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CURSO DE SISTEMAS DE

INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS
APLICADOS AOS RECURSOS
NATURAIS

MÓDULO I - Capítulo 1

Profª Ana Paula Dalla Corte

CURITIBA
2010
ÍNDICE

Princípios do Sensoriamento Remoto

Sistemas de Sensores

Estrutura Básica de Dados no Sensoriamento Remoto

Comportamento Espectral dos Alvos

Principais Sensores Remotos

Principais Procedimentos para Uso das Imagens de Satélite

Aplicação do Sensoriamento Remoto


PRINCIPIOS DO SENSORIAMENTO REMOTO

Ondas Eletromagnéticas e Espectro Eletromagnético

Experiências de Newton constataram que um raio luminoso (luz branca),


ao atravessar um prisma, desdobrava-se num feixe colorido - um espectro de
cores (Figura 1). Desde então os cientistas foram ampliando os seus estudos a
respeito desta temática e verificaram que a luz branca era uma síntese de
diferentes tipos de luz, uma espécie de onda composta, basicamente, de muitas
ondas de diferentes intensidades. Descobriram ainda que cada cor decomposta
no espectro correspondia a uma temperatura diferente, e que a luz vermelha
incidindo sobre um corpo, aquecia-o mais do que a violeta. Além do vermelho
visível, existem radiações invisíveis para os olhos, que passaram a ser ondas,
raios ou ainda radiações infravermelhas. Logo depois, uma experiência de Titter
revelou outro tipo de radiação: a ultra-violeta. Sempre avançando em seus
experimentos os cientistas conseguiram provar que a onda de luz era uma onda
eletromagnética, mostrando que a luz visível é apenas uma das muitas diferentes
espécies de ondas eletromagnéticas.

Violeta: 0.4 - 0.446 m


Azul: 0.446 - 0.500 m
Verde: 0.500 - 0.578 m
Amarelo: 0.578 - 0.592 m
Laranja: 0.592 - 0.620 m
Vermelho: 0.620 - 0.7 m

Figura 1 – Feixe luminoso de luz decompondo-se em outros feixes de cores.

As ondas eletromagnéticas as quais trataremos por radiação eletromagnética


(REM), podem ser consideradas como assinaturas do Sensoriamento Remoto. A
radiação eletromagnética se comporta de acordo com os fundamentos de teoria
de onda e consiste de um campo elétrico (E) que varia em magnitude em uma
direção perpendicular à direção na qual a radiação está viajando, e um campo
magnético (M) orientado em ângulo reto com o campo elétrico (Figura 2). Elas
não apenas captam as Informações pertinentes às principais características das
feições terrestres, como também as levam até os satélites. A radiação
eletromagnética pode ser definida como sendo uma propagação de energia, por
meio de variação temporal dos campos elétrico e magnético. A completa faixa de
comprimentos de onda e de freqüência da REM é chamada de espectro
eletromagnético (Figura 3).
A principal fonte de radiação eletromagnética para os sensores passivos (que
dependem de outra fonte de energia eletromagnética) é o sol e, portanto, ele faz
com que o uso de grande parte das técnicas de sensoriamento remoto seja
passiveis de aplicação.

Figura 2 - Radiação eletromagnética, onde C=velocidade de propagação


(velocidade da luz), E= campo elétrico e M=campo magnético.
Fonte: CCRS (2004).

Figura 3 – Espectro eletromagnético com destaque para a região do visível.


Fonte: Richards (2006)

Assim, para que seja possível de aplicação de alguma técnica de


sensoriamento remoto é necessário que exista: sensor que tem a capacidade de
registrar a informação da energia eletromagnética refletida pelo alvo, que exista
energia eletromagnética para o alvo refletir e o próprio alvo.

