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IBMR – LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSITIES

TIAGO DA SILVA OLIVEIRA

A IMPORTÂNCIA DA REALIZAÇÃO DE EXAMES


LABORATORIAIS COMO PRÉ-REQUISITO PARA
REALIZAÇÃO DE PROCEDIMENTO ESTÉTICO DE
CARBOXITERAPIA

Rio de Janeiro
2017
TIAGO DA SILVA OLIVEIRA

A IMPORTÂNCIA DA REALIZAÇÃO DE EXAMES


LABORATORIAIS COMO PRÉ-REQUISITO PARA
REALIZAÇÃO DE PROCEDIMENTO ESTÉTICO DE
CARBOXITERAPIA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado, ao IBMR – Laureate
International Universities, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Graduado em Biomedicina.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Rômulo Medina de Mattos

Rio de Janeiro
2017
TIAGO DA SILVA OLIVEIRA

A IMPORTÂNCIA DA REALIZAÇÃO DE EXAMES


LABORATORIAIS COMO PRÉ-REQUISITO PARA
REALIZAÇÃO DE PROCEDIMENTO ESTÉTICO DE
CARBOXITERAPIA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado, ao IBMR – Laureate
International Universities, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Graduado em Biomedicina.

Aprovado em _____ de ________________ de 2017.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________
Prof. Dr. Alan Brito Carneiro

_______________________________________________
Prof. Dr. Maurício Cupello Peixoto
À minha Mãe e ao meu Pai, com a
mesma intensidade de amor e carinho
com a qual me criaram.
AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus pela oportunidade de viver e poder, com saúde e


determinação, concluir a tão esperada graduação.
Agradeço aos meus pais pelo alicerce que me proporcionaram e por sempre
acreditarem, e continuarem a acreditar.
Agradeço à esta instituição, IBMR, onde pude crescer e me desenvolver
enquanto pessoa e profissional, onde pude acompanhar inúmeras transformações e
onde obtive a base para poder voar.
Agradeço a todos os professores que, através dos longos, longos anos em
que andei pelos corredores, subi de elevadores e desci pelas escadas (elas eram
mais rápidas para descer) para assistir as mais diversas aulas, me ensinaram
tecnicamente a ciência.
Agradeço ao professor Rômulo Medina por toda sua orientação, dedicação e
enorme paciência.
Agradeço, em especial, aos professores Júlio Vianna, Cláudia Gouveia,
Rogério Alvares por me ensinarem que tudo é possível na ciência e que nenhuma
teoria deve ser desmerecida, por mais absurda que possa parecer inicialmente;
agradeço por me ensinarem ciência.
Agradeço aos muitos colegas que tive e, mais ainda, aos poucos amigos (mas
sinceros!) que conquistei pelas inúmeras horas de emoção, desde as aflições pré-
provas, passando pelos choros de raiva e chegando ao alívio das notas azuis.
Agradeço aos colegas de trabalho por sempre se disponibilizarem às minhas
necessidades de horários para que eu pudesse estudar.
Por fim, por ser mais recente em minha jornada e não por ser menos
importante, agradeço ao Iury Moraes pelo total apoio, carinho e dedicação.
Hakuna matata.
Timão e Pumba
RESUMO

Este trabalho de conclusão apresenta parcialmente a carboxiterapia (terapia com


utilização de CO2) sob o ponto de vista estético, enfatizando os seus mecanismos de
ação e, principalmente, suas contraindicações. Apresenta correlação entre tais
contraindicações com a fisiologia humana conhecida, e a necessidade de
antecedente análise laboratorial para a precaução de potenciais riscos à saúde do
cliente. As bases legislativas foram revisadas para justificar o que seria a nova
atribuição do profissional biomédico esteta e até que ponto ele poderia atuar na
prática de prescrição de exames complementares. Os exames de hemograma,
gasometria e EAS foram abordados como necessidades básicas para se atestar as
condições metabólicas dos clientes previamente à carboxiterapia. A pesquisa utilizou
dados bibliográficos obtidos em bases de informações científicos para interligar os
efeitos orgânicos do dióxido de carbono com os referidos mecanismos de
averiguação metabólica, nos indicando que é possível haver intoxicação por CO2 e,
principalmente, nos fazendo concluir que é concebível reduzir os riscos de tal
intoxicação com a prática de prévia preceituação de pesquisas laboratoriais.

Palavras-chaves: Carboxiterapia. Ácido-base. Gasometria. pH. CO2.


ABSTRACT

This final paper presents the partially carboxiterapia (therapy with the use of CO2)
from an aesthetic point of view, emphasizing their action mechanisms and, especially,
their contraindications. It presents correlation between such contraindications to the
known human physiology, and the need for laboratory analysis prior to the
precautionary potencial risk to the customer's health. The legislative bases were
reviewed to justify what would be the new assignment of the biomedical professional
esthetician and to what extent it could act in the practice of prescribing additional
tests. The blood count tests, blood gas and EAS were addressed as basic needs to
attest to the metabolic conditions of the customers prior to carboxiterapia. The study
used bibliographic data in scientific information base to interconnect the organic
effects of carbon dioxide with said Metabolic investigation of mechanisms
in indicating that there may be poisoning CO2 and especially
paragraphs making conclude that it is conceivable to reduce risks of such intoxication
with the practice of previous preceituação laboratory research.

