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Disciplina: Instalações prediais – Hidráulica

Aula 7: Esgoto sanitário predial – projeto e dimensionamento

Introdução

Nas aulas anteriores, vimos várias questões referentes aos projetos de instalações prediais de água fria e
água quente.

Nesta aula, iremos tratar das instalações prediais de esgotos sanitários, passando pelos conceitos
principais de águas imundas, águas servidas, materiais utilizados nas instalações, tubos e caixas, conceitos
de projeto, representação gráfica em projetos e dimensionamento geral de uma instalação predial.

Objetivos

 Mostrar os conceitos básicos e materiais das instalações sanitárias conforme NBR 8160 –


Sistemas Prediais de Esgoto Sanitário.
 Exemplificar a metodologia para o desenvolvimento de projetos e o dimensionamento de
tubulações conforme as normas da ABNT e segundo a NBR 8160.

Conceitos básicos

Veja a seguir as definições de águas imundas e águas servidas:

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Águas imundas

Termo usado para descrever resíduos líquidos de água contendo matéria fecal e urina.

Águas servidas

Termo usado para descrever resultantes de operações de lavagem e limpeza de cozinhas, banheiros e
tanques.

Fecho hídrico: é uma camada de água presente em desconectores (peças responsáveis por impedir a
presença e a passagem de gases e insetos provenientes do esgoto). O fecho hídrico está presente em
dispositivos desconectores, como os vasos sanitários, sifões, caixas e ralos sifonados etc. A principal
função do fecho hídrico é justamente criar uma barreira de proteção, utilizando a água acumulada por
gravidade, evitando, assim, o mau cheiro proveniente das instalações de esgotos primárias e dificultando a
passagem de animais indesejados, como baratas, escorpiões, ratos etc.

A NBR 8160 define o fecho hídrico como "camada líquida, de nível constante, que em um desconector
veda a passagem dos gases".

As imagens a seguir apresentam aparelhos em que o fecho hídrico é importante.

 Fonte: Ambiente Legal


Na caixa sifonada, o fecho hídrico é responsável pelo transporte da
água escoada dos ralos até o esgoto, não permitindo que cheiros
desagradáveis voltem ao ambiente. Em mau estado de
conservação, torna-se uma fonte de odor.

 Fonte: Ambiente Legal

No vaso sanitário, a ausência ou sistema de ventilação inadequado


nessa peça pode provocar mau cheiro. Em alguns casos, é preciso
inserir um anel de vedação para selar adequadamente a área entre o
vaso sanitário e o tubo de drenagem.

 Fonte: Ambiente Legal

O sifão conduz a água de pias e tanques para o esgoto,


funcionando como bloqueio do mau cheiro em função do acúmulo
de água no fecho hídrico. Se for instalado de forma reta e sem o
copo fixo, facilita o caminho do mau cheiro até o ralo.

De acordo com a NBR 8160, a definição de altura do fecho hídrico é a seguinte:

Profundidade da camada líquida, medida entre o nível de saída e o ponto mais baixo da parede ou
colo inferior do desconector, que separa os compartimentos ou ramos de entrada e saída desse
dispositivo.

A norma também indica que a


altura mínima do fecho hídrico
deve ser de 5 cm.

 Fonte: Ecivilnet
Veja a definição de mais alguns itens importantes.

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Coletor predial

Canalização de esgotos de propriedade particular que conduz o esgoto de um ou mais edifícios até a
rede coletora pública.

Subcoletor

Canalização de esgotos que recebe efluentes de um ou mais tubos de queda ou ramais de esgoto.

Tubos de quedas (colunas)

Tubulação vertical que recebe efluentes de subcoletores, ramais de esgoto e ramais de descarga.

Ramal de descarga

Canalização que recebe efluente diretamente de um aparelho sanitário.

Principais materiais

Tubulações

Veja a definição dos tubos de PVC das séries Normal e R e suas utilizações mais comuns.

 Fonte: Catálogo Tigre

Os tubos de PVC comum é utilizado nas instalações de


esgoto em geral.

 Fonte: Catálogo Tigre

Os tubos de PVC da série R possuem uma espessura de


parede maior que os da série normal.
Existem no mercado alguns tipos de tubulações que têm propriedades acústicas; entre elas, o PVC
Silentium (Amanco) e Tigre Redux, além do velho conhecido ferro fundido.

O PVC Silentium apresenta qualidade e desempenho comprovados. Essa foi primeira solução em PVC a
reduzir problemas de ruídos nas instalações hidráulicas. Com ela, profissionais, instaladores e
construtores passam a oferecer um atributo a mais para obras residenciais de médio e alto padrão: o
conforto do silêncio. Totalmente compatível com as linhas normal e série R de PVC esgoto.

