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Primeiro Dia

O propósito eterno compartilhado


Nós somos uma igreja em células, mas não por causa de algum modismo, por
um capricho pessoal, nem mesmo por ser uma estratégia mais eficiente para
levar a igreja a crescer. Somos uma igreja em células por um motivo mais
profundo: acreditamos que as células são o meio de a Igreja expressar o
Senhor na terra.
A visão de células é bíblica e procede do Senhor. Se a praticarmos da forma
apropriada, creio que poderemos ver os resultados. O fato, porém, é que
mesmo trabalhando com células, muitas igrejas não avançam. Normalmente,
crescem até certo ponto nos primeiros anos, mas depois param ou começam a
declinar. Isso acontece basicamente porque, depois de algum tempo, as
células se tornam apenas uma atividade religiosa, mais um dos muitos tipos de
grupos pequenos. Se uma célula não estiver sendo edificada de acordo com a
vontade de Deus, ela brevemente passará. Porém, se a edificarmos segundo a
vontade do Senhor, nós permaneceremos para sempre e nossas células nunca
serão abaladas, mas crescerão e se multiplicarão.
Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz
a vontade de Deus permanece eternamente. (1Jo 2.17)
A Palavra do Senhor diz que aquele que faz a vontade de Deus permanece
para sempre, e a obra que é feita segundo a vontade dEle também permanece.
Portanto, tudo o que precisamos fazer é edificar a célula de acordo com a
vontade do Senhor, ou seja, fazer a obra de acordo com o propósito eterno de
Deus.
Por isso, quero convidá-lo a desvendar o coração do Senhor para, então,
fazermos Sua obra de acordo com Sua eterna vontade.

Tudo começa na eternidade com Deus


Muitos presumem que, pelo fato de se reunirem num pequeno
grupo, já estão cumprindo a vontade de Deus. Mas, isso não é tudo.
Também precisamos edificar algo que seja segundo o propósito e a
vontade de Deus. 
Existe algo que chamamos de propósito eterno de Deus, que é a
mais alta prioridade do Senhor, e precisamos checar se nossas
células possuem o entendimento desse propósito. Ele é chamado
de propósito eterno porque já existia antes da criação, deve ser
vivido por nós hoje, e continuará a ser vivido pela eternidade futura.
Todos os outros propósitos devem estar alinhados a ele, porém,
muitas igrejas o ignoram. 
Para nós, servos de Deus desejosos de agradá-lo, nada é mais
importante do que conhecer o que vai em Seu coração. Como filhos
gerados segundo Sua espécie, nada nos agrada mais do que
conhecer o propósito do Pai e cooperar com Ele para realizá-lo.
Tudo o que fazemos para o Senhor precisa estar de acordo com
esse propósito eterno, pois Ele não está interessado em nossas
muitas atividades, mas no cumprimento do Seu propósito. Por isso,
o que mais precisamos saber é qual é o propósito de Deus.
Sendo Deus eterno, sem começo de dias ou fim, precisamos admitir
que Seu propósito é igualmente eterno. Isso significa que o plano
de Deus não é elaborado ao sabor das circunstâncias, e Ele não
pode ser surpreendido por coisa alguma. Deus é soberano e
planejou realizar algo desde a eternidade.
Houve um tempo em que não havia absolutamente nada, apenas
Deus. Não havia anjos nem homem, nem planetas ou galáxias,
apenas o Senhor enchia todo o universo. E, nesse tempo, Deus
quis realizar algo. Vemos, então, que o propósito de Deus existia
antes da criação, continua existindo hoje e se cumprirá por toda a
eternidade. Precisamos, portanto, compreender o propósito de
Deus a partir da eternidade. 
Todas as vezes que o apóstolo Paulo menciona o propósito de
Deus, ele toma como ponto de partida a eternidade (1Co 2.7; 2Tm
1.9; Ef 1.4). É comum, porém, as pessoas interpretarem o propósito
de Deus a partir da queda do homem. Deste modo, tomando a
queda como ponto de partida, é natural que todo o trabalho
espiritual seja feito em função de resgatar o homem da
condenação. Evidentemente, não quero diminuir o valor e a
importância da redenção, mas não podemos presumir que o
propósito eterno de Deus seja salvar o homem. O homem não foi
criado com o propósito de ser salvo. A salvação não é o alvo final,
apenas uma correção de rota.
Suponhamos que você decida sair com seu filho para passear no
shopping. Enquanto você se apronta, ele vai brincar no jardim e cai
numa poça de lama. Seu propósito é ir ao shopping, mas agora, em
função de um problema, ele fica adiado e você precisa levar seu
filho ao banheiro para lhe dar um banho. Enquanto está ali, seu filho
fica tão entretido com o banho que se esquece completamente do
passeio no shopping. O fato, porém, é que o banho não é o
propósito, apenas uma correção de rumo para que seja possível
chegar ao shopping. Contudo, hoje em dia, a maior parte das
igrejas acredita que tudo se resume a tomar um bom banho – falam
da salvação, mas ignoram completamente o propósito original de
Deus.
Penso que a ilustração é bem clara, e nos leva a perceber que o
propósito eterno de Deus não foi alterado. Porém, para que ele se
cumpra, o homem, hoje, precisa ser resgatado do pecado. Portanto,
a redenção não é o alvo final de Deus para o homem.
Mas há outros que, percebendo esse equívoco, interpretam o
propósito de Deus a partir da comissão dada por Deus a Adão:
“Sede fecundos, enchei a terra e dominai-a” (Gn 1.28). Partindo
deste ponto, enxergamos tudo sob um ponto de vista de governo e
de reino. Evidentemente, o entendimento do reino é muito
importante, mas não é o propósito eterno, pois o Senhor já reinava
antes que existisse qualquer coisa. Só houve a necessidade de o
homem dominar no Éden porque Satanás caiu e foi lançado à terra,
que assim se tornou um lugar de rebelião. 
Quando o apóstolo Paulo fala do propósito de Deus, ele sempre
parte lá de trás, do coração do Pai Eterno, antes da fundação do
mundo. Paulo sempre começa com o coração de Deus e Seu
desejo eterno. Mas, qual seria o desejo do Pai? Qual a Sua
intenção e Seu eterno propósito? Os planos e propósitos de Deus
não são determinados pelas necessidades do homem, mas já
existiam desde a eternidade. Portanto, compreender o propósito de
Deus é absolutamente vital para nós como seus obreiros e
cooperadores.