Keywords: Carboxiterapia. Acid-base. Gasometry. pH. CO2.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMPc Adenosina 3’-5’-monofosfato


atm Atmosfera – unidade de pressão
CNDL Confederação Nacional de Dirigentes Logistas
CO2 Dióxido de carbono / gás carbônico
EAS Elementos Anormais do Sedimento
HCO3- Bicarbonato
H+ Hidrogênio
H2CO3 Ácido carbônico
ml/min Mililitros por minuto
ml Mililitros
mmol/l Milimol por litro
mmHg Milímetro de mercúrio
pH Concentração hidrogeniônica do meio
PCO2 Pressão parcial de gás carbônico
PO2 Pressão parcial de oxigênio
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 10
2. OBJETIVO ................................................................................................................................... 13
2.1. GERAL .................................................................................................................................. 13
2.2. ESPECÍFICO ........................................................................................................................ 14
3. METODOLOGIA ......................................................................................................................... 14
3.1. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO E INCLUSÃO .................................................................... 15
4. CARBOXITERAPIA ................................................................................................................... 15
4.1. HISTÓRIA ............................................................................................................................. 15
4.1.1. O EQUIPAMENTO DE CARBOXITERAPIA ............................................................. 16
4.2. MECANISMOS DE AÇÃO .................................................................................................. 17
4.2.1. APLICAÇÕES DA CARBOXITERAPIA ..................................................................... 19
4.2.2. CONTRAINDICAÇÕES ............................................................................................... 20
4.2.3. DISFUNÇÕES METABÓLICAS ASSOCIÁVEIS ...................................................... 21
4.3. EXAMES LABORATORIAIS .................................................................................................. 25
4.3.1. HEMOGRAMA .............................................................................................................. 27
4.3.2. GASOMETRIA .............................................................................................................. 27
4.3.3. EXAME DE URINA / EAS ............................................................................................ 29
5. CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 30
6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 32
1. INTRODUÇÃO

A profissão de biomédico fora regulamentada pela Lei 6.684, de 03 de


setembro de 1979 e, ao passar dos anos e com a expansão do mercado de trabalho,
novas áreas de atuação do profissional da biomedicina foram surgindo, incluindo sua
inserção no ramo da saúde-estética. Entendendo-se, então, sobre a necessidade de
regularizar/atualizar a situação do Biomédico e dar-lhe instrumentos legais que
assegurassem o exercício de suas atividades de forma segura, irrefutável e
irreversível, em fevereiro e julho de 2011 foram aprovadas, respectivamente, as
resoluções nº 197 (b.BIOMEDICINA, 2011) e 200 (c.BIOMEDICINA, 2012) que
dispõem sobre as atribuições do profissional Biomédico no exercício da saúde-
estética, conferindo-lhe critérios para habilitação em Biomedicina Estética.
Em complementariedade às resoluções supracitadas, em 2012 foi aprovada a
resolução 214 (d.BIOMEDICINA, 2012) que disserta sobre o uso de substâncias em
procedimentos estéticos e, em 2014, a resolução 241 (e.BIOMEDICINA, 2014)
seguiu regulamentando a prescrição do Biomédico para finalidades estéticas
trazendo em seu texto original a consideração “que o uso de substâncias para fins
estéticos deve se dar de forma segura e eficaz e por profissional com conhecimento
técnico das mesmas” (e.BIOMEDICINA, 2014).
A legislação redigida pelo Conselho Federal da Classe (leis, normas e
resoluções) determina os procedimentos permitidos a serem executados e os
formulações sujeitos à prescrição pelo Biomédico Esteta (e.BIOMEDICINA, 2014).
Dentre as inúmeras técnicas autorizadas está a carboxiterapia, que é caracterizada
pela administração de gás carbônico medicinal por via subcutânea para uso
terapêutico e para fins estéticos, como tratamento de gordura localizada, redução de
celulite, estrias e flacidez, através de processo inflamatório seguido de reparação
tecidual induzida pela lesão ocasionada pelo CO2 à região exposta (MAIO, 2011).
Estudo recente, liderado pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e
pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), aponta que “sete em
cada dez brasileiros acreditam que gastos com beleza são uma necessidade e não
um luxo”, evidenciando, então, de forma direta, a perspectiva promissora e

10
exponencialmente crescente do setor da beleza (SPC Brasil, 2016). Com isso, é
fundamentalmente necessário ter-se profissionais altamente qualificados e
legalmente habilitados para a execução segura de quaisquer procedimentos
estéticos, tendo em vista os grandes riscos à saúde do cliente.
O uso estético do gás carbônico deve ser realizado com algumas
salvaguardas. O CO2 necessita de uma eficiente operação biológica para ser
transformado e expelido do corpo. Para essas funções, o coração (e todo sistema
circulatório), os pulmões e os rins possuem papel central e o estado de equilíbrio,
tanto anatômico-fisiologicamente quanto metabolicamente, é de suma importância
para o sucesso da carboxiterapia sem que haja prejuízo à saúde do cliente
(VARLARO, 2007).
O mercado da estética é um dos mais promissores da atualidade. Segundo a
Associação Brasileira de Franchising (2017), o mercado da saúde, beleza e bem-
estar está na segunda colocação quanto ao valor arrecadado entre 2016 e 2017,
mais de 27 bilhões de reais, sendo o setor com maior crescimento nos últimos 12
meses, 16%.

Tabela 1 – Faturamento por seguimento e acumulado em 12 meses

Fonte: Associação Brasileira de Franchising, 2017.

Dentre os procedimentos estéticos mais procurados pelas pessoas, segundo


a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e SPC Brasil (2016), estão técnicas
realizáveis pelos biomédicos estetas.

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Gráfico 1 - Intenção em realizar procedimentos estéticos nos próximos 12 meses

Fonte: Confederação Nacional de Dirijentes Lojistas e SPC Brasil, 2016.

De acordo com os dados, é imprescindível que o profissional especializado


esteja de acordo com as novas necessidades surgidas frente aos avanços
tecnológicos e ao dever ético, moral e legal de resguardar a segurança de seus
clientes (a.BIOMEDICINA, 1984).
Dados da Revista do Biomédico, de 2014, mostram que a especialização em
estética é a quinta mais procurada entre os formandos.

12
Gráfico 2 – Inscritos no CRBM-1

Fonte: Revista do Biomédico, 2014.

A técnica de carboxiterapia é a base de estudo deste trabalho em correlação


com a necessidade de realização prévia de exames laboratoriais complementares
como forma de assegurar a integridade física do consumidor ao analisar-se seu
sistema fisiológico.

2. OBJETIVO

2.1. GERAL

O presente estudo pretende correlacionar a técnica de carboxiterapia aplicada


na biomedicina estética com a necessidade de realização de exames
complementares pré-procedimento.