 Fonte: Catálogo Amanco


A tubulação de ferro fundido apresenta as seguintes vantagens e desvantagens:

Vantagens:
• Material incombustível;
• Excelente grau de isolamento acústico;
• Compatível com temperaturas elevadas (80º C ocasionais e picos de até 95º C).

Desvantagens:
• Ferrugem: a maioria dos sistemas de canalização de ferro fundido teve pelo menos um vazamento
dentro de 20 anos de instalação.;
• Tubos de ferro fundido também eram conhecidos por deixar um gosto metálico na água. Isso foi devido
à lixiviação de ferro na água a partir da oxidação do tubo.

 Fonte: Catálogo Saint-Globan Canalização


Conexões

A imagem a seguir apresenta diferentes tipos de conexões.

 Fonte: Catálogo Amanco


Ralos

Os ralos são caixas dotadas de grelha na parte superior que captam as águas de lavagem dos pisos ou dos
chuveiros.

 Fonte: Catálogo Amanco


Caixa de inspeção

O esgoto primário sempre será conduzido a uma caixa de inspeção (CI) ou poço de visita (PV).

Veja a seguir o esquema de uma caixa de inspeção.


 Fonte: http://www.semae.riopreto.sp.gov.br/instalar-caixa-de-inspe%C3%A7%C3%A3o.aspx
A caixa de inspeção tem como padrão as seguintes medidas:
• diâmetro mínimo = 40 cm;
• Diâmetro nominal = 60 cm;
• Profundidade mínima = 0,30 m;
• Profundidade máxima até 1 m.
Poço de visita para esgoto

Para profundidade acima de 1 m, a caixa passa a se denominar poço de visita e seu detalhamento de
construção é diferente.

Veja abaixo:

 Fonte: Autoria própria


Caixas de gordura e caixas sifonadas

A imagem a seguir corresponde à caixa de gordura pequena, que apresenta as seguintes características:
CGI (individual) ou CGP (pequena) – atende a 1 pia – diâmetro = 30 cm – 18 litros.

 Detalhe da caixa de gordura pequena | Fonte: Autoria própria


 Detalhe da caixa sifonada simples | Fonte: Autoria própria
A imagem corresponde à caixa de gordura simples (CGS) ou caixa sifonada simples (CSS), que apresenta
as seguintes características:
Caixa de gordura simples (CGS) ou caixa sifonada simples (CSS) - até 2 pias – diâmetro = 40 cm – 31
litros.

 Detalhe da caixa sifonada dupla | Fonte: Autoria própria


A imagem corresponde à caixa de gordura dupla (CGD) ou caixa sifonada dupla (CSD), que apresenta as
seguintes características:
Caixa de gordura ou caixa sifonada dupla (CGD ou CSD) até 12 pias – diâmetro = 60 cm – 120 litros.

A imagem corresponde à caixa de gordura especial (CGE) ou caixa sifonada especial (CSE), que
apresenta as seguintes características:

Caixa de gordura especial (CGE) ou (CSE) – cálculo:


acima de 12 pias
V = 20 litros + N X 2 litros
N = número de pessoas pela cozinha que despeja na CGE
V = volume em litros
 Detalhe da caixa de gordura especial e caixa sifonada especial | Fonte: Autoria própria
A distância máxima entre CIs é de 25 metros e a distância máxima entre um CI e uma CP é de 15 metros,
como pode ser visto nas imagens a seguir.

 Fonte: Macintyre
Elementos de inspeção

O Tubo Operculado (TO) ou Te de inspeção (TI) é


utilizado nos pés das colunas, nos desvios de
colunas e em grandes trechos de extensão
horizontal (de 20 em 20 metros). Veja a seguir um
esquema com detalhes e a imagem de um tubo
operculado.

 Fonte: Autoria própria

Detalhe da visita de um tubo operculado.

 Fonte: Catálogo Tigre

Exemplo de um tubo operculado.

Os poços de recalque de esgoto são utilizados em locais onde não se possa fazer o esgotamento por
gravidade, como no caso de subsolos, por exemplo. Deverão ser dotados no mínimo de duas bombas que
devem funcionar alternadamente. No caso de falha ou manutenção de uma das bombas, a outra ficará em
funcionamento. O dimensionamento mínimo é de 1 x 1 x 1m.
 Fonte: Autoria própria
Atividade

1) Qual a caixa de gordura a ser utilizada para o esgotamento de 8 pias de cozinha?

2) Quais as profundidades mínimas e máximas de uma CI?

