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politica.estadao.com.br

A necessidade de revisão do
RenovaBio
Fausto Macedo

7-9 minutos

Fernanda Martinez Campos Cotecchia e Paulo Campos


Fernandes. FOTOS: DIVULGAÇÃO

Desde a Revolução Industrial se observa que, em paralelo ao


desenvolvimento tecnológico e ao consequente aumento da
produção, os impactos ambientais do ecossistema do planeta
foram cada vez maiores.

Assim, na medida em que a sociedade foi tomando consciência


da relevância da proteção ao meio ambiente, foram criados

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acordos internacionais com o propósito de mitigar os efeitos da


poluição.

No tocante a poluição atmosférica, um dos pilares recentes destas


tratativas foi a celebração, em 2015, do Acordo de Paris sob a
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima,
que tem por objetivo o controle das emissões dos gases de efeito
estufa.

Deste modo, de forma a contribuir para o atendimento aos


compromissos do País no âmbito do referido Acordo, o Presidente
da República sancionou em 26/12/2017 a Lei n. 13.576, instituindo
a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), parte
integrante da política energética nacional, criando assim, um
marco legal para os biocombustíveis.

Em resumo, o objetivo do RenovaBio é expandir a produção de


biocombustíveis no Brasil, baseada na previsibilidade, na
sustentabilidade ambiental, econômica e social, devendo tal
expansão ser compatível com o crescimento do mercado
nacional.

Para o efeito, foram determinados instrumentos para a aplicação


desta política, os quais se destacam: a criação de metas de
redução de emissões de gases causadores do efeito estufa na
matriz de combustíveis; a contabilização dos créditos de
descarbonização (CBIO); a certificação da produção eficiente de
biocombustíveis; necessidade de adição compulsória de
biocombustíveis aos combustíveis fósseis; e incentivos fiscais,
financeiros e creditícios.

De forma a estabelecer as metas, é levado em consideração não


só os compromissos internacionais de redução de emissões de

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gases causadores do efeito estufa assumidos pelo Brasil e ações


setoriais no âmbito desses compromissos; mas também, a
disponibilidade de oferta de biocombustíveis por produtores e por
importadores detentores do certificado da produção eficiente de
biocombustíveis; a valorização dos recursos energéticos; a
evolução do consumo nacional de combustíveis e das
importações; a proteção dos interesses do consumidor quanto a
preço, qualidade e oferta de combustíveis; e o impacto de preços
de combustíveis em índices de inflação.

Em linhas gerais, a dinâmica criada pelo RenovaBio funciona da


seguinte forma: 1) as distribuidoras de combustíveis fósseis
recebem metas anuais de redução de carbono do combustível
vendido por elas; 2) para cumprir estas metas, as distribuidoras
precisam que comprar na bolsa de valores, CBIOs emitidos por
empresas produtoras de biocombustíveis que foram certificadas; e
por fim, 3) o valor do CBIO é estabelecido pelo mercado, a partir
da relação entre a quantidade de certificados que as distribuidoras
têm que comprar e a quantidade disponível.

Neste contexto, em 2019, segundo dados da Agência Nacional do


Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), foram produzidos
no Brasil 35,3 bilhões de litros de etanol e 5,9 bilhões de litros de
biodiesel, produtos estes que são adicionados à gasolina e óleo
diesel, respectivamente, visando reduzir a poluição atmosférica,
criando uma matriz mais limpa e sustentável. Vale destacar que
segundo o Statiscal Review of World Energy 2020 , publicado pela
BP Energy, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de
biocombustíveis.

Não obstante os esforços do país em buscar uma matriz


energética mais limpa, em consonância com a regulamentação do

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RenovaBio, o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou, em


05/06/2020, a Portaria n° 235, de 03/06/ 2020, para colocar em
Consulta Pública propostas referentes às metas compulsórias
anuais de redução de emissões de gases causadores do efeito
estufa para a comercialização de combustíveis, para o decênio de
2021 a 2030, e revendo as metas estabelecidas para o ano de
2020, em função dos impactos da pandemia de COVID-19.

É importante ressaltar que os impactos econômicos causados


pelo COVID-19 levaram à redução em 50% da meta
anteriormente prevista para 2020 .Este mesmo impacto repercutiu
também na definição das metas do decênio 2021-2030, que por
sua vez também sofreu redução em relação às metas
estabelecidas por meio da Resolução CNPE nº 8/2020 para o
horizonte decenal de 2020-2029 (2º ciclo).

Outro ponto de que merece destaque e que levou a revisão das


metas de 2020 refere-se à problemática da represada de oferta de
CBIOs para o mercado, o que impacta diretamente no preço
destes certificados.
Para demonstrar este fato, a tabela a seguir, elaborada com
dados da B3, apresenta a evolução do estoque de CBIOs
disponíveis no mercado e o preço médio praticado:

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Assim, uma crítica que se faz é que a definição das metas


compulsórias anuais de redução de emissões de gases
causadores do efeito estufa para a comercialização de
combustíveis pelas distribuidoras, estabelecida pelo Decreto n.
9.888 de 2019, leva em consideração a disponibilidade de oferta
de biocombustíveis por produtores e por importadores detentores
do CBIOs, mas não a disponibilidade de CBIOs no mercado para
aquisição pelas distribuidoras.

Além disso, se ressalta que não há na regulação do RenovaBio a


fixação de prazo para que os produtores obtenham CBIOs e os
disponibilizem para o mercado.

Destacamos que uma associação que representa as empresas


distribuidoras de combustíveis está discutindo na Justiça bases
para o descumprimento das metas de descarbonização,
questionando as condições de mercado e o reflexo nos preços
dos créditos neste primeiro ano de operação do RenovaBio.

Para o efeito e suporte da sua alegação, foi patrocinado estudo


realizado pela PUC-RJ onde se apontam alguns problemas tais
como: a instabilidade no preço do CBIO; impacto do custo do
CBIO no preço dos combustíveis para os consumidores: ausência
de plataforma eletrônica para as negociações, capaz de dar maior
transparência às transações.

O estudo também sugere melhorias no programa, como por


exemplo: mecanismos de controle de preços do CBIOpor meio da
definição de um “valor-teto”; metas para os agentes emissores de
CBIO, de forma a garantir quantidade suficiente de CBIOs e evitar
o estoque de créditos; inclusão de distribuidores na emissão de
CBIOs, na medida que seus processos geram energia limpa, entre

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outros.

O RenovaBio veio para ficar. Seu papel na matriz energética


brasileira é de grande importância. No entanto, todos estes fatos
sugerem que há oportunidade de melhoria na sua regulação.

*Fernanda Martinez Campos Cotecchia e Paulo Campos


Fernandes, advogados do Kincaid | Mendes Vianna
Advogados

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