Como podemos descobrir o propósito eterno?


Alguns imaginam que missões e evangelismo são o propósito
eterno, mas isso não é verdade. Evangelismo e missões são
realmente importantes, mas não são eternos; eles vieram por causa
do pecado. O propósito eterno, porém, já existia antes do homem
cair e continuará existindo depois que o Senhor voltar. Ele já existia
mesmo antes de toda a criação e continuará pela eternidade futura.
Para compreendermos o propósito eterno, basta sabermos que ele
já existia antes da criação. Houve um tempo em que havia somente
Deus – nem anjos, nem homem, nem a criação. E o que Ele estava
fazendo? Ele estava praticando a vida em comunidade na trindade,
o que chamamos de habitação mútua.
Sendo o nosso Deus um, Ele ainda assim subsiste na forma de três,
por isso dizemos que ele é triuno. Esse é um neologismo mais
apropriado para se referir a Deus do que a palavra trindade.
Trindade traz a idéia de três divindades, o que é errado, pois há um
só Deus que subsiste na forma de três pessoas, por isso ele é
triuno.
Na eternidade, as pessoas de Deus dependiam umas das outras,
tinham comunhão entre si e desfrutavam umas das outras. A isso
se chama vida eterna – esta não é apenas uma vida que não tem
fim, mas é bem mais que isso. Vida eterna é um tipo de vida vivida
pela divindade. É a vida com a qual o próprio Deus vive.
Naquele tempo, Deus teve um desejo ou propósito. Ele não queria
desfrutar dessa vida sozinho. Assim, decidiu multiplicá-la e criou o
ser humano para compartilhar da vida da divindade.
Deus é plural, Ele subsiste na forma de comunidade. Portanto,
sabendo que fomos criados à imagem de Deus, entendemos que o
propósito de Deus é que o homem desfrute do mesmo tipo de vida
que Ele.
O propósito que anteriormente estivera oculto em mistério, e foi
revelado ao apóstolo Paulo, era este: o Pai tencionava que seu
Filho tivesse um Corpo para expressar ao mundo a Sua vida. Deus
queria se expressar e, para ter Sua expressão, Ele criou o homem à
sua imagem e semelhança.
Qual é o propósito eterno de Deus?
Qual é o propósito mais importante da Igreja? Missões e evangelismo? Eles
são excelentes, mas não são o propósito eterno pela simples razão de que não
são eternos – surgiram depois do pecado e vão cessar quando Cristo voltar. O
propósito eterno, todavia, já estava lá antes do pecado e até mesmo antes da
fundação do mundo, e permanecerá depois que o Senhor voltar. 
Alguns líderes de igrejas afirmam que o propósito da Igreja é transformar a
sociedade, por isso, ensinam muito a respeito do reino. Eles afirmam que o
propósito deve ser entrar nas áreas de governo das cidades e transformar a
sociedade. Isso certamente é muito bom, mas não é o propósito eterno de
Deus.
E o discipulado? E o estudo da Bíblia? Tudo isso é bom, mas não é o propósito
eterno. Transformação social, missões, evangelismo, discipulado e estudo da
Bíblia surgiram depois da queda do homem, mas o propósito eterno já existia
antes de o homem ser criado. Todas essas coisas vão cessar quando o Senhor
voltar, mas o propósito vai permanecer para sempre. Todas essas coisas são
boas, mas precisam estar alinhadas com o propósito eterno, pois, se não
estiverem, tornam-se inúteis. 
A maneira de descobrirmos o propósito eterno é entendendo que ele foi