13
2.2. ESPECÍFICO

 Examinar o procedimento estético de carboxiterapia;


 Estudar técnicas de diagnóstico laboratorial (Hemograma,
Gasometria e EAS) e sua aplicabilidade na realização de estudos
fisiopatológicos;
 Correlacionar as etapas de realização e os respectivos mecanismos
fisiológicos de ação da prática estética com a possibilidade de
desenvolvimento ou agravamento de doenças e a necessidade de
se realizar exames complementares como forma preventiva;
 Indicar a necessidade de se avaliar a possibilidade de incluir, nas
atribuições legais do biomédico esteta, o direito à
prescrever/solicitar exames complementares para avaliação pré-
consulta/procedimento técnico.

3. METODOLOGIA

Realizada pesquisa bibliográfica com inclusão de artigos originais e de revisão


pesquisados nas plataformas PubMed, Periódicos CAPES/MEC, SciELO, LILACS e
Google Acadêmico publicados desde o ano de 1995, escritos em português ou inglês,
que estudaram temáticas sobre carboxiterapia, fisiologia humana, avaliação
hematológica, aspectos específicos do sistema circulatório e exames laboratoriais.
Foram pesquisados, nas plataformas supracitadas, os termos: CO2 insufflations,
carboxytherapy, CO2 laparoscopy, CO2 insuflação, carboxiterapia, CO2
laparoscopia,

14
3.1. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO E INCLUSÃO

Foram incluídos exemplares descritivos sobre dados históricos, o


procedimento em si e mecanismos de ação e efeitos, locais e sistêmicos, do
procedimento de carboxiterapia sobre o organismo humano. Foram consideradas
artigos científicos, originais e de revisão, sobre efeitos da utilização de CO2 em
organismos vivos, animais e humanos. Estão inclusos conteúdos sobre fisiologia
básica dos sistemas hematológico, cardiorrespiratório e renal humano, e exames
laboratoriais específicos de hemograma, gasometria e EAS. Dados sobre a
correlação entre a técnica de carboxiterapia, a fisiologia humana e as
contraindicações ao referido procedimento estético foram priorizados.
Foram descartados materiais datados anteriormente à 1995.

4. CARBOXITERAPIA

4.1. HISTÓRIA

A “carboxiterapia” pode ser brevemente definida como um método terapêutico


onde se utiliza o dióxido de carbono (CO2), em sua forma gasosa e de elevado grau
de pureza (99,9%) para uso medicinal, através da administração de injeções
subcutâneas, tendo como objetivo principal o aumento do diâmetro dos vasos
sanguíneos (vasodilatação) e, consequentemente, maior oxigenação do tecido
(SCORZA, 2008).
Segundo Goldman et al. (2006), a utilização do gás carbônico em terapias teve
início na Argentina (sem mais detalhes), mas foram os estudos e tratamentos
praticados na estação termal Waters de Royat, na França da década de 30, que mais
se sobressaíram na comunidade acadêmica, tendo sido tratadas pessoas com
distúrbios comprometedores do fluxo sanguíneo através da imersão de partes do
corpo em águas carbonadas e, posteriormente, com injeções subcutâneas de CO 2.

15
O cardiologista Jean Baptiste Romuef liderou os maiores trabalhos sobre o
tema, tendo efetuado a publicação de seus resultados após vinte anos de estudos
com a utilização de injeções subcutâneas de CO2 (SCORZA, 2008).
Em 1995, Fabry et al., através do relato de vinte mil casos atendidos em Royat,
descreveram as vantagens do tratamento através de vários indicadores e, também,
o mecanismo de atuação do gás, principalmente quanto há queda na afinidade da
hemoglobina pelo oxigênio em ação local, intensificando o efeito Bohr (FABRY et al,
1995).
Carvalho, em seu trabalho datado de 2005, propôs, pela primeira vez, a
utilização da carboxiterapia como tratamento estético para rejuvenescimento cutâneo
a partir de constatações do funcionamento mecânico do enfisema subcutâneo
ocasionado pela ação do gás carbônico.

4.1.1. O EQUIPAMENTO DE CARBOXITERAPIA

Borges (2010) é um dos poucos autores a apresentar o aparelho que é


desenvolvido especificamente para o procedimento de carboxiterapia e na qual utiliza
gás carbônico medicinal, tendo seu fluxo de injeção do gás no organismo (ml/min) e
o volume a ser injetado (ml) controlados eletronicamente, e determinados
previamente pelo operador terapeuta (Figura 1). O equipamento liga-se a um cilindro
metálico por meio de um regulador de pressão de gás carbônico e é injetado por via
de uma sonda com uma agulha de pequeno calibre, geralmente agulha para insulina,
em via subcutânea do cliente. O gás presente no interior do cilindro é liquefeito,
possui pressão de vapor constante de 60 atm e não é um gás inflamável, portanto
não há risco de fogo ou explosão.

16
Figura 1 – Equipamento de Carboxiterapia – vista frontal e traseira

Fonte: www.htmeletronica.com.br/produtos/pluria (2017).

4.2. MECANISMOS DE AÇÃO

A lesão física provocada pela infusão do gás carbônico subcutaneamente


ativa o sistema imunológico e promove o processo inflamatório a fim de restabelecer
a região lesionada ao tentar anular o agente agressor e desencadeando uma cascata
de episódios no tecido conjuntivo vascularizado e em diversos componentes
estruturais e celulares ao redor. O processo de reparação tecidual aciona os
mecanismos de formação de novos vasos sanguíneos e fibroblastos, sintetizadores
de colágeno e elastina. No organismo, o equilíbrio entre O 2 e CO2 é constante e
qualquer alteração fornece a informação ao sistema fisiológico de que é preciso
restabelecer a harmonia. Basicamente, o excesso de CO2 passa a informação de
necessidade de O2 local, atuando diretamente nos miócitos das arteríolas e
provocando vasodilatação, resultando na chegada de maior quantidade de eritrócitos
e liberação de O2 pelas hemoglobinas para eliminação do CO2 por via respiratória. A

