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Entrevista
Quais?
Quanto à qualidade dos blocos, por que não se atingem resistências mais elevadas?
Corrêa - Em blocos de concreto existe uma regra muito simples e eficiente para uma
primeira estimativa da resistência de bloco necessária em um edifício. Consiste em
considerar 1 MPa de resistência de bloco de 14 cm de espessura para cada pavimento.
Cabe lembrar que a resistência mínima exigida pelas normas brasileiras é de 4,5 MPa.
Assim, para um prédio de 16 pavimentos seria necessário um bloco de concreto de
resistência à compressão de 16 MPa. O problema é que não são todos os fabricantes que
conseguem produzir blocos com essa especificação, devido às limitações dos
equipamentos empregados quanto à energia de compactação e vibração necessária para
gerar esse tipo de bloco. Antes de especificar, é aconselhável uma minuciosa consulta na
região próxima à da obra, para verificar a disponibilidade do bloco necessário.
Corrêa - Pela NBR 10837, que regulamenta o cálculo de alvenaria com blocos de
concreto, a resistência mínima é de 5 MPa, embora nós saibamos que valores um pouco
menores possam ser empregados em edificações de pequeno porte, como em países com
forte tradição em alvenaria como a Inglaterra e a Austrália. De qualquer forma, a rigor,
não se poderia utilizar nenhuma argamassa com resistência à compressão inferior a 5
MPa.
Ramalho - Outro ponto a ser destacado quanto às argamassas é a aderência, uma
característica também muito importante. Nós já tivemos problemas desse tipo até aqui
em nosso laboratório, perdendo ensaios por causa da falta de aderência. Prismas que
haviam sido montados romperam quando eram manuseados para se fazer o capeamento.
Ramalho - Sim, mas o alcance dessa industrialização não chegou a um ponto adequado.
Quase todos estão tentando aprimorar seus produtos, e muitos têm conseguido resultados
expressivos. No entanto, ainda existem regiões brasileiras nas quais se necessitaria um
maior desenvolvimento, um maior profissionalismo.
Ramalho - A mais comum é a retração desses materiais. A cura do bloco, por exemplo, é
muito importante. Se a cura for deficiente, o seu desempenho futuro certamente será
prejudicado, podendo fissurar excessivamente. Além disso, não se pode deixar os blocos
armazenados sob sol e chuva e assentá-los ainda úmidos, por exemplo. As fissuras se
distribuirão por toda a edificação. É claro que isso nada tem a ver com o aspecto
estrutural em si, mas é uma patologia significativa. O mesmo pode ocorrer com a
argamassa se a aderência, por exemplo, não for suficiente. A ligação entre os blocos não
é suficiente e as fissuras vão aparecer.
Ramalho - Sim, desde que se utilizem paredes mais resistentes e lajes mais espessas de
forma a conseguir vencer vãos maiores. Isso dará maior liberdade ao arranjo
arquitetônico, permitindo inclusive que esse arranjo possa ser modificado
posteriormente, desde que não sejam alteradas as paredes estruturais.
Corrêa - Isso é muito difícil dizer porque depende de cada caso e a limitação, a rigor,
não está relacionada à alvenaria. Outro ponto importante refere-se à altura que as
paredes podem ter. A norma brasileira de cálculo de alvenaria de blocos de concreto diz
que não se pode ter uma razão entre a altura efetiva da parede e sua espessura superior
a 20, no caso da alvenaria não-armada. Então, com blocos tradicionais de 14 cm, o pé-
direito fica limitado a 2,80 m, o que para edifícios residenciais não é um problema.
Já no caso dos edifícios comerciais e industriais, onde se pode ter a necessidade de
utilizar maiores pés-direitos, outras providências devem ser adotadas, como, por
exemplo, utilizar paredes de maior espessura, aumentar a espessura efetiva com
enrijecedores, adotar a alvenaria armada, em que a razão altura por espessura pode
atingir o valor 30, ou, até mesmo, utilizar paredes duplas em seções compostas do tipo
H.
Ramalho - A limitação é basicamente da laje, não da alvenaria em si.
Com uma laje suficientemente rígida seria possível chegar a 9 m, por exemplo, sem
grandes problemas.
Principalmente para edifícios com um número de pavimentos não muito elevado isso é
verdadeiro.
Quando a edificação tiver muitos pavimentos podem começar a ocorrer problemas de
resistência para as paredes, já que as tensões de compressão atuantes podem ser
bastante significativas. Mas, se o edifício não for muito alto, o limitador é a laje, ou seja,
é uma limitação que existe na alvenaria, no concreto armado e em qualquer solução.
Corrêa - Não há diferenças nas lajes, que estão presentes nos dois sistemas.
Basicamente, os outros elementos em uma estrutura de concreto armado, vigas e pilares
são lineares, isto é, têm uma dimensão preponderante sobre as outras duas. No caso das
paredes de alvenaria há duas dimensões que são preponderantes sobre uma terceira, que
é a espessura. Nesse caso, as peças estruturais são elementos planos, chamados folhas ou
placas, acionadas principalmente por forças no seu próprio plano. Assim, as paredes de
alvenaria têm um comportamento mais complexo do que as estruturas lineares de vigas e
pilares.
Ramalho - Uma diferença importante é a flexão, esforço principal nas vigas e quase
inexistente na alvenaria, que trabalha basicamente à compressão. Por causa disso, a
probabilidade de se ter uma deformação excessiva em uma viga de concreto armado é
obviamente muito maior do que em uma parede de alvenaria. De fato, atualmente se
verificam muitas patologias em alvenarias de vedação, em edifícios de concreto
convencional, causadas por deformações na estrutura de concreto.
Como fazer uma interface que integre estruturas com comportamentos tão
diferentes?
Ramalho - Podem ser tanto econômicas como de segurança. Se o efeito for simplesmente
desconsiderado isso pode levar a um superdimensionamento da estrutura de suporte,
ocasionando desperdício em materiais e mão-de-obra.
Mas se o efeito for malconsiderado, a conseqüência pode ser a obtenção de uma
estrutura que não satisfaça aos requisitos de segurança necessários. Existem alguns
detalhes, por exemplo, aberturas ou vigas que se apóiam em vigas, que modificam
totalmente a formação dos arcos, ocasionando diferenças enormes entre os resultados
corretos e os obtidos por meio de procedimentos muito simplificados. Por exemplo,
considerar apenas um ou dois pavimentos sobre a estrutura de transição, imaginando que
a carga proveniente dos pavimentos restantes vá diretamente para os apoios. Isso é
simplesmente um absurdo, e o projetista perderá completamente o controle sobre os
níveis de segurança para as peças da estrutura de suporte.
Ramalho - Essa questão está sendo discutida e deve demorar para ser resolvida. Nós
estudamos a utilização de modelos em elementos finitos para o conjunto formado pelo
pavimento de transição e as paredes estruturais que estão imediatamente acima dessa
estrutura. Isso produz uma estimativa muito boa para os arcos e resultados bastante
seguros tanto para a alvenaria como para a estrutura de suporte.
O problema é a complexidade do modelo, que certamente exigirá geradores de dados
eficientes sob pena de se inviabilizar o processo.