concebido por Deus desde a eternidade passada. Existia antes de todas as
coisas e, na verdade, tudo veio a existir por causa dele.
Antes da criação Deus já havia planejado algo no conselho de Sua vontade.
Naquele tempo, quando havia somente Deus, o que a trindade estava
fazendo? Certamente, essa atividade tem algo a ver com o propósito eterno. O
nosso Deus não é uma pessoa só, antes, é um Deus que subsiste em três
pessoas. Assim, naquele tempo, Deus estava praticando a comunhão divina;
Ele estava vivendo numa “célula celestial”. A divindade estava praticando o que
chamamos de habitação mútua – Eles estavam e permaneciam um no outro.
Jesus disse: “Eu estou no Pai e o Pai está em mim (Jo 10.38; 14.11).

A vida eterna é a vida que Deus vive


O Senhor Jesus disse que o Pai o amou antes da fundação do mundo (Jo
17.24), o que significa que esse amor de uns aos outros já existia desde a
eternidade. Eles se amavam, honravam uns aos outros e se submetiam uns
aos outros. Eles tinham comunhão mútua e viviam um estilo de vida voltado
uns para os outros, ao que chamavam vida eterna.
Reafirmo que vida eterna não é o céu, mas, sim, a vida com a qual o próprio
Deus vive. Portanto, ter a vida eterna significa ter a vida de Deus, possuir o
mesmo tipo de vida que a divindade possui. Deste modo, podemos dizer que a
vida eterna é representada pelo relacionamento das três pessoas da trindade,
o que também é chamado de Casa de Deus.
Deus amou tanto esse tipo de vida que, desde a eternidade, planejou
compartilhar essa vida com o homem. Ele, então, teve uma visão e um
propósito, que é o propósito eterno. Deus não quis desfrutar dessa vida
sozinho, mas decidiu compartilhá-la conosco; Ele resolveu multiplicar e
expandir Sua vida. Foi então que a divindade triuna decidiu criar o ser humano.
Foi nesse momento que Deus disse: 
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele
domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais
domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.
(Gn 1.26). 
Deus disse “façamos”, porque Deus é um só, mas é plural. Deus é um, mas é
comunidade. O homem foi criado à imagem do Deus que é um, mas é plural.
Isso significa que fomos criados para viver o estilo de vida de uns para os
outros, a vida de comunidade. Quando somos muitos, mas vivemos na
unidade, entramos no princípio da divindade que é um, mesmo sendo plural.
Esse é o propósito eterno.
De acordo com esse propósito, Deus tomou uma decisão muito radical: Ele
decidiu habitar em sua criação. Esse é um conceito extraordinário e misterioso,
e muito poderoso. Deus criou o homem para ser sua expressão e sua morada
eterna – nosso Deus tomou a decisão de habitar entre nós e em nós. Ele veio
habitar entre nós porque deseja que sejamos participantes de Sua natureza,
recebamos Sua vida e, assim, possamos viver o mesmo tipo de vida que Ele
vive, uma vida voltada uns aos outros, a vida da Igreja. A verdadeira vida da
Igreja precisa ser a vida com a qual o Deus triuno vive.
Deus deseja ser expresso pelo homem, mas só podemos expressá-lo se
vivermos esse estilo de vida de uns para os outros. Sendo Deus um na
pluralidade, Ele somente pode ser expresso quando somos muitos e podemos
viver uns pelos outros em unidade, tendo um mesmo tipo de natureza.

