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AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL

DA PESSOA IDOSA
Identificação das necessidades de saúde
e planejamento do cuidado

__________________________________________

Daniella Pires Nunes


Fabiane Aparecida Canaan Rezende
DANIELLA PIRES NUNES
FABIANE APARECIDA CANAAN REZENDE
(Organizadoras)

AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL
DA PESSOA IDOSA

Identificação das necessidades de saúde


e planejamento do cuidado

1ª edição
Belo Horizonte - MG
2020
AGRADECIMENTOS

Nosso agradecimento aos acadêmicos da


Universidade da Maturidade, Campus de Palmas, à
Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos
Comunitários da UFT e à equipe integrante do
Projeto de Extensão “Plano de cuidados para idosos
participantes da Universidade da Maturidade
(UMA): aplicação da avaliação geriátrica ampla”:

Docentes:
- Profª. Drª. Leidiene Ferreira Santos - Curso de
Enfermagem - UFT
- Prof. Dr. Luiz Sinésio da Silva Neto - Curso de
Medicina – UFT
- Profª. Drª. Leonora Rezende Pacheco - Curso de
Enfermagem - UFT
- Profª Drª Neila Barbosa Osório - Curso de
Pedagogia – UFT

AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DA PESSOA IDOSA 1


Técnicos:
- Enf. Fabiana Daronch - Técnica do Curso de
Enfermagem – UFT

Discentes:
- Mestrandas do Programa de Pós-Graduação em
Ensino em Ciências e Saúde: Bruna Mourão Moura,
Emily Quintana Xavier de Araújo.
- Acadêmicos do Curso de Enfermagem: Bianca Eva
de Sousa Gomes, Edivan Oliveira Cavalcanti Junior,
Fabiane Santos Barros, Giuliane Moreira Duarte,
Hisllaeny Almeida Sousa, Jéssica da Silva Marinho,
Vithoria Oliveira, Wana Borges Lima, Yana Caroline
Fernandes Ferreira e Yasmin Alves da Paixão.
- Acadêmicas do Curso de Nutrição: Giulia
Scaravonatti, Isabela de Oliveira Cêa Ramos, Larissa
Oliveira da Silva, Rafaela Maia Gomes, Samara
Vanderlley Costa Matos, Sarah Rodrigues da Silva.
- Acadêmicos do Curso de Medicina: Leonardo
Barroso Silva, Thiago Henrique Silva, Vivaldo
Logrado Junior.

DANIELLA P. NUNES, FABIANE A. C. REZENDE (ORG.) 2


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.......................................... 4
TECENDO A HISTÓRIA DE DONA JOANA .............. 8
AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL RÁPIDA DA PESSOA
IDOSA ................................................... 13
ESTADO E RISCO NUTRICIONAL ...................... 15
DEFICIÊNCIAS SENSORIAIS ............................ 18
AVALIAÇÃO COGNITIVA ............................... 20
CONDIÇÕES EMOCIONAIS ............................. 22
CAPACIDADE FUNCIONAL ............................. 23
EQUILÍBRIO, MOBILIDADE E RISCO DE QUEDAS .... 25
CONDIÇÕES SOCIOAMBIENTAIS ...................... 27
FRAGILIDADE ........................................... 28
PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA....................... 30
CARTILHA DE ORIENTAÇÕES ......................... 31
REFERÊNCIAS .......................................... 41

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SOBRE AS ORGANIZADORAS

DANIELLA PIRES NUNES

Enfermeira, graduada pela Faculdade de


Enfermagem da Universidade Federal de Goiás
(2008). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em
Epidemiologia da Universidade de São Paulo (2011).
Doutora em Ciências da Saúde pelo Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem na Saúde do Adulto
da Universidade de São Paulo (2015). Professora
Adjunta e integrante do Núcleo Docente
Estruturante do Curso de Graduação em
Enfermagem e membro permanente do Programa de
Pós-Graduação em Ensino em Ciência e Saúde da
Universidade Federal do Tocantins. Tutora do
Programa de Residência Multiprofissional da
Fundação Escola de Saúde Pública. Pesquisadora do
Estudo SABE - Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento.

DANIELLA P. NUNES, FABIANE A. C. REZENDE (ORG.) 4


FABIANE APARECIDA CANAAN REZENDE

Nutricionista, Mestre e Doutora em Ciência da


Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa.
Formação em Mindfulness e Mindful Eating pelo
Instituto Nutrição e Consciência. Capacitada no
Método ACI pelo Instituto de Alimentação
Consciente e Intuitiva. Instrutora de Mindful Eating
para Promoção da Saúde certificada pelo Centro
Mente Aberta da Universidade Federal de São Paulo.
Idealizadora do CONBRACAS: Congresso Brasileiro
Online de Comportamento Alimentar, Alimentação
e Saúde. Membro filiada ao Centro Brasileiro de
Mindful Eating. Professora Adjunta do Curso de
Nutrição da Universidade Federal do Tocantins.
Atua na prática clínica e no ensino para graduação
e pós-graduação, pesquisa e extensão nos temas:
avaliação nutricional, comportamento alimentar,
obesidade, doenças crônicas não-transmissíveis e
envelhecimento humano.

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APRESENTAÇÃO1

A elaboração desse e-book surgiu após a


vivência das autoras na condução de um projeto de
extensão intitulado “Plano de cuidados para idosos
participantes da Universidade da Maturidade
(UMA): aplicação da avaliação geriátrica ampla”,
desenvolvido da Universidade Federal do Tocantins.
Um dos objetivos do projeto foi capacitar os
acadêmicos dos cursos de enfermagem, nutrição e
medicina na aplicação da avaliação
multidimensional da pessoa idosa, bem como na
elaboração do plano de cuidados para os idosos a
partir de uma abordagem interdisciplinar.

