Você está na página 1de 11

A RELAÇÃO ENTRE O ANTIGO E O NOVO EM DUAS OBRAS DE

RAFAEL MONEO1

Marcos de S. Q. Bittencourt2

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Urbano; Cidade e memória; Projeto de


arquitetura; Rafael Moneo.

RESUMO

A percepção dos valores culturais das antigas cidades e o entendimento das


relações entre o passado e o presente como processo de continuidade e não de
rompimento das estruturas urbanas resulta, entre outros aspectos, na formulação de
conceitos sobre as relações entre novas edificações e a pré-existência, enunciados
nas vertentes crítico-conservativa e de conservação integral, entre outras. As
discussões sobre a relação entre o antigo e o novo vêm sendo enriquecidas não
apenas por esses aportes conceituais, mas, sobretudo pela produção arquitetônica ao
longo das últimas décadas. A construção das e nas cidades, vai produzir um rico
pensamento sobre o tema, que terá nas questões relacionadas às antigas cidades um
desdobramento mais recente e cada vez mais sofisticado sobre a questão da inserção
de novas edificações em espaços urbanos consolidados.
Através de duas obras do arquiteto espanhol Rafael Moneo – a Prefeitura de
Murcia, na Espanha e o Museu de Arte Moderna e de Arquitetura de Estocolmo, na
Suécia - analisamos as relações dessas edificações com o contexto onde se inserem,
observando as estratégias utilizadas pelo arquiteto para a elaboração de seus projetos
com base na fundamentação teórica que envolve o assunto. Ao trabalhar através da
diferenciação em consonância ou de uma postura em dissonância, Rafael Moneo
obtém nos edifícios analisados um resultado de alto poder sugestivo relacionado à
importância do lugar.

1
O presente trabalho foi elaborado para o curso de Arquitetura Contemporânea em Sítios Históricos,
ministrado pela Prof. Dra. Fabiola Zonno, no Mestrado Profissional em Projeto e Patrimônio –
PROARQ/FAU/UFRJ em maio de 2017.
2
Arquiteto formado pela FAU/UFRJ, cursando o Mestrado Profissional em Projeto e Patrimônio –
PROARQ/FAU/UFRJ.
INTRODUÇÃO
A vasta literatura que hoje existe e que trata do valor cultural das cidades é
coisa relativamente recente. Em seu livro A Alegoria do Patrimônio, a historiadora
Françoise Choay faz uma análise, no capítulo denominado A Invenção do Patrimônio
Urbano, do início dos estudos sobre as cidades, que somente vai ocorrer no século xx,
até à formação de uma consciência sobre o valor das antigas cidades e, seu aspecto
mais particular, como patrimônio cultural urbano, que é o assunto que nos interessa.
O século xx será palco de diversos embates sobre a construção das e nas
cidades produzindo um rico pensamento sobre o tema, que terá nas questões
relacionadas às antigas cidades um desdobramento mais recente, e cada vez mais
sofisticado, sobre o tema da inserção de novas edificações e a preocupação com a
pré-existência.
O presente trabalho propõe analisar as relações entre antigas e novas
edificações através de duas obras do arquiteto espanhol Rafael Moneo. O arquiteto
tem vasta experiência profissional iniciada na década de 1960 e, através de um olhar
atento à questão do lugar, desenvolveu uma rica estratégia projetual associada à
presença de novas edificações inseridas em estruturas urbanas de valor histórico.
Como descreve o professor Josep Maria Montaner,“(...) em Rossi, Moneo, Stirling,
Hollein, a história está presente como método de análise antes do projeto e como
referência formal, porém não aflora de maneira literal e global”. (MONTANER, 1999,
p.181)
Pretende-se analisar as obras do Museu de Arte Moderna e de Arquitetura de
Estocolmo, na Suécia, e da Prefeitura da cidade de Murcia, na Espanha, que oferecem
duas abordagens distintas de intervir no lugar. O próprio Moneo contribui para
enriquecer o texto apresentado através da análise de seus próprios projetos. Ele se
refere aos seus trabalhos como “respostas apropriadas às condições dos tecidos
urbanos onde se inserem (...), respeitosos ao lugar e pretendendo formar parte dele,
ainda que criem uma nova percepção do que eram as condições prévias”. (MONEO,
2010, p.377)

MUSEU DE ARTE MODERNA E DE ARQUITETURA DE ESTOCOLMO


SUÉCIA (1991-98)