Como podemos ser uma Igreja poderosa? 


A Igreja de hoje, porém, não possui esse estilo de vida de uns para os outros e,
por isso, perdeu o poder. Em Gênesis 1.26 lemos que Deus criou o homem à
sua imagem para que tivesse domínio. Assim, vemos que há uma relação
íntima entre imagem e domínio.
Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança; tenha ele domínio... (Gn 1.26)
O propósito de Deus para o homem envolve ser a imagem da divindade, ser
fecundo e se multiplicar, mas também envolve dominar e sujeitar sobre os
peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela
terra (Gn 1.28).
O Senhor deu ao homem poder e autoridade sobre duas coisas: primeiro sobre
a terra – Deus nos dá poder para transformar, reger e dominar a terra. Além
disso, Ele também disse que teríamos domínio sobre aves e animais que
rastejam, mas por que não disse que dominaríamos sobre todos os tipos de
animais? Certamente porque esses animais citados simbolizam a ação dos
demônios. Quando o homem foi criado, Satanás e seus anjos já haviam caído
e tinham sido lançados sobre a terra. Portanto, o homem deveria dominar
sobre as obras do inferno. No evangelho de Lucas, vemos o que Jesus disse:
Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o
poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano. (Lc 10.19)
É importante notar que o mesmo tipo de animal – animais que rastejam – é
mencionado novamente por Jesus. O Senhor nos deu poder sobre o inimigo,
mas para ter esse poder, precisamos viver de acordo com a imagem de Deus.
Onde ela está presente, sempre haverá domínio e autoridade. 

Qual é a imagem de Deus? 


No Novo Testamento, sempre temos a verdade espiritual aplicada ao indivíduo
e ao Corpo. Do ponto de vista individual, a imagem de Deus é Cristo. Em
Hebreus 1.3 lemos que Ele é o resplendor da glória e a expressão exata de
Seu ser. Cristo é a exata expressão de Deus Pai. Em João 14, Jesus deixou
essa verdade bem clara em sua resposta a Filipe, quando este lhe pediu:
“Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta. Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto
tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o
Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14.8-9).
Do ponto de vista individual, Cristo é a imagem do Deus triuno e, assim, nós
fomos criados individualmente para sermos como Ele. Na verdade, João diz
que nós seremos tal qual Ele é (1Jo 3.2).
Mas a verdade espiritual possui também o lado coletivo ou corporativo. Há um
sentido em que um único membro não pode expressar todo o corpo, pois,
sendo Deus triuno, Ele somente pode ser expresso por um grupo, pela Igreja.
Neste aspecto, a imagem de Deus é a imagem da trindade – Deus, sendo um,
mas subsistindo na forma de três. Nosso Deus é um Deus plural que se
expressa na unicidade. Portanto, nós também só expressamos a imagem de
Deus quando somos muitos, mas vivemos um estilo de vida voltado uns para
os outros, numa unidade santa. Esta é a imagem de Deus: muitos sendo um.
Deus vive em comunidade e é na comunidade que Deus se expressa e habita.
Se vivermos esse estilo de vida, seremos poderosos. Se nossas células
viverem esse tipo de vida de comunidade, impactarão o mundo, serão
poderosas e derrotarão o inimigo. Reinaremos em vida e o reino de Deus virá,
pois estaremos vivendo o mesmo estilo de vida do Rei. Nosso rei existe na
forma de comunidade e somente manifesta Seu poder quando o estilo de vida
de unidade na comunidade está presente. O mundo será impactado por essa
vida divina em nós, e o diabo não pode suportá-la.

Mas o homem caiu...


