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Unidade I - Apresentação do Curso.

Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

Caro(a) Aluno (a) 1


Seja bem- vindo ao Curso de Organização e Método de Ensino de Ballet!
Nós da Unidança temos muita satisfação em recebê-lo em nossa sala de aula
virtual.
Para começar, apresentaremos a programação completa do curso bem como
informações sobre o seu funcionamento. É importante que você faça essa leitura
introdutória.
Não fique com dúvidas durante o seu estudo. Sempre que necessário, contate-
nos pelo e-mail unidanca@ifdj.com.br
A partir de agora, você fica com a Professora Vera Aragão, autora do conteúdo
do curso, e com a Eliane, Tutora desta turma, que irá acompanhá-lo durante seus
estudos.
Um abraço da Equipe da Unidança

Programa do curso Organização e Método de Ensino do Ballet

Unidades Aula Conteúdos


- Apresentação
A palavra da Autora
Objetivos deste Curso
A quem se destina
Unidade I • Conteúdo
Apresentação 1 Justificativa
do Curso. Resultado esperado
Metodologia de estudo
Origem do
• Comunicação
Ballet e história
do ensino do • Suporte Técnico
Ballet
- A origem do Ballet e sua identidade com a cultura
2 brasileira

3 - Histórico do ensino de Ballet - Parte I


4 - Avaliação da Unidade I
Unidade II - Planejamento de um curso de Ballet
• O plano de curso
Organização do
• Objetivos
Ensino de 5
• O currículo
Ballet
• Planejamento para um ano letivo

- Planejamento de uma aula de Ballet


• O plano de aula
• A distribuição do tempo entre as partes da aula
6 • O “timming” da aula
• A aula expositiva
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- A aula de Ballet acontecendo


• Início da aula
• O conteúdo da aula de ballet - Barra e Centro 2
7 • Fazendo correções durante a aula
Criatividade e Disciplina

- A avaliação
• As três formas de avaliação
8
• Auto-avaliação

9 - Histórico do ensino de ballet - Parte II


10 - Avaliação da Unidade II
- O ensino da arte
11 • O ballet como base ao aprendizado em dança

Unidade III - A construção da aprendizagem


Metodologia do 12 • Etapas do desenvolvimento da criança
Ensino de
Ballet – Pré- - Elaboração de uma aula para o nível pré-escolar
escola • Iniciação I
13
• Iniciação II

14 - Histórico do ensino de ballet - Parte III


15 - Avaliação da Unidade III
- Pilares Técnicos do Ballet - I

16 Progressão
• Adagio

- Pilares Técnicos do Ballet – II


• Saltos
17
Unidade IV • Baterias
Metodologia do
Ensino de - Pilares Técnicos do Ballet - III
Ballet – Curso
Regular • Tours e Piruetas
18 • Passos de Ligação

O trabalho sobre as pontas


- Como desenvolver qualidades necessárias ao futuro
19 bailarino

20 Avaliação da Unidade IV
- O ensino do ballet no Brasil
21 • As primeiras escolas de ballet no Brasil
Unidade V
Encerramento - Encerramento do Curso
do Curso • Um até breve da Professora
22
• Avaliação do Curso

Carga-horária: 22 horas/aula
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Aula 1 - Apresentação 3

A Palavra da Autora

Iniciei meus estudos de dança aos sete anos de idade, com dança espanhola, a
conselho médico: minha mãe e o médico discutiam sobre um bom exercício para melhorar
minha respiração prejudicada pela asma. Até hoje não sei por que pensaram em dança
espanhola, mas gostei. O Ballet Hispano-Brasileiro, de Clotilde Ferreira Gomes, realizava
inúmeros espetáculos em que as crianças participavam de quadros especiais juntamente
com os adultos. Ainda criança, apresentei-me inclusive acompanhada pela então famosa
orquestra Cassino de Sevilha.

Após um ano de estudo e afastada a asma, a professora decidiu que, se eu


quisesse progredir, teria que estudar ballet clássico, pois só ele daria a base necessária
para dominar qualquer modalidade de dança. Essa foi a primeira vez que ouvi tal
premissa que permaneceu viva em mim desde então.

Contrariada, fui estudar ballet na Academia Leda Luqui. Não me agradava o ballet:
as aulas eram cedo demais e só as aturava porque a professora de dança espanhola
continuava inflexível: sem ballet, nada feito. Com a mudança de turno no colégio, minhas
aulas de ballet passaram para a tarde, o que se tornou mais animador. Nessa ocasião,
assisti pela primeira vez a um ballet no Theatro Municipal: O Lago dos Cisnes.

Não sei traduzir bem meus sentimentos na ocasião. Não tenho nítido na lembrança
nenhum chamamento interior para o ofício de bailarina, mas alguma coisa acontecera.
Lembro-me de uma sensação indescritível: o cheiro do teatro. Nada que viesse da platéia,
mas o cheiro da “caixa” do teatro, das coxias, que identifico claramente na memória.
Naquele momento idealizei aquele lugar como o mundo ao qual eu gostaria de pertencer.
Estava decidido.