Vista aérea do conjunto. Fonte: MONEO, Rafael. Apuntes sobre 21 obras. Gustavo Gili.
Barcelona: 2010.
É oportuno observar no caso desse projeto as considerações iniciais do
arquiteto, uma vez que elas vão orientar as decisões projetuais tomadas, indicando
uma coerência ao longo do desenvolvimento do projeto. A escolha do local para a
construção dos museus a serem projetados na Ilha de skeppsholmen ficava a cargo
do arquiteto. Moneo pondera em seu memorial do projeto sobre a tentação quase
natural de buscar um sítio na borda da ilha que contribuísse para destacar os museus
como objetos, a exemplo da Ópera de Sidney3. Em contrapartida, sua escolha do local
obedeceu a uma determinação de integração e incorporação à estrutura urbana da
ilha, implantando o novo edifício mais na área central, fugindo da borda da ilha e
evitando propositalmente seu protagonismo, “como alternativa estratégica se
estabeleceu que o volume que o programa do museu demandava deveria ficar
incorporado, acolhido, incluído na cidade sem exigir muita atenção” (MONEO, p. 413).
Nessa mesma direção, o arquiteto espanhol opta por não seguir o que
considera uma tendência global de transformar os grandes espaços destinados à
cultural em “arquiteturas espetaculares”, propondo como atitude de projeto “a opção
de construir na e a partir da cidade” (MONEO, 2010, p.413). E, de fato, a partir dessas
premissas e através de suas opções ao longo do desenvolvimento do projeto, ele vai
construindo o seu discurso arquitetônico. O relacionamento da nova edificação vai
ocorrer não com uma edificação histórica específica, mas com o sítio, a estrutura
urbana. Longe das soluções do “moderno ambientado” e suas “construções
domesticadas”, criticadas por Bruno Zevi, Moneo adota para o projeto dos museus de
Estocolmo um entendimento mais próximo da coexistência entre o antigo e o novo
pensado em termos de “obra coletiva”, isto é, integrado ao ambiente, como proposto
por Roberto Pane, conforme esclarece Kühl, “Pane invoca então o uso da criatividade,
não a serviço de um contraste puro e simples, ou alienado do tecido histórico da
cidade, mas como parte integrante desse tecido historicizado”. (KÜHL, 2009, p.162)
Dessa maneira, ele implanta a nova edificação em uma área em declive,
trabalhando com a topografia ao projetar à meia encosta minimizando, assim, a
visibilidade do grande volume da nova edificação através da solução de espaços semi-
enterrados, buscando preservar a escala local (Figura 1). Mais uma demonstração do
arquiteto pela integração à estrutura urbana é dada pela decisão de incorporar no
projeto uma construção pré-existente (Figura 2). Esse desejo de integração não
impede Moneo de desenvolver um projeto contemporâneo, articulado às demandas do
programa. As soluções espaciais e a volumetria da nova edificação agrega qualidade
à paisagem construída ao mesmo tempo em que evidencia a sua autonomia (Figura
3). As coberturas com lanternins em chaminé, de diferentes dimensões, são elementos
centrais tanto do ponto de vista do perfil exterior, marcantes na solução plástica do
edifício, como também como fonte de iluminação para as salas de exposições. Não há
qualquer intenção em reproduzir através da nova edificação a linguagem formal das
construções do entorno. Sob essa ótica, o projeto do Museu de Arte Moderna e Museu
de Arquitetura de Estocolmo vem ao encontro do entendimento desenvolvido por
Zonno sobre o tema das intervenções artísticas e arquitetônicas em lugares de
memória,
(...) o que se coloca em questão é a possibilidade de uma arquitetura
contextual capaz de dialogar com o sítio onde se insere, valorizando-
o e, ainda, valorizar a si como proposição contemporânea, histórica e
artística - sem cair seja em uma nostalgia do passado ou em uma
solução simplista e sem valor próprio. (ZONNO, 2016, p.47)

3
O mesmo se poderia dizer do MAC em Niterói/RJ, que usou dessa estratégia de implantação com muito
sucesso.
É certo que na ilha onde se localizam os museus não há arquiteturas de caráter
monumental, à exceção da grande capela de planta octogonal e cobertura em cúpula,
e é justamente isso o que torna mais significativa a decisão de Moneo em buscar uma
contextualidade com esses “edifícios menores”4, na terminologia criada por
Giovannoni, valorizando o sítio, independentemente de sua excepcionalidade. Essa
arquitetura contextual é entendida por De Gracia como “(...) aquela que, sem utilizar os
recursos da mimese superficial nem a analogia direta, estabelece uma rara simbiose
com o contexto; prolongando-o e revalorizando-o mediante um esforço de indagação
formal orientado a partir do próprio contexto.” (DE GRACIA, 2001, p.309-310)

