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ESTATUTO DOS OBLATOS SECULARES DA

CONGREGAÇÃO BENEDITINA
DO BRASIL
(basicamente os Oblatos Seculares Beneditinos seguem este Estatuto)
Capítulo I
OBLATOS
1. O Oblato Beneditino é o cristão (leigo ou sacerdote) que, chamado por
Deus, procura viver coerentemente o Batismo, a Confirmação e a
Eucaristia dentro do espírito da Regra de São Bento; nos ditames desta
encontra alimento e estímulo para tender à perfeição evangélica e à
glorificação do Criador.
2. A atitude de oblação (ao Senhor) é decorrente, para todo cristão, de sua
inserção na Igreja pelo Batismo e de sua participação na Celebração
Eucarística. Com efeito, o cristão, na Santa Missa, renova sua oblação ao
Pai, em união com a de Cristo. É essa oblação sacramental que o cristão
deve reafirmar e exercitar no decorrer de sua vivência cotidiana.
3. Os oblatos são membros da comunidade do respectivo mosteiro; não
constituem associação religiosa nem Ordem Terceira. Participam dos bens
espirituais do cenóbio e procuram, na medida do possível, acompanhar a
vida do mosteiro.
4. Qualquer mosteiro autônomo de monges ou monjas da Congregação
Beneditina Brasileira tem o direito de receber oblatos.
A palavra oblato vem do latim oblatus, "oferecido". Na Regra de São
Bento, tal vocábulo designa os meninos oferecidos por seus genitores
para o serviço de Deus no mosteiro (cf. cap. 59; São Gregório
Magno, Diálogos, I, II). Aos poucos o termo "oblato" passou a
designar fiéis que, desejosos de viver mais plenamente a vida cristã,
se filiam a determinado mosteiro. Os que passam a morar no próprio
cenóbio são chamados "oblatos regulares", ao passo que aqueles que
continuam no século são ditos "oblatos seculares".
Capítulo II
A OBLAÇÃO
1. A oblação é o ato pelo qual um cristão se oferece a Deus e se torna
membro efetivo de uma comunidade monástica, se bem que a título
diferente do monge.
2. O oblato torna-se irmão dos monges e se considera como testemunha do
espírito da Regra no mundo. Este liame não dispensa o oblato das
responsabilidades humanas (familiares, profissionais, sociais, etc.) e cristãs
(eclesiais e paroquiais) nem o sujeita à jurisdição do abade.
3. Entre a comunidade monástica e o oblato deve existir intensa comunhão
de orações, sacrifícios e serviço.
4. A oblação não é profissão religiosa nem implica voto público ou
particular; pressupõe, todavia, propósito maduro e estável da vontade, a
Deus manifestado perante a Igreja e confirmado mediante rito sagrado.
5. O pedido do cristão para tornar-se oblato supõe a existência de laços
espirituais com o mosteiro ao qual deseja vincular-se. Pode tornar-se oblato
todo fiel cuja maturidade espiritual, no julgamento do abade ou do seu
delegado, seja capaz de pesar o alcance deste compromisso.
6. Só poderá ser recebido no noviciado o postulante que tiver completado
dezoito anos de idade e não pertencer simultaneamente a uma Ordem
Terceira.
7. Antes de chegar à oblação monástica, o candidato deverá percorrer um
período de preparação, assim estruturado:
1º) postulantado, que terá a duração mínima de seis meses e a
máxima de um ano;
2º) noviciado, que durará um ano, mas poderá ser prolongado
a critério do diretor dos oblatos, depois do que ou será admitido
o noviço à oblação ou serão extintos os efeitos estatutários do
noviciado.
8. O abade do mosteiro ou um monge por ele delegado exercerá as funções
dos oblatos. Este procurará acompanhar o crescimento espiritual dos
oblatos, dos noviços, dos postulantes e dos candidatos. Aos formandos, o
Diretor ministrará regularmente conferências sobre a Santa Regra, os
Salmos e outros temas relacionados com a vida monástica. O futuro oblato
deve aproveitar especialmente o período de formação para aprofundar-se
no conhecimento da vida cristã e impregnar-se do espírito da Santa Regra.
Para tanto, recorrerá à oração, ao estudo, às leituras, às reuniões e a outros
meios convenientes.