Comecei a trabalhar meu sonho com obstinação, prestando exame para a Escola
de Danças do Theatro Municipal, hoje Escola Maria Olenewa, decisiva para minha
carreira. Em 1964, fui apontada pela diretora Madeleine Rosay como a melhor aluna da
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escola. Recebi do Diário de Notícias o prêmio Estudante do Ano e fui aprovada em exame
para dois níveis acima. 4

Ainda cursando a Escola, em 1966, ingressei no Ballet D’Aldeia que, apesar de


pequeno em número de componentes, foi grande em conteúdo cultural e artístico, tendo
nomes de importância como Gerry Matetzky encabeçando a direção e fazendo jus ao
prestígio de seu presidente, o embaixador Paschoal Carlos Magno.

Finalmente, em 1967, cursando o último ano da Escola de Danças, prestei


concurso para o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e, aprovada,
concretizei meu ideal. No final daquele ano fui convidada a integrar o elenco da
Companhia Brasileira de Ballet e, nesta companhia, tive o privilégio de ser dirigida pelo
bailarino e coreógrafo norte americano Arthur Mitchell, ex-assistente de George
Balanchine e então diretor do Ballet do Harlem. Aliás, trabalhar com uma lista
considerável de maîtres de ballet, coreógrafos, regisseurs durante os longos anos de
carreira no Theatro Municipal, obviamente foi o que embasou minha bagagem
profissional.

Encerrada a carreira de bailarina, um chamado de Leda Luqui – diretora da


academia onde iniciei os primeiros passos – convidando-me a dar aulas, me fez definir
rumos futuros. Ao entrar em contato com seu método de ensino, senti-me fascinada,
interessada em aprender a ensinar. A partir daí, conversávamos, discutíamos sobre
Escolas, conceitos, métodos. Comecei a ler, estudar, pesquisar, numa longa caminhada
que se estende até os dias atuais.

Simultaneamente, trabalhei em outras várias escolas, tanto em cursos regulares


quanto ministrando workshops, no Rio de Janeiro e em outras cidades do país. Todo o
trabalho desenvolvido ao longo dessa trajetória significou uma forma de aprendizado e de
pesquisa sobre o ensino do ballet, subsídios que me prepararam para o ensino da dança
em nível superior, onde atuo há dez anos.

Mas, embora estudar, para mim, sempre tenha sido um grande prazer, o Theatro
Municipal absorve o tempo totalmente: fora as temporadas, existem eventos como
abertura de festivais, reinauguração de teatros e viagens. Assim, conseguir uma titulação
universitária, para um bailarino que preencheu todo seu tempo de vida útil dentro de um
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teatro, sem dúvida é tarefa das mais difíceis. Mas, lecionar no ensino superior exigia
outras qualificações e esse mesmo trabalho me pôs de frente a outra realidade: não 5
bastava conhecer o ofício, era preciso um diploma de nível superior. Apesar do Ministério
do Trabalho reconhecer, por decreto, os bailarinos integrantes do Corpo de Baile do
Theatro Municipal como atividade profissional de nível superior, e de ter um parecer
favorável ao reconhecimento por Notório Saber, tal reconhecimento, na prática, nunca
substituiu um diploma.

Decidi cursar Pedagogia e foi a partir desse curso, e do contato com os diversos
autores cujo pensamento paradigmático eu desconhecia, que o gosto pelo conhecimento
se traduziu no desejo de saber, me direcionando a uma pós-graduação em Educação a
Distância e, finalmente, ao Mestrado e ao Doutorado.

Hoje, continuo lecionando no ensino superior, ministrando cursos pelo país,


tentando divulgar o ensino do ballet, razão pela qual assinei em co-autoria com Eliana
Caminada, o livro Programa de Ensino de Ballet – uma proposição (ARAGÃO, 2006).

Agradeço à Unidança a oportunidade de estar aqui com vocês para compartilhar


conhecimentos que construí ao longo de minha vivência profissional, enriquecidos na
formação acadêmica.

Tenho o desejo de que este curso de organização e método do ensino de ballet


estimule você a desenvolver alternativas criativas em sua prática de ensino, e favoreça a
compreensão e discussão dos conteúdos teóricos necessários em sua atuação
profissional.