Radiação Solar, Atmosfera Terrestre e Energia Eletromagnética

Quando a radiação solar penetra na atmosfera terrestre ela sofre


atenuações causadas por: reflexão, espalhamento e absorção pelos constituintes
atmosféricos, por partículas dispersas e nuvens (Figura 4). Os gases presentes
na atmosfera apresentam capacidade de absorção muito variável em relação ao
comprimento de onda da energia solar incidente no sistema terra-atmosfera e da
energia emitida pela superfície terrestre. Conforme MORAES (ver) esta interação
da energia com a atmosfera pode ser comparada com uma cortina que age como
um filtro e, dependendo de seu tecido, atenua ou até mesmo impede a passagem
da luz. Neste caso os diferentes tipos de tecidos da cortina poderiam ser
comparados com os diferentes gases existentes na atmosfera terrestre, os quais
atenuam a energia eletromagnética diferentemente. Isso faz com que a radiação
global que chega à superfície terrestre esteja fortemente atenuada.

Figura 4 – Causas da atenuação da energia solar ao atravessar a


atmosfera terrestre.

A Figura 5 mostra a distribuição do espectro de energia eletromagnética do


Sol no topo da atmosfera e na superfície terrestre observada ao nível do mar. As
áreas sombreadas representam as absorções devido aos diversos gases
presentes numa atmosfera limpa. Os principais gases absorvedores da radiação
eletromagnética são vapor d’água (H2O), oxigênio (O2), ozônio (O3) e gás
carbônico (CO2). Os gases CO, CH4, NO e N2O ocorrem em pequenas
quantidades e também exibem espectros de absorção (MORAES, s/n).
Figura 5 – Distribuição do espectro de energia eletromagnética do Sol no topo da
atmosfera e na superfície ao n.m.m.
Ainda MORAES (s/n) complementa que cerca de 70% da energia solar
está concentrada na faixa espectral compreendida entre 0,3 e 0,7 m e como a
atmosfera absorve muito pouco nesta região, grande parte da energia solar atinge
a superfície da Terra. Também existem regiões no espectro eletromagnético para
os quais a atmosfera é opaca (absorve toda a energia eletromagnética). Na
região do ultravioleta e visível, o principal gás absorvedor da energia
eletromagnética solar é o ozônio (O3), o qual protege a terra dos raios
ultravioletas que são letais a vida vegetal e animal. Na região do infravermelho os
principais gases absorvedores são o vapor d’água (H2O) e o dióxido de carbono
(CO2). Ainda, existem regiões do espectro eletromagnético onde a atmosfera
quase não afeta a energia eletromagnética, isto é, a atmosfera é transparente à
energia eletromagnética proveniente do Sol ou da superfície terrestre. Estas
regiões são conhecidas como janelas atmosféricas. Nestas regiões são colocados
os detectores de energia eletromagnética, e, portanto onde é realizado o
sensoriamento remoto dos objetos terrestres.

As interações da energia eletromagnética com os constituintes


atmosféricos influenciam a caracterização da energia solar e terrestre disponíveis
para o sensoriamento remoto de recursos naturais. A energia eletromagnética ao
atingir a atmosfera é por esta espalhada, e parte desta energia espalhada retorna
para o espaço vindo a contaminar a energia refletida ou emitida pela superfície e
que é detectada pelos sensores orbitais. Abaixo na Figura 6 está apresentado um
esquema da energia eletromagnética do sol e a parte correspondente ao
armazenamento pelo sensor remoto.
(a)

(b)

(c)

Figura 6 – Representação esquemática da emissão de energia eletromagnética


solar e a parte captada pelo sensor remoto. (a) reflexão; (b) absorção; (c)
transmissão.

b
SISTEMAS DE SENSORES

Existem diferentes possibilidades de classificação dos sensores remotos.


Abaixo na Figura 7 está apresentado um exemplo de agrupamento dos sensores
em função de algumas características apresentadas e de funcionamento.

Figura 7 – Exemplo de classificação dos sensores remotos.

No primeiro nível de classificação podemos considerá-los como passivos e


ativos. A diferença entre os dois é explicada em função da fonte de energia
eletromagnética. Os sensores passivos não possuem fonte própria de radiação,
detectando apenas a radiação solar refletida, emitida ou transmitida pelos objetos
da superfície. Desta forma, dependem de uma fonte de energia externa (em geral
o Sol) para que possam operar. São exemplos destes sensores os satélites de
imageamento e as câmaras aerofotogramétricas (Vide Figura 8).