1
Material disponibilizado aos participantes que adquiriram o Acesso Premium ao 1º
CONBRASEH – Congresso Brasileiro On-line de Saúde e Envelhecimento Humano, realizado
de 10 a 14 de abril de 2020.

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – A reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou


por qualquer meio deste documento é autorizado desde que citada a fonte. A violação
dos direitos do autor (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código
Penal.

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As atividades do projeto envolviam dois
encontros com o idoso, sendo o primeiro a
realização de uma consulta em que se realizava
anamnese com intuito de compreender a sua
condição de vida e saúde. O segundo encontro,
envolvia a orientação e entrega de um plano de
cuidado individualizado a cada idoso. Entre estes
encontros os acadêmicos se reuniam para discussão
do caso e proposição do plano de cuidado que era
posteriormente apresentado e discutido conosco,
supervisoras da equipe.
Assim, convidamos você para conhecer a
história de Dona Joana (nome fictício), alguns
instrumentos utilizados em sua avaliação e o plano
de cuidados proposto à idosa.

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TECENDO A HISTÓRIA DE DONA JOANA

Dona Joana, 70 anos,


casada com o Sr. José
há mais de trinta anos,
ambos participantes de
uma Universidade
Aberta à Pessoa Idosa
(UAPI). Reside com o
cônjuge, tem oito filhos
e dez netos. Auto
relatou ser evangélica,
analfabeta e dona de casa. Sua renda era de um
salário mínimo proveniente do benefício de
prestação continuada (BPC), que complementava à
renda do esposo para os gastos do casal.
Quanto à sua saúde, relatou o diagnóstico de
hipertensão arterial, diabetes, artrite, osteoporose,
hérnia de disco e ciatalgia. Estava em uso contínuo
de losartana, Rivotril® e Fosamax D®, e uso
esporádico de Dolamin Flex® e Meloxicam. Referiu

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não ter o hábito de fumar e de ingestão de bebidas
alcoólicas. Pratica hidroginástica três vezes por
semana, com duração de 60 minutos cada aula,
iniciada recentemente por indicação médica.
Dona Joana relatou que realiza quatro
refeições diárias (café da manhã, almoço, lanche
da tarde e jantar) e consumo diário de laticínios e
gordura. Na avaliação de frequência de consumo
alimentar, verificou-se consumo semanal de feijão
(3 dias/semana), frutas frescas (3 dias/semana),
verduras/legumes (2 dias/semana), alimentos
processados salgados (2 dias/semana) e azeite de
oliva (4 dias/semana). A avaliação antropométrica
indicou massa corporal de 66,5 kg, estatura de
1,59m, índice de massa corporal (IMC) igual a 26,1

kg/m² (eutrofia), perímetro do braço igual a 32cm,


perímetro da cintura de 95 cm (risco para doenças
cardiovasculares), perímetro do quadril igual a 104
cm, perímetro da panturrilha de 36,5 cm (normal) e
relação cintura-quadril de 0,91.
A idosa participa ativamente das atividades

AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DA PESSOA IDOSA 9


da UAPI e do Parque do Idoso, locais estes que
possibilitaram novas amizades, e segundo seu relato
“diminuiu o tempo ocioso e a solidão”. Também
frequenta semanalmente o culto em uma igreja e
considera de muita importância a vida religiosa para
os enfrentamentos do dia-a-dia. Quanto à rede de
apoio e suporte social, Dona Joana conta com o
esposo, filhos, netos e amigos. No entanto, queixou-
se vínculos moderados com os filhos e netos.
Em seguida, aplicou-se a Avaliação
Multidimensional Rápida da Pessoa Idosa,
instrumento que sinaliza os problemas de saúde
importantes para o idoso, a saber: nutrição, visão,
audição, incontinência, atividades sexual,
humor/depressão, cognição e memória, função dos
membros superiores (MMSS) e inferiores (MMII),
atividades diárias, domicílio, queda e suporte
social. Caso o idoso apresente alguma alteração em
alguma destas condições, testes mais complexos
deverão ser aplicados para direcionar o diagnóstico
e o planejamento de cuidado.

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A Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa
(AMPI) é um processo diagnóstico multidisciplinar
das necessidades de saúde (biopsicossocial) que
envolve o planejamento do cuidado e a assistência
a médio e longo prazos, tanto no âmbito médico,
psicossocial e funcional.
A literatura apresenta várias denominações
para a AMI como Avaliação Geriátrica Ampla (AGA)
ou avaliação Global da Pessoa Idosa. Essa avaliação
diferencia de um atendimento médico rotineiro por
priorizar o estado funcional e a qualidade de vida,
e avalia-se os seguintes parâmetros:
• Equilíbrio, mobilidade e risco de quedas
• Função cognitiva
• Condições emocionais
• Deficiências sensoriais
• Capacidade funcional
• Estado e risco nutricional
• Condições socioambientais
• Polifarmácia e medicações inapropriadas
• Comorbidades e multimorbidade

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AMPI pode ser tanto por observação direta,
onde o paciente realiza tarefas sob supervisão e
solicitação do examinador, quanto avaliação por
entrevista, por meio de instrumento padronizados e
critérios pré-estabelecidos. Na história de Dona
Joana todos os parâmetros foram avaliados, mas
também pode ser mensurado outros sinais e
sintomas que sejam relevantes para cada grupo,
neste exemplo, foi adicionado a fragilidade e a
prática de atividade física.
A aplicação da AMI demanda tempo,
conhecimento profissional para utilizar os
instrumentos disponíveis de avaliação. Ademais,
requer estrutura política e recursos humanos
engajados com a transformação dos serviços de
saúde em prol do atendimento à Saúde do Idoso.

DANIELLA P. NUNES, FABIANE A. C. REZENDE (ORG.) 12


AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL RÁPIDA DA PESSOA IDOSA
Área avaliada Avaliação breve e achados de Dona Joana Atenção

Nutrição O/A Sr/a perdeu mais de 4 kg no último ano, sem razão específica? Não Caso o idoso apresente desnutrição ou
² obesidade, recomenda-se que seja
Peso atual: 66,5 kg Altura: 1,59cm IMC=26,1 kg/m (eutrofia) encaminhado ao nutricionista.