9. O diretor poderá designar como auxiliares, na formação dos candidatos,
postulantes e noviços, oblatos experimentados e observantes.
10. Compete ao abade ou a seu delegado decidir sobre a admissão, ou não,
de postulantes ao noviciado ou de noviços à oblação.
11. O oblato poderá, se o desejar, transferir-se de um mosteiro para outro,
desde que haja o consentimento dos respectivos abades.
12. A oblação realizar-se-á, de preferência, durante o Santo Sacrifício da
Missa, para acentuar que está unida à oferenda de Cristo e da Igreja.
13. Na vestição e na oblação observar-se-á o Ritual próprio.
14. As cartas de oblação serão conservadas no mosteiro, e os nomes dos
oblatos ficarão inscritos em registro próprio. A cada oblato será entregue
um documento, testemunho de seu compromisso.
15. A oblação pode, em casos excepcionais, ser anulada pelo próprio oblato
ou pelo abade. Mas nem o oblato desista do seu propósito senão após
madura reflexão, nem o abade demita um oblato sem justa e grave causa.
16. Caso o deseje, o oblato poderá ser sepultado com o hábito monástico
(túnica, cíngulo, escapulário).
Capítulo III
A CONVERSAÇÃO DOS COSTUMES
Da oblação decorre para o oblato o dever de se aplicar fielmente à
conversação dos costumes indicada por São Bento aos monges: cf. Santa
Regra, Prólogo e cap. 58.
Por "conversação dos costumes" entende-se o modo de vida monástica
exigido pela Santa Regra. Tal modo de vida, para os oblatos seculares,
consistirá essencialmente na procura de constante conversão, na prática da
oração, no cumprimento generoso dos deveres de estado e na convivência
fraterna. Tais elementos são aptos a levar o oblato à perfeição evangélica
ou à santidade, termo ao qual todo cristão é chamado desde o momento do
seu Batismo:
"Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são
chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade:.
Constituição "Lumen Gentium" nº 40).
A santidade é, pois, a vocação suprema de todo oblato. A Santa Regra não
tenciona senão ajudá-lo a atingir essa meta suprema.
III. 1. A Conversão
1. A conversão significa a renúncia permanente ao velho homem e às suas
concupiscências, passagem do egoísmo para o amor e dos valores
mundanos para as bem-aventuranças. É a própria vivência do Batismo, que
implica a morte ao pecado e ressurreição com Cristo para a vida nova.
2. A conversão é inseparável da prática da ascese. Diz o Santo Legislador
que a vida do monge deveria ser caracterizada, em todo tempo, pela
observância da Quaresma (Santa Regra, cap. 49). É necessário, pois, que o
oblato tenha em vista este traço da sua vocação e cultive a sobriedade, a
simplicidade, a austeridade, e se abra docilmente às genuínas inspirações
do Espírito.
3. O cap. 7 da Santa Regra, ao apresentar os doze graus da humildade,
oferece ao oblato as grandes linhas de um programa de renúncia a si para
viver mais e mais em Deus. O Prólogo e o cap. 4 (sobre os instrumentos das
boas obras) da mesma Santa Regra constituem outras tantas fontes de
renovação interior e exterior.
4. Um retiro espiritual por ano, de preferência com os oblatos, e um
encontro mensal no mosteiro contribuem para a conversão dos costumes,
aprofundamento e oração em comum e estreitamento dos laços da caridade
fraterna que une os oblatos.
III. 2. A Oração
1. A oração é a procura da íntima união com Deus que se faz num diálogo
pessoal e silencioso (oração particular) ou de maneira vocal e comunitária.
2. O centro da vida de oração é a Celebração Eucarística, de que o oblato
há de participar assiduamente. Destarte, a Santa Missa alimentará cada vez
mais os pensamentos, os afetos e os atos do oblato.
3. Em torno da Santa Missa coloca-se o Ofício Divino, pelo qual os filhos de
São Bento nutrem especial estima, visto ser a oração oficial da Igreja. Por
conseguinte, esforcem-se os oblatos por recitar diariamente ao menos uma
parte do Ofício Divino sob qualquer das formas aprovadas pela Igreja.