(a) Sensores ativos (b) Sensores passivos


Figura 8 – Exemplificação dos sistemas de sensores conforme a fonte de energia.
Os sensores ativos são aqueles que produzem sua própria radiação
eletromagnética, emitindo-a e depois registrando a resposta que retorna após
interação com o alvo. Em geral eles trabalham em faixas restritas do espectro
eletromagnético. São exemplos de sensores nessa situação: radar e laser.
Ainda, podemos classificá-los de acordo com seu princípio de
funcionamento, ou seja, entre: não imageadores (não formadores de imagens) e
imageadores (formadores de imagens). Os sensores não imageadores não geram
imagem da superfície sensoriada, mas sim, gráficos ou dígitos, que são
transferidos para um computador acoplado. São essenciais para aquisição de
informações precisas sobre o comportamento espectral dos objetos (Figura 9).

Figura 9 – Exemplo de radiômetro sendo utilizado.


Fonte:

Os sensores imageadores formam imagem da superfície observada como


resultado. Fornecem informações sobre a variação espacial da resposta espectral
da superfície observada. São geralmente programados para funcionamento
automático por longo período e geralmente estão a bordo de aeronaves ou
satélites. É exemplo deste sistema: satélite de imageamento, aerofotogrametria,
entre outros.

Figura 10 – Exemplo de sensor imageadores.


Ainda, podemos classificar os sensores imageadores em: sistema de
quadro (framing systems) e sistema de varredura (scanning systems). Os
sistemas de quadro adquirem a imagem da cena em sua totalidade num mesmo
instante e, o sistema de varredura a imagem da cena é formada pela aquisição
seqüencial dos elementos de resolução, também chamados pixels.

(a) (b)
Figura 11 – Exemplo dos sensores de sistema de quadro (a) e do sistema de
varredura (b).

Em geral os sensores mais utilizados para análises ambientais estão


classificados como sistemas de varreduras. Assim, neste sistema, existem as
faixas de varredura e cada faixa é dividida em algumas células ou pixels conforme
Figura 12 abaixo. Assim, para cada unidade espacial são atribuídos valores
inteiros (intensidades) correspondentes a energia eletromagnética daquele
terreno. Após ter sido concluída uma faixa de varredura

Dois fatores importantes relacionados ao nível de aquisição dos dados são:


geometrias de iluminação e de visada. A primeira refere-se ao posicionamento da
fonte de radiação eletromagnética em relação ao objeto, enquanto que a segunda
refere-se ao posicionamento do sensor. Os níveis e as geometrias condicionam
as medidas, de modo que os resultados obtidos são específicos para aquelas
situações.
bandas

faixa de varredura

Figura 12 – Exemplo do funcionamento do sistema de imageamento por


varredura.
ESTRUTURA BÁSICA DE DADOS NO
SENSORIAMENTO REMOTO

DADOS ESPACIAS

Os dados espaciais podem ser classificados basicamente em duas formas


distintas sendo: Vetorial (Vector) e Matricial (Raster) sendo o último o que
representa os dados advindos do sensoriamento remoto. Na Figura 13 está
representado um exemplo dos dados espaciais.

Vetorial

Ponto Linha Polígono

Matricial

Sensoriamento
remoto

Figura 13 – Representação dos dados espaciais.

VETORIAL

O matemático define o vetor como uma quantidade com coordenada inicial,


deslocamento e direção, associados. Na descrição dos dados espaciais,
baseados em vetores, supõe-se que um elemento pode ser localizado em
qualquer local, sem obrigação como no modelo matricial. CAMARA et al. (1996)
complementa ainda que na verdade, esta estrutura está baseada em elementos
pontos, cujas localizações são conhecidas numa precisão arbitrária, diferente da
matricial que foi previamente descrita. Por exemplo, armazenar um círculo na
estrutura matricial deve-se encontrar e codificar todas as celdas cujas
localizações correspondem ao perímetro do círculo; já no modelo vetorial além de
ser mais eficiente na quantidade de dados e apresentar maior precisão, o círculo
é definido como uma entidade geométrica círculo.
Desta forma no modelo vetorial existem três formas básicas: pontos, linhas
e áreas ou polígonos. Internamente, um SIG representa os pontos, linhas e áreas
como conjuntos de pares de coordenadas (X,Y) ou (Longitude, Latitude). Os
pontos são representados por apenas um par. Linhas e áreas são representadas
por seqüências de pares de coordenadas, sendo que nas áreas o último par
coincide exatamente com o primeiro.