Bons estudos !
Vera Aragão1

1
Nome completo: Vera Maria Aragão de Souza Sanchez. Ex-bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, da
Companhia Brasileira de Ballet e do Ballet D’Aldeia. Formada bailarina e professora de ballet pela Escola de Danças
Clássicas do Theatro Municipal - RJ, atual Escola Maria Olenewa. Especialização em Pedagogia aplicada à dança, pela
mesma escola. Parecer FAVORÁVEL ao pedido de reconhecimento por Notório Saber concedido pela Universidade
Federal Fluminense – UFF, processo PPGCA nº 23069 003997/98-48, de 01/10/98. Troféu “Personalidades do Rio”,
concedido pela Prefeitura do Rio, Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer. Graduada em Pedagogia, pela UniverCidade,
com habilitação em Supervisão Escolar e Planejamento. Pós-graduanda em EAD, pelo SENAC – RJ. Mestre em
Ciências Humanas, pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Tutora em EAD, da disciplina
Planejamento de Carreira, UniverCidade (atualmente). Professora do curso de Dança da UniverCidade (atualmente).
Co-autora do livro Programa de Ensino de Ballet – Uma Proposição, editado pela UniverCidade Editora, 2006. e-mail:
vera.aragao49@gmail.com
Unidade I - Apresentação do Curso. Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

Objetivos deste Curso 6

• Capacitar metodologicamente para o ensino de ballet professores de dança, que já


possuam conhecimento prático-teórico do ballet.
• Apresentar uma breve história do ballet e do ensino dessa modalidade de dança.
• Orientar a elaboração de um planejamento de curso e de um plano de aula de ballet.
• Descrever metodologias de ensino das principais práticas do ballet, especialmente
para a turma de Iniciação.

A quem se destina

Professores de dança e profissionais das áreas de dança, artes cênicas, educação


ou de áreas afins, que possuam conhecimento prático-teórico de ballet, e que desejem
ampliar e aprimorar seus conhecimentos sobre metodologia de ensino do ballet.

Conteúdo

O curso apresenta conceitos teóricos e conteúdos fundamentais do ballet, para


serem utilizados em turmas dos níveis pré-escolar, básico, intermediário e adiantado,
disponibilizando sugestões específicas para as aulas para crianças. Oferece, ainda,
oportunidade de reflexão sobre o importante papel do professor de dança, especialmente
nos primeiros anos de aprendizagem da criança. O curso mostra um breve histórico do
ballet e das primeiras iniciativas de ensino dessa dança, e dá orientações sobre a
elaboração de um plano de curso e de um plano de aula.

Justificativa

Envolvida que estou há anos com ensino do ballet, tenho observado que há muitos
professores com boa vontade, mas insuficientemente capacitados para oferecer uma
orientação adequada a seus alunos. Muitos demonstram, também, despreparo para
enfrentar dificuldades de aprendizagem dos alunos.
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O ensino do ballet é uma área de conhecimento que ainda se constrói. Mesmo os


cursos em nível de graduação nem sempre oferecem um programa que permita o 7
aprofundamento necessário, e poucos incorporam em seus estudos as diferentes áreas
de conhecimento que se relacionam com essa modalidade de dança.

Para ensinar ballet, o profissional deve conhecer a linguagem básica da dança, e


deve ter condições de criar procedimentos pedagógicos e metodológicos de modo a
permitir ao aluno descobrir as formas de expressão pelo movimento e, a partir daí, inserir
elementos de ensino organizado, que o ajudarão a melhor se conhecer através do corpo,
ampliando suas possibilidades de manifestação.

A boa formação de um bailarino depende de um ensino qualificado, que só pode


ser oferecido por professor capacitado. A capacitação do professor, por sua vez, é um
processo que exige estudo e dedicação. É importante a participação em cursos e a troca
de experiências com outros profissionais, oportunidade que é oferecida ao aluno em um
curso pela Internet como este da Unidança.

Resultado esperado

A partir dos conteúdos estudados e trabalhados neste curso, o participante irá: a)


adquirir ou ampliar seu conhecimento sobre a história do ballet e sobre o seu ensino,
compreendendo sua evolução e transformação até os dias de hoje; e b) aprimorar sua
atuação como professor de ballet, ampliando suas possibilidades de desenvolver uma
metodologia própria.

Metodologia de estudo

Conforme pode ser visto na tabela da Programação, o curso é organizado em 5


Unidades. Cada Unidade possui um número determinado de aulas totalizando 22 aulas.

- Programação dos estudos: o curso deverá ser concluído, no máximo, em 11 semanas.


Esse tempo é calculado para você estudar mais ou menos 2 aulas por semana. É um
ritmo bem tranqüilo de estudo. Dentro desse prazo de 11 semanas, você estabelece o
Unidade I - Apresentação do Curso. Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

programa de estudo de acordo com sua disponibilidade, ou seja, você poderá concluir o
curso em tempo menor, se o desejar. 8

É importante que você estabeleça uma rotina de estudo: 1 ou 2 horas por dia, ou 2 horas
todas as segundas, quartas e sextas. Ou tantas horas nos finais de semana. A disciplina é
fundamental para o bom aproveitamento do curso.

- Avaliação: ao final de cada uma das quatro primeiras Unidades, há uma avaliação para
reforçar a aprendizagem do conteúdo estudado naquela Unidade. O aluno só terá
acesso à Unidade seguinte após acertar todas as questões. Para tanto, você poderá
fazer a avaliação quantas vezes forem necessárias, até acertar todas as questões.

No final da última Unidade do curso, Unidade V, há também uma avaliação. Mas, desta
vez, você é que irá avaliar o curso. É necessário que você faça essa avaliação para
concluir o curso.