Prédio do Museu Grande Capela


Edificações do
entorno

Figura 1- Corte do conjunto. Desenho do autor, agosto 2017

Grande Capela
Integração de
edificação existente

Museu

Figura 2- Planta. Desenho do autor, agosto 2017

4
O tecido articulado pelos edifícios menores (os quais Giovannoni não deixa de ressaltar o interesse
histórico, muitas vezes superior ao dos edifícios maiores), constitui o contexto (ambiente) do edifício
maior, cada um estando inteiramente solidário ao outro, não tendo sentido histórico e valor estético que
pelo outro. (CHOAY, 2006, p.5)
Figura 3- Vista do conjunto. Desenho do autor, agosto 2017

PREFEITURA DE MURCIA, ESPANHA (1991-98)

Vista da edificação no contexto da praça. Fonte: MONEO, Rafael. Apuntes sobre 21 obras.
Gustavo Gili. Barcelona: 2010.

A edificação projetada por Rafael Moneo situa-se na principal praça da cidade,


Praça Cardeal Belluga, onde se localizam duas construções históricas de forte
expressão associadas ao barroco espanhol: a catedral de 1754 e o palácio do Cardeal
Belluga (Figura 4). O terreno livre existente em um dos lados da praça, devido à
derrubada de uma casa, havia criado um vazio que a municipalidade propôs ocupar
com a ampliação da sede da Prefeitura da cidade.
Em seu texto sobre o projeto o arquiteto apresenta o seguinte título: Quando o
respeito ao preexistente não é impedimento para construir sem necessidade de
referências contextuais e estilísticas (MONEO, 2010). De fato, percebe-se na análise
do projeto da nova edificação e no resultado da obra, um impulso pela postura de
diferenciação em dissonância, embora vinculado a uma atitude de entendimento ao
preexistente, ao lugar, como relatado por ele, “a arquitetura nasce no lugar, se gera
nele e, como consequência, os atributos do lugar – o mais profundo do seu ser – se
convertem em algo intimamente ligado a ela.” (MONEO, 2010, p.377)
No estudo da planta baixa nota-se a ocupação tradicional no lote, subordinada
ao seu perímetro, mas também se percebe que o corpo frontal do edifício se desloca
em relação ao restante do prédio, se „ajustando‟ a um posicionamento que busca
interagir com as demais edificações da praça, que na conformação original do lote não
seria possível (figura 5). Se nesse movimento busca-se a interação com a praça, em
contrapartida, na fachada desse mesmo corpo frontal o arquiteto cria um jogo formado
por panos verticais, como faixas de cheios e vazios, que se distribuem aleatoriamente,
resultando numa composição de caráter abstrato que se coloca como uma segunda
fachada, a exemplo de algumas obras de Louis Khan, desvinculando-se de
preocupações formais associadas ao seu entorno e rompendo qualquer expectativa de
consonância (figura 6).
Essa segunda fachada, por não estar subordinada às dimensões de pés-
direitos e vãos da nova edificação, foi elaborada de forma a adquirir um caráter
monumental, ocupando seu próprio espaço junto às construções barrocas da praça. O
impacto visual que provoca a nova edificação em sua relação com as demais
edificações históricas produz uma presença caracterizada pela dissonância (figura 7).
Essa solução ocorre apenas na fachada frontal, retomando, nas fachadas laterais,
uma composição ordenada e tradicional no ritmo e abertura dos vãos e na escala. O
corpo frontal da nova edificação resulta na valorização do conjunto urbano da praça
através do contraste, estimulado pelas diferenças entre o valor do novo e o valor de
antiguidade. Como observa Kevin Lynch, “a justaposição do antigo e do novo fala da
passagem do tempo e, ocasionalmente, o contraste é eloquente (...) o novo conjunto
torna-se mais evocativo que o original sozinho ou que a sua substituição”. (LYNCH,
1972, p.170)
A valorização do lugar nessa e em outras obras do arquiteto evidencia a sua
proximidade com o pensamento de Norberg Schulz,
Rafael Moneo é um dos arquitetos contemporâneos que mais se
aproxima de bases fenomenológicas (...). Com sensibilidade para o
tema da forma, contrapõe-se às visões desta como fragmento e como
não-forma, defendendo a “compacidade” – a manutenção da
regularidade dos perímetros dos edifícios, mas através de uma
sensibilidade para o lugar. (ZONNO, 2016, p.52)
Percebe-se em Moneo a proeminência da ideia de lugar sobre a ideia de
espaço na criação arquitetônica, que Montaner destaca fortemente também no
pensamento do arquiteto e teórico norueguês,
Se passaria de uma concepção física da arquitetura (...) a uma
concepção cultural da arquitetura baseada na matéria, na percepção
tátil e na tendência da contextualização e na expressão dos valores
semiológicos. Os escritos de Norgerg-Schulz colaboraram para definir
estas novas qualidades do lugar ou espaço existencial. (MONTANER
p.41, tradução do autor)
Praça Cardeal Catedral
Beluga
Prédio da Prefeitura
de Murcia

