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Nutrição na

Cirurgia Bariátrica
Manual Básico de Orientação

POR DANIELA RIZZO


Este eBook tem por objetivo esclarecer
para você e para a sua família a importância
dos cuidados nutricionais antes e após a
cirurgia bariátrica, porém, estas informações
não substituem a consulta e o seguimento
com uma equipe especializada.
Panorama da obesidade severa e da
cirurgia bariátrica no Brasil
Dados do Ministério da Saúde de abril de 2017, apontam que a prevalência da
obesidade entre a população brasileira passou de 11,8% em 2006 para 18,9% em
2016, atingindo quase 1 em cada 5 brasileiros.
As informações da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para
Doenças Crônicas por Inquéritos Telefônicos (Vigitel) mostrou que a obesidade
aumenta com o avanço da idade. Mas mesmo entre os mais jovens, de 25 a 44
anos, atinge indicadores altos, 17%. O excesso de peso também cresceu entre a
população, passou de 42,6% em 2006 para 53,8% em 2016, estando presente em
mais da metade dos adultos que residem em capitais do país.
Desta forma, em 2016 cerca de 100.152 pessoas fizeram cirurgia bariátrica
no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica
(SBCM), indicando um aumento de 7,5% no número de cirurgias bariátricas
realizadas no Brasil comparando com o ano de 2015, o que coloca o
Brasil como o país com o segundo maior número de cirurgias
bariátricas no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos
da América.

TIPOS DE
CIRURGIA BARIÁTRICA
Atualmente as cirurgias conseguem
tratar os casos de obesidade mórbida com
excelentes resultados, levando a uma perda de
peso e promovendo uma melhoria na qualidade
de vida e na saúde geral dos pacientes, com
controle ou até remissão de doenças crônicas
como diabetes tipo 2, pressão alta, apneia do sono,
dislipidemia e problemas ortopédicos, além de
diminuir a mortalidade precoce ocasionada pelo
excesso de peso.

Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia


Bariátrica e Metabólica (SBCBM), as
técnicas se dividem em três categorias:
restritivas, disabsortivas e mistas.
• Técnicas restritivas: são procedimentos
que reduzem o tamanho do estômago. Mesmo
que o paciente queira, ele não consegue ingerir
grande quantidade de alimento de uma única vez,
pois tem uma sensação de saciedade precoce.

• Técnicas disabsortivas: estes procedimentos reduzem


parte do estômago e exclui do trânsito alimentar parte
do intestino, levando a uma diminuição na absorção
dos nutrientes. Este tipo de cirurgia leva a uma série de
complicações, fazendo com que este tipo de técnica seja
usado apenas em casos excepcionais.

• Técnicas mistas: nesta técnica se associa tanto a redução


do tamanho do estômago como o comprimento do intestino,
assim, obtém-se tanto uma redução na quantidade de alimento
ingerida como uma diminuição da absorção dos nutrientes.

Atualmente no nosso país o tipo cirúrgico mais utilizado é o Bypass Gátrico ou Bypass em Y Roux,
uma técnica mista. É uma cirurgia antiga, consagrada e muito estudada, com comprovação científica da
efetividade da perda de peso e controle das comorbidades (apresenta efeitos metabólicos independente
da perda de peso). Apresenta baixo índice de insucesso.
Nos últimos anos uma outra técnica vem crescendo no nosso país, a gastrectomia vertical ou sleeve
gástrico, é um procedimento restritivo no qual ocorre uma remoção de 70% a 80% do estômago, deixando
um tubo fino que restringe a ingestão alimentar. Como não exclui a primeira porção do intestino, seus
índices de deficiências de vitaminas e minerais são menores. Sua perda de peso é aceitável, porém
menor que a apresentada no Bypass Gástrico e não existem ainda grandes evidências da durabilidade
da perda de peso e controle de doenças associadas, como o diabetes mellitus, em longo prazo.
A melhor técnica para o seu caso deve ser discutida com o seu cirurgião e sua equipe levando em
consideração a sua idade, suas doenças associadas, suas preferências, seu padrão alimentar.
Indicações para a
cirurgia bariátrica
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e
Metabólica, pacientes portadores:

• IMC > 40 kg/m2, independentemente da presença de


comorbidades (doenças associadas a obesidade);
• IMC entre 35 e 40 kg/ m2 na presença de comorbidades;
• IMC entre 30 e 35 kg/m2 na presença de comorbidades;

Exemplos de comorbidades: doenças cardiovasculares;


doenças respiratórias; diabetes mellitus; doenças ortopédi-
cas; infertilidade; esteatose hepática não alcoólica; refluxo gas-
troesofágico; depressão; incontinência urinária de esforço em
mulheres; colecistopatia calculosa; síndrome do ovário policístico.