Concluído o curso com aproveitamento, você receberá um Certificado de conclusão da


Unidança.

Você pode, a qualquer momento, se comunicar com a Unidança, enviando um e-


mail para unidanca@ifdj.com.br
Unidade I - Apresentação do Curso. Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

10

Aula de dança – Edgar Degas, 1871.

Na próxima aula, estudaremos as origens do ballet e sua relação com a


cultura brasileira.

Aula 2 - A origem do ballet e sua identidade com a cultura brasileira

O ballet nasceu na Itália, na Idade Média, originado especialmente das grandes


procissões do Teatro Popular Religioso e de uma dança coral chamada “mourisca”, mas
com influência também de diversas outras manifestações populares medievais.

Entre os séculos XIV e XV, constata-se uma releitura dessas procissões, adotadas
pela casta emergente que, desejando legitimar sua hegemonia, reproduzia o ritual
praticado pelos imperadores da Roma Antiga, ao encenar impressionantes desfiles que
simbolizavam o retorno triunfal dos campos de batalha.
Unidade I - Apresentação do Curso. Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

Chamadas, inicialmente, de “Trionphi” (triunfos), estas manifestações tinham lugar


nas ruas: era o ballo, o grande baile, em que grupos percorriam as ruas da cidade a pé, 11
conduzindo alegorias sobre rodas.

Não tardou muito e esses desfiles foram levados às mansões da aristocracia.


Mesmo apresentando idêntica suntuosidade, a encenação passou a acontecer em um
espaço limitado, adquirindo, então, o nome de balletto ou ballet, o pequeno baile.

As mouriscas

Tomamos o livro de Eliana Caminada, História da Dança – evolução cultural


(1999), como referência básica às reflexões que aqui iremos fazer. Temos conhecimento
de alguns desses espetáculos, como o que foi realizado em 1337, apresentado por Carlos
V da França a Carlos IV, da Alemanha. Conforme a autora:

[...] dois carros ricamente adornados que eram conduzidos à mesa do


banquete: um representava Jerusalém e conduzia os sarracenos; o outro,
uma galera, trazia os soldados cristãos de Godofredo de Bouillon. De forma
estilizada tinha lugar um combate que terminava com o triunfo dos cruzados,
sendo, os oponentes, banidos da cidade. (Caminada,1999: 86)

Nesses espetáculos, Caminada, como tantos historiadores, aponta a “mourisca”


como sendo a primeira dança – ou entrée – dos ballettos. “Mourisco” significava, em
princípio, um mouro convertido ao catolicismo e a dança tornou-se tão popular que não
havia baile sem ela.

Os elementos que compunham a mourisca eram o bufão, portando um símbolo


fálico, o homem travestido de mulher, o costume dos trajes ornados com guizos, e lutas
de espada, dentre outros. Inicialmente, era uma dança de pares ou de solistas, passando
a ser dançada por dois grupos que, em lados opostos, enfrentavam-se lutando com paus,
simulando combates entre cristãos e mouros. Havia ainda o uso de castanholas e
taconeios (batidas do calcanhar no solo), evidenciando a influência ibérica.

Para alguns pesquisadores, as mouriscas com a representação de combates entre


mouros e cristãos constituem a base de várias danças populares brasileiras,
Unidade I - Apresentação do Curso. Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

manifestações que fazem parte de nosso folclore, como a “Chegança”, a “Cavalhada” e


outras, nos fazendo crer na existência de um primeiro elo do ballet com o Brasil. 12

O Carnaval

Outras possíveis influências para o desenvolvimento do ballet podem ser buscadas


nas festas romanas e no Carnaval, persistentes durante toda a Idade Média. Quanto ao
aspecto plástico e decorativo, sua origem está no Teatro Religioso Medieval, praticado
desde o século XIII, especialmente nas festividades de Corpus Christie. Primeiramente,
os carros, os arcos triunfais, os desfiles e cortejos a cavalo ou a pé, de dia e de noite, à
luz de fachos fumegantes, com os rostos ocultos sob a hipocrisia libertina das máscaras
– il travestimento – que a Idade Média já conhecia nas suas momeries, festas de
momices que deram origem a todo gênero literário; depois o ballo, que tanta riqueza
suntuosa adquirirão nos salões. (SALAZAR, 1962: 69).

O pesquisador de carnaval Felipe Ferreira (2004: 42) também sugere que os


“triunfos” encontraram boa receptividade nos dias de Carnaval e, em pouco tempo, em
Toscana, na Itália, tornaram-se o principal evento carnavalesco, por volta de 1450.

Se alargarmos nosso olhar para os desfiles das Escolas de Samba veremos que
eles também remontam às influências mencionadas, desde os carros alegóricos à
simbologia das representações, dramatizações acompanhadas de música e percussão e,
finalmente, o casal de Mestre-sala e Porta-bandeira que, vestidos à maneira da corte,
executam uma dança codificada, coreografia visivelmente influenciada pelo minueto e a
contradança que a originou.