4. Para que a oração vocal seja eficaz, torna-se indispensável a oração
silenciosa. Esta pode ser compreendida sob a "lectio divina", à qual Nosso
Pai São Bento atribui notável importância na Santa Regra (cf. cap. 42; 48).
Esforcem-se, pois, os oblatos por ler e aprofundar, com a inteligência e o
afeto, a Sagrada Escritura, à qual é muito desejável que dediquem,
diariamente, certo espaço de tempo (cf. Concílio Vaticano II, Constituição
"Dei Verbum" nº 25; Decr. "Perfectae Caritatis", nº 6). Tenderão a
familiarizar-se, Outrossim, com as obras de espiritualidade mais notáveis da
Tradição e da atualidade da Igreja. Além do que, estimarão grandemente
boa formação teológica, valor esse que a Santa Igreja hoje em dia procura
ministrar, sob variadas formas, a todos os seus filhos. Melhor conhecimento
da Palavra de Deus, das ciências sagradas e da Santa Regra nutre a oração,
corrobora a fé e incita ao testemunho apostólico.
III. 3. O Cumprimento dos Deveres de Estado
1. Se todo cristão leigo é chamado a impregnar do espírito evangélico as
estruturas deste mundo, o oblato é especialmente incitado a tanto por sua
vocação beneditina, sabiamente expressa na fórmula "Ora et labora".
2. Vêem muito a propósito as palavras da Constituição "Lumen Gentium"
do Concílio Vaticano II:
"Os leigos, por sua própria vocação, procuram o Reino de
Deus exercendo funções temporais e ordenando-as segundo
Deus. Vivem no século, isto é, em todos e em cada um dos
ofícios e trabalhos do mundo. Vivem nas condições ordinárias
de vida familiar e social, pelas quais sua existência é como que
tecida. Lá são chamados por Deus, para que, exercendo seu
próprio ofício guiados pelo espírito evangélico, ao modo do
fermento, de dentro, contribuam para a santificação do mundo.
E assim manifestam o Cristo aos outros, especialmente pelo
testemunho de sua vida resplandecente em fé, esperança e
caridade. A eles, portanto, cabe de maneira especial iluminar e
ordenar de tal modo todas as coisas temporais, às quais estão
intimamente unidos, que elas continuamente se façam e
cresçam segundo Cristo, para louvor do Criador e Redentor".
(nº 31).
3. A propósito, leia-se também a Constituição "Gaudium et Spes", nº 44.
4. O trabalho não é somente necessidade de índole vital, mas é também
ascese, ou seja, motivo de renúncia e de disciplina dos costumes. É no
trabalho que se defrontam situações concretas de praticar a virtude. Em
contraste, a ociosidade é declarada por São Bento "inimiga da alma"
(Santa Regra, cap. 48).
5. O oblato deverá dar testemunho de fidelidade a seus deveres de estado de
modo que o seu lar mereça o honroso título de "igreja doméstica", que
caracteriza a casa da família cristã.
Capítulo IV
O SENSO ECLESIAL
1. Mais do que nunca, é viva no povo de Deus, em nossos dias, a
consciência de Igreja como comunhão e participação (cf. Documento de
Puebla, passim).
2. Cumpre ao oblato nutrir vivos sentimentos de filial fidelidade ã Santa
Igreja, pulsar com Ela, identificando-se com as intenções do Sumo
Pontífice. Viverá, assim, também o espírito da Ordem de São Bento, que
através dos séculos sempre foi esteio das grandes aspirações da Santa Sé e
do Vigário de Cristo.
3. De modo especial, a fidelidade à Igreja traduzir-se-á em fidelidade ao
magistério - ordinário e extraordinário - da Igreja. O oblato, portanto,
guardará em tudo a fé pura e ortodoxa haurida da voz oficial da Santa
Igreja.
4. Aos oblatos não se impõe, por força da Regra, tarefa apostólica
específica; porém, beneditinos que são, não deixarão de imprimir no seu
apostolado os sinais característicos da espiritualidade que vivem,
principalmente o amor à Sagrada Liturgia e à piedade cristocêntrica e
trinitária.
5. O bom filho de São Bento no século não se pode eximir de responder aos
apelos que a Santa Igreja hoje em dia dirige a todos os cristãos leigos, no
sentido de que assumam sua responsabilidade pessoal na edificação e na
difusão do Reino de Cristo. Eis as palavras do Concílio Vaticano II:
"A vocação cristã é, por sua natureza, também vocação para o apostolado.