O paciente deve ter sido submetido a tratamentos clínicos prévios, com insucesso por pelo menos dois anos.

A cirurgia está indicada para adolescentes maiores de 16 anos, para os menores de 16 anos não exis-
te indicação. Para pacientes maiores de 65 anos deve-se sempre avaliar o risco benefício, risco cirúrgico,
presença de doenças graves associadas, expectativa de vida e benefícios do emagrecimento.

Cuidados nutricionais no pré-operatório


A avaliação nutricional no pré-operatório da cirurgia bariátrica leva em consideração o paciente
como um todo, englobando questões sobre doenças atuais, histórico do peso corporal, exames labo-
ratoriais, ingestão alimentar, questões comportamentais, cul-
turais, psicossociais e econômica.
O peso, altura, IMC (Índice de massa corporal que se ob-
tém através da divisão do peso pela altura ao quadrado)
e a circunferência da cintura serão avaliados no pré-ope-
ratório e em todo o seguimento do pós-operatório para
avaliação do sucesso cirúrgico.
Os hábitos alimentares e o comportamento alimen-
tar serão avaliados e incentivados a mudanças, facili-
tando a adesão dos novos hábitos após a cirurgia e
evitando o reganho de peso a longo prazo.
Serão realizados exames bioquímicos para avaliação
de nutrientes comumente deficientes em obesos, tais como
vitamina B12, vitamina D, cálcio, ferro e se necessário serão
corrigidos com suplementos específicos evitando maiores
problemas no pós-operatório.
O paciente receberá orientações sobre a necessidade da
suplementação de vitaminas e minerais, além da importância de
uma ingestão satisfatória de proteína.
O paciente ainda será estimulado a realizar uma dieta com
redução calórica, restrita em açúcares e carboidratos refinados e
rica em proteína para induzir a perda de peso, redução do tamanho
do fígado e da gordura intra-abdominal, o que facilita o processo
cirúrgico por videolaparoscopia, reduz o tempo cirúrgico e as
complicações durante e após a cirurgia.
Estudos ainda mostram que uma redução de peso do pré-
operatório proporciona uma maior redução e estabilidade de peso
ao longo do tempo.

Etapas da dieta no pós-operatório


Os protocolos de acompanhamento nutricional no pós-operatório
têm como finalidade evitar e/ou reduzir riscos cirúrgicos e nutricionais.
A dietoterapia adequada para cada técnica propõe diferentes fases
para nutrir e hidratar de modo eficaz o paciente para uma rápida
cicatrização e redução dos efeitos clínicos da rápida perda de peso.
A reintrodução da alimentação após o bypass gástrico deve ocorrer
da seguinte forma:

• Dieta de prova: realizada durante 48hs após o procedimento


cirúrgico, nesta fase consiste em líquidos claros, como água, chá,
gelatina e água de coco.

• Dieta líquida geral: é composta por ralos e coados, de


baixo teor calórico, isentos de lactose e sacarose. Os
líquidos devem ser fracionados em pequenos goles e
com ingestão vagarosa. Neste momento já se inicia a
suplementação proteica a fim de se atingir a necessidade
mínima. A duração média desta fase é de 10 a 15 dias e sua
transição deve ocorrer de acordo com a tolerância do paciente.

• Dieta liquidificada: nesta fase inicia-se a ingestão de alimentos de fácil


deglutição e digestão, as preparações apresentam consistência de creme e devem
ser liquidificadas e coadas. Com duração de 15 dias.
DICAS PARA
ESSE PRIMEIRO MÊS
- Crie preparações diversificas, para não ficar monótono e você enjoar

- Líquidos gelados são demais para ingerir.