Visão O/a Sr/a tem dificuldade para dirigir, ver TV ou fazer qualquer outra atividade Caso o idoso relate acuidade visual reduzida,
de vida diária devido a problemas visuais? Não deve-se aplicar o cartão de Jaeger.

Audição Aplicar o teste do sussurro. Na ausência de cerume e caso a pessoa idosa


A pessoa idosa responde à pergunta feita? não responda ao teste, encaminhar ao
Ouvido Direito (OD): Sim Ouvido Esquerdo: Sim otorrinolaringologista.

Incontinência O/A Sr/a, às vezes, perde urina ou fica molhado/a? Não. Se a resposta do idoso for sim, deve-se
investigar a frequência e se essa condição
provoca algum incômodo ou embaraço.
Ademais, deve-se investigar a causa da
incontinência.

Atividade sexual O/A Sr/a tem algum problema na capacidade de desfrutar do prazer nas relações Se sim, fornecer informações essenciais sobre as
sexuais? Não. alterações da sexualidade. Identificar
problemas fisiológicos e/ou psicológicos
relacionados.
Humor/ depressão O/A Sr/a se sente triste ou desanimado/a frequentemente? Não Se sim, aplicar a Escala de Depressão Geriátrica.
Cognição e memória Solicitar à pessoa idosa que repita o nome dos objetos: Mesa Maça Dinheiro. Caso seja incapaz de repetir nos nomes, deve-
Após 3 minutos pedir que os repita. se aplicar o Miniexame do Estado Mental
(MEEM), que pode ser complementado com o
Dona Joana foi capaz de repetir o nome dos objetos. teste do Relógio ou teste de Fluência Verbal.

Função dos MMSS Proximal: Ver se a pessoa idosa é capaz de tocar a nuca com ambas as mãos. Atentar-se para a presença de dor, fraqueza
muscular e limitação de movimentos.
Distal: Ver se a pessoa idosa é capaz de apanhar um lápis sobre a mesa com cada Caso não seja consiga realizar o teste,
uma das mãos e colocá-lo de volta. recomenda-se a avaliação do tônus, da força e
massa muscular dos MMSS.
Não houve alterações nestes testes.

AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DA PESSOA IDOSA 13


Área avaliada Avaliação breve e achados de Dona Joana Atenção

Função dos MMII Ver se a pessoa idosa é capaz de: Atentar-se para a presença de dor, fraqueza
Levantar-se da cadeira: Sim Caminhar 3,5m: Sim Voltar e sentar: Sim muscular e limitação de movimentos.
Caso não seja consiga realizar o teste, aplicar
escala de avaliação do equilíbrio e da marcha de
Tinneti.
Atividades diárias Sem auxílio, o/a Sr/a é capaz de: Na presença de limitações, sugere-se aplicar
Sair da cama? Sim Vestir-se? Sim Preparar suas refeições? Sim Fazer compras? escalas para avalição das atividades básicas
Sim (Katz) e instrumentais de vida diária (Lawton).

Domicílio Na sua casa há: Escadas? Não Tapetes soltos? Não Corrimão no banheiro? Não Sim para escada ou tapete e Não para corrimão
– Avaliar a segurança domiciliar e instituir
adaptações necessárias.

Queda Quantas vezes? Não Orientar prevenção.

Suporte social Alguém poderia ajudá-lo/a caso fique doente ou incapacitado? Sim Nesse caso, pode realizar APGAR de família,
Quem poderia ajudá-lo/a? Esposo Ecomapa.
Quem seria capaz de tomar decisões de saúde pelo/a Sr/a caso não seja capaz
de fazê-lo? Esposo

Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa (AMPI): Não apresenta alterações visual e auditiva. Cognição preservada (MEEM= 24
pontos). Ausência de sintomas depressivos (EDG=2 pontos). Não apresenta quadros de incontinência urinária e fecal. Não há história
de quedas no último ano. Equilíbrio e marcha preservados (20 pontos). Independente para as atividades básicas de vida diária
(Katz=6 pontos) e instrumentais de vida diária (Lawton=24 pontos), no entanto, relata a necessidade de ajuda do esposo para
utilizar transporte, arrumar a casa e lavar e passar sua roupa. Estado nutricional normal (MAN=14 pontos). Apresenta-se pré-frágil
(referiu diminuição da força muscular). Moderada disfunção familiar (APGAR=6 pontos).

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ESTADO E RISCO NUTRICIONAL

Dona Joana não apresentou risco nutricional. Neste caso, aplicou-se somente
as questões de triagem Avaliação Nutricional (MAN®). Essa avaliação compreende a
diminuição da ingestão alimentar, perda de peso não intencional, mobilidade,
estresse psicológico ou doença, problemas neuropsicológicos e índice de massa
corporal. Cada questão apresenta de 2 a 4 alternativas como resposta, sendo que
apenas uma alternativa deve ser escolhida por questão. Para cada resposta há uma
pontuação, que pode variar de 0 a 3 pontos, totalizando 14 pontos. A partir da
pontuação final da avaliação do estado nutricional do idoso, o idoso é classificado
como não subnutrido (≥ 12 pontos), com risco de subnutrição (11 a 8 pontos) e
subnutrido (< 7 pontos) (Vellas; Guigoz; Garry, 1999).

MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL® - TRIAGEM


Nos últimos três meses houve diminuição da (0)Diminuição grave da ingestão
ingestão alimentar devido à perda de apetite, (1)Diminuição moderada da ingestão
problemas digestivos ou dificuldade para (2)Sem diminuição da ingestão
mastigar ou deglutir?
Perda de peso nos últimos três meses: (0) Superior a três quilos
(1) Não sabe informar
(2) Entre um e três quilos
(3) Sem perda de peso
Mobilidade (0) Restrito ao leito ou à cadeira de rodas
(1) Deambula, mas não é capaz de sair de
casa
(2) Normal
Passou por stress psicológico ou doença (0) Sim
aguda nos últimos três meses? (2) Não
Problemas neuropsicológicos: (0) Demência ou depressão grave
(1) Demência ligeira
(2) Sem problemas psicológicos
Índice de Massa Corporal (IMC = peso[kg] / (0) IMC < 19
estatura [m2]) (1) 19 ≤ IMC < 21
(2) 21 ≤ IMC < 23
(3) IMC ≥ 23
Se o cálculo do IMC não for possível, substituir pelo perímetro da panturrilha
Perímetro da panturrilha (PP) (0)PP < 31 cm
(3) PP ≥ 31 ccm
Diagnóstico nutricional por meio da 14 a 12 pontos: estado nutricional
Triagem normal
11 a 8 pontos: sob risco de desnutrição
7 a 0 pontos: desnutrido

AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DA PESSOA IDOSA 15


Quando o idoso apresenta na triagem pontuação inferior a 12, deve-se
prosseguir com as perguntas da avaliação global, sendo considerado desnutrido o
idoso que apresentar pontuação total inferior a 17.

MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL® - AVALIAÇÃO GLOBAL


O idoso vive na sua própria casa (não em (0) Não
instituição geriátrica ou hospital) (1) Sim
Utiliza mais de três medicamentos diferentes (0) Sim
por dia? (1) Não
Lesões de pele ou escaras? (0) Sim
(1) Não
Quantas refeições você faz por dia? (0 ) Uma refeição
(1) Duas refeições
(2) Três refeições
O idoso consome:
Para pontuar avalie as respostas dos itens 1a
a 1c Pontuação:
0.0 = nenhuma ou uma resposta «sim»
0.5 = duas respostas «sim»
1.0 = três respostas «sim»
1a. Pelo menos uma porção diária de leite ou (0) Não
derivados? (1) Sim
1b. Duas ou mais porções semanais de (0) Não
leguminosas ou ovos? (1) Sim
1c. Carne, peixe ou aves todos os dias? (0) Não
(1) Sim
O idoso consome duas ou mais porções diárias (0) Não
de fruta ou produtos hortícolas? (1) Sim
Quantos copos de líquidos (água, sumo, café, 0.0 = menos de três copos
chá, leite) o idoso consome por dia? 0.5 = três a cinco copos
Copo=200 a 240 ml 1.0 = mais de cinco copos
Modo de se alimentar: (0) Não é capaz de se alimentar sozinho
(1) Alimenta-se sozinho, porém com
dificuldade
(2) Alimenta-se sozinho sem dificuldade
O idoso acredita ter algum problema (0) Acredita estar desnutrido
nutricional? (1) Não sabe dizer
(2) Acredita não ter um problema
nutricional
Em comparação com outras pessoas da 0.0 = Pior
mesma idade, como considera o idoso a sua 0.5 = Não sabe
própria saúde? 1.0 = Igual
2.0= Melhor
Perímetro braquial (PB), em cm: 0.0 = PB < 21
0.5 = 21 ≤ PB ≤ 22
1.0 = PB > 22
Perímetro da panturrilha (PP), em cm: 0 = PP < 31
1 = PP ≥ 31
Mini avaliação Global - máximo 30 pontos. 30 a 24 pontos: estado nutricional normal
23,5 a 17 pontos: sob risco de desnutrição
< 17 pontos: desnutrido
DANIELLA P. NUNES, FABIANE A. C. REZENDE (ORG.) 16
Apesar de Dona Joana não apresentar risco nutricional pela MAN, vale ressaltar
que os marcadores de alimentação, preconizados pelo Sistema de Vigilância
Alimentar e Nutricional - SISVAN (Brasil, 2015), apontaram uma frequência baixa de
ingestão de feijão, frutas, verduras e legumes, que repercute negatividade na
qualidade nutricional da alimentação da idosa. Esses grupos de alimentos são
importantes fontes de fibras alimentares, vitaminas, minerais e compostos bioativos
importantes para a prevenção e controle de alterações cardiometabólico
relacionadas ao diabetes e hipertensão, bem como, para a imunidade, saúde óssea,
intestinal e cognitiva. Neste sentido, ações de educação alimentar e nutricional
seriam indicadas para promover mudanças do comportamento alimentar afim de
alcançar uma alimentação adequada e saudável, sendo importante investigar quais
fatores têm contribuído para este perfil de consumo, incluindo fatores econômicos e
biopsicossociais.
Sobre a avaliação antropométrica, IMC e perímetro da panturrilha indicam
bom estado nutricional no que diz respeito às reservas corporais. Apesar do
perímetro da cintura ter indicado aumento do risco cardiometabólico, vale ressaltar
que o envelhecimento resulta em mudanças na composição e forma corporal,
especialmente de mulheres, em função das alterações hormonais características da
menopausa e que os limites fisiológicos destas mudanças não são bem estabelecidos
ainda na literatura. Desta forma, deve-se ter cautela na interpretação desta medida
antropométrica e não adotar a perda de peso como alvo majoritário antes de
verificar os marcadores endócrino-metabólicos. Esta ressalva é devida aos prejuízos
que a perda de peso pode
trazer para o idoso,
especialmente se
acompanhada de restrições
alimentares, que podem
comprometer a massa
magra, a força e o estado
nutricional de
micronutrientes (Duarte;
Rezende; Souza, 2016)

AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DA PESSOA IDOSA 17


DEFICIÊNCIAS SENSORIAIS

No caso de Dona Joana foram avaliadas as acuidades visual e auditiva, sendo


que ambas não apresentaram alterações.
Na pessoa idosa, a acuidade auditiva comprometida gerar dificuldades
importantes na comunicação, principalmente na compreensão de palavras faladas
em situação de conversação em ambiente ruidosos, levando o idoso a isolar-se de
atividades sociais (Ribas et al., 2014). O Teste do Sussurro é o instrumento de
rastreio para a diminuição da acuidade auditiva recomendado pelo Ministério da
Saúde (Brasil, 2006).
Neste teste, o examinador deverá ficar fora do campo visual da pessoa idosa
e, distanciar-se 33 cm de cada orelha e deverá sussurrar, em cada lado, uma questão
breve e simples, como, por exemplo, “qual é o seu nome”. Caso o idoso não
responda, deve-se realizar a inspeção do conduto auditivo externo para afastar a
possibilidade de obstrução que poderia ser a causa da redução da acuidade auditiva.
Na ausência de obstrução, o avaliado deverá ser encaminhado para realização da
audiometria em ambulatórios especializado.
Para avaliar a acuidade visual em Dona Joana, aplicou-se o cartão de Jaeger.
Apesar de neste caso não ter sido identificada alteração, é importante ressaltar que
a perda de visão na pessoa idosa pode ser decorrente de catarata, degeneração
macular senil ou glaucoma, entre outras condições. Prejuízos na visão podem
resultar em prejuízos no controle postural e equilíbrio, no desempenho funcional e
aumentar o risco de quedas. Adicionalmente, pode comprometer a capacidade de
leitura nos seus diferentes contextos, como por exemplo, acessibilidade urbana,
análise de embalagem de alimentos, bula de medicamentos, etc (Bravo Filho et al.,
2012).
O cartão de Jaeger é colocado a uma distância de 35 cm da pessoa idosa, que
se possuir óculos, deve mantê-los durante o exame. A visão é testada em cada olho
separado e depois em conjunto. O olho deve ser vendado com a mão em formato de
concha. Será considerada acuidade visual preservada quando o idoso conseguir ler
até o nível 20/40. Caso seja identificado algum comprometimento visual, o idoso
deverá ser encaminhado ao oftalmologista.

DANIELLA P. NUNES, FABIANE A. C. REZENDE (ORG.) 18


Cartão de Jaeger

AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DA PESSOA IDOSA 19


AVALIAÇÃO COGNITIVA

Com o processo de envelhecimento são comuns queixas relacionadas ao


esquecimento, e torna-se um agravante quando essa condição se torna frequente e
prejudicam a pessoa idosa no desempenho de suas atividades cotidianas bem como
as suas relações sociais. Assim, a identificação precoce de comprometimentos
cognitivos pode ser primordial para o estabelecimento de intervenções e orientações
ao idoso e seu familiar.
Um dos exames mais utilizado para o rastreio da função cognitiva é o Mini
Exame do Estado Mental (MEEM), que avalia diferentes domínios como orientação
temporal, espacial, memória imediata e de evocação, cálculo, linguagem-nomeação,
repetição, compreensão, escrita e cópia de desenho. Ressalta-se que este
instrumento não realiza diagnóstico, mas sinaliza que funções devem ser mais bem
averiguadas.
Por ter uma relação entre cognição e escolaridade, o Ministério da Saúde
considera os seguintes pontos de corte para declínio cognitivo: <19 pontos para
analfabetos; <23 pontos para 1 a 3 anos de escolaridade; <24 para 4 a 7 anos, <28
para maior que 7 anos de escolaridade (Brasil, 2006). Quando o idoso pontuação
inferior, sugere-se a aplicação de outros testes de função cognitiva como o Teste do
Relógio ou Teste de Fluência Verbal, e o encaminhamento neuropsicológico. No caso
da Dona Joana, aplicou-se somente o Mini Exame do Estado Mental cujo resultado foi
24 pontos (pontuação superior ao ponto de corte para analfabetos), sendo
classificada cognição preservada.

DANIELLA P. NUNES, FABIANE A. C. REZENDE (ORG.) 20


MINI EXAME DO ESTADO MENTAL (MEEM)

1. Orientação Em que dia estamos? Ano 1


temporal Semestre 1
(0 - 5 pontos) Mês 1
Dia 1
Dia da semana 1
2. Orientação espacial Onde estamos? Estado 1
(0 - 5 pontos) Cidade 1
Bairro 1
Rua 1
Local 1
3. Repita as palavras Peça ao idoso para repetir as Caneca 1
(0 - 3 pontos) palavras depois de dizê-las. Tijolo 1
Repita todos os objetos até Tapete 1
que o entrevistado o aprenda
(máximo 5 repetições).
4. Cálculo O(a) Sr(a) faz cálculos? Sim (vá para 4a)
Não (vá para 4b)
4a. Cálculo Se de R$100,00 fossem tirados 93 1
(0 - 5 pontos) R$ 7,00 quanto restaria? E se 86 1
tirarmos mais R$ 7,00? (total 5 79 1
subtrações). 72 1
65 1
4b. Cálculo Soletre a palavra MUNDO de O 1
(0 - 5 pontos) trás para frente. D 1
N 1
U 1
M 1
5. Memorização Repita as palavras que disse Caneca 1
há pouco. Tijolo 1
Tapete 1
6. Linguagem (0-3 Mostre um relógio e uma Relógio 1
pontos) caneta e peça ao idoso para Caneta 1
nomeá-los.
7. Linguagem (1 Repita a frase: NEM AQUI, NEM ALI, NEM 1
ponto) LÁ. 1
8. Linguagem (0-2 Siga uma ordem de três Pegue o papel com a mão 1
pontos) estágios: direita Dobre-o ao meio 1
Ponha-o no chão 1
9. Linguagem (1 Escreva em um papel: “feche FECHE OS OLHOS 1
ponto) os olhos”. Peça ao idoso para
que leia a ordem e a execute
10. Linguagem (1 Peça ao idoso para escrever 1
ponto) uma frase completa.
11.Peça ao idoso para Copie o desenho: 1
escrever uma frase
completa.

AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DA PESSOA IDOSA 21


CONDIÇÕES EMOCIONAIS

A Escala de Depressão Geriátrica Abreviada (EDG) é ferramenta de rastreio


para a presença de sintomas depressivos, composta por 15 perguntas objetivas
referente a percepção do idoso sobre si e seus sentimentos na última semana. A cada
resposta afirmativa, deve-se somar um ponto. Considera-se normal quando o idoso
apresenta escores entre 0 e 5, depressão leve de 6 a 10 pontos, e depressão severa
de 11 a 15 (Almeida; Almeida, 1999). Quando a pontuação for elevada sugere-se
encaminhamento para avaliação neuropsicológica específica.
Para a idosa em questão o rastreio para depressão foi negativo. Apesar das
mulheres serem mais acometidas pelos sintomas depressão, há de considerar aqui
que alguns aspectos podem configurar-se como protetores, tais, como residir com
cônjuge, ter os oito filhos vivos, cognição preservada, estado nutricional adequado,
receber benefício financeiro e a religião que pode favorecer a dimensão
espiritualidade.

ESCALA DE DEPRESSÃO GERIATRICA Não Sim


Está satisfeito (a) com sua vida? 1 0
Interrompeu muitas de suas atividades? 0 1
Acha sua vida vazia? 0 1
Aborrece-se com frequência? 0 1
Sente-se bem com a vida na maior parte do tempo? 1 0
Teme que algo ruim lhe aconteça? 0 1
Sente-se alegre a maior parte do tempo? 1 0
Sente-se desamparado com frequência? 0 1
Prefere ficar em casa a sair e fazer coisas novas? 0 1
Acha que tem mais problemas de memória que outras pessoas? 0 1
Acha que é maravilhoso estar vivo(a)? 1 0
Sente-se inútil? 0 1
Sente-se cheio/a de energia? 1 0
Sente-se sem esperança? 0 1
Acha que os outros têm mais sorte que você? 0 1
Total

DANIELLA P. NUNES, FABIANE A. C. REZENDE (ORG.) 22


CAPACIDADE FUNCIONAL

As condições de saúde da pessoa idosa são norteadas pela capacidade


funcional, que envolve o desempenho das atividades básicas (ABVDs) e instrumentais
de vida diária (AIVDs), de forma independente e autônoma (Brasil, 2006).
As ABVDs referem-se à capacidade de autocuidado do indivíduo, envolvendo o
desempenho de atividades como locomoção, utilização de banheiro, transferência,
tomar banho, vestir-se, controle dos esfíncteres e o ato de comer. Já as AIVDs
envolvem tarefas relacionadas à participação ativa do idoso na comunidade e/ou em
seu domicílio, como utilização de meios de transporte, realização de compras, uso
de telefone, administração financeira, administração dos próprios medicamentos,
preparo de refeições, arrumar a casa, lavar e passar roupa (Brasil, 2006).
O Ministério da Saúde propôs alguns instrumentos para a avaliação do
desempenho das ABVDs como o Índice de Independência de Katz e Medida de
Independência Funcional (MIF). No caso de Dona Joana utilizou-se o Índice de Katz
adaptado pelo Hartford Institute for Geriatric Nursing (publicada em 1998) e
traduzida para o português por Duarte, Almeida e Lebrão (2007). O idoso pode ser
classificado em: independente (6 pontos), dependência parcial (escores entre 5 a 3
pontos) e dependência importante (valores iguais ou inferiores a 2 pontos).

AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DA PESSOA IDOSA 23


ATIVIDADES BÁSICAS DE VIDA DIÁRIA
(1) Banha-se completamente ou necessita de auxílio somente para
lavar uma parte do corpo como as costas, genitais ou uma
extremidade incapacitada.
Em relação ao
(0) Necessita de ajuda para banhar-se em mais de uma parte do
Banho
corpo, entrar e sair do chuveiro ou banheira ou requer assistência
total no banho.

(1) Pega as roupas do armário e veste as roupas íntimas, externas e


Em relação a cintos. Pode receber ajuda para amarrar os sapatos.
Vestir-se (0) Necessita de ajuda para vestir-se ou necessita ser
completamente vestido

(1) Dirige-se ao banheiro, entra e sai do mesmo, arruma suas


Em relação ao ir ao próprias roupas, limpa a área genital sem ajuda.
banheiro (0) Necessita de ajuda para ir ao banheiro limpar-se ou usa urinol
ou comadre.

(1) Senta-se/deita-se e levanta-se da cama ou cadeira sem ajuda.


Em relação à Equipamentos mecânicos de ajuda são aceitáveis.
Transferência (0) Necessita de ajuda para sentar-se/deitar-se e levantar-se da
cama ou cadeira.
(1) Tem completo controle sobre suas eliminações (urinar e
Quanto à
evacuar).
Continência
(0) É parcial ou totalmente incontinente do intestino ou bexiga.

(1) Leva a comida do prato à boca sem ajuda. A preparação da


Em relação à comida pode ser feita por outra pessoa
Alimentação (0) Necessita de ajuda parcial ou total com a alimentação ou requer
alimentação parenteral.

(1) Consegue atravessar um quarto caminhando.


Em relação à (0) Necessita de ajuda de alguém para atravessar o quarto
mobilidade caminhando.

As AIVDs são avaliadas por meio da escala de Lawton, que é constituída por
nove questões cujas respostas variam de 1 a 3 pontos, totalizando 27 pontos. Embora
Dona Joana apresentou-se independente é importante tomar nota de que precisa de
auxílio para desempenhar algumas tarefas domésticas que são de natureza ativa e
ocupacional e, em geral, assumida pela mulher (Rosa et al., 2010). Além disso, há
uma dependência do cônjuge para uso do transporte. Assim, as dificuldades de
realização destas tarefas podem implicar em redução da autopercepção da saúde e
redução da qualidade de vida e, portanto, sinalizam a necessidade de monitoramento
desta dimensão da avaliação multidimensional.

