♦ ♦ ♦
i
Recordando brevissimamente uma página de
Lógica, necessária ao nosso caso, lembraremos que
a idéia ou conceito é a simples representação inte
lectual de um objeto. Ela encontra sua expressão
verbal no têrmo, que, evidentemente, não se con
funde com o vocábulo, tanto é verdade que há ter
mos com vários vocábulos: “Freixo-de-Espada-às-
Cinta”, “Aquilo foi um deus-nos-acuda”.
Na idéia, e portanto no têrmo, temos de con
siderar a compreensão e a extensão. Compreensão
é a significação, o conteúdo da idéia, a informação,
os dados cognoscitivos nela contidos. Assim, a idéia
de “animal” sugere, implica estes componentes: ser,
vivo, sensível, semovente. “Homem” tem maior
compreensão: ser, vivo, sensível, semovente, racio
nal. “Brasileiro”, maior ainda: ser, vivo, sensível, se
movente, racional, nascido no Brasil.
Extensão é o número de indivíduos a que con
vém a idéia. Assim, a idéia de “animal”, que convém
a papagaio, besouro, pulga, leão, pato, homem in
30 Gladstone Chaves de Melo
a) declarativa (exemplo) :
“Serena e quase luminosa corria a noite”.
(Ta UNA Y, Inocência, 3* ed., 1896,
pág. 108);
b) interrogativa (exemplo) :
“Mas, que é dos filhos ou dos netos de seu sinhô?
Eles não quiseram ficar com isso?”
(AFONSO ARINOS, Pelo Sertão, His
tórias e paisagens. Rio, Laemert
e Cia., 1898, pág. 120);
36 Gladstone Chaves de Meix)
e) imperativa (exemplo) :
“Corino,
campo, e dormiu fora!” aquela ovelha, / quo rrrltna
vai buscar Do
(Cláudio Manuel da
Obras Poéticas, ed. do JoAo Zr’
beiro Garnler, Rio, 1903, I,
11Z), 1 t>-
ESTRUTURA DA ORAÇÃO
I. Do sujeito
* * *
II. Do predicado
Já se definiu o predicado como sendo “aquilo
que se diz do sujeito”. Tudo que numa oração nao
é sujeito ou não está no sujeito é predicado, exce
46 Gladstone Chaves de Melo
* * ♦
* ♦ *
à ,.5^ Pre^icadó verbal é assim chamado porque nele,
1 erença do predicado nominal, o verbo é que con-
ern a significação substancial:
_ Desperta então o viajante; esfrega os olhos; distende
P eguiçosaxnente os braços; boceja; bebe uma pouca d’água...”
(Taünay, Inocência, 3* ed., pág.
28).
“Trata-se do casamento”.
(Coelho NETO, Inverno em Flor,
pág. 283),
te de que
anppr te
“Quero convencer y nunca fui tão sincero»
(MALBA Tahan, Céu de AUah,
11» ed., Conquista, Rio, 1957, pág.
93).
* * *
Õ) O COMPLEMENTO-FREDICATIVO DO OBJETO:
“e não podem estar tão cegos que não tenham por me
lhor ir ao paraíso”.
(Id., ibid., pág. 353).
DO COMPLEMENTO DO NÔME
i
58 Gladstone Chaves de Melo
como o de um adjetivo:
“fui oficialmente informado que me deveria submeter
a exame de saiide”.
(CORÇÃO, A Descoberta do Outro,
3’ ed., Agir, pág. 50);
“Abrasada de amor, palpita ao vê-las”.
(Machado, Poesias Completas,
pág. 263).
DOS ELEMENTOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO
* * *
Modo ou frequência.
“Cantei meus versos junto às morenas:
Riram-se tôdas das minhas penas”.
(ALPHONSUS DE GUIMARAENS,
Poesias, pág. 11).
Lugar ou proximidade.
“Passamos a grande ilha da Madeira,
XWO o -------------
Causa.
“Despois de procelosa tempestade,
Noturna> sombra e sibilante vento,
Traz a manhã serena claridade,
Esperança de pôrto e salvamento;
(CAMÕES, Lus., rv,
— *
w .
Gladstone Chaves de Melo
7S
Teinpo. ~~
"Cos panos e cos *
As gentes lusitanas qu P
(ID., ibid., I, 48). *
c) Tempo:
Rainha esquece o que sofreu vassala”
(Bocage, apud Sousa da Silveira,
Lições de Português, 4’ ed.. vãz
177); ’ p é'
d) Comparação:
Curvado o colo, taciturno e frio, / Espectro d’hornem,
penetrou no bosque!”
(Gonçalves Dias, ibid., ed. cit.,
n, pág. 26: texto também citado
por Sousa da Silveira, ao mesmo
fim);
e) Concessão:
“Não sofre muito a gente generosa [isto é, “ainda que
generosa”] / Andar-lhe os cães os dentes amostrando”.