- Não se pese diariamente, pois, apesar de neste período ocorrer uma


perda de peso intensa, há também um período de estabilização do
peso, sendo uma reação do próprio organismo.

- Neste período você pode ficar mais fraca, desanimada e irritada, o


que está relacionado com a privação da alimentação. Caso seja ne-
cessário, converse com sua equipe médica.

• Dieta pastosa: nesta fase os alimentos devem ser


bem cozidos, amassados e triturados, na for-
ma de purê, requerem o mínimo de
mastigação, também com dura-
ção de 15 dias. Essa fase é essen-
cial para treinar a mastigação e o
tempo de alimentação.

• Dieta normal: inicia-se a introdução de


Na fase de dieta alimentos sólidos bem cozidos, macios, po-
bres em gorduras, açúcares e fibras. Nesta fase
pastosa e normal o a boa mastigação e a velocidade de ingestão são
fracionamento das imprescindíveis.
refeições é de extrema
• Após 60 dias de cirurgia os vegetais (legumes
importância, procure e verduras) crus e os cereais integrais são liberados.
realizar de 5 a 6 Até o 4º mês de pós-operatório procure evitar:
• Doces em geral
refeições por dia! • Bebida alcoólica e gaseificada
• Gorduras em geral
IMPORTÂNCIA DA
PROTEÍNA
Diante da degradação acentuada de proteína em res-
posta à cirurgia e ao consumo dietético reduzido, a in-
gestão proteica de boa qualidade é essencial para evitar
a perda excessiva de músculos, queda de cabelo, enfra-
quecimento das unhas e comprometimento do sistema
imunológico.
Desta forma, você precisa ter em mente que a proteína
é o nutriente de maior importância na alimentação após a
cirurgia, sendo suas principais fontes:

• Proteína animal (alto valor biológico → melhor absorção


pelo organismo): ovos, leite e derivados e carnes.

• Proteína vegetal: feijões, lentilha, ervilha, grão de


bico e soja.

O objetivo ao longo do dia deve ser de pelo menos 60 gramas de proteína de alto valor
biológico.
Você pode apresentar certa dificuldade e/ou intolerância para ingerir os alimentos fon-
tes de proteína, principalmente as carnes, o que pode estar relacionado à sensação de en-
talo e/ou empachamento. Esta dificuldade pode ser devida à menor secreção de enzimas
gástricas e intestinais (nova anatomia pós-cirúrgica), o que leva a uma digestão mais lenta
destes alimentos, os sintomas podem ser melhorados com a mastigação exaustiva, o
melhor cozimento da carne e o corte em pequenos pedaços antes de levar à boca.
Os indivíduos que deixam de comer carne além da deficiência de proteína
também podem apresentar deficiência de ferro, vitamina B12 e zinco.
MASTIGAÇÃO E
VELOCIDADE DE DIGESTÃO

A mudança de há-
bitos é essencial,
portanto, coma
sempre na mesa,
evite sofá na fren-
te da televisão, ce-
lular e computador.

Sirva-se de pequenas porções, corte os alimentos em pequenos pedaços, use pratos e talheres de so-
bremesa, estas atitudes podem ajudar no condicionamento de ingerir pequenas porções e evitar excessos.
As refeições devem ser feitas devagar, aprenda a saborear os alimentos, mastigue muito bem (até que
os alimentos virem “papa” na sua boca) e lembre-se, o processo da digestão começa pela boca, é nela que
temos dentes. Observe também se você está mastigando com a boca fechada para evitar a entrada de ar
e ter gases após a refeição.
Quando se sentir saciado pare de comer!
Se você estiver comendo vagarosamente, mastigando bem, comendo pequenas quantidades de ali-
mentos, provavelmente você não terá problemas, mas caso sofra algum entalo, procure se manter calmo,
respire devagar e caminhe pela casa que logo o alimento irá descer. De maneira nenhuma tome líquidos,
pois você poderá vomitar.