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alteração de pH no microambiente ativa células à formarem novas estruturas
sanguíneas e linfáticas, colágeno e elastina, todos encarregados da reconstituição
do tecido “lesionado” (SCORZA, 2008).
Ao infundir CO2, provoca-se um estado de hipóxia tecidual. Quanto mais gás
carbônico no meio tecidual mais hemoglobinas carreadas com oxigênio chegarão
através da circulação sanguínea, onde, por conta de a hemoglobina ter maior
afinidade com a molécula CO2, ocorrerá liberação de O2 (hiperoxigenação –
hiperóxia) e captação do CO2 para posterior eliminação. A essa resposta fisiológica,
para as alterações nas concentrações de CO2 e, consequentemente, H+ (formado a
partir da dissociação de H2CO3 – ácido carbônico), denomina-se Efeito Bohr
(GUYTON, 2006). Este aumento de H+ circulante deve ser tratado com cautela,
tendo em vista que o equilíbrio entre a ingestão e/ou produção de íons de hidrogênio
e sua retirada do organismo é essencial para a homeostase, tal concentração
necessita ser precisamente regulada pelo fato de o H+ estar presente em quase
todas as funções dos sistemas (GUYTON, 2008).
O dióxido de carbono também ocasiona o rompimento dos adipócitos (por lise
– carbolipólise), provocando a substituição por colágeno, elastina e vasos
sanguíneos, através da ação mecânica de acordo com o fluxo e/ou velocidade com
que o gás adentra à pele e através de ação bioquímica ao ativar barorreceptores
(receptores com a função primordial de manter a pressão arterial em estabilidade,
onde sua ativação se dá pela alteração mecânica da forma das extremidades neurais
em decorrência da distensão da parede vascular), em razão da distensão tecidual,
com a posterior liberação de mediadores químicos, especialmente cetocolaminas,
para resultar em ação lipolítica (quebra de triglicerídeos estimulada pela ativação da
lipase hormônio sensível – LSH, que, por sua vez, é ativada por mediador químico
AMPc) (BORGES, 2010).
A adenosina 3’-5’-monofosfato (AMPc) é definida, basicamente, como
segundo mensageiro intracelular. Um hormônio específico se conecta ao receptor
exclusivo localizado na membrana plasmática de uma célula-alvo e ativa a
adenilciclase que, consequentemente, converterá uma parte do ATP intracelular em
AMPc. O AMPc ativa proteína cinase dependente de AMPc que, então, fosforilará

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tantas outras proteínas, ativando-as ou desativando-as a fim de induzir ou inibir uma
resposta (NELSON, 2014). No caso da carboxiterapia, em suma, ao infundir CO2, a
ação mecânica estimula o aumento de AMPc que induzirá a lipólise (BORGES,
2010).

4.2.1. APLICAÇÕES DA CARBOXITERAPIA

A carboxiterapia pode ser habitualmente aplicada ao tratamento de muitos


distúrbios que necessitem de tratamento principalmente por melhorias no aporte
sanguíneo local (KEDE, 2009), como rejuvenescimento cutâneo, tratamento de
flacidez, estrias e celulites (KEDE, 2009), sabendo que a infusão de CO2 promove,
principalmente, aumento no fluxo sanguíneo e neoangiogênese através da hipóxia
na região infundida (VARLARO, 2007).
Aproveitando para fins de análise no campo da estética e a fim de exemplificar
a utilidade do tratamento com CO2 medicinal, o estudo de Durães et al (2013)
evidenciou significativo aumento na produção de colágeno em enxertos teciduais
realizados em coelhos com posterior terapia de dióxido de carbono, podendo ser
interpretado como avanço no campo do rejuvenescimento cutâneo já que o colágeno
é uma das principais proteínas responsáveis pela sustentação da pele (AZULAY,
2015).
Goldman et al (2006) indicam a carboxiterapia como tratamento pré e pós-
operatório para enxertos de pele, tratamento de celulites e gordura localizada. Para
carboxiterapia em celulite, ele apresenta como o protocolo o uso de 100 à 200 ml de
CO2 por membro tratado, com fluxo inicial de 10 à 50 ml/min.
Dentro do uso medicinal da carboxiterapia, Borges (2010) e Goldman et al
(2006) também trazem as arteriopatias como foco das primeiras aplicações do uso
de CO2 medicinal, para tratamento de feridas vasculares.
A quantidade total de CO2 a ser injetado permanece em torno de 1 litro, com
máxima de 3000ml, sabendo que valores maiores são injetados em casos de cirurgia
videolaparoscópica (infusão de 10 à 12 litros em cavidade peritoneal), por exemplo

19
(BORGES, 2010). Goldman et al (2006) considera seguro a administração
subcutânea ou intra-peritoneal do gás carbônico mesmo com a infusão de grandes
volumes (2 à 10 litros) e relata inexistência, até então, de efeitos tóxicos.
Apesar das considerações supracitadas, Cohen et al (2003) pondera, em seu
artigo sobre “alterações sistêmicas e metabólicas da cirurgia laparoscópicas”, a
possibilidade de efeitos colaterais severos mediante absorção de CO 2.

4.2.2. CONTRAINDICAÇÕES

As contraindicações giram em torno de distúrbios relacionados aos sistemas


cardíaco, respiratório e renal, como infarto agudo do miocárdio, angina, asma, rinite
e falência renal (MAIO, 2011). Doenças auto-imunes, que atingem o tecido conjuntivo
– colágeno, também fazem parte do grupo de contraindicações à carboxiterapia
(KEDE, 2009).
A injeção de dióxido de carbono (CO2) pode resultar em instabilidade
fisiológica a partir da manipulação exagerada do produto ou dificuldades metabólicas
do próprio organismo em eliminar tal excesso. Na intoxicação por CO2, ou a
hipercapnia, a principal ação emergencial é a interrupção na infusão do gás e a
estimulação da expiração pulmonar (MAIO, 2011).
Durante o uso do gás carbônico em procedimento cirúrgico (laparoscopia),
uma das respostas ao uso de CO2 é a taquicardia, motivada pela diminuição da
circulação sanguínea em detrimento da pressão que o gás exerce sobre as estruturas
anatômicas. Contudo, também sugere-se que a elevação na frequência cardíaca seja
em decorrência da maior absorção de CO2, por haver maior disponibilidade e, com
isso, maior necessidade de eliminação do organismo (COHEN, 2003).

