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1 Função Delta de Dirac

Notação
δ (x − x0 ) (1.1)

se x0 = 0 temos
δ (x) (1.2)

Função Delta de Dirac é uma função generalizada (ou distrubuição).


Introduzimos o espaço de funções de teste M que consiste de funções lisas C ∞ e com um suporte
compacto.
Definição:
Z ∞
∀f (x) ∈ M, δ (x − x0 ) f (x) dx = f (x0 ) (1.3)
−∞

Observamos que qualquer outra função usual não exibe esta propriedade.
Particularmente, para f (x) = 1 temos
Z ∞
δ (x − x0 ) dx = 1 (1.4)
−∞

se x0 = 0
Z ∞
δ (x) dx = 1 (1.5)
−∞

A Eq. (1.5) é a condição de normalização para δ (x), respectivamente a Eq. (1.4) é a condição de
normalização de δ (x − x0 ) .
No caso de três dimensões é usada a notação seguinte:

δ 3 (~r − ~r0 ) = δ (~r − ~r0 ) = δ (x − x0 ) δ (y − y0 ) δ (z − z0 ) (1.6)

para
~r = (x, y, z) , ~r0 = (x0 , y0 , z0 )

A condição de normalização segue da Eq. (fdd.04)


Z Z ∞Z ∞Z ∞
δ (~r − ~r0 ) dτ = δ (x − x0 ) δ (y − y0 ) δ (z − z0 ) dxdydz (1.7)
R3 −∞ −∞ −∞
Z ∞ Z ∞ Z ∞
= δ (x − x0 ) dx δ (y − y0 ) dy δ (z − z0 ) dz = 1 · 1 · 1 = 1
−∞ −∞ −∞

Um exemplo de uso da função Delta de Dirac. Consideramos um sistema de N partı́culas com


massas mi que são localizadas nos pontos de espaço ~ri :

mi , ~ri , i = 1, 2, ..., N

1
A densidade de massa ρ (~r) do sistema pode ser apresentada com o uso da função Delta de Dirac na
forma seguinte:
N
X
ρ (~r) = mi δ (~r − ~ri )
i=1

Confirmamos isso por cálculo de massa do sistema:


Z Z N
X N
X Z N
X
M= ρdτ = mi δ (~r − ~ri ) dτ = mi δ (~r − ~ri ) dτ = mi
V R3 i=1 i=1 R3 i=1

onde a Eq. (1.7) foi usada.

1.1 Aproximação da função Delta de Dirac por funções ”usuais”.

A função Delta de Dirac pode ser aproximada e visualizada por uma sequência de funções ”usuais”
δa (x) marcadas por um parâmetro a quando a → 0. Para apresentar a função Delta de Dirac usamos
também uma prescrição seguinte:

 singularidade, x = x0 , Z ∞
δ (x − x0 ) = , δ (x − x0 ) dx = 1. (1.8)
 0, x 6= x0 −∞

Então as funções ”usuais” de sequências δa (x) devem representar as propriedades formuladas da Eq.
(1.8)
1. A sequência da forma: 
 1, x ∈ −a, a
a 2 2
δa (x) = (1.9)
/ − a2 , a2
 0, x ∈ 

As funções da sequência (1.9) são mostradas na Fig. 1 e elas demonstram as propriedades seguintes:

1
δa (0) = ⇒ a → 0, δa (0) → ∞
a
 a a
x∈/ − , , δa (x) = 0 ⇒ a → 0, δa (x) = 0, x 6= 0
2 2
Z ∞ Z a/2
1 1 h a  a i 1
δa (x) dx = dx = − − = a=1
−∞ −a/2 a a 2 2 a
2. A sequência da forma:
1 a
δa (x) = (1.10)
π a + x2
2

As funções da sequência (1.10) são mostradas na Fig. 2 e elas demonstram as propriedades seguintes:

