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t. X X X I V (2000)
JOSÉ A M A D O M E N D E S
Universidade de Coimbra
Introdução
* O p r e s e n t e t e x t o foi i n i c i a l m e n t e a p r e s e n t a d o ao C o l ó q u i o " E r n e s t o do C a n t o :
Retratos do H o m e m e do T e m p o " , realizado na Universidade do Açores, em Ponta
D e l g a d a , n o s d i a s 2 6 e 2 7 d e O u t u b r o d e 2 0 0 0 . Irá ser t a m b é m p u b l i c a d o n a s r e s p e c t i v a s
actas.
1
G e o r g e s B e n k o e A l a i n L i p i e t z (orgs.), As regiões ganhadoras. Distritos e redes.
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4
Ver, a p r o p ó s i t o , M i q u e l M a r í n Gelarbert, « " P o r los infinitos rincones de la P a t r i a . . . " .
La articulação de la h i s t o r i o g r a f í a local en los a ñ o s c i n c u e n t a y s e s s e n t a » , P. Rújula e I.
P e i r ó ( c o o r d s . ) , op. cit., p. 3 4 6 - 3 4 7 .
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5
E x p r e s s ã o u s a d a em J e a n - C l a u d e R u a n o - B o r b a l a n ( c o o r d . ) , L'histoire aujourd'
hui. Nouveaux objects de recherche. Courants et débats. Le métier d'historian, Paris,
Ed. S c i e n c e s H u m a i n e s , 1999, p . 1 1 3 - 1 1 8 .
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6
A tarefa m a i s c o m p l e t a foi e x e c u t a d a p o r C o l u m b a n o P i n t o R i b e i r o de C a s t r o ,
sobre T r á s - o s - M o n t e s (ver o m e u t r a b a l h o , intitulado Trás-os-Montes nos finais do século
XVIII, segundo um manuscrito de 1796, Lisboa, Instituto N a c i o n a l de Investigação
Científica, 1 9 8 1 ; 2." ed., L i s b o a , I N I C / F u n d a ç ã o C a l o u s t e G u l b e n k i a n , 1985).
7
J o r g e B o r g e s de M a c e d o , « U n i d a d e de p o d e r e d i v e r s i d a d e de s i t u a ç ã o n a s á r e a s
regionais em Portugal. Consequências metodológicas», Álvaro Matos e Raul Rasga
(coords.), Primeiras Jornadas de História Local e Regional (Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa), L i s b o a , E d . C o l i b r i , 1 9 9 3 , p. 11-33.
8
J o s é T e n g a r r i n h a , «Historiografia d o s e s t u d o s históricos locais em P o r t u g a l » , J o s e b a
Agirreazkuenaga e M i g k e l U r q u i i j o ( e d . ) , Perspectivas da Historia Local: Galicia e
Portugal, B i l b a u , S e r v i d o E d i t o r i a l , U n i v e r s i d a d del P a í s Vasco, 1996, p . 2 9 - 4 8 .
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9
A n t ó n i o D e l g a d o da S i l v a (dir.), Collecção official da legislação portuguesa. Armo
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d e L i s b o a ( B N L , E s p . E 2 0 , cx. 2), e n c o n t r a m - s e v á r i a s c a r t a s d i r i g i d a s p o r A d e l i n o d e
A b r e u ao a u t o r do Portugal Contemporâneo, d a t a d a s de M a i o e J u n h o de 1893.
13
Adelino de Abreu, Oliveira do Hospital. Traços histórico-críticos, Coimbra,
Imprensa da Universidade, 1893.
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14
"ABREU" (Adelino Júlio Mendes de), Grande Enciclopédia Portuguesa e
Brasileira, vol. I, L i s b o a - R i o de J a n e i r o , s.d., p. 115.
15
José da S i l v a P i c ã o , Através dos campos. Usos e costumes agrícolo-alentejanos
(concelho de Elvas), 2.ª ed., L i s b o a , N e o g r a v u r a , L i m i t a d a , 1947 (1.ª ed., 1 9 0 3 - 1 9 0 5 ) .
16
Jorge Borges de Macedo, «Alberto Sampaio no pensamento histórico português»,
Actas do Congresso 150 Anos do Nascimento de Alberto Sampaio», Câmara Municipal
de Guimarães, 1995, p. 414-415.
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17
sublinhado por José Tengarrinha . Começava então a ensaiar-se a
interdisciplinaridade que, mais tarde, viria a estar de novo na ordem do
dia.
A multiplicação dos trabalhos sobre história local, que iam sendo
publicados, induzia à reflexão sobre os métodos utilizados. Daí que
Manuel Silva, em 1913, sublinhando a inexistência de uma metodologia
destes estudos, propusesse a adopção de um "Esquema de história local".
Assim, após classificar a história local como uma "ciência subsidiária",
sugeria que se estudassem os múltiplos aspectos da realidade - de ordem
geológica, geográfica, económica, social e cultural -, explorando diversos
tipos de fontes, com o contributo das ciências que geralmente os utilizam.
Indicava, expressamente, as seguintes: geologia, antropologia, arqueo-
logia, etnografia e nomologia (fontes modernas, científicas); literatura,
diplomática e arte (fontes clássicas, literárias e artísticas).