SUPLEMENTAÇÃO
Diante das alterações anatômicas e fisiológicas causada pelos pro-
cedimentos cirúrgicos; menor ingestão de alimentos devido à redu-
ção do tamanho do estômago e no caso de cirurgias disabsortivas
(bypass gástrico ou bypass em Y de Roux), que também propor-
ciona uma diminuição da superfície intestinal que entra em contato
com o alimento levando a uma menor absorção dos nutrientes, é
muito importante que se tenha em mente que através da alimenta-
ção, por mais saudável e equilibrada que ela seja, não se pode mais
atingir as necessidades de vitaminas e minerais do organismo, por
isso o uso de suplemento no pós-operatório é OBRIGATÓRIO.
As formas mastigáveis ou em pó são recomendadas
inicialmente, pelo menos nos 30 primeiros dias, devido à
dificuldade de deglutição dos comprimidos imediatamente
após a cirurgia.
As principais deficiências de nutrientes estão relacionadas
à vitamina B12, ácido fólico, ferro, cálcio, vitamina D e zinco.
Lembrando que a suplementação de vitamina B12 deve ser
feita por via intramuscular ou sublingual, pois sua absorção após
a cirurgia fica bastante comprometida.
Procure tomar seus suplementos com uma refeição para garantir
melhor absorção dos nutrientes.
Para não correr o risco de esquecer tome sempre no mesmo
horário.
Se apresentar nos exames de rotina algum tipo de deficiência,
suplementos específicos podem ser recomendados.
Em geral também é recomendada a suplementação de proteínas
uma vez que a quantidade ingerida após a cirurgia não atinge a
recomendada, principalmente diante da rápida perda de peso. A falta
de proteínas está diretamente relacionada com a perda excessiva
de massa muscular, queda acentuada de cabelo, enfraquecimento
das unhas e comprometimento do sistema imunológico.

HIDRATAÇÃO

A hidratação é importante durante todo o seguimento do pós


-operatório, os líquidos devem ser ingeridos continuamente ao
longo de todo o dia, evitando desidratação, infecções de urina e
cálculos renais.
Nos primeiros dias após a cirurgia esta hidratação se torna ainda
mais importante.
Para avaliação de uma boa hidratação basta observar a colora-
ção da urina, quanto mais clara melhor!
Mas lembre-se de não ingerir os líquidos durante as refeições,
eles devem ser ingeridos em média 30 minutos antes ou depois,
para evitar dilatação do estômago, interferência no processo di-
gestivo e vômitos.
Constipação / Diarreia / Gases
Os quadros de diarreia estão mais associados a cirurgias de maior disabsorção
intestinal. Fezes mais líquidas logo após a cirurgia podem estar relacionadas à dieta
que é totalmente líquida, não permitindo que o bolo fecal tenha consistência.
A constipação também pode ocorrer no pós-operatório imediato (primeiras 3
semanas), possivelmente pela baixa ingestão de fibras, baixo consumo de líquidos e
gorduras. Nestes casos você deve consultar seu médico ou nutricionista para que se
possa fazer uma suplementação de fibra solúvel. Fibras alimentares como sementes
e farelos é aconselhável em fases mais tardias.
Os gases nos primeiros dias após a cirurgia estão relacionados com o procedimento
cirúrgico que pode proporcionar entrada de ar no abdômen, além de um processo
de inflamação que ocorre no intestino após a manipulação feita pelo cirurgião.
No pós-operatório tardio o excesso de gases pode estar relacionado com a nova
anatomia do intestino, como parte dele é retirado, os alimentos atingem uma porção
mais distante do órgão sem estar digeridos, o que causa uma flatulência involuntária.
Seus hábitos diários também podem estar te causando gases, portanto, observe
se não está ingerindo alimentos que provocam desconforto, tais como:
repolho, brócolis, feijão, em grande quantidade ou com muita frequência.
Observe também sua mastigação, se estiver mastigando de boca
aberta o ar entra com o alimento, observe a ingestão
de lactose que pode não ser mais digerida por
alguns pacientes.
O uso de probióticos (bactérias
benéficas) pode ser aconselhado.
pois estes vão melhorar a saúde
do intestino, melhorando seu
funcionamento e os gases.