1
δa (0) = ⇒ a → 0, δa (0) → ∞

x 6= 0 : a → 0, δa (0) → 0

2
4

-1 -0.5 0.5 1

Figure 1: As funções da sequência (1.9).

e
∞ ∞
1 a 1 ∞ 1 x 1 Z ∞ 1
Z Z Z
δa (x) dx = dx = d = dξ
−∞
2
−∞ π a + x
2 π −∞ 1 + xa22 a π −∞ 1 + ξ 2
1 ∞ 1 h π  π i 1
= arctan ξ|−∞ = − − = π = 1.
π π 2 2 π
3

2.5

1.5

0.5

-4 -2 2 4

Figure 2: As funções da sequência (1.10).

3. A sequência da forma:
 2
1 x
δa (x) = √ exp − 2 (1.11)
a π a
As funções da sequência (1.11) são mostradas na Fig. 3 e elas demonstram as propriedades seguintes:
1
δa (0) = √
⇒ a → 0, δa (0) → ∞
a π
x 6= 0 : a → 0, δa (0) → 0

e
∞ ∞  2 Z ∞  2  
1 x 1 x x
Z Z
δa (x) dx = √ exp − 2 dx = √ exp − 2 d
−∞ −∞ a π a π −∞ a a

3
∞ ∞ √
1 2 2 π
Z Z
2 2
 
=√ exp −ξ dξ = √ exp −ξ dξ = √
π −∞ π 0 π 2
pois
∞ √
π
Z
2

exp −ξ dξ = .
0 2

1.5

0.5

-3 -2 -1 1 2 3

Figure 3: As funções da sequência (1.11).

4. Apresentação na forma:


δ (x) = ,
dx
onde η (x) é a função degrau de Heaviside:

 0, x < 0,
η (x) =
 1, x ≥ 0

∞ ∞ ∞

Z Z Z
δ (x) dx = dx = dη = η (x)|∞
−∞ = 1 − 0 = 1
−∞ −∞ dx −∞

5. Apresentação na forma integral:


Z ∞
1
δ (x − x0 ) = eip(x−x0 ) dp
2π −∞
Z ∞
1
x = x0 , dp → ∞
2π −∞
Z ∞
1
x 6= x0 , eip(x−x0 ) dp = 0
2π −∞
pois a integral representa a soma infinita das integrais por perı́odo completo das funções trigonométricas:
Z ∞ Z ∞ Z ∞
ip(x−x0 )
e dp = cos (p (x − x0 )) dp + i sin (p (x − x0 )) dp
−∞ −∞ −∞

4
A normalização é verificada da maneira seguinte:
∞ ∞ ∞ ∞ L ∞
1 1 1
Z Z Z Z Z Z
ip(x−x0 ) i(x−x0 )p
e dpdx = e dpd (x − x0 ) = lim eipy dpdy
−∞ 2π −∞ −∞ 2π −∞ L→∞ −L 2π −∞

L

eipL − e−ipL ∞
Z ∞
1 1 1 2 sin (pL)
Z Z Z
ipy
= lim e dydp = lim dp = lim dp
L→∞ 2π −∞ −L −∞ ip L→∞ 2π L→∞ 2π −∞ p
1 ∞ sin (pL) 1 ∞ sin ξ 2 ∞ sin ξ 2π
Z Z Z
= lim d (pL) = dξ = dξ = =1
L→∞ π −∞ pL π −∞ ξ π 0 ξ π2
pois

sin ξ π
Z
dξ = .
0 ξ 2

1.2 Propriedades da função Delta de Dirac

Observamos que das Eqs. (1.3) e (fdd.04) segue


Z ∞ Z ∞ Z ∞
f (x) δ (x − x0 ) dx = f (x0 ) = f (x0 ) δ (x − x0 ) dx = f (x0 ) δ (x − x0 ) dx. (1.12)
−∞ −∞ −∞

1. Paridade.
Computamos a integral:
Z ∞ Z −∞ Z ∞
f (x) δ (−x) dx = f (−y) δ (y) (−dy) = f (−y) δ (y) dy = f (−0) = f (0)
−∞ ∞ −∞
Z ∞ Z ∞ Z ∞
= f (0) δ (x) dx = f (0) δ (x) dx = f (x) δ (x) dx
−∞ −∞ −∞

Então,
Z ∞
f (x) [δ (−x) − δ (x)] dx = 0 ∀f (x)
−∞

portanto
δ (−x) − δ (x) = 0 ∀x

e obtemos:
δ (−x) = δ (x)

isto é a função Delta de Dirac é par.