Metodologia para desenvolvimento de projetos

Simbologia e convenções

 Fonte: Autoria própria


Tubulação primária
Proveniente de vaso sanitário e ralos;

Tubulação secundária
Proveniente de lavatórios, chuveiros, banheiras, bebedouros, tanque, bidê, ralo simples ou seco, máquina
de lavar roupas;

Tubulação de gordura
Proveniente de pias de copas e cozinhas: máquina de lavar pratos;

Tubulação de ventilação
Canalização ascendente que permite o acesso do ar atmosférico ao interior das canalizações e a saída de
gases das mesmas.

Base: projeto de arquitetura

O projeto de arquitetura é a base que precisamos para fazer um projeto de instalações prediais de esgoto.
 Exemplo de projeto de arquitetura | Fonte: Autoria própria
Preparação da base de projeto (matriz)

Apesar de nos basearmos no projeto de arquitetura, ele vem com muitos elementos cuja representação não
é necessária no projeto de esgoto. Siga as seguintes etapas:
• Limpeza de todos os elementos da planta de arquitetura não necessários: cotas; designação de
esquadrias; indicação de piso, parede e teto; retirada (se houver) de todos os pontos de elétrica, da
indicação de cortes e rebaixos e de hachuras. Se houver diferença de nível em pisos, deixe-a;
• A planta deverá ser em escala 1/50. Na impossibilidade de ser 1/50, apresente em 1/100 ou escala maior,
mas faça os detalhes das áreas molhadas em 1/50.

Marcação dos pontos de esgoto, colunas, ralos e traçado da distribuição das tubulações nos pontos de
esgotamento

Nas plantas baixas, é onde são representados os ramais de esgoto (tubulação horizontal).

s tubulações verticais ou colunas (TQs, TSs TGs e CVs) são representadas no esquema vertical, o qual
acaba tendo fundamental importância no dimensionamento, haja vista que, nos prédios residenciais, os
andares de apartamentos são iguais: é projetada apenas uma planta que denominamos de andar tipo.

 Planta baixa (matriz) com a marcação dos pontos e colunas | Fonte: Autoria própria
Esquemas de esgoto primário e secundário

Abaixo, apresentamos exemplos de esquema vertical primário e secundário para melhor compreensão.
Exemplo de esquema de esgoto primário.

Exemplo de esquema de esgoto secundário.


Traçado da tubulação (banheiro) em ramal

A tubulação em ramal só poderá ser realizada quando se tem outro andar abaixo daquele que está sendo
esgotado. Então, no andar inferior, há o acesso às conexões em caso de algum reparo. Antigamente, era
um costume fazer o rebaixamento das lajes de banheiros e cozinhas para acomodar as tubulações de
esgoto; depois, era feito um enchimento com entulhos para cobrir a tubulação; e, depois, o lançamento de
um concreto magro para servir de base para a colocação do piso. Esse método construtivo caiu em desuso,
pois, quando houver vazamento, há a necessidade de que se quebre o piso da área afetada para efetuar o
reparo.

Geralmente, nos prédios são determinados shafts e boxes de banheiro e em área de serviço para a
acomodação das prumadas (colunas) de esgoto, águas pluviais e até mesmo as instalações de água fria e
água quente. No caso do esgoto, a adoção de shafts para a passagem das tubulações é uma grande
solução.

Traçado das tubulações: esgoto secundário, esgoto primário e ventilação.

Esgoto secundário de lavatório, banheira, bidê e ralo de chuveiro sempre ligado ao ralo sifonado. Esgoto
primário (vaso sanitário e ralo sifonado) liga sempre a TQ ou a CI.

 Exemplo de ligação em ramal | Fonte: Autoria própria


Traçado da tubulação (banheiro) em solo

Exemplo correto de ligação em solo.

Exemplo incorreto de ligação em solo.

Há de se ter muito cuidado, pois há muita


informação errada na internet e até em catálogos técnicos. A ligação de ramal em solo favorece o
entupimento na junção, dificultando o processo de desentupimento.
 Exemplo de ligação em solo incorreta.
Traçado das tubulações em cozinhas e áreas de serviço

Veja a seguir exemplos de ligação de esgoto secundário de pia de cozinha em ramal e em solo.

 Esgoto sanitário de pia de cozinha liga ao TG ou à caixa de gordura | Fonte: Autoria própria
Exemplo de ligação em ramal.

 Esgoto sanitário de pia de cozinha liga ao TG ou à caixa de gordura | Fonte: Autoria própria

Exemplo de ligação em solo.