Síndrome de Dumping
A síndrome de dumping se caracteriza pela
passagem rápida dos alimentos do estômago para
o intestino.
Pode apresentar como sintomas dor de cabeça,
taquicardia, tremor, sudorese, fraqueza, náusea,
vômito e diarreia, alguns pacientes chegam a relatar
sensação de morte.
Estes sintomas costumam ocorrer após a
ingestão de alimentos com alto teor de
açúcares (sacarose / frutose / lactose) e
doces em geral.
Pode ocorrer precocemente, logo 15 minutos após a
ingestão ou de forma tardia, 1 a 3 horas após a ingestão
do alimento.
Até 70% dos pacientes após a cirurgia bariátrica
podem apresentar esta síndrome. Em alguns casos pode
ser considerada benéfica, promovendo maior perda de
peso por induzir o paciente a evitar alimentos ricos em
açúcares e calóricos.
Caso você apresente estes sintomas o melhor a fazer é
se deitar até melhorar, em torno de 10 a 30 minutos.
O tratamento da Síndrome de Dumping se baseia na
adequação das escolhas alimentares.

Intolerâncias alimentares
Devido às alterações fisiológicas provocadas pela cirurgia bariátrica alguns alimentos
podem provocar um certo desconforto após o procedimento cirúrgico.
Os alimentos com maiores índices de intolerância são água, carne, arroz e doces nos
pacientes que apresentam a Síndrome de Dumping.
A dificuldade de ingerir água está muito relacionada com a velocidade de ingestão, devido
ao tamanho da nova bolsa gástrica, a ingestão deve ser sempre em pequenos e vagarosos
goles.
A intolerância à carne se espera como consequência das alterações de enzimas produzidas
pelo estômago, como a pepsina, renina e o ácido clorídrico.
O arroz quando submetido à cocção sofre um processo de hidratação e gelatinização
que necessita de enzimas pancreáticas (amilase), que após o procedimento cirúrgico tem
sua ação comprometida.
Tais intolerâncias e desconfortos tendem a diminuir com o decorrer do tempo, após 1 ano,
entretanto, devido à capacidade de adaptação fisiológica e da nova realidade pode variar de
indivíduo para indivíduo.
Lembrando que a mastigação inadequada, a ingestão de quantidade de alimentos
superiores a sua nova capacidade gástrica ou rápida velocidade de ingestão podem causar
desconforto.
QUEDA DE CABELO
A queda de cabelo acontece na grande maioria dos pa-
cientes entre o 3º e o 4º mês até o 6º e o 8º mês, sendo con-
siderado normal devido à rápida e intensa perda de peso e à
baixa ingestão de nutrientes responsáveis pela saúde capi-
lar pós-operatório imediato.
Para evitar a queda de cabelo já se pode no pré-ope-
ratório fazer o uso de algum suplemento para pacientes
que tem esta queda mais acentuada e no pós-operatório é
necessário intensificar a ingestão e suplementação de pro-
teínas, zinco, vitaminas do complexo B, ferro e biotina. Além
de utilizar o suplemento de rotina diariamente.
Se as unhas também ficarem fracas e quebradiças, além
dos nutrientes acima, intensificar a ingestão de alimentos ricos
em vitamina A, cálcio, vitamina C e E.

DEFICIÊNCIAS NUTRICIONAIS
A obesidade por si só é um fator de risco considerável para deficiência nutricional, já que a alimentação
destes pacientes é frequentemente caracterizada pela ingestão excessiva de calorias, através do consumo
de alimentos de alta densidade calórica e baixo nutrientes.
O paciente submetido à cirurgia bariátrica tem seu estado nutricional significativamente alterado. Os
pacientes desenvolvem deficiências crônicas que requerem reposição contínua. As técnicas com meca-
nismos de má absorção apresentam maior probabilidade de deficiências nutricionais, entretanto, todos os
procedimentos levam a algum grau de desnutrição.
As deficiências ocorrem basicamente por: restrição da ingestão alimentar e/ou redução das áreas de
absorção dos nutrientes. Além disso, a diminuição no tempo de trânsito gastrointestinal também pode
resultar em má absorção de vários micronutrientes relacionados não só à exclusão da primeira porção do
intestino, mas também ao contato limitado do alimento com a superfície intestinal. A presença de intole-
rância alimentar e a não utilização de polivitamínicos/minerais também contribuem nesse processo.
No bypass gástricos as principais deficiências observadas estão relacionadas com vitamina B12, cálcio,
vitamina D, ferro, zinco.
Eficácia da perda de peso
Não aposte todas as suas fichas apenas no tratamento cirúrgico,
para se obter a perda de peso esperada é preciso ter como aliados
a dieta e a atividade física, portanto, a cirurgia é apenas parte
do tratamento para perda de peso.
Então lembre-se sempre que as atitudes que você
adota depois da operação são fatores decisivos
para garantir o resultado esperado.
Nos primeiros 3 meses se dá a maior e mais
rápida perda de peso, após este período a perda
ocorre de maneira mais gradual, indo até 18º a
24º mês, em média o paciente perde de 30 a
40% do peso inicial.

