; istOria, por sua veZ, est presente ~ & até muamero de seus textos em que elaé -cutucada: Zangwill (1904), De la situ- ologie dans les temps modernes (1906). jienne (obra postuma), Liargent tid? indo ° tae con camscet vets 04 vesrOma ~ O 00 08 HSTOMADCRES vB em sua aula inaugural do Collége de France (1933), ele iam empréstimo a Péguy, precisamente, esta apresentagio ae trabalho do historiador: ari de ‘ica do Os histories fazem historia sem meditar sobre os fm 5 . i es da historia. Sem daivida, eles tém razig, Rn -E pre. em geral, é preferiyel que um historiador comece por fazer histia, em exagers ir © aprofundamento da pesquisa. Caso contririo, conseguiria fazer algo (Pécuy, 1988, p. 494) eas condigs ferivel que cada um aca seu oficio [... ele nunca Febvre,leitor de Péguy? Um pouco, provavelmente (essa mesma citagio hi de ser utilizada varias vezes por ele). De qualquer modo, Péguy meditou sobre os limites e as condigdes da hist6ria;e, também, nessa area, 0 caso Dreyfus, que deveria acompanhi-lo durante toda a sua vida, foi a experiéncia que desencadeou todo o interesse que ele manifestou pela hist6ria. As reflexdes sobre o julgamento hist6rico fazem parte de um texto escrito em 1903, mas que permaneceu inédito em sua vida ¢ nunca chegou a ser concluido (Id., Bernard Lazare, t. 1, 1987). Ele deveria ter sido um retrato de Bernard Lazare; talvez também seja seu primeiro texto sobre a hist6ria. ““Nosso colaborador, Bernard Lazare, morreu na terga-feira, 1° de setembro de 1903, as quatro horas da tarde” — essa é a frase fiinebre que langa a reflexio. Mas 0 projeto ja existia como ele havia indicado em uma carta enviada a0 proprio Bernard Lazare (datada de 23 de fevereiro de 1903):“" escrever, no momento oportuno, sua histéria definitiva nos Ca Meu amigo Pierre Deloire estaria muito interessado em fazer « trabalho”.!* Agora, chegou 0 momento. tae con camscet \ ooh denadaianiall So RESTAO® onsegi escrever, durante as frag eRenta piginas iniias,introducao de SM mpressio de que essa tarefa & de tal nao sei se terel necessidade de virios qual for sua duragao, nenhum caderno ser escrito por mi sno,como autor antes do cademno dese retitosaéns ge divida em relagio a essa amizade, o retrato de u H a. esse, historia de tal conscéncia & do ponto de vies oon” histérico € moral, mais interessant, itil e importante 4 desenredar, de forma penosae initil,as maguinagdes de one os nossos fantoches (PEGUY, t.2, 1988, p. 1361). Brandes, no minimo, a5 meu trabalho; mas tenho modo considerive! que aN0S para realzi-la; seja m homem como novo,em 1907: Quando eu publicar se, algum dia, eu vier a publicé-lo— esse retrato de Bernard Lazare que eu tinha comegado a escrever quase imediatamente aps a sua morte, a0 qual nio dei continuidade, nfo tendo conseguido terminar de escrevé-lo ~ sera que alguém tema certeza de acabar, um dia,a escrita de um retrato? — porque eu niio era demasiado idoso e,se me tornar suficientemente idoso, "hei de publicé-lo na minha nova Histoire de Vaffaire Dreyfus et du ——dreyfusisme en France (Ibid., p. 874). “Para mim, se a vida me deixar o espaco, hei omo uma das maiores recompensas de minha velhice az, enfim, de fixar e restituir o retrato desse homem a se tornar demasiado “idoso” (no sentido palavra), se a vida Ihe tivesse deixado 0 espa- nunca conseguiu terminar a escrita dessa trato; no entanto, ele nunca havia deixado vez que o Affaire [Dreyfus] havia sido “o os atingidos e marcados pe i évy) e que o nome jer— a es, refs, Berard tae con camscet ston ~ © CHE OS HSTORADORES VEE minon OH hou e ajudou também a imeiattva dos Cahiers, 4 tl Péguy vai designi-lo como “oO amigo intimo, o ining ponto que eum grado e com toda a exatido,o dono dos Chet