Palácio

Figura 4- Situação. Desenho do autor, agosto 2017

Deslocamento do corpo frontal do


edifício voltado para a praça

Figura 5- Planta-baixa. Desenho do autor, agosto 2017


Figura 6- Vista frontal. Desenho do autor, agosto 2017

Figura 7- vista do conjunto. Desenho do autor, agosto 2017


CONCLUSÃO

As discussões sobre a relação entre o antigo e o novo vêm sendo enriquecidas


não apenas pelos aportes conceituais, mas, sobretudo pela produção arquitetônica ao
longo das últimas décadas do século xx. Tal produção tem sua origem nos países
europeus devido à quantidade e importância de suas cidades históricas, como também
à consciência dos seus valores culturais. O tema, no entanto, já despertava interesse
desde a segunda metade do século xix em obras fundamentais como Entretiens sur
l‟architecture (1867) de Viollet-Le-Duc e Der Städtebau (1889), de Camilo Sitte, ou
mesmo, em Vecchie Città ed edilizia nuova (1931),de Gustavo Giovannoni, mas
somente vai se consolidar após o questionamento aos paradigmas estabelecidos pelo
movimento moderno.
Na produção arquitetônica de Rafael Moneo há um interesse permanentemente
direcionado ao contexto, de forma a dali extrair determinados componentes para a
construção de seus projetos. Sua análise crítica sobre a prática projetual é
evidenciada em seu livro Inquietação teórica e estratégia projetual, em que estuda a
obra de oito arquitetos contemporâneos. Não é à toa que ele cita em sua introdução os
livros Complexidade e contradição em arquitetura, de Robert Venturi e Arquitetura da
cidade, de Aldo Rossi, dois arquitetos cujos trabalhos teóricos vão contribuir para o
rompimento da hegemonia da arquitetura moderna e, consequentemente, promover
um novo olhar sobre a cidade existente. Vale observar a abordagem de Moneo sobre
a obra de Venturi, principalmente no contexto da época de sua publicação.
“Não era frequente naqueles tempos a crítica ao modernismo – que
se havia transformado em ortodoxia artística de cumprimento
obrigatório – e os jovens arquitetos receberam a mensagem de
Venturi como uma alternativa esperançosa: a proposta de uma
arquitetura mais complexa, que possibilitava o uso da liberdade ante
a norma, era extremamente atraente. (...) Tanto Zevi e os teóricos do
Team x quanto Kahn ou Aalto pretendiam manter-se dentro da
ortodoxia moderna, e nenhum deles se arriscaria a ousar confessar a
“nudez do rei” com a mesma energia e convicção demonstrada por
Venturi em seu livro: o fato de haver provocado tanto interesse
estava, assim, mais do que justificado, dado o momento em que foi
publicado”. (MONEO, 2008, p. 51,52)
É de supor que quando da publicação de Complexidade e Contradição em
arquitetura, em 1960, a obra tenha causado forte impressão no próprio Moneo, que na
época havia acabado de se formar. A contribuição mais madura de Moneo, e de maior
interesse ao nosso estudo, vem num momento posterior, em que a ortodoxia
modernista já estava vencida e algumas manifestações exacerbadas de rebeldia ao
movimento moderno, superadas.
Os edifícios escolhidos para o presente trabalho mostram duas diferentes
concepções projetuais para a inserção de novas edificações em estruturas urbanas,
em que ambas atuam no sentido da valorização do contexto. Trabalhando através da
diferenciação em consonância, como ocorre no caso dos museus de Estocolmo, ou
tendendo a uma inserção em dissonância, que se percebe no prédio da Prefeitura de
Murcia, nota-se em ambos os casos, um resultado de alto poder sugestivo relacionado
à importância do lugar.
Uma obra de arquitetura não pode estar em qualquer lugar. Discernir
entre aqueles atributos do lugar que devem ser conservados –
aqueles que devem fazer-se patentes na nova realidade que emerge
ao construir – e todos aqueles que se pode prescindir é crucial para o
arquiteto. Como contraponto, deve-se fazer constar que a arquitetura
descobre o lugar, nos mostra, torna evidente o lugar. É ali - no lugar -
que um edifício adquire sua identidade como o tipo de objeto
específico que é. É no lugar que o edifício adquire sua dimensão, sua
condição única que não se repete. (MONEO, 2010, p.377, tradução
do autor).
Francisco de Gracia em seu livro Construir en lo Construído, destaca a obra de
Moneo, incluindo-o entre os arquitetos alinhados à “conformação do tecido urbano
existente” como padrão de atuação projetual (2001, p.244), entendida aí a
possibilidade de “integrar-se aos centros históricos sem renunciar à sua condição
moderna” (2001, p.288). O autor considera, ainda, como uma “derivação projetual” a
esse alinhamento, a produção de uma arquitetura contextual entendida como
(...) uma arquitetura ambientalmente integrada, porém reconhecível
como pertencente ao seu momento histórico; decidida em estabelecer
continuidades entre o novo e o antigo mediante uma pesquisa
particularizada do lugar. (DE GRACIA, 2001, p. 310, tradução do
autor).
Não ocorre ao pensamento arquitetônico de Rafael Moneo a opção projetual
pela descontextualização. Os dois projetos apresentam, no entanto, diferentes
comportamentos em lidar com esses contextos. Em nenhum deles, no entanto, vemos
a utilização de referências a aspectos formais de caráter estilístico do entorno
edificado.
Nos museus de Estocolmo percebe-se uma nítida intenção de integração com
o local, utilizando estratégias na solução de implantação, na ortogonalidade com as
estruturas pré-existentes, na cor e revestimentos. O prédio da Prefeitura de Murcia
apresenta soluções mais complexas de linguagem, operando em duas estruturas
distintas, onde o corpo frontal do edifício voltado para a praça principal da cidade se
impõe no contexto urbano junto às demais construções monumentais e históricas.
Independentemente de todos os procedimentos analisados para a inserção
dessas duas edificações no espaço urbano pré-existente, há ainda um outro aspecto
que nos parece fundamental e que ambos os projetos utilizam, que é a preservação
das relações de escala. No projeto para os museus, as novas edificações se adequam
ao espaço existente devido também à utilização da horizontalidade, com o conjunto
mais espalhado no terreno, maior taxa de ocupação e menor altura, mantendo o
mesmo padrão edilício do contexto. Da mesma forma, na prefeitura de Murcia, a
edificação também procura se adequar ao conjunto urbano da Praça Cardeal Belluga,
dessa vez através da verticalidade, se desenvolvendo em seis pavimentos, e sem
outras construções encostadas ao seu redor, mantendo o mesmo destaque das
demais edificações históricas que se voltam para a praça, como a Catedral e o
Palácio.