2. Reescalamento do argumento.
Supomos a > 0 :
∞ ∞
1 ∞ y 
y  1 y 
Z Z Z
f (x) δ (ax) dx = f δ (y) d = f δ (y) dy = f (0)
−∞ −∞ a a a −∞ a a
Z ∞
1 1 ∞ 1 ∞
Z Z
= f (0) δ (x) dx = f (0) δ (x) dx = f (x) δ (x) dx
a −∞ a −∞ a −∞

5
Então,
∞  
1
Z
f (x) δ (ax) − δ (x) dx = 0 ∀f (x)
−∞ a
portanto
1
δ (ax) − δ (x) = 0 ∀x
a
e obtemos
1
δ (ax) = δ (x)
a
No caso a < 0, podemos escrever a = − |a| . Usando o fato que a função Delta de Dirac é par (a
propriedade 1), temos:
1
δ (− |a| x) = δ (|a| x) = δ (x)
|a|
Então para a 6= 0 (positivo ou negativo) temos:

1
δ (ax) = δ (x) ∀a 6= 0.
|a|

3. A função Delta de uma função.


A função Delta de Dirac tem singularidade quando o seu argumento é nulo. Consideramos o caso

δ (g (x))

e g (x) possui um zero x0 :


g (x0 ) = 0.

Neste caso 
 singularidade, x = x0 ,
δ (g (x)) =
 0, x 6= x . 0

Na vizinhança de x0 :

1
g (x) = g ′ (x0 ) (x − x0 ) + g ′′ (x0 ) (x − x0 )2 (1.13)
2
1 ′′′ 1
+ g (x0 ) (x − x0 )3 + ... + g (n) (x0 ) (x − x0 )n + ...
6 n!

(lembrando que g (x0 ) = 0). Escrevendo a Eq. (fdd.40) na forma



1
g (x) = (x − x0 ) g ′ (x0 ) + g ′′ (x0 ) (x − x0 )
2

1 ′′′ 2 1 (n) n−1
+ g (x0 ) (x − x0 ) + ... + g (x0 ) (x − x0 ) + ...
6 n!

vemos que

1 1 1
g ′ (x0 ) + g ′′ (x0 ) (x − x0 ) + g ′′′ (x0 ) (x − x0 )2 + ... + g (n) (x0 ) (x − x0 )n−1 + ... = g ′ (x0 ) , x = x0
2 6 n!

6
Portanto podemos escrever

1
δ (g (x)) = δ (g ′ (x0 ) (x − x0 )) = δ (x − x0 ) . (1.14)
|g ′ (x0 )|

No caso quando g (x) possui vários zeros x1 , x2 , ..., xn :

g (xk ) = 0, k = 1, 2, ..., n

A função Delta δ (g (x)) tem singularidades nos pontos xk , k = 1, 2, ..., n :



 singularidade, x = xk ,
δ (g (x)) = , k = 1, 2, ..., n
 0, x 6= x . k

Neste caso a função Delta pode ser apresentada como:


n
X 1
δ (g (x)) = δ (x − xk ) . (1.15)
k=1
|g ′ (xk )|

1.3 Exemplo

Calcular a integral:
Z ∞
ex δ x2 − p2 dx, p > 0.

