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CULTURA HISPANO-AMERICANA - Professora Elana Gamazo

Mário Alves

A ODISSEIA DE DARIEN

A ilusão do Sonho Americano tem feito com que muitos emigrantes


pobres da América Latina, Ásia e África se disponham a passar por inúmeros
sacrifícios e chantagens para chegarem à fronteira dos Estados Unidos. Antes de
chegarem à América Central para depois seguirem rumo ao México, esses
emigrantes têm de atravessar a selva colombiana de Darién, que tem fronteira
com o Panamá. Durante os 7 a 10 dias de travessia são miseravelmente
explorados pelas mafias colombianas da droga (cocaína). Só em 2019 foram
24.000 os que tentaram esta travessia, e 20% eram crianças.

Devido à densidade vegetal da selva de Darién, também muito rica em


biodiversidade, é interrompida aqui a estrada Panamericana. Esta estrada liga
todo o continente americano desde o extremo sul no Chile até ao Canadá. É
precisamente na região impenetrável de Darién que as mafias da droga e os seus
protetores se sentem mais à vontade para efetuarem os seus negócios que lhes
rendem bastantes lucros, e isto sobretudo à custa do transporte da cocaína e da
espoliação dos emigrantes que atravessam essa região cheia de perigos.

Outro fator prejudicial aos emigrantes é o calor insuportável (e o nível de


humidade) que se faz sentir nessa região, favorável ao aparecimento de doenças
típicas dos países tropicais, em particular. Os ataques de insetos e de animais
selvagens são outro perigo que espreita os emigrantes desarmados para se
poderem defender eficazmente.

O clan que domina esta região da Colômbia é o Clan do Golfo, que possui
os seus próprios laboratórios onde se processam as folhas de coca, laboratórios
que são guardados dia e noite por camponeses. O Clan do Golfo exporta mais de
metade da cocaína da Colômbia, maior produtor mundial desta droga, e o maior
consumidor são os Estados Unidos.

A outra fonte de financiamento do Clan reside na exploração de que são


vítimas os emigrantes que tentam atravessar a selva de Darién, haitianos,
africanos e asiáticos na sua maioria. Para poderem atravessar a selva em
segurança, os pobres emigrantes têm de pagar um imposto aos coyotes
(intermediários) que por sua vez entregam parte desse dinheiro ao Clan do
Golfo. Além disso, muitos emigrantes têm ainda de suportar carregamentos de
cocaína durante a travessia da selva.

Muitas vezes os emigrantes das diversas nacionalidades, são enganados e


roubados pelos que se dizem seus protetores. O engano começa logo no início da
viagem, pois os coyotes dizem que a travessia será de apenas um dia, quando na
verdade durará pelo menos uma semana. Isto significa que só as pessoas de
maior resistência poderão concluir a viagem. Também frequentemente os
emigrantes são vítimas de roubos ficando sem telemóveis, dinheiro, roupa,
quando não acontece o pior e são simplesmente assassinados.

O Exército colombiano alega que está numa luta de vida e de morte


contra os narcotraficantes pertencentes aos vários clans, mas a situação é bem
diferente: na realidade, assiste-se a uma tripla aliança entre os paramilitares
(defensores do negócio da droga), Exército e narcotraficantes. Se a isto
juntarmos a presença da guerrilha do ELN (Exército de Libertação Nacional) em
alguns lugares da selva, a situação torna-se ainda mais perigosa para os
emigrantes. Estes ficam sujeitos a ataques de várias direções, mesmo daqueles
que pensam ser seus “protetores”.

O drama vivido por esta população que vem dos países pobres do sul não
é exclusivo do caso da selva de Darién. Atualmente estão em grande destaque as
migrações do norte de África e Médio Oriente para a Europa. A história repete-
se, só os personagens são diferentes. A tentativa de fuga destes povos para a
América e Europa ricas é fruto da globalização mundial e da desastrosa
governação económica das últimas décadas.
Acontece que também esses países denominados de primeiro mundo (os
mais ricos do planeta) estão mergulhados numa crise económica sem fim à
vista. Desde a grande recessão de 2008 nada foi feito para reparar os males que
originaram tal crise, bem pelo contrário. Acresce que a pandemia da COVID-19
veio no ano passado agravar ainda mais uma situação precária, em que se nota
uma distância cada vez maior entre a camada de população mais rica e as
classes mais pobres.

Gostava de ser otimista, mas em face da realidade descrita é difícil


vislumbrar alguma solução mitigadora das crescentes migrações do sul global
na direção dos países supostamente mais ricos do planeta.

Pergunta de reflexão - será que a emigração para os Estados Unidos é


benéfica para o desenvolvimento social e económico dos países latino-
americanos (maior igualdade nessas sociedades) de onde originou essa
emigração?
-https://www.chiapasparalelo.com/acerca-de-chiapas-paralelo---
19/3/2021

-https://www.nacion.com/cables/entre-la-vida-y-la-muerte-migrantes-
cruzan-jungla/UID554BDQVGHFM5R6HB7LTVJ5E/story/---19/3/2021

-https://www.cubahora.cu/del-mundo/los-peligros-del-darien---
19/3/2021

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