secreto, direl te 3, p58). Com efeito, se a oportunidade de gis ee (Picuy, 199: on ey liberdade de imprensa no Ambito do Movimenty gio foia aa ublicagiio, do ponto de vista intelectual © ético, em 3 Sos a experiéncia do Affaire Dreyfus, dirigindo-se 20 “pessoal een vyerdadeiramente a causa dreyfusista eles pretendem = ne [cahiers] de informagdes”,a servigo da verdade. Lazare acomparth Partindo de uma indagacio imediata — ra Seria possive] elaborar uma histéria do Affaire Dreyfus ¢ do dreyfusismo? ~ esse retrato ou elogio de Bernard Woe pelo menos, x seu esboco, empreendia na verdade uma reflexao sobre as con ices de possi- bilidade da escrita da historia. Peguy come¢a por sublinhar © que cle designa como duas “contrariedades preliminares , Oriundas da memoria. Abordamos “is avessas” todos os acontecimentos do passa do, Quando, a partir do presente, procuramos atingir os primérdios do Affaire, somos obrigados, antes de mais nada, a passar “mais ou menos sumariamente por séries formadas com base em aconteci- mentos intercalares” e, em seguida, nao podemos “esquecer” tais séries intercalares (“quando desejamos nos lembrar da glande, nio podemos esquecer totalmente 0 carvalho”). Além disso, devemos chegar a um acordo sobre 0 sentido de comeco: 0 comego que atingimos ao remontar os acontecimentos nao é 0 come¢o, mas “a primeira manifestagio”.“O comeco ocorreu quando um homem, Jovem, bastante conhecido, isolado, independente, livre, sem levantar a voz, nem franzir as sobrancelhas, nem forcar o olhar, tampouco exguer o braco,silencioso, no mistério e na calma de sua consciéncia, tae con camscet CONWNTURA DO FINAL OF SECUKO: A EVENCIA em ouRstio® Tho ostrar que © capitio Dreyfus era inocente” tT 1,p 1211-1212). entao, uma dificuldade, nao extrinseca mas “ ” Interna” e jal” liagdo histéri ‘ ‘ sqsencial ada oe 7 rica que suscita o ee inagio das unidades. Recorrendo 4 tence da (Id., Bernard ™ cartesiana rtesianismo permeado por bergsoni é igmcartestanism” Fr ‘gsonismo), Péguy opde a extensa a matéria pensante. Nas operacées de medicao material, nas mensuragdes mate! teas mecca fica, quimicase de outa mature, nas ope rages que envolvam a matéria extensa, esta matéria apresenta por si s6 um niimero suficiente de elementos constantes, de constancias, que justamente permitiram constituir ciéncias de recomecos para que o operador possa cleger unidades entre essas constincias [...] Pelo contrario, nas mensuragdes historias tanto quanto seja possivel acoplar essas duas palavras, nas avaliagdes a historia [...] toda a matéria pensante (no sentido “amplo ¢ total” da palavra, ou seja, para resumir “todos os fatos sociais”) apresenta como primeira caracteristica, e em abundancia, 0 ‘predominio das inconstincias (Ibid., p. 1214-1215) historia nao é uma ciéncia de recome¢o. Péguy poderia em posicionar a historia ao lado da arte, mas ele acre- que a historia “6 sumariamente, a tinica ciéncia da ” ¢ que 0 trabalho histérico é um “trabalho cien- ndigdes, a maior dificuldade da historia, “ciéncia ide “na constitui¢o de unidades”. Dificuldade, ssibilidade: de fato, além da inconstancia, éria pensante. reliminares ¢ essa restrigio interna ‘uma imensa dificuldade;¢ um numero pela denominagio de historiado- 7 e] que a maior parte dos seu tonto ~ “Face au vent nates] ~ de 1946 uele que s¢ an dl ee 0 4k 05 NSTORADORES VEEM vena 08 HTN jo tenham, de modo Oe Decoy 4 tespeite pristoriadores " que este confirmado que “os métodos Fi de tudo i880 a * Nesse Pontos Péguy detem-se alguns instante, apresentando-se como simples enumeracig j0 dos. acontecimentos, Proscreve “qualquer qualquer avaliagao”. Mas seu inegive] julgamento oN” nio significa que ela tenha aplicado (de fito) da que ele seja