Como no organismo de um corpo vivo, nenhum membro se comporta de
maneira meramente passiva, mas, unido à vida do corpo, também
compartilha a sua operosidade, da mesma forma no Corpo de Cristo..... Tão
grande é neste corpo a conexão e a coesão dos membros (cf. Ef. 4, 16) que o
membro que não trabalha para o aumento do corpo segundo sua medida,
deve considerar-se inútil para a Igreja e para si mesmo". (Decr.
"Apostolicam Actuosilatem" nº 2).
6. Adiante, o mesmo texto conciliar recorda que "a caridade é como que a
alma de todo apostolado". (ib.3).
7. Eis, por que, é recomendada aos oblatos a consideração atenta das
normas desse Decreto e o empenho em praticá-las.
Capítulo V
O ESPÍRITO BENEDITINO
A tradição monástica formulou em palavras ou frases incisivas algumas das
grandes características do espírito beneditino, que todo oblato há de
procurar observar. A seguir, vão explanadas treze delas:
V.1. Ora e Trabalha
1. É o lema "Ora et labora" que dá estrutura a toda a vida do discípulo de
São Bento.
2. A oração significa a atitude definitiva do cristão, principalmente sob a
forma de adoração, louvor e gratidão ao Senhor. É ela que alimenta e
aprofunda a união de da criatura com o Criador, e leva o cristão a
participar, cada vez mais, da vida trinitária. É por isto que a oração ocupa o
primeiro lugar na estima do oblato.
3. O trabalho é forma de disciplina e ascese, como também de
transformação do mundo segundo o plano e os desígnios do Criador. O
oblato se santifica não apesar do trabalho, mas mediante o trabalho. Este
há de ser assumido não apenas como meio de subsistência, mas no intuito
de servir a Deus e ao próximo. Quem ora devidamente, se habilita a
trabalhar em espírito de louvor e adoração a Deus, como o fez o Divino
Mestre quando se dignou trabalhar com mãos humanas, pensar com
inteligência humana, agir com vontade humana, amar com coração
humano (cf. Constituição "Gaudium et Spes" nº 22).
V.2. Em todas as coisas seja Deus Glorificado
1. Referindo-se ao trabalho dos artífices do mosteiro, São Bento recomenda
aos monges que procurem vender os respectivos artefatos por preço módico
"para que em todas as coisas seja Deus glorificado" (Santa Regra, cap. 57).
Esta fórmula é inspirada pelo texto bíblico de 1Pd 4, 11. Em seu teor latino,
veio a ser uma das expressões típicas do espírito monástico: "Ut in omnibus
glorificetur Deus" (abreviadamente: U.I.O.G.D.)
2. A fórmula beneditina poderia ser aplicada a todas as prescrições da
Santa Regra e a toda a vida do mosteiro. Este é concebido como escola do
serviço divino (Prólogo), na qual tanto o Ofício Divino quanto as atividades
aparentemente profanas têm por finalidade suprema dar louvor a Deus.
3. A espiritualidade monástica é essencialmente teocêntrica. O oblato
beneditino, mesmo vivendo no século, saberá traduzir este teocentrismo em
atitudes e gestos concretos de sua vida.
V.3. Nada preferir ao Amor de Cristo
1. Esta norma, colocada no cap. 5 da Santa Regra, entre os instrumentos
das boas obras, exprime fielmente o pensamento paulino de que está
impregnada a espiritualidade beneditina.
2. Em Cristo quis o Pai, desde a eternidade, amar e abençoar cada ser
humano (cf. Ef. 1,3-5). Nele, por Ele e para Ele tudo foi criado (cf. Cl 1,
16): tudo Nele subsiste (cf. Cl 1. 17). "Nele aprouve a Deus fazer habitar
toda a Plenitude" (Cl 1, 19). É por Ele que ousamos chegar-nos a Deus Pai
confiantemente (cf. Ef 3, 12).
3. A presença central do Cristo na vida cristã é incutida também na Liturgia
Eucarística, onde se diz: " Por Cristo, com Cristo, em Cristo...."