Sabemos que o homem pecou e perdeu a glória de Deus. Paulo diz que a
glória de Deus é a Sua imagem, assim, porque pecamos, fomos destituídos da
glória de Deus e, portanto, de Sua imagem (Rm 3.23).
Nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que
lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem
de Deus. (2Co 4.4)
E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a
glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria
imagem, como pelo Senhor, o Espírito. (2Co 3.18)
O homem pecou, perdeu a imagem de Deus e a consequência é que não tem
mais autoridade. Lembre-se: só há domínio quando temos a imagem. Depois
do pecado, não controlamos mais o mundo. Hoje, até a natureza controla o ser
humano, basta olhar os desastres naturais. Somos controlados por terremotos,
tsunamis, inundações, secas, tornados, furacões... Até mesmo os animais nos
controlam! Seres como bactérias, vírus e micro-organismos são os causadores
da maioria das doenças. Somos controlados até mesmo pelas plantas, como
acontece com todos os dependentes de maconha e tabaco, ou derivados de
outras plantas como a cocaína, heroína, morfina e as bebidas alcoólicas. A
lamentável consequência da queda é a escravidão.
Mas, graças a Deus, a imagem do Senhor está sendo restaurada em nós
individualmente. Paulo diz, em 2 Coríntios 3.18, que estamos sendo
transformados de glória em glória na imagem de Cristo. Em alguns, essa
imagem é como uma silhueta embaçada num espelho – vislumbra-se a
imagem, mas ainda não se nota a semelhança. Outros já cresceram e
possuem uma imagem mais nítida, mas somente na glória seremos tal qual Ele
é. 
Nossa autoridade espiritual, hoje, depende do quanto expressamos essa
imagem. Não podemos nos esquecer de que onde houver imagem de Deus,
sempre se manifestará domínio e autoridade.
Por outro lado, do ponto de vista corporativo, o homem também perdeu a
imagem, por isso vive no individualismo e no egoísmo. O Espírito Santo está
operando para ter uma Igreja na terra que traga a imagem do Deus triuno –
muitos vivendo em unidade, o plural sendo um. O homem foi criado para
cumprir o propósito de Deus vivendo o estilo de vida de uns para os outros.
Creio que só podemos viver essa realidade quando praticamos a vida da Igreja
nas células, pois a célula é a expressão prática da Igreja. Somente numa célula
podemos viver a vida plural em unidade, a vida de ministração uns aos outros.
Nossa célula é transformada quando entendemos o que fazemos a partir da
compreensão do propósito eterno de Deus. Quando praticamos apenas uma
estratégia de grupos pequenos, logo nos cansamos e paramos, mas quando
entendemos que estamos edificando algo que vai perdurar pela eternidade,
então estamos fazendo a vontade de Deus. E aquele que faz a vontade de
Deus, permanece para sempre (1Jo 2.17).

