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Introdução ao Estudo de Topologia

Henrique L Borges

1 Introdução
Ao estudar Cálculo na graduação, o aluno é apresentado a vários conceitos e definições, entre eles,
os conceitos de Conjunto Aberto e Função Contı́nua. Tais conceitos são limitados ao Rn , não sendo
válidos para um espaço topológico qualquer e em alguns exemplos, nem ao menos fazem sentido.
Mas, ainda assim é possı́vel definir continuidade e conjuntos abertos quando se estuda Topologia.

As definiço Topológicosões que abragem um espaço topológico qualquer não, necessáriamente,


contradizem aquelas que os alunos mais novos na universidade estão acostumados. Como o Rn
é um espaço topológico, os conceitos esudados dentro desse conjunto são, na verdade, um caso
especifı́co dos conceitos mais abragentes. Sendo assim, há equivalências entre essas definições, as
quais são passivéis de demonstração.

Através de uma introdução ao estudo de Topologia será apresentado essas definições mais abran-
gentes e demonstrado suas equivalências com as definições mais limitadas.

2 Espaço Topológicos
Na matemática, o termo topologia é usado tanto para designar o ramo que estuda os espaços
topológicos quanto para denominar uma coleção de subconjuntos importantes para definir estes.

2.1 Topologia
Definição 2.1. Seja X um conjunto e τ uma coleção de subconjuntos de X. É dito que τ é uma
topologia de X quando cumpre as seguintes condições :
i) X e ∅ estão em τ ;
ii) A união dos elementos de uma subcoleção qualquer de τ está em τ ;
iii) A união dos elementos de uma subcoleção finita qualquer de τ está em τ .

Chama-se de espaço topológico o par ordenado (X, τ ), onde τ é a topologia de X. Geralmente é


dito, simplesmente, que X é um espaço topológico.

Exemplo 2.1. Sejam X = {a, b, c, d} e τ = {∅, {a}, {b}, {a, b}, X} uma conta simples mostra que
τ é uma topologia de X.

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Agora, seja τ1 = {∅, {a}, {c}, {a, b}, X}, como

{a} ∪ {c} = {a, c} ∈


/ τ1 .

τ1 não é uma topologia de X. Se (X, τ ) é um espaço topológico, dizemos que U ⊂ X é um aberto


de X se U ∈ τ.

2.2 Base de uma Topologia


Assim como um Espaço Vetorial, um Espaço Topológico também é gerado a partir de uma base.
Enquanto os vetores são a combinação linear de elementos da base, será visto que os elementos da
topologia são a união de elementos básicos.

Definição 2.2. Dado um conjunto X, uma base para uma topologia de X é uma coleção B de
subconjuntos de X que seguem as seguintes propriedades:
i) ∀x ∈ X, ∃B ∈ B tal que x ∈ B;
ii) Sejam B1 , B2 ∈ B. x ∈ B1 ∩ B2 =⇒ ∃B3 ∈ B tal que x ∈ B3 ⊂ B1 ∩ B2 .
Os elementos da base de uma topologia são chamados elementos básicos. Dizemos que U ⊂ X
é elemento de τ se para cada x ∈ U existir um elemento básico B tal que x ∈ B ⊂ U.

Exemplo 2.2. Olhando para um plano (não confunda com o R2 ), a coleção de todas a regiões
circulares desse plano é uma base pasa sua topologia como está representado na imagem a seguir

Observe que essa coleção não pode ser confundido com a própria topologia, pois a união de duas
regiões circuralres não é, necessáriamente, uma região circular, nem sua interseção.

Lema 2.1. Seja X um conjunto e B um base para a τ , uma topologia em X. Então τ é a coleção
de todas a uniões de elementos básicos.

Demonstracão. Como os elementos básicos também são elementos da topologia, então a


união de elementos básicos está em τ .
Por outro lado, pela definição, seja U ∈ τ , então para cada x ∈ U , existe Bx ∈ B, tal que
x ∈ Bx ⊂ U . Então é fácil ver que U é a união desses Bx .

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3 Espaços Métricos
Dentro de espaços topológicos, existe uma outra denominação para os espaços onde se pode
calcular a distância entre dois pontos, esses são os chamados de Espaços Métricos, mas antes de
apresentar seu conceito é necessário definir métrica (distância).

3.1 Métricas
Definição 3.1. Uma métrica em um conjunto X é uma função
d:X ×X →R
com as seguintes propriedades
i) ∀ x, y ∈ X, d(x, y) ≥ 0. Sendo a igualdade válida apenas nos casos de x = y;
ii) ∀ x, y ∈ X, d(x, y) = d(y, x);
iii) ∀ x, y, z ∈ X, d(x, y) + d(x, z) ≥ d(y, z)
Geralmente, chama-se d(x, y) de a distância entre x e y na métrica d. Definido a distância entre
dois pontos, outro conceito importante é o de bola.

Definição 3.2. Seja X um conjunto e d uma métrica de X, um bola Bd (a, r) é um subconjunto


de X definido por
Bd (a, r) = {x ∈ X; d(x, a) < r}.
a bola Bd (a, r) tem centro a e raio r.