20
4.2.3. DISFUNÇÕES METABÓLICAS ASSOCIÁVEIS

Para todas as funções metabólicas há um pH ótimo e mudanças nesses


valores, decorrentes de desordens internas ou induzidas por fatores externos,
alteram as atividades funcionais do corpo de forma significativa, principalmente com
relação ao desempenho de proteínas. Ao conceituar-se como pH ótimo para o
sangue arterial em 7,4 e para sangue venoso e líquidos intersticiais em 7,35 (maior
acidez em decorrência da metabolização de CO2 – CO2+H20H2CO3), também
define-se como acidose qualquer valor abaixo deste pH ótimo do sangue arterial e
como alcalose quando em valor acima de 7,4 (b.SOUZA, 2005), sabendo que
alcalose é o termo usado no que se refere à remoção excessiva de H+ e acidose
quando H+ é acrescido ao meio de forma exagerada (AIRES, 2008).
Substâncias, moléculas ou íons são definidas como básicas quando possuem
a capacidade de receber H+, como caso da hemoglobina que possui, em sua
constituição, aminoácidos carregados negativamente capazes de se ligarem
rapidamente ao H+; moléculas ou íons ácidos são aqueles capazes de liberarem
prótons (H+) de seus arranjos (AIRES, 2008).

Em síntese: Acidose = H+ pH


Alcalose = H+ pH

A variação fisiológica de H+ é controlada com a finalidade de se evitar acidose


ou alcalose, onde os sistemas-tampão ácido-base, o sistema respiratório e os rins
são os principais responsáveis por essa regulação. Os sistemas-tampão são
formados por substâncias que funcionam como controladores de pH ao se ligarem
reversivelmente a H+, fixam-se imediatamente com ácido ou base como forma de
retroceder a variação excessiva dos prótons, não eliminando íons de hidrogênio do
meio, mas ajustando seus níveis até que o equilíbrio seja reestabelecido. O sistema
respiratório age rapidamente eliminando CO2 e, consequentemente, ácido carbônico
do organismo. Embora mais letárgico que os outros dois sistemas, o sistema renal
consegue ser o mais robusto dos sistemas ao reajustar o acúmulo de hidrogênio ao

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excretar urina ácida ou básica, perdurando esse processo por horas ou dias
(DEVLIN, 2011).
O acúmulo de CO2 em resposta a disfunção orgânica dos sistemas renal e
respiratório pode resultar em desequilíbrio da relação ácido-base. Como dito
anteriormente, o equilíbrio entre a ingestão e/ou produção e a retirada de H+ do
organismo é essencial para a homeostase (condição de equilíbrio necessária para
realização de diversas funções adequadamente) (GUYTON, 2008).
Varlaro et al. (2007) é claro ao dizer que a carboxiterapia deve ser
contraindicada em casos de insuficiências renal, cardíaca e/ou respiratória, tendo em
vista que a eliminação de CO2 e H+ (oriundo da metabolização do CO2) é realizada
por rins e pulmões, e deficiências nesses órgãos ocasionaria o acúmulo excessivo
desses elementos e, então, intoxicação ao organismo.
O sistema-tampão mais importante é o sistema-tampão do bicarbonato, onde
o hidrogênio liberado pelo ácido carbônico (ioniza-se com o meio liberando H+ e
HCO3-) interage também com o bicarbonato liberado por um sal bicarbonato
(predominantemente o bicarbonato de sódio), sendo o ácido carbônico (H2CO3)
produzido no corpo através de reação entre CO2 e H2O (reação reversa
CO2+H20H2CO3) com auxílio da enzima anidrase carbônica presente
principalmente nos alvéolos pulmonares e túbulos renais. Como a reação de
produção do ácido carbônico é reversível, quanto mais H2CO3 estiver sendo formado,
maior também será a dissociação em CO2 e H2O, onde o CO2 em excesso precisará
ser expelido através da respiração (GUYTON, 2006).
Laboratorialmente, não é possível medir-se a concentração de ácido
carbônico no sangue por este dissolver-se velozmente em CO2 e H2O ou em H+ e
HCO3-, contudo, o CO2, que está contido no meio e é diretamente proporcional ao
valor de H2CO3, é possível ser mensurado a partir da tensão/pressão parcial de CO2
(PCO2) no sangue (NEMER, 2010).
O acúmulo orgânico de bicarbonato é controlado pelos rins e a pressão parcial
de CO2 é controlada pelo sistema respiratório. Quando elevada, a taxa respiratória
promove a remoção de CO2 do meio; quando baixa, a taxa respiratória promove a
elevação da PCO2. Quando este equilíbrio é quebrado, podemos concluir que um ou