defensavel. menos ain jiatamente a indaga¢ao sobre julgamento histéyj_ ‘dico que, pelo recurso as Categorias do continug descontinuo, encontta = embora de forma diferente ~ algo dag e do descent entes sobre as constancas” na matéra exten ¢ idea rnatéria pensante, De fat0, 0 juridico posiciong. uma vez que existe uma graduacio para 0 julgamento juridico esse programa, segue-se imed co ejulgamento, juri cons e as“inconstincias” na m: se do lado do descontinuo, definir os delitos € as sangoes. «6 pode e deve acompanhar a realidade mediante um movimen- to descontinuo [...] Ele so pode e deve mover-se depois que a realidade acompanhada por ele tenha avangado o suficiente para justfcar, por asim dizer, um desencadeamento, um passo, uma ‘mudanga de tratamento, uma agravante ou uma atenuante, Enguanto o julgamento historico “deve acompanhar a realidade de um movimento continuo; ele deve dobrar-se a todas as flexibilida- des da realidade movente” (Ibid., p. 1223). Assim, nao ha nenhuma “tranquilidade” para o historiador, cujo papel consiste nao tanto em pronunciar, mas em elaborar constantemente julgamentos histéricos. Sua consciéncia € totalmente inquietagio; de fato, nao lhe basta atribuir aos personagens da hist6ria, ou seja, os grandes indicia- dos, as garantias juridicas, as garantias legais, modestas, limitadas, determinadas, sumarias, precarias e grosseiras que 0 jurista ¢ © instanrador do proceso aplicam aos indiciados judiciais, 0 julz 208 ndiciados judiciais fo pronuncia julgamentos Judicais, ivel quase dizer que tae con camscet CGonuinTURA DO FNAL DE SECUIO: A EVOENCIA Em QUESTAO? _ mento, raras tem sido, por parte dos historiadores, as reflexdes onto especifico. E sobejamente conhecida, com toda a ah fe de Marc Bloch, extraida de Apologe pour Phistoie (obra ol a Gjorante a Segunda Grande Guerra):“Por gentileza, defensores sores Robespierre, basta: digam-nos simplesmente quem iL ersonagem!”: julgar, ‘Pao, mas compreender, tal deve ser a 5 do historiador. No inicio de seu livro, Le juge et I’historien, “Ginzburg nao deixou de evocar essa exclamacio que acabaria » edo 0 abandono categorico de uma concepcio judicial da his- Be GINZBUNG, 1997-20-21). Mas, no fando, convém avancar mais ge para procurar 0 TeCuo do historiador em relagio ao julgamento. 7 encontra-se claramente entre os historiadores criticados yy e, em primeiro lugar, naquele que tem sido reconhecido ‘0 pai da hist6ria, pelo menos, moderna: Leopold von Ranke, ema historia deveria circunscrever-se a seus limites, de acordo jo de Victor Cousin. Ela nao deveria pretender “julgar 0 nem“ensinar o mundo contemporaneo para servir aos anos "mas “somente mostrar como as coisas ocorreram realmente”. la data de 1824. Uma aplicac3o demasiado escrupulosa ou e cientificista desse programa, servindo-se do historia- ompilador, pode dar a impressio de que a histéria nada fm de uma cole¢ao e de uma enumera¢io dos fatos. Essa éncia que ela deve pretender atingir. Ginzburg foi escrito, conforme é indicado pelo m do julgamento Soffi”; alids, 0 autor esti n trabalho de historiador. Ele nao pretende mas, de forma mais meticulosa e limitada, ‘© juiz havia manipulado a nogio de jis amplo da reflexio de Ginzburg é 0 ficismo” na historia. Sua questio cen- nto hist6rico, mas a da prova. Dai, é e as divergéncias que Giorgio Pietrostefani, foram conde~ J, vinte e dois anos de prisio tae con camscet B prc vA HTN — O QUE 5 HETORADES SOA a iz (nstaurador do processo) € 0 historiador, Des 0. aaa Ee x existe™ in do da evidéncia da historia, no sentido ingjg, 5 x , 7 carn vez, an evidencia como prova. = , palavea’ ers do julgamento, conviria, se nio me ena Para sr a filésofa (preocupada com a historia, tal como havig ull 7 recorrer