4. Por conseguinte, compete ao oblato procurar conhecer sempre mais
profundamente o Cristo Jesus, não só por via intelectual, mas também
mediante uma configuração crescente ao Senhor Jesus. Associe seus
sofrimentos e suas alegrias aos do Cristo Jesus, procurando completar em
sua carne o que falta à Paixão de Cristo, em prol da Igreja (cf. Cl 1, 24),
certo de que, padecendo com Cristo, reinará também com Cristo (cf. 2Tm 2,
11; Santa Regra, Prólogo). Acompanhando diariamente o Cristo peregrino
na Terra, aceite com serenidade a sua parcela da cruz salvífica, a qual se
lhe transformará em árvore da vida e penhor de ressurreição.
"Por Cristo homem a Cristo Deus
E por Cristo Deus a Deus Pai"
(Santo Agostinho)
V.4. Como Sagrados Vasos do Altar
No cap. 31, relativo ao celeireiro, São Bento recomenda que se considerem
"todos os objetos do mosteiro e demais utensílios como sagrados vasos do
altar". Tal visão de fé há de caracterizar também o oblato. Nada é profano
ou religiosamente neutro aos olhos do cristão e especialmente aos olhos do
filho de São Bento. Ao contrário, a reverência incutida pela certeza da
presença de Deus na oração acompanhar-lo-á na execução de suas tarefas,
pois elas, a seu modo, contribuem para pô-lo em contato com o Senhor
Deus e os valores eternos. E, de modo especial, São Bento convida seus
discípulos a ver nos irmãos a presença de Cristo: assim, entre outros, no
Abade (cap. 2), nos enfermos (cap. 16), nos hóspedes e nos pobres (cap. 53).
V.5. Nada em Demasia
1, Esta máxima de Cícero encontra-se no cap. 64 da Santa Regra,
concernente ao Abade. Este, ao corrigir os irmãos, há de proceder
prudentemente e não em demasia, para que, desejando raspar demasiado a
ferrugem, não quebre o próprio vaso.
2. Tal fórmula tornou-se a expressão da famosa discrição beneditina, já
muito exaltada por São Gregório Magno )cf. Diálogos, cap. 36, I, II). Esta
discrição não significa mediocridade ou prudência acovardada e medrosa.
Muito ao contrário: é a virtude que proporciona os meios ao fim respectivo
e que, por isto, cria ordem e harmonia na vida beneditina. Essa
proporcionalidade ou harmonia pode exigir renúncia e sacrifício; ela não
somente é compatível com a ascese, mas pode fomentar a ascese. É da
discrição que decorre o senso estético que deve caracterizar a Liturgia e as
expressões de um mosteiro beneditino. Os filhos de São Bento há de viver
em harmonia e proporção - o que nada tem de afetado, mas implica pureza
interior e dignidade de porte visível (no vestir-se, no falar, no recrear-se, no
conversar...).
V. 6. Ser Primeiramente
1. No cap. 4 da Santa Regra. o Legislador exorta os monges a que "não
queiram ser tidos como santos antes que o sejam, mas primeiramente sejam
santos para que possam ser considerados como tais".
2. Esta norma traduz a aversão à aparência destituída de conteúdo, aos
rótulos ilusórios ou contraditórios. Revela absoluta preferência pelo ser em
relação ao ter. Em conseqüência, incute ao filho de São Bento a
preocupação com a coerência de pensamento e vida. Sugere a honestidade
incondicional de atitudes, de palavras e de ambiente. Evite o oblato
linguagem falsa, ambígua e vã.
3. O amor à autenticidade se exprime mais de uma vez na Regra de São
Bento: assim, no tocante ao oratório ("seja aquilo que o nome significa";
cap. 52). ao Abade ("faz as vezes de Cristo, porque é chamado pelo mesmo
cognome que Este"; cap. 2), ao monge feito soldado do verdadeiro Rei
(Prólogo) ou penetrado pela humildade (12º grau; cap. 17...)
V. 7. Nada Antepor ao Ofício Divino
1. Quer São Bento que o Ofício Divino seja a tarefa primordial do monge,
tarefa que inspire e impregne todas as demais atividades.