Você deve evitar se pesar diariamente para não sofrer


desnecessariamente. Você pode ter oscilações de peso no dia a dia
que estão relacionadas aos hormônios, ao inchaço. Procure se pesar
apenas uma vez no mês.

Você pode passar por uma fase na qual o peso pode “estacionar”, cha-
mada efeito platô. Não se desespere, pode ser uma reação normal do
organismo à cirurgia. Seguindo as orientações da equipe multidisciplinar,
estas fases passam e você volta a perder peso. Se não passar busque
ajuda com sua equipe médica.
Recidiva de peso
Recuperar o peso perdido pode ser a complicação tardia mais comum da cirurgia bariátrica e
um dos maiores temores dos pacientes. O fato de não conseguir sustentar o resultado alcançado
gera uma enorme frustação.
Chamamos de “lua de mel” os primeiros 18 meses após a cirurgia no qual o paciente ainda está
muito motivado, seguindo as orientações da equipe multidisciplinar, fazendo atividade física, de
bem com o seu corpo, recebendo elogios e controlando o apetite. Após este período o apetite vai
voltando, o peso vai estabilizando, os problemas emocionais podem retornar junto com os velhos
hábitos alimentares.
Após 24 meses uma recuperação de 5 a 10% de peso pode ser esperada.

Consumo
refrigerante
e bebidas
Sinto fome Consumo
açucaradas?
ou vontade doces?
de comer?
Faço
atividade
física?

Consumo
bebidas
alcoólicas? Estou ansioso,
Consumo
estressado,
frituras e depressivo ou
gorduras? Tenho náuseas e com problemas?
vômitos
frequentes?

Tenho
beliscado ao
longo do dia?

Observo o
Você está ganhando tamanho das
peso novamente??? porções?

Se pergunte: Realizo as
refeições
vagarosamente,
estou mastigando
bem os alimentos?

Sei identificar
quando estou
satisfeito?
De maneira geral você deve reorganizar a
alimentação, os hábitos e a rotina alimentar, iniciar ou
intensificar a atividade física e se necessário retomar o
acompanhamento psicológico.
Em um número pequeno de pacientes pode-se, em
longo prazo, detectar uma falha cirúrgica com aumento
significativo do tamanho do estômago ou uma passagem
muito ampla entre o estômago e o intestino. Nestes
casos, além das mudanças no comportamento, pode-se
considerar uma reavaliação cirúrgica.

Não baixe a guarda!!!


Mantenha para sempre uma dieta
balanceada e atividade física!!!!

O principal fator para recidiva de peso é a não


adesão ao tratamento, que não se resume apenas
ao procedimento cirúrgico e deve ser feito por
uma equipe multidisciplinar.

A cirurgia é apenas o primeiro passo rumo a uma nova vida


e é preciso abandonar antigos costumes e adotar um estilo
de vida saudável!!!
NÁUSEA E VÔMITO
Muitos pacientes se queixam de náusea e vômito que na
maioria das vezes estão relacionados à mastigação, quanti-
dade ingerida e velocidade de ingestão dos alimentos.
Portanto, preste sempre atenção aos sinais de sacieda-
de do seu corpo. Se você sentir uma pressão no estômago
ou sensação de estufamento, pare de comer e observe:
• Você mastigou bem a comida?
• Você comeu demais?
• Você bebeu líquidos durante ou logo após a refeição?
Aprenda a se observar e a se conhecer!!!