22
ambos sistemas estão prejudicados, interferindo nos valores de bicarbonato e de
PCO2, onde define-se como acidose metabólica os distúrbios que exercerem queda
nos níveis de bicarbonato e alcalose metabólica em situações que promovam a
elevação do bicarbonato; acidose respiratória é causada por aumento na PCO 2 e
alcalose respiratória causada por diminuição da PCO2 (b.SOUZA, 2005).
A hemoglobina (Hb) também funciona como importante tampão ácido-base.
De forma geral, H+ e HCO3- difundem-se transmembranarmente de forma lenta e em
baixas quantidades, mas atravessam as hemácias mais facilmente e atingem
rapidamente a igualdade entre os íons do líquido intracelular e extracelular ao se
ligarem à hemoglobina – H+ + Hb  HHb (a variação do pH intracelular está
intimamente ligado à variação do pH extracelular). O CO 2 difunde-se rapidamente
através de todas as membranas celulares (b.SOUZA, 2005).
A redução significativa de glóbulos vermelhos (eritrócitos) em situação de
anemia severa, por exemplo, se traduz na queda da presença de hemoglobina e
sugere, então, acúmulo de CO2, tendo em vista que esta proteína intracelular
também é a principal carreadora desse composto químico. Dentro dessa situação, a
disponibilização de mais CO2, através do procedimento de carboxiterapia, poderia
induzir hipercapnia (aumento do gás carbônico no sangue arterial) e acidose
(VARLARO, 2007).
Os pulmões também promovem a regulação ácido-base ao expelir CO2
através da ventilação e, consequentemente, alterar a concentração de H+
(CO2+H20H2CO3H+ + HCO3-), onde uma maior ventilação resulta em maior
eliminação de CO2 e menor PCO2, e uma menor ventilação resulta em aumento de
CO2 e, assim, de H+, além de aumentar PCO2 também. Quando há aumento do pH
do meio (decaimento dos níveis de H+ = alcalose) é promovida estimulação na queda
na ventilação pulmonar para que não seja expelido o CO2 e haja, então, equilíbrio
ácido-base já que a presença maior do dióxido de carbono estimulará a formação de
ácido carbônico (CO2+H2OH2CO3), ocasionando a redução do oxigênio (disputa
com o CO2) e, consequentemente, da pressão parcial do oxigênio (PO2) no sangue.
Contudo, este efeito também de queda nos valores de O 2 e PO2 estimulam a
ventilação, deixando de ser tão eficiente se comparado à situação de redução de pH

23
(aumento de H+ = acidose = maior frequência respiratória para eliminação de CO 2
mais rapidamente) (GUYTON, 2006).
A excreção de urina, pelos rins, também é um processo de controle do
equilíbrio ácido-base, onde a excreção de bicarbonato traduz em remoção da “base”
do sangue e a excreção de hidrogênio significa remover o “ácido” do sangue. Quando
necessário, o sistema renal retira da circulação principalmente ácidos não
elimináveis pelo sistema pulmonar, não são H2CO3. Contudo, reter bicarbonato
(HCO3-) se resume como uma tarefa mais importante do que eliminar tais ácidos, e
isto se dá com a utilização do hidrogênio secretado para formação de H 2CO3 e, então,
reabsorção do anteriormente HCO3- filtrado. Em situação de alcalose, não há como
reabsorver o bicarbonato por conta da escassez de H+, levando na remoção de
HCO3- e, deste modo, elevação de H+ para os níveis normais. Em acidose, o
bicarbonato não é excretado, mas, sim, reabsorvido para produção de novo
bicarbonato e redução de H+ (H+ proporcionalmente excretado para cada HCO 3-
reabsorvido) (GUYTON, 2006).
Determinadas patologias conseguem interferir diretamente no equilíbrio ácido-
base, levando a acidose ou alcalose respiratória ou metabólica. Interferências na
ventilação pulmonar resultam no aumento da PCO2 do fluido extracelular,
concentrando H2CO3 e H+ no meio, finalizando em acidose respiratória, uma vez que
a disfunção está associada ao sistema respiratório. A acidose respiratória pode ser
causada por interrupções na troca gasosa entre o sangue e o ar alveolar, obstrução
de vias respiratórias, infecções pulmonares, enfisema ou qualquer outra condição
que interfira na capacidade de eliminação de CO2 por parte dos pulmões, havendo
compensação lenta através dos tampões dos líquidos corporais e funcionamento
renal. Já a alcalose respiratória é rara dada a necessidade de extremo aumento na
ventilação pulmonar para excessiva perda de CO2 na expiração. (BRASILEIRO
FILHO, 2011).
A acidose metabólica se dá a partir de interações além das envolvendo CO2 e
ventilação pulmonar, como insuficiência renal (deficiência excreção de H+ e/ou na
reabsorção de bicarbonato), perda excessiva de bicarbonato nas fezes em estado
diarreico, vômito de conteúdos intestinais (apesar da perda de conteúdo gástrico

24
conter quantidade significativa de ácido e sua perda ocasionar alcalinização do meio,
a perda do conteúdo intestinal provoca a acidose por ter-se grande perda de base),
diabetes (tanto tipo I quanto tipo II, há uma atuação ineficiente da insulina, seja por
sua ausência total ou por redução na sensibilidade celular, respectivamente; os
tecidos, então, passam a usar ácidos acetoacéticos, originários dos triglicerídeos,
como fonte de energia no lugar da glicose, resultando em cetoacidose caso os níveis
do ácido se elevem demasiadamente) e ingestão de ácidos (determinadas drogas,
como acetilsalicílicos, podem gerar acidose metabólica) (MITCHEL, 2006).
A alcalose metabólica se instala quando a perda de íons de hidrogênio
ultrapassa a normalidade e/ou quando há abundância de bicarbonato no líquido
extracelular, fatores que podem ser atingidos ao ingerir-se produtos alcalinos (como
o próprio bicarbonato de sódio), ingestão de diuréticos e vômito de conteúdo gástrico
(perda de HCl) (MITCHEL, 2006).
A alternância do pH interfere diretamente na funcionalidade de inúmeras
proteínas, por conseguinte, no funcionamento do organismo como um todo (DEVLIN,
2011).
Para fins de análise qualitativa do sistema orgânico do cliente, podemos
destacar os exames de hemograma (para determinar, principalmente, qualidade
eritrocitária e da hemoglobina), EAS (qualificar basicamente a função de excreção
renal para assegurar a atividade de controle de pH) e a gasometria, a fim de constatar
a real situação do equilíbrio ácido-base e eventuais ocorrências de acidose ou
alcalose metabólicas (NEMER, 2010).