Referências Bibliográficas

CHOAY, Françoise. A alegoría do patrimonio. Trad. Luciano Vieira Machado. São


Paulo: Editora UNESP, 2001.
________, Introdução in: GIOVANNONI, Gustavo. Tradução de Elizabete Rodrigues
C. Martins do original Urbanisme face aux villes anciennes. Paris: Éditions du Seuil,
Colecion inédit essais, 1998.
DE GRACIA, Francisco. Construir en lo construído. Neréa. Hondarribia: 2001. 3ª Ed.
KUHL, Beatriz. Considerações sobre a relação antigo-novo nas intervenções em
ambientes e edificações de interesse para a preservação. In:____ . Preservação do
Patrimônio Arquitetônico da Industrialização – problemas teóricos de restauro. COTIA,
SP: Ateliê editorial, 2008.
LYNCH, K. What time is this place? London: The MIT Press Cambridge, 1972.
MONEO, Rafael. Apuntes sobre 21 obras. Gustavo Gili. Barcelona: 2010.
_________, Inquietação teórica e estratégia projetual. Cosac Naif. São Paulo: 2008.
MONTANER, Josep Maria. Después del movimiento moderno. Gustavo Gil.
Barcelona:1999.
SCHULZ, Norberg. “O fenômeno do lugar”. In: Uma nova agenda para a arquitetura.
org. Kate NESBITT. Cosacnaif. São Paulo: 2013.
ZONNO, Fabiola do Valle. “Intervenções artísticas e arquitetônicas em lugares de
memória” In: Projeto e Patrimônio, reflexões e aplicações. Org. Rosina Trevisan M.
Ribeiro e Claudia Nobrega. Ed. RioBook‟s. Rio de Janeiro: 2016.

Você também pode gostar