−∞

Neste exemplo
g (x) = x2 − p2

com zeros nos pontos


x2 − p2 = 0 ⇒ x1 = p, x2 = −p.

e
g ′ (x) = 2x, |g ′ (x1 )| = 2p, |g ′ (x2 )| = |−2p| = 2p

Usando a Eq. (1.15), obtemos:

1 1 1 1
δ x2 − p 2 =

δ (x − x1 ) + ′ δ (x − x2 ) = δ (x − p) + δ (x + p) .
|g ′ (x1 )| |g (x2 )| 2p 2p

Substituindo na integral, temos:


∞ ∞  
1 1
Z Z
x 2 2 x

e δ x − p dx = e δ (x − p) + δ (x + p) dx
−∞ −∞ 2p 2p
Z ∞ Z ∞
1 x 1
= e δ (x − p) dx + ex δ (x + p) dx
2p −∞ 2p −∞
1 p 1 1 ep + e−p cosh p
= e + e−p = = .
2p 2p p 2 p

7
1.4 Derivada da função Delta

Derivada da função Delta δ ′ (x) também é uma função generalizada. Além disso
Z ∞ Z ∞ Z ∞
′ ∞
∀f (x) ∈ M, f (x) δ (x) dx = f (x) d (δ (x)) = [f (x) δ (x)]−∞ − δ (x) d (f (x))
−∞ −∞ −∞

tal que
x → ±∞, δ (x) = 0 ⇒ [f (x) δ (x)]∞
−∞ = 0

portanto
Z ∞ Z ∞ Z ∞

f (x) δ (x) dx = − δ (x) d (f (x)) = − δ (x) f ′ (x) dx = −f ′ (0) (1.16)
−∞ −∞ −∞

onde foi usada a Eq. (fdd.03). No caso do agrumento (x − x0 ) da função Delta temos:
Z ∞
f (x) δ ′ (x − x0 ) dx = −f ′ (x0 ) (1.17)
−∞

Segunda derivada da função Delta δ ′′ (x) também é uma função generalizada.


Z ∞ Z ∞ Z ∞
′′ ′ ∞
f (x) δ (x) dx = f (x) d (δ (x)) = [f (x) δ (x)]−∞ − δ ′ (x) d (f (x))
−∞ −∞ −∞

Como

x → ±∞, δ ′ (x) = 0 ⇒ [f (x) δ ′ (x)]−∞ = 0

portanto
Z ∞ Z ∞
′′
f (x) δ (x) dx = − δ ′ (x) f ′ (x) dx = − (−f ′′ (0)) = f ′′ (0) (1.18)
−∞ −∞

onde a Eq. (1.16) foi usada. Continuamos com δ ′′′ (x) :


Z ∞ Z ∞ Z ∞
′′′ ′′ ′′ ∞
f (x) δ (x) dx = f (x) d (δ (x)) = [f (x) δ (x)]−∞ − δ ′′ (x) d (f (x))
−∞ −∞ −∞
Z ∞
=− δ ′′ (x) f ′ (x) dx = −f ′′′ (0) ,
−∞

pois

x → ±∞, δ ′′ (x) = 0 ⇒ [f (x) δ ′′ (x)]−∞ = 0

e foi usada a Eq. (1.18).


Além disso, a derivada de ordem n da função Delta δ (n) (x) também é uma função generalizada.
Continuando os calculos semelhantes obtemos:
Z ∞
f (x) δ (n) (x) dx = (−1)n f (n) (0) (1.19)
−∞

No caso do agrumento (x − x0 ) da função Delta temos:


Z ∞
f (x) δ (n) (x − x0 ) dx = (−1)n f (n) (x0 ) (1.20)
−∞

8
1.5 Exemplo

Calcular a integral:
Z ∞
cos (ωx) δ ′′′ (x − a) dx, ω > 0.
−∞

Usando a Eq. (1.20), obtemos:


Z ∞
cos (ωx) δ ′′′ (x + a) dx = (−1)3 [cos (ωx)]′′′ 3 3
x=−a = −ω sin (−ωa) = ω sin (ωa) .
−∞

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