2. O oblato vê nesta norma também um traço da sua espiritualidade.
Embora não esteja obrigado a celebrar o Ofício Divino no coro, deve fazer
da oração (seja particular, seja comunitária) o centro de sua vida. Isto não
requer que se dedique à oração o tempo que deveria consagrar a outros
deveres, mas exige que a oração seja tarefa efetuada com o maior empenho
e solicitude, diariamente, nas horas próprias. Assim procedendo, o oblato
estará dando a Deus o ligar primordial que a Ele compete, e se abrirá às
graças que levas à perfeição ou santidade.
V. 8. Antecipem-se Uns aos Outros em Honra
1. Estas palavras, tiradas do cap. 72 da Santa Regra, sintetizam toda a
doutrina da caridade fraterna, que é o coração do Novo Testamento e a
característica principal dos discípulos de Jesus Cristo. Todo este capítulo,
feito de máximas de grande densidade espiritual, deve ser freqüentemente
meditado pelo oblato e transformado em norma de vida cotidiana.
2. Membro da mesma família monástica, concebam uns para com os outros
genuíno espírito de fraternidade, que se traduzirá na assistência solícita aos
enfermos, aos atribulados e a quantos sofrem as vicissitudes da vida. Este
mesmo zelo existirá no Abade e no Padre Diretor, que procurarão
acompanhar cada um dos oblatos nos altos e baixos de sua caminhada,
dando a sentir a cada um a presença da comunidade e dos valores da fé,
principalmente nas horas difíceis. Tal tipo de assistência dos monges e dos
oblatos avivará nos irmãos carentes a consciência de que somos membros
uns dos outros e formamos um só corpo em Jesus Cristo (Rm. 12,5) e ainda
de que "ninguém vive e ninguém morre para si mesmo, porque, se vivemos,
é para o Senhor que vivemos, e, se morremos, é para o Senhor que
morremos. Portanto, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao
Senhor" (Rm 14,7s).
3. A participação da comunidade fraterna na dor e, especialmente, nos
momentos finais da peregrinação terrestre de um oblato será, para este, o
sinal vivo da sua pertença a Cristo e da sua comunhão com a Igreja
peregrina em marcha para a Jerusalém celeste, à qual desde o Batismo
cada um foi chamado. "Quanto me alegrei quando me disseram: Iremos
para a casa do Senhor!" (Sl. 121, 1)
V. 9. Paz
1. A tradição associou a palavra PAZ ao ideal beneditino. Na verdade, a paz
constitui o ambiente do mosteiro e, mais ainda, o estado íntimo dos seus
moradores: os monges hão de cultivar a paz, ou seja, "a tranqüilidade na
ordem" (Santo Agostinho) nas suas relações com Deus, com os irmãos,
filhos do mesmo Pai, e com as demais criaturas.
2. Repetidamente a Santa Regra refere-se à paz como sendo uma das
características do cenóbio e do monge: "Todos os membros estarão em paz"
(Santa Regra, cap. 34; cf. cap. 53, Prólogo...)
3. O oblato adotará mais este traço da espiritualidade monástica, que o
Evangelho enfatiza na sétima bem-aventurança: os filhos de Deus são
artífices da paz (cf. Mt. 5, 9). A paz e a discrição monásticas supõem
harmonia, equilíbrio e proporcionalidade na escala de valores do oblato.
Esteja ele tão impregnado dos bens eternos que a sua mera presença já se
torne sinal de ordem e tranqüilidade.
V. 10. Na Prontidão do Temor de Deus
Como tantas outras, esta palavra do cap. 5 da Santa Regra lembra ao
monge e ao oblato que sua vida deve ser guiada pelos dons do Espírito
Santo. E o dom básico do temor de Deus é três vezes lembrado pela Sagrada
Escritura como sendo "o começo da Sabedoria" (Sl. 110, 10: Pr. 1, 7; 9,
10). São Bento o apresenta como o móvel da prontidão monástica aos
apelos de Deus, que lhe são dirigidos pela voz do Superior, pelo sino
conventual ou pelas necessidades dos irmãos. É o segredo daquela
solicitude que Nosso Pai deseja encontrar em seus filhos pelo Ofício Divino,
pela obediência e pelos opróbrios (cf. Santa Regra, cap. 58). Por isso, a
pontualidade deve ser uma característica da vida do oblato, sinal dessa
prontidão no serviço de Deus e dos homens.