(Camões, Lus., I, 87).
fundamentais {( predicado
I — Funções í adnominal
/adjuntos -Japôsto
acessórias J < circunstancial
1 atributo circunstancial
TÊRMOS DA ORACAO
objeto direto
complemento do objeto direto preposiclonado
objeto indireto
verbo sem nome especial
agente da passiva
H — Sub- complemento do
funções nome
complemento do sujeito
predicativo do objeto
III — Apôsto de oração ou período
IV — Vocativ*
88 Gladstone Chaves de Melo
claro
oculto
determinado simples
composto
I — Sujeito
indeterminado
inexistente
nominal liame verbal + nome predicativo
TÊRMOS DA ORAÇÃO
objeto direto
verbo objeto direto
preposicionado
verbo + com objeto indireto
II — Predicado verbal plemento sem nome especial
agente da pas
siva
verbo-nominal f ve’C?° ..+ complemento pre-
( aicativo
integrantes ( complemento
í do nome
adjunto adno-
minal
apôsto
III — Outros têrmos acessórios atributo cir
cunstancial
adjunto circuns
tancial
alheios à í apôsto de oração
estrutura ( vocativo
DO PERÍODO
DO PERÍODO
*
(11) Said Alt, na sua Gramática Elementar da Lingua
Portuguesa, quinta e sétima edição, prefere dizer oração
composta (pág. 122), quando se trata de período composto
por subordinação.
Novo Manual db Análihs Sintática
93
I. Da coordenação.
Coordenação é o paralelismo de funções ou va
lores sintáticos idênticos.
Assim, coordenam-se dois ou mais sujeitos, dois
ou mais complementos do mesmo verbo, dois ou mais
adjuntos adnominais do mesmo substantivo, dois ou
mais atributos circunstanciais do mesmo sujeito, dois
ou mais agentes da passiva, dois ou mais complemen
tos do nome, duas ou mais orações independentes,
duas ou mais orações subordinadas da mesma natu
reza e função, dois ou mais períodos, etc. Aqui, por
tanto, há perfeita coerência entre o conceito de coor
denação e o de oração coordenada.
Exemplificando: sujeitos coordenados:
Aiz deqUuma
Logo núncio oração
e dizer “^apenas isto:
aI a’’ Fa ^
coordenada- L te] outra. Se esta já foi
completar : coord~ coordenada fica classificada,
classificada, zpso faet^ c & oração é independen-
te ou subordinlda. Acidentalmente, estará coorde-
nada a outra, isto é, posta em sequencza logICa a
outra igual a ela.
II. Da subordinação.
Subordinação é a relação de dependência entre
as funções sintáticas.
Em tôda oração normalmente constituída há ne-
cessàriamente pelo menos um elo subordinativo, o
que prende ao sujeito o predicado. Mas quase sempre
há muitos outros.
Assim como o predicado se subordina ao sujeito,
o objeto direto se subordina ao verbo, o adjunto ad-
nominal ao substantivo que ele explica, o adjunto cir
cunstancial ao verbo que êle modifica, ou ao 'adje
tivo, advérbio, nome ou pronome que êle focaliza,
os diversos complementos aos verbos ou nomes cujo
sentido êles integram, e assim por diante.
Por aí se verificou que na frase oracional só o
sujeito é subordinante essencial. Todos os demais ele
mentos são subordinados essenciais e podem ser su-
Novo Manual de Análise Sintática 101
No seguinte período:
"Voltemos à nossa idéia de um mundo humano forma
do de zonas concêntricas.”
(Corção, As Fronteiras da Técni-
ca, pág. 257)
* * *
O sujeito, o complemento do verbo, o comple
mento do nome, o adjunto circunstancial podem ser
GLADSTONB CHAVES DE MELO
102
b) subordinada objetiva-direta:
c) subordinada atributiva:
,.A rusticidade doa Borbas, que é antes uma couraça,
para esconder um coração abundante, tem, na Emíha, aua
expressão integral.”
(CIRO DOS ANJOS, O Amanuense
Belmiro, 2» edição, Rio [1938],
pág. 147)
&) objetiva-direta:
‘•Também Pojucã anunciara que... jamais empunharia
outro arco-chefe menos glorioso do que o do grande To-
cantim.”
(ALENCAR, Ubirajara, B. L. Gar-
nier, Rio, 1874, pág. 146)
106 Gladstone Chaves de Meixj
c) completiva do verbo:
“E upitrceou-nos outro .sentido acomodiitíclo, mais recôn
dito, daquelas palavras de David, cm que se compungia de
que os seus pecados passassem acima da sua cabeça”.
(EEHNAKDES, Nova Floresta, V,
pág. 25)
d) completiva do nome:
“Estêvão ainda ficou algum tempo encostado á cêrca,
na esperança de que ela olhasse”.
(Machado de Assis, A Mão e a
Luva, Rio, 1907, pág. 32).
III. Da correlação
Correlação é um processo mais complexo
em que há, de certo modo, interdependência. Dá-se,
nes e processo, a intensificação de um dos membros
a frase ou de toda a frase, intensificação que pede
um têrmo. Muitas vêzes há como a retenção para
um salto, a que se segue o salto:
Novo Manual de Análise Sintática 109
II
«brnçou-nio com tal ímpeto, que não pude evi-
ni
( Machado de Memórias
Assis,
Póstumas de Brás Cubas, pág.