a de Péguy): Hannah Arendt. Para Péguy, © ponty i sido 0 cas0 Dreyfus, enquanto ela se baseou no julgamene, foi 0 cas0 e Be mann para empreender uma reflexao de grande amplitude le ir) sobre a “capacidade que r vo chegou a concluit) so een ee Sieg (Kant); mas, prossegue Arendt (1997, P.115) generalizar: portanto, trata-se da capacidade que ae ; La icular e o geral”. combina, de forma enigmitica, 0 part A historia seduzida pela epistemologia? “A epistemologia ¢ uma tentagdo que se deve descartar reso- Jutamente”, advertia, ainda recentemente, Pierre Chaunu, julgando que cla deveria ser reservada a um ou dois mestres. Sera que, no decorrer dos ultimos dez ou vinte anos, os historiadores tém ce- dido — ou mais cedido mais frequentemente — a essa “tentacio"? O ntimero daqueles que se julgam mestres (ou mestres de segunda categoria) teria aumentado? Provavelmente, se dermos crédito a um bom observador, tal como Gérard Noiriel, que julgou necessario se precaver contra os “historiadores-epistemélogos” e “as posigGes teoristas sem controle” (Nomar, 1996, p. 176, 207). Mas lembremos que ele proprio, bem longe de defender um empirismo a todo transe ou um (mitico) Positivismo de antanho, manifesta-se em favor de uma definicio “pragmatista”da historia, dando lugar as realizagdes da pragmatica. dg ne a historiador que se reivindica “artesio”, em oars sea storiador que deixa de ter medo de se co ingrenoule Para elogiar uma historia que,4? em “sua era epistemolog o "Na segunda de suas Cons s Consdtatios in ‘Wuestio da objetividade ae ‘inactuelles (C lament, mas do rai julgamento ruciocinio apart tae con camscet ie (pO FINAL Df SECUIO: A EVIDENCIA EM QUESTAO? Nor? Inversamente, seria possivel encontrar, sem dificuld, pet ross declaragdes que deploram a reduzida preocupa nf «wm logic manifestada, até recentemente, pelos teresa: Dien insuficiente preocupacio? Seria prefervel Stacia Bremnscrever 0a" © designado pela palavra quando os hi . Tio q utilizam, s¢ja para rejeita-la, seja para reivindicd-la; na E dos casos, 0 uso do termo nio é rigoroso. Para sititzar j gi lho, nem todos os historiadores se tornaram assiduos leitores da meno’; partidarios da revista History and Theory. pequese trata, afinal? Em primeiro lugar e sobretudo, creio eu, So reflexiva: nao s6 a elaboracao do questionirio, mas a ja como foi elaborado, sua confec¢ao e os pressupostos que o ’As categorias de anilise no sio dados que tenham pré- jp real.A objetividade é inseparavel das formas de objetivagio. ‘uma primeira caracterizacio, visivel imediatamente, da presente ‘gem dos historiadores; cada um deles, em sua especialidade, facilmente alinhar exemplos dessa postura critica (mais ou reivindicada, argumentada e explicitada). Assim, a recente Francois Dosse, L’ histoire, que pretende ser um convite aos 05 para lerem os historiadores ¢ aos historiadores para levarem ideracio a filosofia da historia. O livro faz parte de uma rsitaria (aposta-se, portanto, em um publico estudantil zemos questio de s de opiniio) que, no entanto ~ fa enta 0 rotulo “filosofia”, ¢ nao “historia”. Tratar-se-ia, ofos (Dosse, 2000)?” tinea intitulada Sur histoire, (1999) nao cessa de formular e reformular, na -omo conhecimento s,a questio da historia na perspectiva mais ampla de uma historia diferentes utilizagdes. Para mudar de re- el citar ainda dois livros ~ escritos por oranea (alias, eles nio tém a reputagao 10s historiadores) ~ que nao deixam de de rejeitarem tal classificagao: Powr istoria para o uso dos fil6s . forma, em sua colet tae con camscet Evia oa HsTOna~ O GUE 05 MSTORADORES EEN une histoire culturelle, publicado sob a diregao de Jean-Pierre Rioux ¢ Jean-Frangois Sirinelli (1997), que pretende justamente “apresentar ‘uma reflexio plural, de ordem historiogréfica e metodol6gica” sobre _ © cultural (RuoUx; SrRINELLI, 1997). Ele havia sido precedido, quase dez anos antes, pela obra Pour une histoire politique, dirigida por René Rémond. Tratava-se certamente de manifestar 0 retorno da histéria _ politica — na verdade, de outra historia politica —, mas também de abordar esse fendmeno em si mesmo “como um objeto de histéria’ de historicizar esse “retorno” e de considera-lo como uma etapa “no desenvolvimento da reflexio que a historia elabora sobre si propria” (Rémonp, 1988, p. 12, 19). Até mesmo a biografia nao escapou a esse movimento: Jacques Le Goff come¢a por se perguntar como é possi= vel escrever uma biografia de Sao Luis (Le Gort, 1996; Doss, 2005). Outra caracteristica foi a ascendéncia da historiografia. A tradugao, em 1983, do livro de Arnaldo Momigliano, Problémes d historiographie, fornece um marco convencional de sua emergéncia, Mesmo que a temitica tivesse sido abordada mais cedo:o livro Faire de Vhistoire anunciava, ja em 1974, uma historia que “atribuia um espago cada vez mais amplo e privilegiado a historia da histéria”™! (mas ainda nao Ihe reservava espaco nos proprios volumes) (Le Gor Nona, |, p. XIII). Em 1987, a criacio na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales de um curso sobre a historiografia antiga e moderna inscrevia-se nesse movimento. Mas 0 ponto mais inte- Tessante e mais recente é a aproximacio, frequente nos textos dos historiadores, dos dois termos: epistemologia e historiografia. Como se um implicasse 0 outro, ao completé-lo, corrigi-lo ou relatis como se o que eles pretendessem designar de fato fosse uma de mistura: nio uma epistemologia “rigida” (demasiado di abstrata), nem uma historia da historia “insfpida” nalizada, 0 obituario da 2 profissio), mas uma abo tae con camscet ConnTU#A 0O FINAL DE SECO: A EvDENCA On cuestho® gost ducionismos. Em suma, algo como uma epistemol sd historiografia epistemol6gica que se Sener spre este Ponto — NOS antipodas de uma disciplina ete disciplina, constituida ou em via de se constituir, ace i tas mais ou menos autoproclamados e aE meee fato, esse movimento € esse momento ~ que = ancia, podem ser designados como “teflexivos” (as elo quaiicativo:cpistemolgico ¢ historigrifico)~ de mio s6 a historia, mas ao conjunto das ciéncias sociais, Ghto que, par a historia, prolemsticase onmrinoed juladas em. funcio do estado das questées em cada grande Ho de especialidades e de acordo com os diferentes periodos, expec sduzem: De oucos exemplos, voluntariamente desconexos — mas, de gum, isolados — sao suficientes para apontar deslocamen- car recomposi¢des no € do campo hist6rico, nos tltimos anos. Em veZ de retomé-los aqui, vamos limitar-nos a breves ses. No final da década de 1980, opera-se uma tomada de ia ja modificada pela paisagem e que ainda continua a rapidamente: fala-se, entio, correntemente, de perio- a, de diwvidas e de crise de identidade em relacio Dois pontos de referéncia: o convite a reflexio © © acompanhados por pistas € proposicées, lancados pela jes, em 1988 ¢ 1989, sob o titulo de “Tournant crit ftica], ou seja, uma epistemologia precisamente pata quando, afinal, a historia esta envolvida “em iio de seus projetos ¢ de suas priticas”.' O feréncia: em 1988, o texto curto de Marcel Gau- de paradigme en sciences sociales?” — no qual, tagdo da parte explicita da agio” (Gaveurh ‘as consequéncias dessa reabilitacio para i] ele desvenda ja uma “chave tedrica € (Gaucuer, 1999, P- 135). E evidente pure 1983 ¢ 1995 di testemunho i Tentons epee VEL, 1996, prolongs tae con camscet Eve 04 HsTom ~ © ue os HsTORADORES VEEM que os questionamentos haviam comecado anteriorment “a operagio