V. 11. Seja Tudo Comum a Todos
1. Nos capítulos 33 e 34 da Santa Regra, são Bento estabelece a sua
doutrina sobre a pobreza monástica: insiste na radicalidade do
desprendimento dos bens materiais, cuja posse ele considera "vício que
deve ser cortado do mosteiro pela raiz" (cap. 33). Encontra-se o espírito
desta doutrina claramente revelado por Jesus em vários episódios
evangélicos, principalmente no diálogo com o jovem rico e nos comentários
seguintes feitos com os apóstolos (cf. Mt. 19, 16-30).
2. O oblato que vive no mundo e que não é chamado ao radical
despojamento monástico, deve, no entanto, aprofundar cada vez mais a
"bem-aventurança dos pobres de coração", proposta por Jesus no Sermão
da Montanha (cf. Mt. 5,3). Ao contrário do espírito do mundo que valoriza
o ter, deve ele valorizar cada vez mais o ser e o seu compromisso de partilha
e comunhão com os irmãos. Sendo possuidor de bens materiais, sinta-se
mais administrador do que dono, lembrado da palavra do Sumo Pontífice
João Paulo II: sobre toda propriedade particular pesa uma hipoteca social.
3. São Bento chama de "presunção" o pensar que alguma coisa nos
pertence (cap. 33) e nos lembra que a paz da comunidade depende de uma
partilha de bens, conforme as necessidades de cada um.
V. 12. Perseverando no Mosteiro
No final do Prólogo, São Bento apresenta a perseverança e a paciência
como a expressão da participação do monge nos sofrimentos de Cristo,
penhor da comunhão com o Senhor na glória. Este é o sentido do voto de
estabilidade que ele vai exigir de seus monges, em contraposição com os
giróvagos, que se caracterizam pela instabilidade. O contato com o mosteiro
será, para o oblato, sinal da seriedade do propósito de buscar a Deus e de
ser perseverante no esforço de conversão. A oblação, após prolongado
período de reflexão sobre os preceitos da Regra, deve ser uma entrega total
da vida a Deus, em comunhão com os irmãos que buscam o mesmo ideal, e
que usam as fortíssimas armas da obediência (Prólogo). Tenha o oblato
presentes diante de seu coração as palavras de Cristo: "Quem põe a mão no
arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus" (Cl. 9, 62). Não
confie nas próprias forças, mas, como afirmou no dia da oblação, entregue-
se humilde e corajosamente ao poder da graça divina, que trabalhará sem
cessar no seu espírito aberto à ação do Espírito Santo.
V. 13. Glorificam o Senhor, que trabalha em seu Coração
1. Esta referência, quase literal, ao cântico de Maria na sua visitação a
Isabel, é uma das mais belas sentenças da Santa Regra e pode ser
apresentada como síntese da vida do monge e do oblato. Com efeito, estes
são chamados a glorificar a Deus, cantando os seus louvores, e deixando-o
agir no íntimo da criatura pela graça do Espírito Santo.
2. A vocação a configurar-se a Cristo o oblato a viver cada vez mais como
filho de Maria. Jesus é todo Filho do Pai e Filho de Maria. Por
conseguinte, o oblato, à medida em que for progredindo em sua vida
espiritual, tomará consciência sempre mais nítida de que há de ser, para
Maria, outro Jesus, filho devoto de Maria, em sua piedade dedicará à Mãe
do Céu o lugar inconfundível que lhe cabe. Aliás, a tradição monástica
sempre foi profundamente voltada para Maria Santíssima; tenha-se em
vista os numerosos mosteiros a ela dedicados, assim como o título antigo
"Rainha dos Monges".
3, O oblato verá também em Maria Santíssima o exemplar de toda a Igreja e
a consumação antecipada dos bens que esta possui germinalmente. Assim,
a piedade para com Maria e a dedicação à Igreja se lhes tornarão
inseparáveis.
Capítulo VI
CONCLUSÃO
Este Estatuto faculta a cada mosteiro organizar a comunidade de seus
oblatos segundo o que melhor lhe parecer, desde que observadas as normas
nele estabelecidas, para que em tudo seja Deus glorificado.
Aqui termina o Estatuto dos Oblatos

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