Concordamos com Antonio Salazar, para quem o Renascimento é, antes de tudo,


florentino: enquanto países como Alemanha, França, Inglaterra e parte da Espanha
continuavam sendo países góticos, isto é, onde o medievalismo se prolongou, a Itália
renascentista foi sinônimo de requinte e evolução, época do florescimento das artes,
cujas modificações iriam influenciar toda civilização ocidental.
Unidade I - Apresentação do Curso. Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

A origem do ballet e sua identidade com a cultura brasileira


Sagrado e profano 13

A partir do século XVI, começa a colonização do Brasil e, com ela, chega a


educação jesuítica impondo aos índios os valores da nova civilização européia. Para
Marianna Monteiro (1999), o ballet surgiu no continente americano como parte de um
projeto ibérico de colonização do Novo Mundo, fosse associado à igreja e à sua
necessidade de expansão, fosse como elemento de refinamento à formação da nobreza
e à constituição de monarquias absolutistas, formadoras dos Estados Modernos.

O livro de Eduardo SUCENA, A dança teatral no Brasil (1989) registra várias


participações de grupos de meninos índios e portugueses, em festas religiosas, bodas,
eventos comemorativos e, dentre eles, um “Triunfo eucarístico”, do ano de 1733, “como
se aproximando, guardadas as devidas proporções, do balé dos nossos dias” (SUCENA,
1989: 27).

Essas festas simultaneamente sagradas e profanas acentuaram a identificação


entre Igreja e Estado e procuraram aproximar as diversidades étnicas e sócio-culturais da
colônia: era o início de um diálogo híbrido entre as culturas que aqui conviviam.

De outro documento intitulado Relação das Faustíssimas Festas, o raro fac-simile


da edição de 1762 sobre suntuosas festas brasileiras, cujo texto apresenta o português
arcaico e o atual, podemos extrair alguns fragmentos e compará-los com o que vimos
anteriormente, descritos por Salazar. Nos vários dias destinados às comemorações,
apresentavam-se diversas corporações de artesãos, como sapateiros, ourives,
carpinteiros e outros, assim como “escravos e negros livres, bailando à moda de suas
pátrias e os homens bons, fidalgos da vila que prestigiavam os festejos” (CALMON,1982:
12).
Pela ordem de apresentação, o espetáculo começava pelos proclamas das bodas,
seguido da ordem das festas que seriam celebradas, comemorações da Igreja, danças
mouriscas e congadas. No dia seguinte, tinham lugar danças de meninos índios, de
negros e as lutas de congos e índios, seguindo-se, as danças, por dias a fio.

Origem nobre
Unidade I - Apresentação do Curso. Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

Apesar da autora das notas de rodapé, das Faustíssimas, Oneyda Alvarenga, não
considerar que a mourisca, de que trata o desfile, fosse a mesma da nossa “Chegança de 14
Mouros”, das “Cavalhadas” ou “Congadas”, como descritas por Mário de Andrade, o fato
mais relevante é que, as danças mouriscas que aqui chegaram tornaram-se obrigatórias
nas nossas manifestações populares e, tendo ou não algumas características diferentes
entre si, constituíam-se na primeira entrada do espetáculo que, na Renascença, era
chamado ballet.

Interessa-nos particularmente a constatação de vários historiadores como Roberto


Benjamin e Mário de Andrade sobre a origem dessas danças que, trazidas na bagagem
dos europeus e aqui assimiladas, mesmo transformadas, guardam traços bastante
evidentes de sua origem nobre – como as antigas contradanças2 européias, quadrilhas e
demais danças da corte – não apenas quanto às marcações coreográficas, mas também
quanto aos desenhos formados pelo grupo ao se locomover. Algumas remetem às
danças de terreiro africanas, contribuições dos negros que, com a inclusão dos
movimentos ondulantes do tronco, ombros e pélvis, conferiram maior riqueza às nossas
danças.

Já as danças de cunho religioso, intercalavam passos solenes de uma procissão a


um episódio pantomímico, como a “dança de São Gonçalo”, do interior de São Paulo.
Valsada e solene, era sempre executada por pares dispostos em duas filas, que
alternavam reverências ao altar e palmas e sapateados. Essas dança, como vimos,
remete às procissões do Teatro Medieval Religioso, as “mouriscas”, nos levando a crer
que as festas dos mouros começaram a popularizar-se no Brasil no século XVIII,
constituindo nossa tradição.