Acompanhamento com a equipe de nutrição

Nos três primeiros meses após o


procedimento cirúrgico as consultas
com a nutricionista ocorrem em períodos
mais curtos para a evolução da dieta.
Após este período os protocolos sugerem
que as consultam ocorram mensalmente
no primeiro ano de pós-operatório, a
cada três meses no segundo ano e a
partir de então semestralmente.
• CAFÉ E CHÁ VERDE. POR QUE EU NÃO POSSO?
Estes alimentos contêm cafeína, substância que não deve
ser consumida nos primeiros meses após a cirurgia. Isso porque
a cafeína pode provocar uma irritação na mucosa do estômago
que está sensível, em processo de cicatrização. E quando pode?
O tempo é uma questão individualizada que deve ser avaliada pelo
profissional conforme a evolução do pós-operatório.

• PEIXE CRU PODE?


O peixe apesar de ser uma fonte de proteína quando ingerido
cru pode representar um risco para a saúde, principalmente para
indivíduos que se submeteram à cirurgia bariátrica. Isso porque
diante da nova anatomia do estômago a produção de ácido clorídrico
está diminuída, assim, o risco de contaminação está aumentado, por
isso, se for ingerir peixe cru escolha uma opção de boa procedência.
Além do risco de contaminação o peixe cru apresenta uma enzima
chamada tiaminase que inativa a vitamina B1 destes alimentos, como
os pacientes bariátricos apresentam alto risco de deficiência de B1,
procure ingerir peixes crus apenas eventualmente. Além de tudo isso
o peixe cru apresenta proteína intacta, que são aquelas que não sofreram “quebras” pela cocção,
então se tornam de mais difícil digestão, pois a ação do ácido clorídrico está diminuída. Assim, peixe
cru não deve ser uma opção para a rotina.

• BEBIDAS GASEIFICADAS: REFRIGERANTES, ÁGUA COM GÁS, H2O®, CERVEJA?!?!?


Este tipo de bebida pode causar incômodo como gases, desconforto e dilatação no estômago
com o passar do tempo. A distensão imediata causada pelas bebidas gaseificadas pode provocar
fortes dores gástricas e sensação de estufamento, em excesso pode até romper os pontos
internos, isso até o terceiro mês.

• INGESTÃO DE BEBIDA ALCOÓLICA APÓS A CIRURGIA?!?!?


No pós-operatório imediato, assim como a cafeína, o paciente é proibido de ingerir bebidas
alcoólicas, pois pode agredir a mucosa do estômago e do intestino. Durante toda a vida do
paciente bariátrico ele deve se lembrar que o álcool pode atrapalhar a absorção de alguns
nutrientes, intensificando as chances de deficiências nutricionais, após a cirurgia a absorção
do álcool é mais rápida, o que acelera a embriaguez mesmo mediante pequenas quantidades,
além das bebidas alcoólicas conterem muitas calorias, o que pode comprometer o sucesso da
perda de peso. Usualmente após o emagrecimento o paciente tende a ter uma vida social mais
agitada, com maior entusiasmo, autoestima e disposição para sair e nestes momentos o consumo
de bebidas pode acontecer. Portanto, os pacientes devem ser desestimulados por completo a
ingerir álcool.
• VOU PODER COMER COMO ANTES SEM ENGORDAR?
Não. A cirurgia requer comprometimento do paciente e exige reeducação
alimentar e atividade física para que os resultados sejam efetivos. Você precisa
lembrar sempre que a cirurgia é apenas o início de uma mudança de vida que
inclui comer corretamente e de forma saudável.
A cirurgia é apenas uma parte do tratamento para perda de peso, não é
milagrosa!!!!!

• POR QUE NÃO POSSO COMER SÓLIDOS LOGO APÓS A CIRURGIA?


A ingestão muito precoce de alimentos sólidos é contraindicada, porque pode
forçar os pontos da bolsa gástrica e do intestino, podendo levar a complicações,
inclusive o rompimento das suturas internas, obrigando o paciente a retornar
ao centro cirúrgico.

• POR QUE NÃO POSSO COMER SÓLIDOS LOGO APÓS A CIRURGIA?