Cristo em nós e nós em Cristo


Estou sempre falando da verdade espiritual sob dois prismas: o aspecto
individual e o aspecto coletivo. Isso significa que, individualmente, Cristo está
em nós, e, corporativamente, nós estamos em Cristo. Hoje em dia, nosso foco
tem sido colocado unicamente no aspecto individual, o de Cristo em nós.
Esse aspecto é absolutamente fundamental. Jamais exageramos ao ressaltar
sua importância. É porque Cristo está em nós que nascemos de novo, temos
comunhão com o Pai e recebemos todas as bênçãos da redenção. Cristo
habitando em nós, portanto, é uma verdade que precisa ser ensinada
constantemente.
Mas, essa verdade espiritual possui outro lado: nós também estamos em
Cristo. O fato de Cristo estar em nós é individual, mas nós estarmos em Cristo
é algo completamente corporativo. Isso se torna claro quando entendemos que
somos membros do seu Corpo, que foi para isso que Ele nos criou. Estar em
Cristo significa que fomos incluídos nEle e nos tornamos membros do seu
Corpo. Hoje em dia, a ênfase é sempre colocada na verdade de que Cristo está
em nós, mas esta é somente a metade da verdade.
O Senhor disse: “Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto”
(Jo 15.5). A frutificação abundante, portanto, depende de praticarmos os dois
aspectos. Precisamos permanecer nEle se desejamos produzir muitos frutos. E
o que é, de forma prática, permanecer nele? Podemos dizer que é permanecer
em Sua Palavra e na comunhão do Espírito, mas, certamente, permanecer
nEle também é permanecer ligado ao 
Corpo, à Igreja. Nós experimentamos a multiplicação quando vivemos a vida
corporativa da Igreja nas células. Através do Senhor, fomos unidos à trindade.
O Senhor Jesus é um com o Pai e com o Espírito, e nós somos um com Ele,
assim, somos uma unidade com a divindade.
O propósito eterno de Deus é que o homem seja a habitação eterna da
divindade. E essa habitação somente pode acontecer de forma corporativa.
Mais uma vez, devemos entender a verdade de forma individual e coletiva. Do
ponto de vista individual, somos feitos templo de Deus, pois Cristo, na pessoa
do Espírito Santo, veio habitar em nós.
Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em
vós? (1Co 3.16)
Somos, individualmente, habitação de Deus, mas existe uma verdade maior e
mais ampla – a de que só podemos ser plenamente uma casa para Deus de
forma corporativa. Pedro diz que somos, individualmente, pedras vivas da Casa
de Deus.
Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual
para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais
agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. (1Pe 2.5)
Paulo também afirmou essa mesma verdade quando disse que estamos sendo
edificados para habitação de Deus.
Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo,
Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce
para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais
sendo edificados para habitação de Deus no Espírito. (Ef 2.20-22)
Cada membro precisa entender a necessidade de permanecer em Cristo de
forma prática. Só permanecemos em Cristo quando somos uma pedra que está
inserida no edifício de Deus. Podemos ser salvos e viver como uma pedra
isolada, mas não poderemos produzir muito fruto se não permanecermos nEle,
sendo o corpo e o edifício.
Isso acontece de forma prática na célula, onde cada um pode ser encaixado e
edificado. Somos edificados quando estamos ligados a nossos irmãos, e
somos vinculados uns aos outros pela argamassa do Espírito, no vínculo do
amor.

O alvo final é o Corpo, a Igreja


A intenção de Deus é formar um corpo que se tornará a completa expressão de
Cristo na terra (Ef 1.22-23). Isso é chamado de plenitude de Cristo. 
E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as
coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo
enche em todas as coisas. (Ef 1.22-23)
A Igreja é a plenitude Cristo! Isso não é sensacional? Com toda a reverência,
preciso dizer que, sendo parte do Corpo de Cristo, nós nos tornamos parte da
própria divindade.

Por que o Senhor precisa de um corpo? 


Para entendermos por que o Senhor precisa de um corpo, primeiro precisamos
saber qual a função do corpo. O corpo é o complemento da cabeça e também
sua expressão. A cabeça sem o corpo está incompleta, e o corpo sem a
cabeça é inútil. Existe aqui uma mutualidade onde o corpo depende da cabeça,
mas a cabeça também depende do corpo. O corpo precisa da vida da cabeça,
mas a cabeça precisa da expressão do corpo. Sem ele, ela não pode se
expressar.
A função do corpo é expressar a cabeça e fazer sua vontade. Assim, se a
cabeça dá um comando, é o corpo quem o executa, e não pode resistir a ela.
Da mesma forma, a função da Igreja como corpo é expressar Cristo. A célula é
a expressão mais básica da Igreja e sua função é também expressar Cristo,
sendo Seu corpo. Mas, se a cabeça ordena à boca que fale, e a boca se
recusa a falar, então, neste caso, a cabeça não tem como se expressar. Isso
nos mostra a seriedade de cada membro da célula funcionar apropriadamente,
como os membros de um corpo. Não podemos ter apenas um ou outro
funcionando, mas todos. E isso só pode acontecer na vida da Igreja através
das células.