Tradição e identidade

Se observarmos o sentido etimológico da palavra “tradição” – traditio onis,


substantivo do verbo latino tradere – veremos que significa entregar, confiar, ceder,
transmitir. Para Hobsbawm, muito do que chamamos “tradição” na verdade são hábitos

2
De origem inglesa – countrydance - a contradança foi, na realidade, uma dança de origem popular e não da corte, significando o
mesmo que o longway inglês. Foi introduzida na França no fim do século XVII. No Brasil o termo permaneceu, principalmente no sul de
Minas e no Rio Grande do Sul, designando a dança onde os participantes se colocavam em fileiras opostas. Mas, nos salões do século
XIX, contradança designava uma quadrilha (CAMINADA, 1999: 112).
Unidade I - Apresentação do Curso. Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

construídos, formalmente institucionalizados, por diversas razões, até por seus registros
nebulosos, causados pela velocidade com que surgiram e se estabeleceram. A todos 15
esses hábitos, o historiador inglês nomeou “tradição inventada” – invariável,
caracterizando-se pela menção ao passado, mesmo que apenas pela imposição da
repetição, tal como sucede às nossas danças folclóricas.

Entretanto, pensando em tradição, nos remetemos à identidade, questionando de


que modo essa absorção da cultura européia interfere ou interferiu na formação da nossa
cultura nacional.

A identidade trata-se, então, de uma construção, algo que está sempre em


processo de formação, “é adquirido ao longo do tempo, através de processos
inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento”
(HALL, 2005: 38). Dentro dessa linha de pensamento, a cultura nacional é constituída
não apenas de instituições culturais, mas do discurso normativo de conceitos e ações
que, ao produzir sentidos e identificações, automaticamente constrói identidades,
enfatizando as origens, dando continuidade à tradição – ou inventando-a, conforme
mencionamos.

O Brasil possui a tão propalada mistura de raças, culturas e etnias, do mesmo


modo que, na Europa ocidental, não existe nenhuma nação formada apenas de um único
povo, cultura ou etnia, razão pela qual nas grandes cidades européias convivem
monumentos de diversos estilos, como uma mesquita árabe em harmonia com uma
catedral gótica e um teatro barroco.

Entrelaçamento

É senso comum afirmar que o gestual foi a primeira forma de comunicação do


homem e, a dança, sua primeira forma de expressão - invocativa ou evocativa,
essencialmente grupal. Com o passar do tempo, a função desta dança mudou ou, melhor
dizendo, se diversificou, se enriqueceu.

Assim é que se pode observar hoje o universo da dança no Brasil: expressões


folclóricas/populares; danças da moda divulgadas pelos meios de comunicação de massa
Unidade I - Apresentação do Curso. Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

que se popularizam e são consumidas, até serem substituídas no tempo estabelecido


pela própria mídia; uma grande gama de expressões estéticas apresentadas à moda 16
brasileira ou mais sintonizadas com os estilos internacionais.

Acreditamos que o ballet praticado no Brasil, nos dias de hoje e em todo o mundo,
é fruto do entrelaçamento de várias culturas e que são esses hibridismos culturais que o
enriquecem, acrescentam, atualizam e o mantêm vivo.

Desse modo, constatamos que, as mouriscas, base do ballet, serviram de base a


vários de nossos folguedos e danças populares, nossas manifestações mais autênticas.
E, ao nos referirmos à influência ibérica presente na mourisca renascentista, estamos
registrando também o período histórico que marcou nossa colonização, ou seja, esta
começa também a ser a nossa história.

Referências Bibliográficas
CALMON, Francisco. Relação das Faustíssimas Festas. Reprodução fac-similar da edição de
1762. Introdução e notas de Oneyda Alvarenga. Transcrição de Ronaldo Menegaz. Etinografia e
Folclore/Memória I. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1982.
CAMINADA, Eliana. História da dança – evolução cultural. Rio de Janeiro: Sprint, 1999.
FERREIRA, Felipe. O livro de Ouro do Carnaval Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 10ª ed. Tradução de Tomaz Tadeu da
Silva e Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
SALAZAR, Adolfo. História da dança e do ballet. México: Realizações Artis, 1962.
SUCENA, Eduardo. A dança teatral no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura / Funarte,
1989.

Aula 3 - Histórico do ensino de Ballet - Parte I

O histórico a seguir se baseia na obra já citada da bailarina clássica e


pesquisadora Eliana Caminada (História da Dança – evolução cultural. Rio: Editora Sprint,
1999).
Unidade I - Apresentação do Curso. Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

Histórico do ensino do ballet


Século XIV 17

A primeira figura de maestro de dança que


conhecemos foi o rabino Hacén Ben Salomon que,
em 1313, era responsável pelo ensino de uma dança
coral aos cristãos, executada ao redor dos altares.
Ao longo do tempo, seguiu-se a ele uma fila de
maestros judeus a quem coube submeter a dança a
regras disciplinares, compatíveis com a seriedade
requerida por senhores burgueses donos do
dinheiro, recém aristocratizados, e que por isso A aula de Dança – Edgar Degas, 1874

mesmo desejavam aumentar a distância que os


separava de uma origem que não era nobre. Era o fim da espontaneidade e a divisão
definitiva entre dança da corte e dança popular.

Histórico do ensino do ballet


Século XV

No século XV, as danças, inicialmente surgidas de manifestações populares livres,


improvisadas, pouco a pouco iam sendo absorvidas pelas classes sociais dominantes. Os
artistas saem do anonimato, refinando-se ao gosto da figura que surgia nesse cenário: o
maestro de dança.