A ingestão muito precoce de alimentos sólidos é contraindicada,
porque pode forçar os pontos da bolsa gástrica e do
intestino, podendo levar a complicações, inclusive
o rompimento das suturas internas,
obrigando o paciente a retornar ao
centro cirúrgico.

• NA DIETA LÍQUIDA E LIQUIDIFICADA


POSSO USAR SOPAS PRONTAS?
Não. Elas são ricas em sódio e pobres em
nutrientes, principalmente proteínas, nutriente
essencial nestas fases!

• GORDURAS E FRITURAS, QUANDO POSSO?


Alimentos gordurosos e frituras devem sem
evitadas ao máximo pelos pacientes, pois além
da possibilidade de reganho de peso ao ingerir
alimentos calóricos devido à disabsorção
intestinal realizada no bypass gástrico,
pode ocorrer quadros de diarreia.
• APÓS A CIRURGIA É POSSÍVEL FREQUENTAR
FESTAS, REUNIÕES E RESTAURANTES?
Sim, desde que o paciente não exceda na comida
ou na bebida.

• VOLTAR A GANHAR PESO É COMUM APÓS UM TEMPO


DE CIRURGIA?
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia
Bariátrica e Metabólica é aceitável que o paciente volte
a engordar até 10% do peso perdido. As principais causas
para o reganho do peso estão relacionadas com os maus
hábitos, volta dos antigos hábitos alimentares e sedentarismo.
A obesidade é uma doença crônica, ela tem controle, mas não
tem cura.

• POR QUE OS GASES E AS FEZES FICAM COM ODOR FÉTIDO?


No geral, o consumo de carne vermelha ou alimentos condimentados pode
gerar fezes com um odor mais acentuado. A má absorção de nutrientes também
gera fezes com odor fétido frequentemente.

• POSSO USAR COLÁGENO APÓS A CIRURGIA?


⇒ O uso de colágeno é permitido sem problema nenhum, entretanto,
apesar de ser uma proteína, no geral fornece apenas de 8 a 10g deste nutriente,
o que é facilmente encontrado nos alimentos da dieta de rotina, além de mesmo
na forma hidrolisada não ser tão bem absorvido. Desta forma, o uso de uma
proteína de absorção melhor é mais recomendado. Lembrando ainda que em
relação à flacidez, não há grandes resultados esperados, para os cabelos pode
até ter algum efeito.
PARA FINALIZAR!
Pirâmide alimentar para pacientes bariátri-
cos que deve ser um instrumento de referên-
cia de comportamento e escolhas alimentares
diárias, elaborada pela nutricionista espanhola
(Barcelona) Dra. Violeta Moizé, Universidade
de Barcelona.
A base da pirâmide se baseia no uso rotineiro de su-
plementos alimentares (vitaminas e minerais) para pre-
venção de deficiências nutricionais, uma boa hidratação
e hábito de atividade física diária.

No primeiro nível estão os alimentos que devem ser in-


geridos como prioridade, que são os alimentos fontes de
proteína (4 a 6 porções diárias), sendo eles de fontes ani-
mais: carne vermelhas ou brancas magras, leite e derivados
e também fontes vegetais como feijões, lentilha, ervilha e
soja.

No segundo nível estão os alimentos com alto teor de fi-


bras e baixo teor calórico, sendo eles os vegetais e as frutas
com uma recomendação diária de 2 a 3 porções, além dos
azeites, preferencialmente de oliva extra virgem.

No terceiro nível estão os alimentos como pães, massas, ba-


tatas, cereais, que devem ter seu consumo controlado, limitado a 1 porção por dia.

No topo da pirâmide estão os alimentos que devem ser evitados ou mesmo excluí-
dos da dieta dos pacientes bariátricos, por serem de alto teor calórico, rico em açúcares
e gorduras, como doces em geral, frituras, bebidas açucaradas, bebidas alcoólicas.

Daniela Rizzo
CRN3 – 20328

Graduada em Nutrição pela Universidade Metodista de Piracicaba – 2005


Especialização em Nutrição Clínica pela Universidade Gama Filho – 2012
Associada COESAS – Comissão de Especialidades Associadas da Sociedade Brasilei-
ra de Cirurgia Bariátrica e Metabólica
Mestranda em Ciências da Cirurgia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Nutricionista da Clínica Surge Obese

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