Elementos Pontuais: Os elementos pontuais abrangem todas as


entidades geográficas que podem ser perfeitamente posicionadas por um único
par de coordenadas (X,Y). Estabelecem a sua localização no espaço,
considerado como superfície plana. Entretanto, além das coordenadas, outros
dados (não gráficos) devem ser arquivados para indicar de que tipo de ponto se
está tratando.
Linhas: Os elementos lineares são, na verdade, um conjunto de pelo
menos dois pontos. Além das coordenadas dos pontos que compõem a linha,
devem-se armazenar informações que indiquem de que tipo de linha se está
tratando, ou seja, a que atributo ela está associada.
Polígonos: Áreas ou polígonos podem ser representados de várias
maneiras em formato vetorial. O objetivo da estrutura poligonal é descrever as
propriedades topológicas de áreas como forma, vizinhança, hierarquia, etc, de tal
maneira que os atributos associados aos elementos areais possam ser
manipulados da mesma forma que em um mapa temático analógico.

MATRICIAL

O formato de armazenamento de dados oriundos do sensoriamento remoto


diz respeito ao matricial o raster. Neste formato, tem-se uma matriz de células, às
quais estão associados valores, que permitem reconhecer os objetos sob forma
de imagem digital. Cada uma das células, denominada pixel, é endereçável por
meio de suas coordenadas (linha, coluna). CAMARA et al. (1996) comenta que a
participação do espaço na estrutura raster é obtida através de uma malha com
linhas verticais e horizontais espaçadas regularmente, formando celdas. Estas
celdas também são chamadas de pixels ou quadrículas e geralmente possuem
dimensões verticais e horizontais iguais, que definem a resolução espacial da
malha, ou seja, a área abrangida no terreno por cada pixel.
É possível associar o par de coordenadas da matriz (coluna, linha) a um
par de coordenadas espaciais, (X,Y) ou (Longitude, Latitude). Cada um dos pixels
está associado a valores. Estes valores serão sempre números inteiros e
limitados, geralmente entre 0 e 255 (nas imagens de 8 bits). Os valores são
utilizados para definir uma cor para apresentação na tela ou para impressão.
Em uma imagem obtida por satélite, cada um dos sensores é capaz de
captar a intensidade da reflexão de radiação eletromagnética sobre a superfície
da Terra em uma específica faixa de freqüências. Quanto mais alta a reflectância,
no caso, mais alto será o valor do pixel.
Os principais componentes mais importantes de uma estrutura de dados
matricial são:
• Resolução Espacial
• Resolução Temporal
• Resolução Espectral
• Resolução Radiométrica
Resolução espacial: é a mínima dimensão linear da menor unidade de um
espaço geográfico nos quais os dados são registrados. A menor unidade usada é
retangular sendo que esta unidade pequena é conhecida como grid, celda,
quadrícula, célula ou pixel. A palavra pixel é derivada do termo em inglês “picture
element” (elemento de foto). O arranjo espacial dessas celdas é conhecido como
matriz, raster ou grade. Desta forma, haverá alta resolução quando essas celdas
apresentarem dimensões muito pequenas. Assim, alta resolução significa
quantidade de detalhes, quantidade de celdas, grandes matrizes e celdas bem
pequenas. Abaixo na Figura 14 estão apresentados alguns exemplos de satélites
e suas respectivas resoluções espaciais.
Um exemplo comum de pixels pequenos pode ser observado em um
monitor de computador ou na tela de televisão. As imagens nestas telas não são
“sólidas”, mas sim compostas por milhares de pontos muito pequenos chamados
pixels, que vistos à distância nos dão a impressão de formarem uma imagem
sólida. É importante distinguir entre tamanho do pixel e resolução espacial - eles
não são intercambiáveis. Por exemplo, se um sensor tem uma resolução espacial
de 30 metros e a imagem deste sensor for exibida com resolução total, cada pixel
representa uma área de 30m x 30m no terreno (900 m²). Neste caso o tamanho
do pixel e a resolução são o mesmo. Porém, é possível exibir uma imagem com
um tamanho de pixel diferente da resolução espacial. Muitas impressões de
imagens de satélite do terreno têm o tamanho dos pixels calculados para
representar áreas maiores, embora a resolução espacial original do sensor que
gerou a imagem permaneça a mesma. Imagens em que somente os objetos
maiores são visíveis são ditas de resolução espacial grossa ou baixa.