Os ideais renascentistas já haviam começado a se manifestar há aproximadamente


um século e, com as novas concepções, surgiram os primeiros tratados de dança. Foi
Domenico de Piacenza quem escreveu o primeiro de que se tem notícia, o De arti saltandi
et choreas ducendi (A arte de dançar e dirigir coros), entre 1435 e 1436.
Unidade I - Apresentação do Curso. Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

Nesse tratado de dança, o autor introduzia a primeira classificação


sistemática dos movimentos do corpo, doze ao todo, sendo considerados nove 18
naturais, evidenciando o que o corpo normalmente já executa, e três acidentais, que
se referiam ao que era complementar e ornamental.

Aos nove naturais denominou: scempio - simples;


doppio - duplo; ripresa - retomada; continenza - parada;
reverenza - reverência; mezzavolta - meia volta;
voltatonda - volta inteira; movimento - elevação; salto -
salto.

Aos três movimentos acidentais chamou: scorza


- passo lateral rápido; frappamento - batida; cambiamento
- pirueta. O frappamento constituiu-se o primeiro elemento
da antigüidade clássica que chegou aos dias de hoje, com
a forma já afrancesada “frappé”. Pavane na corte de Henrique III, 1550

Em 1455, Antonio Cornazano escreveu o Libro sull’arte del dansare (Livro sobre a
arte de dançar), fazendo distinção entre dança popular e dança aristocrática ou arte,
explicando que a última era construída a partir de variantes em torno de uma fábula ou
enredo, denominando-a ballet.

Histórico do ensino do ballet


Século XVI

Na Renascença, surgiram outros vários


tratados, como o Grazie D’Amore, de Cesare Negri
(1530), posteriormente intitulado Nuova inventioni di
balli, em que o autor aconselhava i piedi in fuora, ou
seja, o en dehors, elemento sobre o qual o ballet
construiria sua técnica. Outra contribuição
expressiva de Negri foi a criação da primeira escola
de ensino da dança para nobres, permitindo-nos

Basse-Danse na corte de Bourgogne,


fim da Idade Média.
Unidade I - Apresentação do Curso. Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

concluir que o ballet se difundia, começando a requerer um ensino sistematizado.


19
Em 1536, surgiu o tratado de Antonius de Arena, Ad compangnones qui sunt de
persona friantes, basse-danse et branles praticantes. Em 1575, mais dois maestros
judeus, Azziz e Jalomacis, recebem autorização do papa para ensinar canto e dança. Em
1577, o italiano Fabritio Caroso da Sermoneta, ele próprio um dançarino profissional,
lançou um manual de dança Il Ballarino.

Em 1581 foi encenado na França o primeiro ballet com esse nome específico, o
Ballet Comique de la Reine3, organizado e coreografado por Balthasar de Beaujoyeulx, e
interpretado pelos próprios nobres da corte, com a participação da rainha Catarina de
Médicis. Beaujoyeulx concebeu seu ballet como uma obra de arte completa, na qual se
misturavam harmoniosamente a dança, a música, a poesia e o teatro.

O ballet, nessa época, era apresentado como parte dos divertimentos da corte,
reunindo profissionais e amadores. Mesmo com o desenvolvimento e estabelecimento
desse sistema de dança, percebemos uma fronteira
muito tênue entre ballet e baile, que se faz
perceptível em Pierre Rameau, na obra El maestro
de danza. Nela, o autor descreve a forma de
executar os branles ou minuetos – danças praticadas
nos bailes da corte – do mesmo modo que cita os
pas de bourrées ou pas coupés, passos
pertencentes ao ballet.

Outro importante trabalho é o Orchesographie


– Traité em forme de dialogue, par lequel toutes
personnes peuvent facilement apprendre et
practiquer l'honneste exercice des dances (Tratado
em forma de diálogo, para todas as pessoas
Ballet Comique de la Reine, de
poderem facilmente aprender e praticar o honesto
Balthazar de Beaujoyeulx, 1581.
exercício das danças), de autoria do cônego Thoinot
Arbeau e publicado em 1589. Encontrado em uma pilha de papéis do mestre, e

3
Cabe ressaltar que, neste caso, comique não possui nenhum sentido de comicidade. Em francês, a
palavra comique faz referência ao teatro.
Unidade I - Apresentação do Curso. Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

classificado por este como “rabiscos para passar o tempo”, o tratado foi recuperado por
um antigo aluno, Jehan des Preyz, após a morte de Arbeau. 20

Escrito em forma de diálogo com um estudante chamado Capriol, Arbeau, aos


sessenta e nove anos, descreveu não apenas os movimentos das danças e suas
variantes, mas estabeleceu regras fundamentais para o ballet, como as posições de
cabeça, tronco, braços e pernas
– preconizando o que seria
codificado, posteriormente, por
Pierre Beauchamps, na
Académie Royale de la Danse,
criada por Luis XIV, em 1661.

