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BÊNÇÃOS ESPIRITUAIS: DA PARTE DO FILHO

Efésios 1.7-12

INTRODUÇÃO

A Carta aos Hebreus t

I – Bênçãos da redenção

Jesus Cristo concede várias bênçãos igualmente importantes, à semelhança


daquelas dadas pelo Pai (Efésios 1.3-6). Observemos a redenção. O texto diz que “Nele
temos a redenção”. “Redenção (apolutrosis) significa livramento mediante o
pagamento de um preço”1. O termo redenção era aplicado no contexto de libertação de
escravos. Era possível comprar a liberdade de um escravo por determinado preço.
No entanto, essa bênção de Cristo é uma transação espiritual. A dívida diz
respeito aos delitos e pecados. Na linguagem do apóstolo Paulo: “Ele nos libertou do
poder das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a
redenção, a remissão dos pecados” (Colossenses 1.13) e “Cancelando o escrito de dívida
que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o
inteiramente, cravando-o na cruz” (Colossenses 2.14).
Essa dívida espiritual é altíssima. Podemos ter ideia da mesma por meio da
parábola do credor incompassivo. Vamos analisar somente uma parte para ilustrar a
condição impagável do débito.
Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos.
E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo ele, porém, com que
pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida
fosse paga. Então, o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei. E o
senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida”. (Mateus 18.23-27).
A dívida, pelo exemplo da parábola, era impagável. Era altíssima e a justiça
exigia, para se resolver a situação, a prisão do devedor. Mas, o senhor da parábola,
representando Deus, perdoa a dívida.
Da mesma forma foi a ação de Jesus Cristo. Ele pagou a dívida do pecador por
meio do seu sangue. “Assim como o povo de Israel foi libertado da escravidão
egípcia, Jesus Cristo resgatou sua igreja do cativeiro do pecado”2.

Falamos de redenção e perdão basicamente como sinônimos. Mas, é preciso


falar algo a mais acerca do perdão e mostrar um pouco de suas peculiaridades. “O
verbo perdoar quer dizer ‘levar embora’. Cristo morreu para levar nossos pecados
embora a fim de que nunca mais sejam vistos”3.
Isso lembra o Dia da Expiação, no Antigo Testamento, quando eram oferecidos
sacrifícios para a purificação de Israel. Em dado momento dois bodes eram utilizados
para fazer parte do ritual.
Arão trará o novilho da sua oferta pelo pecado e fará expiação por si e pela sua casa. Também
tomará ambos os bodes e os porá perante o SENHOR, à porta da tenda da congregação. Lançará sortes
sobre os dois bodes: uma, para o SENHOR, e a outra, para o bode emissário. Arão fará chegar o bode
sobre o qual cair a sorte para o SENHOR e o oferecerá por oferta pelo pecado. Mas o bode sobre que

1
STOTT, John. A mensagem de Efésios: a nova sociedade de Deus. São Paulo: ABU Editora, 2001. p. 19.
2
HAHN, Eberhard. Carta aos Efésios, Filipenses e Colossenses: Comentário Esperança. Curitiba-PR:
Editora Evangélica Esperança, 2006. P. 12.
3
LOPES, Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo. São Paulo: Hagnos, 2009. p. 27.
cair a sorte para bode emissário será apresentado vivo perante o SENHOR, para fazer expiação por
meio dele e enviá-lo ao deserto como bode emissário (Levítico 16.6-10).
O bode lançado para o deserto, para fora do arraial, certamente é uma figura de
Jesus Cristo no ponto em que o Senhor levou nossos pecados embora e os aniquilou.
Desta forma, o ensino amplia nossa compreensão para saber que o pecado é, de fato,
“lançado fora” em não mais levado em conta.

A compreensão da remissão e do perdão como obras de Cristo e realizadas por


sua misericórdia, uma vez que o pecador não tem como pagar, torna mais claro a
expressão “segundo a riqueza da sua graça”. Assim o pecador está à mercê de ajuda e
misericórdia de Cristo. “Sem obras próprias, estes tornam-se justos através dele
(Rm 3.24)”4.

Outro detalhe importante, essa redenção apesar de já ter sido conquistada e


conferida no presente, ainda é objeto de esperança, pois ainda é aguardada em sua
plenitude. “Ansiamos pela filiação, a redenção de nosso corpo” (Romanos 8.23). “Por
isso a vida cristã é determinada basicamente por uma tensão: a tensão entre a
redenção adquirida para nós em Cristo e efetivamente atribuída pelo evangelho, e
sua revelação, quando o novo mundo de Deus será erigido de forma visível. Essa
tensão pode ser suportada por meio do Espírito Santo, que assiste os fiéis em sua
fraqueza e os representa diante de Deus com seu gemido (Rm 8.26s)”5.
Esse é o mistério do “já e ainda não”. Muitas dádivas do Senhor já estão
disponíveis para o cristão, mas ainda não estão manifestas em sua plenitude, o que,
ocorrerá somente no Dia do Senhor.

Essa dádiva é derramada é derramada “abundantemente sobre nós em toda a


sabedoria e entendimento”. A sabedoria e prudência eram necessárias “a fim de que os
efésios pudessem desprezar todas e quaisquer doutrinas contrárias. Os falsos
apóstolos cultivavam a pretensão de ensinar algo ainda mais sublime do que os
rudimentos que Paulo transmitia”6.