Cristo é o corpo inteiro


Quem é Cristo? Ele é somente o cabeça? Não! Ele é o corpo inteiro. Hoje,
Cristo é a união da Igreja com Ele como cabeça. Isso é claramente
demonstrado por Paulo em 1 Coríntios:
Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os
membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito
a Cristo. (1Co 12.12)
Se fôssemos dizer essa verdade, talvez a disséssemos da seguinte maneira:
Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os
membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito
à Igreja. Paulo, porém, não separou Cristo de seu corpo, mas tratou o corpo
como sendo o próprio Cristo.
Se alguém tocar na Igreja, estará, na verdade, tocando em Cristo. Quando
apareceu para Paulo no caminho de Damasco, o Senhor Jesus lhe perguntou:
“Saulo, Saulo, por que me persegues?” Mas Paulo não estava perseguindo a
Cristo, ao menos não conscientemente, ele estava perseguindo o Corpo de
Cristo, que é a Igreja. Mas, se alguém toca no Corpo, toca em Cristo.
Hoje, Cristo está sentado à destra de Deus Pai, mas precisamos nos lembrar
que o corpo também está lá. Ele não poderia se sentar sem um corpo. É por
isso que Paulo diz que estamos assentados com Ele (Ef 2.6). Se, hoje,
desejamos conhecer a Cristo, devemos conhecer Seu Corpo. Se desejamos
experimentar de Cristo, precisamos experimentar do Corpo.
Como conhecer a Cristo?
Vamos ilustrar da seguinte maneira: 
Alguém que nunca me viu quer se encontrar comigo, pois deseja me conhecer.
Porém, estou muito cansado e digo que não quero ir ao encontro, mas vou
mandar um membro do meu corpo para que ela me conheça. Então, envio um
fio do meu cabelo. Podemos dizer que essa pessoa me conhecerá
simplesmente conhecendo um fio de cabelo da minha cabeça? Obviamente,
não. Para me conhecer não basta conhecer uma parte do meu corpo, é
necessário uma expressão completa. Um único membro não pode expressar
todo o corpo. Assim, para termos uma expressão do Corpo de Cristo,
precisamos de ao menos três membros reunidos. Foi o que o Senhor disse em
Mateus 18.20: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali
estou no meio deles.”
É por isto que a célula é tão importante, porque ela permite a manifestação do
corpo do Senhor de forma visível. Se numa célula temos apenas uma pessoa
funcionando, então não podemos dizer que ali há uma expressão do corpo de
forma prática, mas se temos dois ou três funcionando, então temos o corpo.
Cristo não pode ser revelado ali, nem pode ser conhecido ou visto se apenas
um membro funcionar. Se quisermos ser uma célula poderosa, todos os
membros da célula precisam funcionar, pois somente assim seremos imagem
de Cristo. Outra vez repito: Deus é plural, mas é um. A imagem de Deus é a
vida de comunidade em unidade.
Em Efésios 2.19-20, Paulo diz que a Igreja é um templo, um corpo e uma
família. Se nossa célula não for um templo, um corpo e uma família, então está
fora do propósito eterno de Deus. Para que a célula cresça e se multiplique,
precisamos viver na plenitude do Corpo de Cristo, que nada mais é que o
funcionamento de cada membro movido pela vida da cabeça.
Quando essa revelação enche nosso espírito, entendemos que a célula é muito
mais que a reunião ou um culto semanal numa casa. Ela é um corpo, e o corpo
não se reúne eventualmente, mas está constantemente vinculado e conectado.
A vida de uns para os outros precisa acontecer todos os dias. Precisamos
profetizar na vida uns dos outros, ter comunhão pelo telefone, orar uns pelos
outros, tudo isso é muito poderoso e, quando o praticamos, experimentamos os
milagres de Deus.
Nossa célula precisa expressar a imagem de Deus, pois, quando a
expressamos, o domínio se manifesta. Podemos ver esse princípio claramente
no evangelho de Mateus:
Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos
céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus. Em
verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem
a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida
por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos
em meu nome, ali estou no meio deles. (Mt 18.18-20)
No verso 20, o Senhor disse que onde houvesse dois ou três reunidos, ali Ele
estaria. Isso mostra que dois ou três já formam uma comunidade, já é plural.
Por isso se diz no verso 19 que se esses dois ou três concordarem a respeito
de algo, se tiverem o mesmo coração e a mesma mente, então eles pedirão o
que quiserem. O que está acontecendo aqui é a imagem de Deus se
expressando. Eles são muitos, e agora estão concordando em unidade. O
resultado é: eles ligarão e desligarão, porque terão domínio e autoridade. 
Essa é a vontade de Deus para cada uma de nossas células. Precisamos
expressar a imagem para que a autoridade e o domínio se manifestem. Isso é
realmente poderoso. Você consegue imaginar o que acontecerá quando cada
uma de nossas células tiver a revelação do propósito eterno de Deus? Um
avivamento nos aguarda.

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