No prefácio à primeira
edição (Langres, 1589) é Orchesographie, do cônego Thoinot Arbeau, 1589

mencionado que o
Orchesographie é o registro mais detalhado e autêntico das danças do século XV e XVI
que nos foi legado. Na introdução à edição da Dover Inc., Julia Sutton compartilha da
mesma opinião, qualificando a obra como “uma das fontes mais valiosas e agradáveis das
danças, das músicas de dança e dos costumes sociais do século XVI” (Arbeau, 1967: 1).
Sutton também ressalta a importância das referências humanísticas de que Arbeau se
vale para enfatizar a função valiosa da dança na vida da comunidade, classificando-a,
ironicamente, como uma “medida preventiva antes da escolha de um marido ou uma
esposa” (Idem: 5).

A obra trata do que hoje poderíamos chamar de danças de salão daquele período e
nos mostra como o conhecimento de dança era considerado essencial à educação de
qualquer jovem de boa estirpe. Cabe lembrar novamente a fragilidade da linha divisória
entre a dança social de salão da dança cênica de que o ballet descende, enfocando,
portanto, aspectos característicos que distinguem “um cortesão com talento para a dança”
do artista profissional, como alude Mary Stewart Evans, autora do prefácio da obra
(Arbeau, 1967: 5).

Característica que diferencia este tratado de outras obras é a exposição minuciosa


que é feita sobre a métrica musical dos ritmos da época que possibilita aos leitores
Unidade I - Apresentação do Curso. Origem do Ballet e história do ensino do Ballet

entender a correspondência estabelecida entre passos e notas musicais, que são


assinalados ao longo das páginas do livro. 21

Embora essa exposição possa parecer hermética à primeira vista, essa


preocupação pedagógica de Thoinot Arbeau enfatiza a importância da musicalidade em
um dançarino e a dependência estabelecida entre dança e música. Com isso, o autor
estava, indiretamente, nos mostrando um fato interessante: a influência que a dança teve
no desenvolvimento inicial da música instrumental. A progressão de ritmo livre como
existia no canto gregoriano, por exemplo, para um ritmo marcado, provavelmente ocorreu
em virtude da marcação dos passos de dança e de sua cadência regularmente recorrente.

Histórico do ensino do ballet

Século XVII

Entrando o século XVII, os espetáculos tenderam a valorizar a declamação e o


canto, atendendo os argumentos geralmente de cunho dramático: surgia o gênero ópera-
ballet, que, ao contrário da dança, não nasceu na Itália, mas na França, em Paris
(Salazar,1962: 111).

Posteriormente, em 1644, chegou à França o famoso maestro de dança e bailarino


Giovanni Battista Lully, para quem a criação da Academie Royale de la Danse, em 1661,
foi ao encontro de suas aspirações de unificar música e dança com a criação de uma
escola. Muitos dos ballets apresentados na corte de Luís XIV foram criados por ele e
Beauchamps, com a colaboração do dramaturgo Molière que, junto com Lully, idealizou o
gênero Comédie-ballet – uma das mais importantes referências artísticas do período.
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Em 1670, Luís XIV (1638 - 1715), Rei da França, deixou de dançar, o que fizera por
20 anos consecutivos. A dança, contudo, já fazia parte da corte e a nobreza continuou a 22
praticá-la, dando início à profissionalização da atividade de bailarino.

Pavane, parte da Suíte Capriol, 1589, Orchesographie, Thoinot Arbeau

Em 1672, Lully assumiu a direção da recém criada Academie Royale de Musique,


dotada da Escola oficial de dança, que hoje conhecemos como Ópera de Paris. A esta
escola de dança coube sistematizar o ensino do ballet, sob a orientação de Pierre
Beauchamps e a colaboração de Louis Pécourt e Jean Balon – de cujo nome se originou
a expressão tão familiar aos bailarinos, o ballon, a boa impulsão e amortecimento nos
saltos.

Em 1699, o tratado atribuído a Raoul-Auger Feuillet - o “Choreographie ou L’Art


décrire la danse par caractères, figures et signes demonstratifs” (Coreografia ou a arte de
escrever a dança por caracteres, figuras e signos
demonstrativos), registrava as primeiras tentativas de
uma notação de dança, através da indicação da
posição inicial dos pés, de seu desenho sobre o solo,
e de signos distintivos de saltos e passos. Na obra, o
autor indicou, também, a direção e a sucessão das
figuras de dança.

Le Triomphe de l’amour – ballet em vinte e


três entradas, com música de Lully e figurinos
de Mistère (gravura), desenhado por Jean
Berain, estreado no Palais-Royal em 6 de
maio de 1681
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Referências Bibliográficas
ARBEAU, Thoinot. Orchesography. Tradução e prefácio de Mary Stewart Evans. Introdução e
notas de Julia Sutton. New York: Dover Publications Inc., 1967.

SALAZAR, Adolfo. História da dança e do ballet. México: Realizações Artis, 1962.

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