Figura 14 – Representação da resolução espacial de alguns satélites.

De maneira geral pode-se dizer que quanto melhor a resolução espacial,


menor a área de terreno que pode ser vista pela imagem. A razão entre a
distância em uma imagem ou mapa, para distância real no terreno é chamada
Escala. Se você tivesse um mapa com uma Escala de 1:10.000, um objeto de
1cm de tamanho no mapa seria de fato um objeto de 10.000cm ou de 100m de
tamanho no solo.
Assim, se a resolução espacial de um sensor for de 1.000 m x 1.000 m
então, a reflectância dos alvos no interior deste pixel será captada e um essa
célula assumirá um valor único de tudo que refletiu neste local (Figura 15).
Figura 15 – Representação esquemática da atribuição da reflectância de um pixel.
Fonte: MOREIRA, 2004.

Resolução temporal: trata-se do período de re-visita de um sensor de


satélite por uma mesma área no terreno. Então, a resolução temporal absoluta de
um sistema de sensoriamento remoto é igual ao período entre a primeira
passagem e a segunda passagem do sensor sobre uma área com o mesmo
ângulo. Porém, por causa da sobreposição entre órbitas adjacentes para a
maioria dos satélites e devido ao aumento da sobreposição à medida que a
latitude cresce, algumas áreas da Terra são imageadas mais freqüentemente.
Conforme BATISTA e DIAS (2005) a habilidade de se obter imagens da mesma
área da Terra em períodos diferentes de tempo é um dos mais importantes
elementos em aplicações de dados de sensoriamento remoto. Características
espectrais de feições podem mudar com o passar do tempo e estas mudanças
podem ser detectadas obtendo-se e comparando-se imagens multi-temporais. Por
exemplo, durante a estação de crescimento, a maioria dos vegetais está em um
estado contínuo de mudança e nossa habilidade para monitorar essas mudanças
usando sensoriamento remoto é função de quando e da freqüência em que nós
obtemos imagens da área monitorada.
A resolução temporal é de fundamental importância quando se pretende
monitorar processos dinâmicos como, por exemplo: a ocorrência de incêndios ou
queimadas em áreas florestais, desmatamentos, derramamento de óleo no
oceano, mudanças no desenvolvimento das culturas e o crescimento de uma
cidade.
Da mesma forma em que a resolução espacial das imagens deve ser
associada a uma escala espacial para uma determinada aplicação, a escolha da
resolução temporal deve ser coerente com a escala temporal e dinamismo do
processo que está sendo monitorado.
Resolução espectral: é a habilidade de um sensor definir intervalos de
comprimento de onda distintos. Quanto melhor a resolução espectral, mais
estreita será o intervalo de comprimento de onda para um canal, banda ou faixa
(Figura 3).
Os diferentes alvos podem representados de várias cores com base na
reflectância dos mesmos em cada comprimento de onda distinto da luz visível.
Muitos sistemas de sensoriamento remoto registram energia ao longo de
intervalos separados de comprimentos de onda com várias resoluções espectrais
distintas. Desta forma, são chamados sensores multiespectrais. Atualmente
existem sistemas bastante avançados em termos multiespectrais são os
chamados sensores hiperespectrais, que cobrem centenas de bandas espectrais
muito estreitas ao longo do visível, infravermelho próximo, e porções do
infravermelho médio do espectro eletromagnético. A resolução espectral alta
facilita a discriminação entre alvos diferentes com base nas suas respostas
espectrais em cada banda (Figuras 16 e 17).
A resolução espectral dos sensores indica a quantidade de regiões do
espectro eletromagnético nas quais o sensor é capaz de gerar uma imagem de
níveis (intensidades) de cinza. Estas imagens denominam-se bandas espectrais.
Cada uma destas imagens representa a energia registrada pelos detectores do
sensor numa determinada região do espectro eletromagnético. Assim, quanto
maior a quantidade de bandas ou imagens geradas, maior será a resolução
espectral sensor. Cada objeto interage de maneira diferente frente a energia
eletromagnética e por este fato, é possível separá-los ou gerar padrões de
identificação através deste comportamento.