3.2 Topologia Métrica


Definição 3.3. Seja d uma métrica de X, a Topologia gerada pela coleção de todas as bolas
Bd (a, r) é chamada Topologia Métrica induzida por d.

Definição 3.4. Um espaço topológico X é dito ser metrizável se existe uma métrica d em X
que induz a topologia de X. Um espaço métrico é um espaço metrizável X munido de uma métrica
especı́fica d que gera a Topologia de X.

Exemplo 3.1. Todo espaço vetorial normado é um


espaço métrico, pois seja V um espaço vetorial
normado e u, v ∈ V basta fazer d(u, v) = u − v V . A própria definição de norma prova que a
norma da diferença possa ser uma métrica.

No R2 , podem ser definidos várias normas, mas considere a norma euclidiana e a norma dos
máximos.
q
x = x2 + x2
1 2

x = max(|x1 |, |x2 |)

Cada norma gera uma coleção de bases distintas, mas que geram o mesmo espaço topológico como
de ser visto na imagem a seguir

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A ideia intuitiva é a mesma das regiões circulares do plano.

4 Abertos e Continuidade
Agora, que foram apresentados conceitos e propriedades de espaço métricos e espaços topológicos,
será relembrado os conceitos de Conjunto Aberto e Função Contı́nua vistos em Cálculo, além de
apresentar os conceitos válidos para um espaço topológico qualquer.

4.1 Conjunto Aberto


Definição 4.1. Um conjunto A ⊂ X é dito conjunto aberto, ou simplesmente aberto, de X, se
para todo x ∈ A existe uma bola B(x) tal que B(x) ⊂ A.

Definição 4.2. Seja X um espaço topológico, um conjunto A ⊂ X é dito aberto de X se A ∈ τ ,


onde τ é a topologia de X.

Dadas as duas definições de conjunto aberto, para demonstrar a equivalência entre elas pelo Lema
2.1. é suficiente mostrar que a coleção de bolas do Rn é uma base para sua topologia

Demonstração. A primeira condição para base é trivial, para verificar a segunda é necessário
antes verificar uma outra propriedade

Seja B(x, ) uma bola aberta na norma usual, será demonstrado que dado y ∈ B(x, ) existe uma
bola B(y, δ) ⊂ B(x, ).

Faça δ =  − x − y e seja z ∈ B(y, δ), então

y − z <  − x − y =⇒ y − z + x − y < 

x − z < y − z + x − y <  =⇒ z ∈ B(x, ).

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Como tal é válido para um z qualquer em B(y, δ), então B(y, δ) ⊂ B(x, ).

A imagem está representando essa propriedade e que também é usada para mostrar que a própria
bola é um conjunto aberto, por isso, muitas vezes é chamada de bola aberta.

Agora, será verificado a segunda condição para base. Considere duas bolas B1 e B2 e y ∈ B1 ⊂ B2 .
Sejam δ1 , δ2 > 0, tais que B(y, δ1 ) ⊂ B1 e B(y, δ2 ) ⊂ B2 . Suponha que δ2 < δ1 , então

B(y, δ2 ) ⊂ B(y, δ1 ) ⊂ B1 .

Logo,
B(y, δ2 ) ⊂ B1 ∩ B2 .

A verificação para o caso δ1 < δ2 é análoga a essa.

4.2 Função Contı́nua


Definição 4.3. Seja f : X ⊂ Rn → Y ⊂ Rm uma função. f é dita contı́nua no ponto a se
• existe y ∈ Y tal que y = f (a);
• lim f (x) = f (a).
x→a

Ou seja, a função é contı́nua se para todo  > 0 existir δ > 0 tal que

x ∈ B(a, δ) =⇒ f (x) ∈ B(f (a), )

Se f for contı́nua em todo o X, f é dita função contı́nua ou, simplesmente, contı́nua.

Definição 4.4. Sejam X e Y espaços topológicos e f : X → Y uma função. f é dita função


contı́nua se um aberto em V ⊂ Y implica em f −1 (V ) ⊂ X também aberto.

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Demonstração. Considere a definição mais abrangente. Então dado , considere f −1 (B(f (a), ))
é um aberto em X que contém a.

Portanto, existe um δ > 0 tal que

a ∈ B(a, δ) ⊂ f −1 (B(f (a), )).

Logo, se x ∈ B(a, δ) =⇒ f (x) ∈ B(f (a), ).

Agora, considere a definição menos abrangente. Suponha que que V é um aberto de Y e a um


ponto de f −1 (V ), então f (a) ∈ V . Logo,

f (a) ∈ B(f (a), ) ⊂ V

Pela definição 4.3., existe δ > 0, onde

x ∈ B(a, δ) =⇒ f (x) ∈ f (B(a, δ)) ⊂ B(f (a), ) =⇒ f (B(a, δ)) ⊂ V.

Portanto,
x ∈ B(a, δ) ⊂ f −1 (V ).

Por x ser arbitrário, então f −1 (V ) é um aberto.

O estudo dos espaço topológicos pode ser uma forma de melhor compreender os conjuntos e
função que atuam dentro do Rn , isso pôde ser visto nos resultados aqui apresentados.

Referências Bibliográficas
[1] MUNKRES, James R. Topology - 2. ed. - Upper Siddle River, NJ: Prentice Hall, 2000.

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