Consciente da importância da história local e da urgente necessidade
de a tornar mais rigorosa, salientava: «Em assunto de tanta monta, pois
dele depende a solidez da construção de um monumento nacional, não
serão demasiadas todas as cautelas e o estabelecimento de uma apertada
fiscalização das origens e história das localidades. Muita coisa corre
com foros de autenticidade, quando não passa da esfera da anedota ou
da lenda: muitas datas se contradizem e muitos factos estão ainda eivados
de inexactidão que os falsificam e anulam, tudo porque, até há pouco,
História tem sido amontoar datas, nomes e ocorrências, sem contraprova
18
e sem assento racional de causas e efeitos» .
Entretanto, outros autores iam chamando a atenção para a história
local. São conhecidos, por exemplo, os alertas lançados por Possidónio
Mateus Laranjo Coelho (1877-1969), no estudo intitulado «Vantagens
17
Op. cit., p. 3 4 - 3 5 .
18
M a n u e l Silva, « S c h e m a d' historia l o c a l » . Revista de História, n. 7, J u l h o - S e t e m b r o
de 1913, p. 182-183 (sublinhado meu).
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19
S e p . de O Instituto, vol.73.°, n.° 3.
20
J. B o r g e s de M a c e d o , op. cit., p. 4 2 7 .
21
« A l o c u ç ã o d o P r e s i d e n t e d o Instituto, n a s e s s ã o i n a u g u r a l e m 2 5 d e M a r ç o d e
1 9 2 3 » , Boletim do Instituto Histórico da ilha Terceira, vol. 1, n.° 1, 1 9 4 3 , p. 2.
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22
Idem, p. 3. P a r a se o b t e r u m a v i s ã o m a i s c o m p l e t a a c e r c a da historiografia das
R e g i õ e s A u t ó n o m a s d o s A ç o r e s e da M a d e i r a e de o u t r a s ilhas atlânticas, ver A l b e r t o
Vieira, Guia para a história e investigação das Ilhas Atlânticas, Funchal, Centro de
E s t u d o s d e H i s t ó r i a d o A t l â n t i c o / S e c r e t a r i a R e g i o n a l d o T u r i s m o e C u l t u r a , 1995.
23
P a r a a referida e s t i m a t i v a , utilizei os e l e m e n t o s q u e c o n s t a m da Bibliografia Anual
de História de Portugal. 1989,1990, 1991, F a c u l d a d e de L e t r a s da U n i v e r s i d a d e de
Coimbra, 1992-1995.
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24
P e r e A n g u e r a , « I n t r o d u c c i ó n a la historia local c a t a l a n a » , P. R ú j u l a e I. Peiró
( c o o r d s . ) , op. cit., p. 11-12.
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25
A. C r o i x e D. Guyvarec'h, op. cit., p. 3 1 - 3 2 .
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3. 2. História docência
26
P. A n g u e r a , op. cit., p. 13.
27
J . B o r g e s d e M a c e d o , « A l b e r t o S a m p a i o - . . . » , cit., p . 4 1 9 .
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28
A l b a n o E s t r e l a , op. cit. ( n o t e x t o ) , p. 7-8 e 13.
29
A l m e i d a G a r r e t t , Viagens na minha Terra, L i s b o a ; P o r t u g á l i a E d i t o r a , 1 9 6 3 , p.
1 9 7 - 1 9 8 , apud J o s é M a r i a T e i x e i r a diz, op. cit., ( n o t e x t o ) , p. 4.
3 6 6 José A m a d o Mendes
Por último, mas não menos relevante, é o papel que a história local
tem a desempenhar nas questões relacionadas com o património cultural,
as memórias e a identidade.
Como é do conhecimento geral, a noção de património tem vindo a
ampliar-se consideravelmente, nas últimas décadas. De facto, começa a
generalizar-se a ideia, segundo a qual o património não diz respeito apenas
às instâncias políticas, militares e religiosas. Pelo contrário, contempla,
também, os domínios do trabalho e do quotidiano, da tecnologia e da
ciência, dos costumes e do lazer, do folclore e da gastronomia. Para
significar este alargamento do conceito de património, até já se inventou
um novo vocábulo: patrimonialização.
Obviamente que, para os diversos tipos de património possam ser
adequadamente valorizados, compete à história local estudá-los, sublinhar
30
Idem, p. 5.
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31
A n d r é D e s v a l l é s , « O r i g e n y significados de la p a l a b r a p a t r i m o n i o » , Musées et
Collections Publiques de France, n.° 2 o 8 , P a r i s , 1 9 9 5 , p. 12, apud P. R ú j u l a e I. P e i r ó
( c o o r d s . ) , op. cit., p. 4 6 6 .
32
Ver o m e u artigo, intitulado «Para u m a n o v a história local: Reflexões e
p e r s p e c t i v a s » , Beira Alta, v o l . X L I X , fascs. 1 e 2 , 1 9 9 0 , p. 125-134. S o b r e a p r o b l e m á t i c a
da história local, ver a i n d a : L u í s R e i s Torgal, « H i s t ó r i a . . . Q u e H i s t ó r i a s ? » , Revista de
História das ideias, vol. 9, t. 3.°, 1987, p. 8 4 3 - 8 6 7 ; A n t ó n i o de O l i v e i r a , « P r o b l e m á t i c a
da história l o c a l » . S e p . do C o l ó q u i o O Faial e a periferia açoriana nos séculos XV a
XIX, N ú c l e o C u l t u r a l da H o r t a , 1 9 9 5 ; e A r m a n d o B. M a l h e i r o da Silva, O Minho nas
monografias (Sécs. XIX-XX). Notas para uma visão sistemática dos estudos locais. Sep.
de Bracara Augusta, 9 4 / 9 5 ( 1 9 9 1 - 9 2 ) , p. 2 7 - 9 6 .
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