II – Bênçãos da revelação

A segunda grande bênção dada por Cristo é a possibilidade de conhecermos a


vontade de Deus, sua revelação. Jesus Cristo descortina os planos de Deus e mostra
aquilo que foi chamado de “mistério”. Na verdade, um mistério no Novo Testamento
não tem relação com algo místico, mágico, como podemos ver aqui. Um mistério é
simplesmente algo que era oculto, escondido e que agora foi revelado, elucidado. “Deus
não apenas recebe e perdoa àqueles que ele reconciliou consigo mesmo como
filhos; ele também os ilumina com a compreensão do seu propósito”7.
“A História não é sem significado nem sem propósito. Está avançando para
um alvo glorioso. O que, pois, é este mistério que Deus desvendou, este segredo
revelado, esta vontade, ou propósito, ou plano divino? No capítulo 3, o mistério é a
inclusão dos gentios na nova sociedade de Deus em condições iguais às dos judeus.
Mas esta unidade étnica presente é um símbolo ou antevisão de uma unidade
futura que será ainda maior e mais maravilhosa”8.
4
Idem.
5
Idem.
6
CALVINO, João. Efésios. São Paulo: Edições Paracletos, 1998. p. 31.
7
LOPES, Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo. São Paulo: Hagnos, 2009. p. 28.
8
STOTT, John. A mensagem de Efésios: a nova sociedade de Deus. São Paulo: ABU Editora, 2001. p. 20.
O mistério aqui, como visto, pode ser tratado de duas formas. A união de judeus
e gentios numa única sociedade, num único povo de Deus. E a reunião de todas as
coisas sob a soberania de Jesus Cristo.
“O plano de Deus para a plenitude dos tempos, quando o tempo voltar a
fundir-se na eternidade, é fazer convergir nele (em Cristo) todas as coisas, tanto as
do céu como as da terra. No tempo presente, ainda há discórdia no Universo, mas,
na plenitude do tempo, esta cessará, e aquela unidade pela qual ansiamos virá com
o domínio de Jesus Cristo.”9
Quais são essas “todas as coisas” que convergirão em Cristo e estarão
debaixo de Cristo como cabeça? Com certeza, elas incluem os cristãos vivos e os
cristãos mortos, a igreja na terra e a igreja no céu. Ou seja, os que estão em Cristo
agora (1.1) e que em Cristo receberam bênção (1.3), eleição (1.4), adoção (1.5),
graça (1.6) e redenção (1.7). Parece também que Paulo está se referindo à
renovação cósmica, à regeneração do Universo, à libertação da criação que geme.10

III- Bênçãos de herança

Em Cristo, temos uma linda herança (IPe 1.1- 4) e também somos uma
herança. Aqueles que são porção de Deus têm sua herança nele. Somos valiosos
nele. Pense no preço que Deus pagou por você para que fosse herança dele. Deus, o
Filho, é o dom de Deus, o Pai, para nós. E somos o dom do amor de Deus para o
Filho.11

a) Somos propriedade de Deus

“Fomos escolhidos como a porção de Deus!’12


Israel era o kléros, a sua “herança”. Constantemente, esta verdade era
repetida. Por exemplo: “Porque a porção do SENHOR é o seu povo; Jacó é a parte
da sua herança”, e “Feliz a nação cujo Deus é o SENHOR, e o povo que ele
escolheu para sua herança”

b) Somos o povo de Deus pela vontade de Deus

Segundo o beneplácito de sua vontade (v. 5); desvendou a nós o mistério da


sua vontade, segundo o seu beneplácito (v. 9); e ficamos sendo a herança de Deus
segundo o propósito daquele que fa z todas as coisas conforme o conselho da sua
vontade (vs. 11-12). A passagem está repleta de referências à vontade (thelèma), ao
beneplácito (eudokia), e ao propósito (prothesis) de Deus, bem como ao plano ou
programa em que estes foram expressos13.

c) O povo de Deus existe para a glória de Deus

Para louvor da glória de sua graça (5-6); que ele nos fez sua herança e nos
destinou para vivermos para louvor da sua glória (v. 12); e que um dia finalmente
remirá o seu povo, que é sua possessão, em louvor da sua glória (v.14)14.
9
LOPES, Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo. São Paulo: Hagnos, 2009. p. 29.
10
Idem.
11
Idem.
12
STOTT, John. A mensagem de Efésios: a nova sociedade de Deus. São Paulo: ABU Editora, 2001. p. 24.
13
Idem.
14
Idem.
Esta bela frase precisa ser analisada. A glória de Deus é a revelação de
Deus, e a glória da sua graça é a sua auto-revelação como um Deus gracioso. Viver
para louvor da glória da sua graça é não somente adorá-lo com nossas palavras e
ações, pelo Deus gracioso que ele é, como também levar outros a vê-lo e a louvá-lo.
Esta era a vontade de Deus para Israel nos dias do Antigo Testamento,41 e
também é o seu propósito para o seu povo hoje15.

APLICAÇÕES

1) Diante da dádiva da redenção e do perdão, podemos nos perguntar como o


salmista: O que darei ao Senhor, por todos os benefícios que em tem feito?
Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do SENHOR.
2) Na plenitude dos tempos sabemos que todas as coisas convergirão ao Senhorio
de Jesus Cristo. Que essa verdade seja para nosso consolo no dia a dia, sabendo
que a história terá um final feliz e abençoado nos braços de nosso Senhor.
3) Somos e temos uma herança. Sejamos alegres por termos sido abençoados por
Deus com uma herança incorruptível. Ao mesmo tempo sejamos diligentes com
nossa vida para continuarmos em santificação, pois somos a herança de Deus,
somos propriedade do Senhor. Vamos ser entregues ao Pai. Que sejamos, então,
aquela noiva adornada, bela e imaculada.

15
Idem.

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