170).
* * *
simples
por subordinação
PERÍODO I por coordenação
composto j por correlação
’ misto
II
de elementos da mesma oração
t Coordenação de orações independentes
de orações subordinadas
de um elemento a outro na oração
PROCESSOS SINTÁTICOS
III
aproximativas
adversativas
de coordenação — conjunções conclusivas
coordenativas alternativas
preposições
C O N E C T IV O S
dntegrantes
temporais
finais
k ~ /conjunções su- concessivas
.de subordinação ' bordlnativas
modais
causais
>condicionais
\ pronomes relativos
conjunções correlativas
das formas nominais do verbo
1. Como se.
Freqüentemente esta combinação de conectivos
esconde uma oração denunciada pela conjunção como.
Exemplos:
“Bramindo o negro mar, de longe brada
Como [bradaria] se desse em vão nalgum rochedo”.
(Camões, Lus., V, 38);
2. Condensações sintáticas.
Merece atenção o caso de certas palavras que
desempenham a mesma função ou funções diferen
tes em orações diversas.
128 Gladhtonm Chaves de Mem>
3. Orações implícitas.
Casos há em que não se explicita uma oração,
aliás fàcilmente subentendível, a qual ou é anuncia
da apenas pelo conectivo, ou fica de todo oculta.
A primeira hipótese já foi examinada, quando
há pouco se tratou da combinação como se.
A segunda verifica-se em períodos como êste:
Exemplos:
“Logo cobrou vbitn o o santo atribuiu o milagre à fé
com quo o pobro <so benzera.”
(In., ibid., pág. 401).
“Se”: objeto direto.
II
verbo — enrosea;
complemento verbal — se (objeto direto) ;
adjuntos circunstanciais de lugar — onde ( —
na qual capa), numa bananeira [Os dois ad
juntos não estão coordenados, porque se refe
rem ao verbo sob prismas, sob formalidades
diferentes].
Análise da terceira oração — “que simboliza
va os trópicos”:
Conectivo — que
Sujeito — que (em lugar de “bananeira”).
Predicado — simbolizava os trópicos (predicado
verbal) ;
verbo — simbolizava;
complemento verbal — os trópicos (objeto
direto).
III
IV
“Se dizem, fero amor, que a sêde tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
E’ porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano."
(Camões, Lus., III, 119).
VI
“Aquela triste e lôda madrugada,
Chea tôda de mágoa e de piedade,
Knquanto houver no mundo saüdade
Quero que seja sempre celebrada.”
(CAMfiES, Líricas, seleção prefá
cio e notas de Rodrigues Lapa,
Lisboa, 1940, pág. 31).
oração principal.
Conectivo — que.
gladstone Chaves de Melo
156
VII
Conectivo — e
Sujeito — [Crísío] (oculto).
Predicado - chama-ihe sal t
jbo-nominal) ; a <P]edicado ver-
verbo — chama;
complemento verbal — ihdo
complemento-predicativo . jreto)
P obW° Ind
nota 7) - terr°a_ °bjet0 mdireto (v.
verbo — faça/in;
complemento verbal — o [que faz o nal\ (ohj<d/>
direto) ;
adjunto circunstancial de lugar — na terra.
VIII
SUGESTÃO
* * *
APÊNDICE
CORRELAÇÃO ALTERNATIVA
O mesmo
funções sintáticas acabamos de
que alternadas dizer
e correlata G aç^° a
se em relação às orações: S °^SehVa-
O falecido
bravador professor
da matéria e que Oiticica
Josésôbre êsse ^1°
tático escreveu todo um livrinho (Teori» SIn*
ção, ed. da “Organização Simões”, Ri0 1959^^
fala em correlação alternativa, que provàv^te
Estrutura
Es j <’» ora
Do .C^...................
su.ieito ................. i iii""""“ M
4n
TT
IL çompredicado
Do ................... •do
pletnento-Predicativo ......... ;•
snieito .......... «.
Complemento-nredicativo do objeto ........... ro
III. Dos outros membro
* da oração ...................
Do complemento do nome ..............................
Dos elementos acessórios da orarão ........... 71
Do anôsto-de-orscão e do vocativo ............... JW
Quadro sinótico das funções sintática* ..................... R7
Do período .......................................................................... 91
T. Da COordrmac^o ............................................................. 0.1
TL Da subordinação ............................................... 100
III. Da correlação .................................................. 103
Quadro sinótico do período .............. ............................... 114
Quadro sinótico dos processos sintáticos ...................... 114
Quadro sinótico dos conectivos .................................... nr>
Das formas nominai
* do verbo ...................................... 117
Alguns casos particulares ............................................... 127
1. Como se .................................................................... 127
2. Condensações sintáticas .................................. 127
129
3. Orações imnlícitas ................ ............................
129
4. Pleonasmo de termos oracionais .....................
131
5. Análise da neerativa “não” ............................ 131
A expressão “é que” .................... •.................. 132
Elementos enfáticos nas exclamativas ......... 137
8- Os pronomes pessoais átonos .......................
165
Apêndice: correlação alternativa..................................
171
Indlce análitico .................................................................