historiogrifica” de Michel de Certeau ~ que da década de 1970, e tornou uma teferéncia relevante p. autores — chamou a aten¢ao, de forma vigorosa, para a di escrita da historia (bE Cerreau, 1975). Nesses mesmos anos, a recep¢io de trés obras — exteriores, em diversos graus, ao campo histérico —sublinha e fortalece o movimento, Pelo questionamento ja presente sobre a escrita da hist6ria, a Passagem ocorreu tanto mais facilmente com a reflexio conduzida Por um fil6__ 05. Trata-se, A te: assim, +10 final 3 ara Muitos Mensio da sofo, leitor atento e critico dos historiadores contemporane obviamente,de Temps ef ff de Paul Ricoenr (1983-1985), cuja recepeig,_ (pelo menos, parcial) se processou de forma rapida entre 0s historiadores (ver, supra p. 174-175). Estamos na época das disputas sobre o “Tetorno da narrativa”, dos remoinhos norte-americanos relativamente 4 virada linguistica, enquanto vio surgir em breve as questées em torno de retOrica,ficglo e histéria;além disso, o pés-moderno vai de tal modo de vento em popa que cada um acaba por adapti-lo 3 sua maneita, In. contestavelmente, Ricoeur contribui, entio, para formular essas questées — dificeis em sua complexidade e com rigor. Com esse olhar de fora, mas diferente da observacio elaborada por Lévi-Strauss, volta a formular-se a questio da evidéncia da histéria em todas as suas dimensées: antiga e moderna, filos6fica e retérica, literdria e judicial. Oriunda certamente do interior da disciplina, mas a partir da Alemanha, a semintica histérica, tal como foi desenvolvida por Reinhart Koselleck, ¢ justamente uma Proposicdo que, em seu mo- vimento, depende completamente de uma epistemologia histérica, A tradugio de seu livro, Le futur passé, @ publicada em 1990, Final- mente, em 1991, elaborada por um vizinho, a obra de Jean-Claude Passeron, Le maisonnement sociologique, oferece um espago comu teflexio e de trabalho 4 sociologia, 4 antropologia e a his Pouco. tempo de epistemologia, mas a partir do ©ssas Proposicées em tae con camscet CconwnuPd 00 FAL DE SECO: A EVEENEK Eo CUES? care an Eonar reflexiva, mescla de episte- iografia meno de grande amplitude no mee nio esta limitado a um tipo de historia nem sobretudo hea historia oss, 1995). E possivel data-lo: 0 final da me 1980 assiste a sua plena emergéncia, o que equivale a dizer estava a caminho no decorrer dos dez anos precedentes. Se 4vel dos movimentos mais amplos da conjuntura, nao ha Fue ele foi, em primeiro lugar, uma resposta — quase uma fo abandono dos grandes paradigmas da década de 1960, era anunciado, com mais ou menos alarido, o retorno disto “Io. Mas, rapidamente, foram implementadas determinadas miticas com suas exigéncias proprias de questionamento e de .de-se citar a maneira como a historia social tem procurado 1co para os pontos de vista dos atores, recorrendo 4 sociologia \g6es. Em outro registro, esse momento é aquele que assistiu ento de uma forma de historia de “segundo grau”, da Lieux de mémoire, dirigida por Pierre Nora, foi o labora- jarticular, com a permanente preocupagio historiogrifica ia seus diversos textos. fundamente, essa postura ou esse momento reflexivo onde a uma mudanga de nossa rela¢o com o tempo, profundo questionamento do regime moderno talvez, pela emergéncia de um regime de novo ominaria de forma duradoura a categoria do pre- do, um futuro imprevisivel, um presente incessante ¢ compulsivamente, visitado € 003). De qualquer modo, com a consequéncia de ser capaz de escrever valendo-se do ou em seu nome. Esse momento reflexivo proposi¢ao ou uma epistemologia do as relacdes com 0 tempo estio ue ele pode se estabilizar? Em troca que estamos assistindo? tae con camscet

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