Figura 16 – Representação dos diferentes comprimentos de onda.


Figura 17 – Representação dos diferentes comprimentos de onda e as
respectivas bandas de um sensor.

Não podemos deixar de mencionar também as bandas espectrais (tons de


cinza) e a combinação das mesmas para formação de uma imagem colorida. A
combinação de pelo menos 3 bandas preto e branco forma uma imagem colorida,
sendo que cada uma das bandas deverá estar associada a uma das cores
fundamentais (azul, vermelho e verde) conforme está apresentado na Figura 18.

Figura 18 – Exemplo de bandas formando uma imagem colorida.


Resolução radiométrica: O número de bits utilizado para armazenar os números
digitais define a resolução radiométrica de uma imagem. Esta indica a quantidade
máxima de níveis de cinza que podem ser utilizados para representar uma
imagem. Por exemplo, uma imagem é formada por números digitais de 8 bits, o
total de níveis de cinza para representar a imagem será 256 ( 28 = 256). Desta
forma, a imagem será identificada como tendo uma resolução radiométrica de 8
bits, na qual o valor zero é associado à cor preta e o valor 255 à cor branca
(Figura 19). Os níveis intermediários aparecem em uma escala de tons de cinza,
do mais escuro (nível 1) ao mais claro (nível 254).
Outro exemplo que pode ser citado são as imagens de 1 bit, ou seja, existe
a possibilidade de representação somente como 0 ou 1. Com 2 bits poderemos
ter 4 representações (00, 01, 10, 11). Com 3 bits poderemos ter 8 representações
e assim por diante. Assim, o número de representações possíveis é de 2n, sendo
que n é o número de bits utilizado. Os sensores normalmente obtém imagens em
8 ou 10 bits (equivalente a 256 ou 1024 níveis digitais). Em sensores modernos
como no caso do satélite IKONOS a radiância é representada por 11 bits (2048
níveis de cinza).
0 Níveis de Cinza 255

Figura 19 – Representação dos níveis de cinza em uma imagem de 8 bits.

1 byte = 8 bits (256 representações)


1 Kilobyte (Kb) = 1024 bytes
1 Megabyte (Mb) = 1024 Kb
1 Gibabyte (Gb) = 1024 Mb
1 Terabyte (Tb) = 1024 Gb
COMPORTAMENTO ESPECTRAL DOS ALVOS

Assim, a reflexão dos comprimentos de onda acontece em quantidades


diferentes para cada tipo de material ou objeto, o que permite estabelecer uma
caracterização espectral de cada um deles (Figura 20). Estes gráficos
representam comportamentos médios e servem para ilustrar a maneira com que
diferentes alvos se comportam frente a energia eletromagnética incidente. Desta
forma, caso seja necessária a interpretação com foco em algum alvo especifico
fica facilitada a seleção de quais comprimentos espectrais deverão ser
selecionados para que os mesmos sejam estudados. Ao comportamento médio
de um determinado alvo também denominamos assinatura espectral.

Figura 20 – Representação da reflectância para diferentes alvos imageados.