4.3. EXAMES LABORATORIAIS

Os autores Cohen (2003), Varlaro (2007), Kede (2009) Borges (2010) e Maio
(2011) são taxativos quanto à necessidade de se manipular cautelosamente o dióxido
de carbono durante determinados procedimentos, como é o caso da carboxiterapia,
tendo em vista as condições fisiológicas necessárias para processamento e posterior
eliminação do gás carbônico infundido. Com isso, podemos destacar a indispensável

25
realização de exames laboratoriais como pré-requisito para realização da técnica
estética de terapia com CO2.
A lei nº 12.842, de 10 de julho de 2013, reconhecida publica e popularmente
como “a lei do ato médico”, determina o exercício da medicina em todo território
brasileiro. Esta dá as diretrizes necessárias para definir as competências
profissionais do graduado em medicina e delimita a atuação de diversas outras
profissões. O artigo 4º, da referida lei, estipula as atividades privativas ao médico,
destacando-se o inciso III, onde traz a “indicação da execução e execução de
procedimentos invasivos, sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, incluindo
acessos vasculares profundos (...)”. No mesmo artigo, também podemos destacar o
inciso X que reconhece como exclusividade médica a “determinação do prognóstico
relativo ao diagnóstico nosológico”. O primeiro parágrafo esclarece, ainda, que o
“diagnóstico nosológico é a determinação da doença que acomete o ser humano,
aqui definida como interrupção, cessação ou distúrbio da função do corpo, sistema
ou órgão (...)”; o parágrafo quarto caracteriza como “invasivo” os procedimentos que
se enquadrem na situação de “invasão dos orifícios naturais do corpo, atingindo
órgãos internos”. (BRASIL, 2013).
Dentro dessas condições, não há impedimentos legais para que o profissional
biomédico esteta solicite determinados exames laboratoriais a fim de se certificar das
condições fisiológicas imprescindíveis aos clientes que serão expostos ao CO2;
condições tratadas, especialmente, por Varlaro (2007) em seu texto.
Dentre todas as análises possíveis, considerando a bioquímica apresentada
previamente, as interações orgânicas e as contraindicações descritas pelos diversos
autores, este trabalho apresenta a realização do hemograma, da gasometria e da
bioquímica urinária/EAS como pré-requisitos sugestivo para realização da
carboxiterapia.

26
4.3.1. HEMOGRAMA

O hemograma é um exame composto pelo eritrograma, leucograma,


contagem de plaquetas e análise microscópicas das respectivas células. No
eritrograma encontramos dados quantitativos e qualitativos sobre os eritrócitos
(células vermelhas), o leucograma (análise dos leucócitos – células brancas) e a
contagem de plaquetas apresentam informações quantitativas sobre tais células. O
hemograma traz a totalidade de hemácias, de hemoglobinas e o hematócrito
(porcentagem do volume de hemácias presentes em uma amostra de sangue total);
os índices hematimétricos avaliam matematicamente o tamanho, a forma e as
características físicas das hemácias, onde o VCM (volume corpuscular médio) indica
o tamanho médio dos eritrócitos, o HCM (hemoglobina corpuscular média) mostra
referência sobre o conteúdo hemoglobínico em cada eritrócito, a CHCM
(concentração de hemoglobina corpuscular média) representa percentualmente a
concentração de hemoglobina totalitariamente (especificamente para determinado
hematócrito) e o índice de anisocitose eitrocitária (RDW) que calcula o grau de
variação do tamanho das hemácias (b.SOUZA, 2005).
Nesta análise, podemos determinar uma visão antecipada sobre as condições
biológicas do cliente, enfocando nos eritrócitos e conteúdo hemoglobínico por ser um
dos mecanismos de transporte e metabolização de O2 e CO2 (parte da rede de
equilíbrio ácido-base), ocorrendo comprometimento principalmente na eliminação de
CO2 caso haja déficit nesses componentes hematológicos. Redução dos níveis
séricos ou ineficiência constatada através deste exame indica circunstâncias
contrárias à realização da terapia estética com emprego do gás carbônico
(VARLARO, 2007).

4.3.2. GASOMETRIA

Há dois tipos de exames gasométricos, o arterial e o venoso. A gasometria


arterial é um exame onde se analisa o sangue colhido de uma artéria, fornecendo

27
dados sobre a relação ácido-base do tecido sanguíneo que atravessará os tecidos e
a qualidade da sua oxigenação (avaliação de gases oxigênio e carbônico), e pH. Já
a gasometria venosa, realizada com sangue colhida de uma veia, fornece aspectos
qualitativos sobre a oxigenação dos tecidos e, também, avalia o equilíbrio ácido-
base. (a.SOUZA, 2006).
O controle do equilíbrio ácido-base, pH, O2 e CO2 é realizado por uma
interação complexa entre os sistemas cardiopulmonar e renal (GUYTON, 2006) e
falhas no funcionamento desses sistemas orgânicos fornece um cenário de
contraindicação à carboxiterapia (VARLARO, 2007).
Segundo Souza (a. 2006), o exame laboratorial de gasometria com coleta de
material arterial é o mais indicado para obter-se um panorama real sobre o pH
sanguíneo, a oxigenação sistêmica e o sistema tampão orgânico (estabilidade ácido-
base), tendo em vista que identifica problemas respiratórios/pulmonares, renais e
metabólicos de forma precisa.
Contudo, por ser necessária realização de acesso profundo para coleta de
sangue específico, a lei nº 12.842/13 (BRASIL, 2013) restringe a prescrição do
exame de gasometria arterial e atribui como exclusividade médica, como disposto no
inciso III do Artigo 4: “indicação da execução e execução de procedimentos invasivos,
sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, incluindo os acessos vasculares
profundos, as biópsias e as endoscopia”. Por ter material sanguíneo adquirido
superficialmente, por punção venosa, a gasometria venosa não se enquadraria,
então, na restrição estipulada pela legislação e poderia ser requisitada pelo
biomédico para avaliação pré-carboxiterapia.
Os valores de referência usualmente utilizados para os parâmetros da
gasometria venosa são 20-30mmol/l de HCO3-, 40-50mmHg de PCO2, 95-100mmHg
de PO2 e 7,36-7,41 de pH (LIMA, 2008).
A leitura é resultado da comparação realizada entre os parâmetros da amostra
analisada com os padrões internos do gasômetro, sendo imprescindível conhecer a
origem da referida amostra, se de sangue arterial ou de sangue venoso para
resultado preciso (NEMER, 2010).