Traçado das tubulações em cozinhas e áreas de serviço em solo

Observe a seguir que as colunas que provêm dos pavimentos superiores ligam diretamente as caixas. O
esgotamento dos pontos do térreo (pia, tanque, ralo, máquina de lavar roupas) corre em tubulação
individual diretamente para as respectivas caixas.
 Esgoto sanitário de tanque, MLR, liga ao TGS ou à caixa sifonada | Fonte: Autoria própria
Ventilação

Distâncias máximas dos ramais sem ventilação:

Ralo sifonado – até 1,80m


Vaso sanitário – até 2,40m

Acima desses valores, torna-se necessária a ventilação.


Usualmente, ventila-se o ralo sifonado mesmo com menor distância.

 Distância máxima dos ramais de ventilação | Fonte: Macintyre


Identificação das prumadas e ramais

A imagem a seguir apresenta a identificação das prumadas e ramais.

 Fonte: Autoria própria


O ramal de ventilação, segundo a NBR 8160, deverá estar ligado à coluna de ventilação 15 cm acima do
nível da borda do mais elevado aparelho servido (vaso sanitário, pia, tanque etc.). Veja a figura abaixo:
 Ventilação segundo NBR 8160 | Fonte: NBR 8160
Ventilação em circuito

Bacias sanitárias instaladas em bateria devem ser ventiladas no primeiro e no último vaso até o limite de
oito vasos, conforme figura ao lado da NBR 8160.

 Ventilação em circuito | Fonte: NBR 8160


Prolongamento da ventilação

Toda coluna de ventilação deverá ter diâmetro uniforme em toda a sua extensão e ser prolongada acima
da laje final ou do telhado com medidas mínimas, conforme indicado na figura 3 da NBR 8160 e segundo
as medidas a seguir: acima do telhado, maior que 30 cm; em laje, maior que 30 cm; e em terraço, acima
de 2m.

 Prolongamento da ventilação | Fonte: NBR 8160


Pavimento de desvio

Quando temos as prumadas de esgoto e chegamos, por exemplo, ao térreo, geralmente não podemos
descer com elas na mesma posição em que se encontravam. Corremos o risco de elas caírem no meio da
portaria ou em outro lugar que não convém. Para isso, teremos de fazer o desvio das prumadas para outro
local. Nesse caso, poderemos juntar várias colunas, descendo em um mesmo ponto e tendo o cuidado de
fazer o dimensionamento correto conforme as tabelas. Lembre-se de que temos aqueles itens da norma
determinando o dimensionamento mínimo do ramal vaso sanitário de 100 mm. Um TQ, TS, TG ou CV
deverá sempre ter diâmetro constante (sempre o maior). Não se podem estrangular colunas de esgoto em
trecho algum.

No caso de apartamentos, o desvio de esgoto geralmente é representado na planta do primeiro pavimento.


As colunas provenientes dos pavimentos superiores desviam em tubulação independente à tubulação dos
aparelhos do andar.

Veja no exemplo ao lado: o vaso sanitário e o ralo do pavimento fazem ramal independente do desvio da
coluna para não haver refluxo da coluna para o banheiro do primeiro andar. Sempre em andar de desvio
deve ser feito dessa forma.
 Exemplo pavimento de desvio | Fonte: Autoria própria
Pavimento de acesso (térreo) – sem subsolo

No pavimento térreo, a filosofia é similar. A tubulação proveniente da prumada vai diretamente à caixa
correspondente.

Porém a tubulação de vaso, ralo e pia será individual por aparelho, esgotando-se diretamente na caixa de
cada sistema. Lembre que as caixas de gordura também deverão ser dimensionadas adequadamente.
 Pavimento de acesso (térreo) – sem subsolo | Fonte: Autoria própria
Pavimento de acesso (térreo) – com subsolo

Quando temos o pavimento térreo com subsolo, as tubulações de esgoto correm pelo teto do subsolo em
ramal até o limite da cortina e conectam as caixas que se encontram na parte externa que é terra.

Veja um exemplo na figura a seguir.


 Pavimento de acesso (térreo) – com subsolo | Fonte: Autoria própria
Subsolo

Em subsolos, devemos evitar ter o mínimo possível de tubulação de esgoto. Quando se tem alguma coisa,
deverá ser construído um poço de recalque de esgoto ou águas servidas conforme o efluente a ser
esgotado.

No caso ao lado, temos um poço de águas servidas que recebe o esgotamento do ralo do lixo e do lava-
pés:

Para calcularmos as tubulações de esgoto, temos de consultar as tabelas da NBR 8160.


 Subsolo | Fonte: Autoria própria
As normas da ABNT não têm força de lei, são recomendações. Porém, caso ocorra um sinistro, se não houver
legislação específica, o juiz nomeia um perito que vai seguir a ABNT. Portanto, como profissionais, devemos nos
resguardar seguindo essas normas e todas as legislações vigentes.
Atividade

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