Para iniciarmos o assunto de comportamento espectral dos alvos é
importante frisar o que esta sendo avaliado e caracterizá-lo de forma significativa,
ou seja, entender quais são as diferenças e semelhanças com outros alvos
estudados no âmbito do sensoriamento remoto. Assim, quando falamos nos
principais alvos podemos citar: água, solos, rochas, culturas agrícolas (perenes
ou temporárias), vegetação (nativa, plantadas em diferentes idades), áreas
edificadas, entre outros. Cada um destes alvos possui influência maior ou menor
do ser humano e, a medida que essa influência passa a ser maior, também maior
será o padrão identificado através das imagens de satélite.
Ainda, cabe destacar a característica do estado físico dos alvos avaliados.
Assim, os vegetais, as rochas, os solos estão quase que em suas totalidades em
estados sólidos, já a água é um alvo no estado líquido e por este fato reflete muito
menos energia na faixa do visível do que o restante dos alvos. Estas
características inferem comportamentos distintos também frente a energia
eletromagnética.
Quando analisamos os comportamentos espectrais frente as diferentes
bandas podemos chegar à situações semelhantes aquelas apresentadas nas
Figuras 21 e 22. Nestas Figuras é possível separar os comportamentos do
diferentes alvos frente as diferentes bandas avaliadas e desta forma generalizar
os comportamentos das amostras para serem aplicados em uma possível
classificação posterior de imagem de satélite.

Vegetação

Solo

Água

Figura 21 – Exemplo de amostras de cada grupo de alvos avaliados – clusters.


Fonte: Richards, 2006.
Vegetação

solo

Solo 1
Solo 3

Solo 2
Água 1 Água 2

Figura 22 – Exemplo de amostras de cada grupo de alvos avaliados – clusters.


Fonte: Richards, 2006.

Água
Da mesma forma, quando avaliamos, por exemplo, somente a água (que
se encontra em estado líquido) tem ainda grandes variações em termos de
comportamento espectral. Este fato decorre principalmente da explicação que
quando estudamos a água em geral temos interesses em identificar os
componentes que se encontram dissolvidos ou em suspensão.
Assim, essas identificações passam a dar indicativos de comportamentos
de sistemas mais complexos envolvidos no meio aquático. Assim, conforme se
observa na Figura 6 conforme as concentrações de sólidos em suspensão variam
o comportamento espectral da água também é modificado.
Desta forma, quanto maior a quantidade de sólidos em suspensão, maior
será a reflectância do alvo em todos os comprimentos de onda. Em composições
coloridas, água com maior concentração de sólidos em suspensão apresentará
coloração amarelada conforme Figura 23.

Figura 23 – Comportamento espectral da água sob diferentes concentrações de


sólidos em suspensão na composição BGR:TM1TM2TM3. Fonte:
Solos

Quando falamos em comportamento espectral dos solos temos que


mencionar os diversos fatores que influenciam as respostas espectrais nesse
alvo. As principais características que influenciam o comportamento deste alvo
são: tipo de solo (Latossolo, Cambissolo, entre outros...), teores de argila, silte e
areia, composição mineralógica do solo, teor de umidade e textura, teor de
matéria orgânica, coloração do solo, entre outros. Abaixo na Figura 24 está
apresentado um exemplo de quanto pode variar o comportamento deste alvo
frente as diferentes concentrações de água e óxido de ferro.

O teor de umidade do solo afeta sua reflectância em todos os


comprimentos de onda sendo que quanto maior o teor de umidade menor será a
reflectância do solo em todos os comprimentos de onda.

• (b)

Figura 24 – Exemplos de diferentes concentrações de umidade (a) e


concentrações de óxido de ferro (b).

Vegetação

A vegetação, de forma geral, absorve muito da radiação visível incidente,


principalmente o azul e o vermelho. Parte da radiação verde também é absorvida,
mas em menor quantidade do que as duas outras regiões. Como uma parte da
radiação verde é refletida pela vegetação, nós vemos a vegetação com maior
intensidade na cor verde. Mas na verdade a vegetação reflete uma quantidade
bem maior da radiação infravermelha, principalmente do infravermelho próximo.