28
4.3.3. EXAME DE URINA / EAS

O exame de urina é composto por análise física, química e microscópica da


amostra biológica. É na análise física onde se classifica a amostra quanto a sua
coloração (que varia, em situações de normalidade e dependendo do grau de
concentração, entre amarelo-citrino e amarelo-avermelhado), de acordo com seu
aspecto (recém-coletada, de pH normalmente acidificado, é cristalina e translúcida;
urina turva remete à alcalinidade), quanto ao seu odor (apresenta odor característico
pela presença de ácidos voláteis; odor fétido é resultado da amônia gerada pela
hidrólise bacteriana da ureia) e registra-se o volume excretado (NEMER, 2010).
Este exame traz o quadro sobre o estado fisiológico do sistema renal e
também sobre algumas extra-renais, sendo de grande importância para realização
da carboxiterapia, como pode ser percebido através do estudo da homeostase
quanto ao equilíbrio ácido-base (GUYTON, 2006).
Visto como um exame extremamente valioso na análise clínica, é um
procedimento simples, de baixo custo e de fácil aquisição da amostra biológica para
estudo (LIMA, 2008).
Segundo Lima (2008), a análise química/bioquímica, realizada geralmente por
fita quimicamente reativa, elucida pontualmente características determinantes para
análise da condição fisiológica do sistema orgânico, no qual traz informações sobre:
 pH  determinante para estudo da capacidade renal de secretar ou
reabsorver ácidos ou bases;
 Densidade  expressa a concentração da urina (1.000 é o valor
mais baixo, se equiparando à densidade da água, ou seja, quanto
mais diluída da urina por ingesta líquida, mais próximo ao valor
1.000 ela estará);
 Hemoglobina  se presente, anuncia a instalação de quadro
patológico relacionado à hemorragia, como infeção urinária,
tumoração, litíase renal, etc;
 Nitrito  produto da conversão de nitrato por bactérias,
normalmente ausente na urina;

29
 Proteínas e glicose  ausentes em urinas normais;
 Corpos Cetônicos  produzidos por metabolização lipídica após
jejum prolongado ou em pessoas diabéticas (cetoacidose é a
patologia determinada por grandes quantidades de corpos cetônicos
no organismo, com redução drástica do pH);
 Bilirrubina  promove coloração amarelada à urina, é produto da
degradação da hemoglobina; em grandes quantidades sugere
desequilíbrio/patologia hematológica e/ou hepatológica;
 Urobilinogênio  obtido através da quebra da bilirrubina, em
resultados elevados aponta para doenças do sangue (hemolíticas)
e do fígado.
A microscopia do sedimento resultante da centrifugação da urina também
evidencia diversas características complementares as fornecidas pela análise
bioquímica. É possível constatar a presença de leucócitos decorrentes de processos
inflamatórios e infecciosos, hemácias, células epiteliais (distinguíveis entre si por
suas morfologias) e cristais. Determinados cristais surgem em meio a disfunções
metabólicas, como oxalato de cálcio e uratos amorfos que surgem em urinas ácidas
e carbonato de cálcio e fosfatos amorfos em urinas alcalinas. Também é possível
verificar a presença de bactérias e formações cilíndricas (esta é normal até certo
ponto) (LIMA, 2008).

5. CONCLUSÃO

O procedimento de carboxiterapia vai muito além de somente mais uma


prática estética. Foi possível criar um enredo que demonstre o tamanho da
responsabilidade ao infundir gás carbônico por via subcutânea em uma pessoa. O
estudo, mesmo que superficial, da fisiologia humana nos traz uma visão generalizada
dos mecanismos mínimos de atuação e interação metabólica do CO 2 com o
organismo, e aponta os caminhos que devemos percorrer para que o recurso

30
terapêutico em questão seja eficiente e, ao mesmo tempo, extremamente seguro à
saúde do cliente, sem expô-lo à riscos desnecessários, incluindo o risco de vida.
Como visto, o excesso de CO2 em um organismo pode desencadear uma
cascata de reações fisiológicos que podem atingir níveis inimagináveis de prejuízos
metabólicos ao cliente, mesmo que este, a priori, esteja bioquimicamente estável. Os
exames aqui descritos, os mais basais para a verificação das condições funcionais
do corpo seguindo as necessidades da carboxiterapia, devem ser expressos como
minimamente necessários no cotidiano do biomédico esteta para concretização da
terapia.
Os dados bibliográficos organizados impostam, então, o quão necessário se
faz a legalização e o incentivo da prescrição biomédica de exames laboratoriais com
a finalidade de se constatar o correto funcionamento dos sistemas fisiológicos do
cliente a ser infundido com CO2 e evitar quaisquer transtornos e intercorrências que
podem ocorrer durante ou após as infusões de dióxido de carbono, frente a licitude
em regulamentar a prática por ausência legislação proibitiva ao considerar-se todas
as normativas determinadas pela lei 12.842/13, citada e reescrita anteriormente. Esta
nova prática não se qualificaria como prática de diagnóstico nosológico uma vez que
haveria apenas o diagnóstico laboratorial (e não uma DETERMINAÇÃO) de doença
instalada ou distúrbios, caracterizada pelo diagnóstico clínico-laboratorial restrito,
então, ao profissional médico pela referida lei.
É importante salientar que o termo “determinar” tem como significado,
segundo o dicionário de língua portuguesa Michaelis, “delimitar, demarcar, localizar;
indicar com exatidão, definir, estabelecer, precisar; identificar e classificar (alguma
coisa)”, e nenhuma dessas definições se encaixa/encaixaria na real finalidade da
prescrição biomédica de exames complementares que é/seria a de certificar-se sobre
a estabilidade orgânica de seus clientes para que haja sucesso no tratamento e,
principalmente, para que não haja prejuízo à saúde dos mesmos.
Entretanto, verificando-se a relevância do assunto deste trabalho,
investigações mais profundas, sejam por originalidade ou revisão literária, devem ser
desenvolvidas de forma a modular novos protocolos para realização da terapia com
gás carbônico e outros tantos procedimentos estéticos.

31
6. REFERÊNCIAS

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