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ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DE VIDA DIÁRIA Pontuação
O (a) Senhor (a) consegue utilizar o telefone? (3) Sem ajuda
(2) Com ajuda
parcial
(1) Não consegue
O(a) Senhor(a) consegue ir a locais distantes, usando algum (3) Sem ajuda
transporte, sem necessidade de planejamentos especiais? (2) Com ajuda
parcial
(1) Não consegue
O(a) Senhor(a) consegue fazer compras? (3) Sem ajuda
(2) Com ajuda
parcial
(1) Não consegue
O (a) Senhor(a) consegue preparar suas próprias refeições? (3) Sem ajuda
(2) Com ajuda
parcial
(1) Não consegue
O (a) Senhor(a) consegue arrumar a casa? (3) Sem ajuda
(2) Com ajuda
parcial
(1) Não consegue
O (a) Senhor(a) consegue lavar e passar sua roupa? (3) Sem ajuda
(2) Com ajuda
parcial
(1) Não consegue
O (a) Senhor(a) consegue tomar seus remédios na dose e horários (3) Sem ajuda
corretos? (2) Com ajuda
parcial
(1) Não consegue
O(a) Senhor(a) consegue cuidar de suas finanças? (3) Sem ajuda
(2) Com ajuda
parcial
(1) Não consegue

EQUILÍBRIO, MOBILIDADE E RISCO DE QUEDAS

As quedas são eventos sentinelas para o comprometimento da funcionalidade.


Condições biológicas, ambientais, comportamentais e socioambientais podem
predispor a quedas. Dentre os fatores biológicos cita-se o comprometimento no
equilíbrio e mobilidade, que pode ser avaliado pelo teste por Tinetti (1986) que
apresenta pontuação máxima de 28 pontos, se o idoso apresentar pontuação menor
que 19 indicará risco cinco vezes maior de quedas. No caso de Dona Joana não houve
alterações no equilíbrio e marcha e não há um risco elevado para quedas.

AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DA PESSOA IDOSA 25


AVALIAÇÃO DO EQUILÍBRIO E MARCHA
Equilíbrio
Equilíbrio sentado (0) Escorrega
(1) Equilibrado
Levantar (0) Incapaz
(1) Utiliza os braços como apoio
(2) Levanta-se sem apoiar os braços
Tentativas para levantar (0) Incapaz
(1) Mais de uma tentativa
(2) Tentativa única
Assim que levanta (primeiros 5 segundos) (0) Desequilibrado
(1) Estável, mas utiliza suporte
(2) Estável sem suporte
Equilíbrio em pé (0) Desequilibrado
(1) Suporte ou pés afastados (base de sustentação)
>12 cm
(2) Sem suporte e base estreita
Teste dos três campos (o examinador (0) Começa a cair
empurra levemente o esterno da pessoa (1) Garra ou balança (braços)
idosa que deve ficar com os pés juntos) (2) Equilibrado

Olhos fechados (pessoa idosa em pé, com (0) Desequilibrada


os pés juntos) (1) Equilibrada

Girando 360º (0) Passos descontínuos


(1) Instável (desequilíbrios)
(2) Estável
Sentado (0) Inseguro
(1) Utiliza os braços ou movimentação abrupta
(2) Seguro, movimentação suave
Pontuação do equilíbrio: ___/16
Marcha
Início da marcha (0) Hesitação ou várias tentativas para iniciar
(1) Sem hesitação
Comprimento e altura dos a) pé direito:
passos (0) não ultrapassa o pé esquerdo
(1) Ultrapassa o pé esquerdo
(0) não sai completamente do chão
(1) Sai completamente do chão
b) pé esquerdo:
(0) não ultrapassa o pé direito
(1) Ultrapassa o pé direito
(0) não sai completamente do chão
(1) Sai completamente do chão
Simetria dos passos (0) Passos diferentes (1) Passos semelhantes
Continuidade dos passos (0) Paradas ou passos descontínuos (1) Passos contínuos
Direção (0) Desvio nítido
(1) Desvio leve ou moderado de apoio
(2) Linha reta sem apoio
Tronco (0) Balanço grave ou uso de apoio
(1) Flexão dos joelhos ou dorso ou abertura dos braços
enquanto anda
(2) Sem flexão, balanço, não usa braços e nem apoio
Distância dos tornozelos (0) Tornozelos separados
(1) Tornozelos quase se tocam quando anda
Pontuação marcha: _____/12
Pontuação Total: ______/28

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CONDIÇÕES SOCIOAMBIENTAIS

O Ecomapa é um diagrama das relações entre a família e a comunidade que


ajuda a avaliar as redes e apoio sociais disponíveis e sua utilização pela família,
contendo os contatos das famílias com pessoas, instituições ou grupos,
representando ausência ou presença de recursos sociais, culturais e econômicos. O
mapeamento das relações delineia a natureza das interfaces e pontos de
intermediação, pontes a construir e recursos a serem buscados e mobilizados para
os conflitos (Agostinho, 2007).

Vínculos fortes

Vínculos moderados
Indicam o fluxo de energia e recursos

Igreja
Filhos e
netos

Parque
do idoso
C 1987

José Joana
78 anos 70 anos UAPI
Aposentado
Do lar
Multimorbidade
Pré-frágil

Em síntese, Dona Joana é casada há 33 anos com José e reside com ele, do
lar, refere múltiplas doenças crônicas e é pré-frágil. A idosa tinha relações fortes e
quase todas compensadoras no seu meio, no entanto, a relação dos filhos tinha não
era compensatória com ela. Tal relação pode refletir na percepção do idoso na
funcionalidade de sua família, ou seja, trazer impactos na harmonia e equilíbrio
existentes nas relações entre os membros.

AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DA PESSOA IDOSA 27


A avaliação da funcionalidade familiar pode ser feita por meio do APGAR de
Família, instrumento composto por cinco domínios (adaptação, companheirismo,
desenvolvimento, afetividade e capacidade resolutiva) e que resulta em um escore
total de 10 pontos. Os escores de 0 a 4 classificam a família como de elevada
disfunção familiar; de 5 e 6, moderada disfunção familiar e de 7 a 10, boa
funcionalidade familiar (Duarte, 2001).

APGAR – FUNCIONALIDADE FAMILIAR

Nunca Algumas Sempre


vezes
Estou satisfeito (a) pois posso recorrer à minha família em
busca de ajuda quando alguma coisa está me incomodando 0 1 2
ou preocupando.
Estou satisfeito (a) com a maneira pela qual minha família
e eu conversamos e compartilhamos os problemas. 0 1 2

Estou satisfeito (a) com a maneira como minha família


aceita e apoia meus desejos de iniciar ou buscar novas 0 1 2
atividades e procurar novos caminhos ou direções.
Estou satisfeito (a) com a maneira pela qual minha família
demonstra afeição e reage às minhas emoções, tais como 0 1 2
raiva, mágoa ou amor.
Estou satisfeito (a) com a maneira pela qual minha família
0 1 2
e eu compartilhamos o tempo juntos.

FRAGILIDADE

A fragilidade é uma síndrome resultante da diminuição de reservas fisiológicas


e do aumento da vulnerabilidade dos indivíduos, reduzindo sua capacidade de
adaptação homeostática, resultado de processo interno e progressivo exteriorizado
por um fenótipo composto por cinco componentes mensuráveis: perda de peso não
intencional, fadiga, redução da força e da velocidade de caminhada e baixa atividade
física.
O instrumento utilizado no caso foi proposto por Nunes et al. (2015) que
propõem perguntas autorreferidas. Considera-se idoso “frágil” o que pontua para
três ou mais componentes, “pré-frágil” o que pontua positivamente para um ou dois,
e “não frágil” o que não apresenta nenhum dos componentes.

DANIELLA P. NUNES, FABIANE A. C. REZENDE (ORG.) 28


Componente da fragilidade Perguntas e respostas
Perda de peso Nos últimos 12 meses, o (a) Sr.(a) perdeu peso
sem fazer nenhuma dieta?
Se o idoso referir perda de mais de 3 • Sim, quantos quilos?
kg, equivale a 1 ponto - Entre 1 e 3 kg
- Mais de 3 kg
• Não

Redução da força Nos últimos 12 meses (último ano), o (a) Sr.(a)


sente mais enfraquecido, acha que sua força
Se o idoso referir sim, equivale a 1 diminuiu?
ponto. • Sim
• Não

Redução da velocidade de O (a) Sr.(a) acha que hoje está caminhando mais
caminhada devagar do que caminhava há 12 meses (há um
ano)?
• Sim
Se o idoso referir sim, equivale a 1 • Não
ponto.

Baixa atividade física O (a) Sr.(a) acha que faz menos atividades físicas
do que fazia há 12 meses (há um ano)?
• Sim
Se o idoso referir sim, equivale a 1 • Não
ponto.

Fadiga relatada Com que frequência, na última semana, o(a)


Sr.(a) sentiu que não conseguiria levar adiante
Se o idoso que referir “algumas vezes” suas coisas (iniciava alguma coisa mas não
ou “a maior parte do tempo”, em pelo conseguia terminar):
menos uma das perguntas, equivale a • Nunca ou raramente (menos de 1 dia)
1 ponto. • Poucas vezes (1 – 2 dias)
• Algumas vezes (3 – 4 dias)
• A maior parte do tempo

Com que frequência, na última semana, a


realização de suas atividades rotineiras exigiu
do(a) Sr.(a) um grande esforço para serem
realizadas:
• Nunca ou raramente (menos de 1 dia)
• Poucas vezes (1 – 2 dias)
• Algumas vezes (3 – 4 dias)
• A maior parte do tempo

AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL DA PESSOA IDOSA 29


ATIVIDADE FÍSICA

A prática regular de atividade física é um comportamento que contribuiu


significativamente para reduzir as alterações físicas e funcionais ao longo da vida,
tais como perda de massa e força muscular, perda de equilíbrio, redução da agilidade
e flexibilidade. A Organização Mundial da Saúde recomenda pelo menos 150 minutos
por semana de atividade moderada a intensa (WHO, 2010).
Porém, no caso desta idosa, a prática teve seu início recente e foi indicada
pelo médico afim de contribuir para melhora do quadro de sintomas ocasionado pelas
doenças osteoarticulares e não era adotada como comportamento de saúde prévio.
Manter a motivação da idosa para a prática é fundamental não só durante o processo
terapêutico, mas especialmente depois considerando os benefícios da mesma para a
saúde física e mental.
Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE, 2013) apontaram que 6 em cada
10 idosos não praticam atividade física regularmente, estatística que demonstra a
magnitude do problema e a necessidade não só de engajamento do indivíduo, mas
principalmente do poder público no sentido de criar e manter ambientes promotores
de atividade física.

ALINHAVANDO AS NECESSIDADES DE SAÚDE E AS INTERVENÇÕES

Mediante a identificação das necessidades de saúde da pessoa idosa, a equipe


multidisciplinar deve avaliar as intervenções relevantes e pertinentes para o idosos,
e estabelecer as estratégias para que garanta um envelhecimento saudável.
No caso de Joana, a equipe discutiu suas demandas e discutiram os cuidados
a serem disponibilizados à idosa (CARTILHA DE ORIENTAÇÕES). A elaboração da
cartilha de orientações ao idoso foi considerado como um instrumento de liberdade
e dignidade nessa fase da vida.

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CARTILHA DE ORIENTAÇÕES

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