Antes de começarmos explicar o comportamento da vegetação é importante


destacar que na coleta de informações a partir de sensores remotos a principal
característica captada é a “aparência” do dossel da floresta, composto por
diversos componentes como: folhas, galhos, frutos, miscelâneas, entre outros. No
entanto, a maior parte do comportamento da vegetação é explicado pelo
comportamento das folhas. Assim, para melhor compreender as características
da vegetação é necessário falar sobre a morfologia da folha (arranjos e
quantidade de tecidos, espaços intercelulares) e sua composição química (tipo e
quantidade de pigmentos).
Uma folha típica é constituída de três tecidos básicos que são: epiderme, mesófilo
fotossintético e tecido vascular (Figura 25). A folha é então coberta por uma
camada de células protetoras epidérmicas, na qual muitas vezes desenvolve-se
uma fina e relativamente impermeável superfície externa. Abaixo da epiderme
encontra-se o mesófilo fotossintético, o qual por sua vez é freqüentemente
subdividido numa camada ou em camadas de células paliçádicas alongadas,
arranjadas perpendicularmente à superfície da folha, que formam o parênquima.

Epiderme
Parênquima paliçádico
Espaços intercelulares

Parênquima lacunoso

Estômatos

Figura 25 – Exemplo da morfologia de uma folha de um vegetal.

Esparsos através do mesófilo estão os espaços intercelulares cheios de ar,


os quais se abrem para fora através dos estômatos. Esta rede de passagens de
ar constitui a via de acesso pela qual o CO2 alcança as células fotossintéticas e o
O2 liberado na fotossíntese retorna à atmosfera externa. Uma terceira
característica estrutural da folha é o tecido vascular. A rede de tecidos do sistema
vascular não serve somente para suprir a folha com água e nutrientes do solo,
mas também constitui a passagem pela qual fluem os produtos da fotossíntese
que são produzidos na folha, para as demais partes da planta. As estruturas das
células que compõem os três tecidos das folhas são muito variáveis, dependendo
da espécie e das condições ambientais.

A curva de reflectância característica de uma folha verde sadia é mostrada na


Figura 26. Os comprimentos de onda relativos ao ultravioleta não foram
considerados, porque uma grande quantidade dessa energia é absorvida pela
atmosfera e a vegetação não faz uso dela.

Conforme PONZONI (2007) os principais aspectos relacionados ao


comportamento espectral da folha, em cada uma destas regiões são:

• região do visível: Nesta região os pigmentos existentes nas folhas


dominam a reflectância espectral. Estes pigmentos, geralmente
encontrados nos cloroplastos são: clorofila (65%), carotenos (6%), e
xantofilas (29%). Os valores percentuais destes pigmentos existentes
nas folhas podem variar grandemente de espécie para espécie. A
energia radiante interage com a estrutura foliar por absorção e por
espalhamento. A energia é absorvida seletivamente pela clorofila e é
convertida em calor ou fluorescência, e também convertida
fotoquimicamente em energia estocada na forma de componentes
orgânicos através da fotossíntese;

• região do infravermelho próximo: Nesta região existe uma absorção


pequena da REM e considerável espalhamento interno na folha. A
absorção da água é geralmente baixa nessa região. A reflectância
espectral é quase constante nessa região. Gates et al. (1965)
determinam que a reflectância espectral de folhas nessa região do
espectro eletromagnético é o resultado da interação da energia
incidente com a estrutura do mesófilo. Fatores externos à folha, como
disponibilidade de água, por exemplo, podem causar alterações na
relação água no mesófilo, podendo alterar a reflectância de uma folha
nesta região. De maneira geral, quanto mais lacunosa for a estrutura
interna foliar, maior será o espalhamento interno da radiação incidente,
e conseqüentemente, maior será também a reflectância;

• região do infravermelho médio: A absorção devido à água líquida


predomina na reflectância espectral das folhas na região do
infravermelho próximo. Considerando a água líquida, esta apresenta na
região em torno de 2000 nm, uma reflectância geralmente pequena,
sendo menor do que 10% para um ângulo de incidência de 65o e menor
do que 5% para um ângulo de incidência de 20º A água absorve
consideravelmente a REM incidente na região espectral compreendida
entre 1300 nm a 2000 nm. Em termos mais pontuais, a absorção da
água se dá em 1100 nm; 1450 nm; 1950 nm; 2700 nm e 6300 nm.

Figura 26 - Curva de reflectância típica de uma folha verde.

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