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Brazilian Journal of Development

Da restrição informacional ao apagamento das assistências as pessoas


presas ou egressas do sistema prisional: investigações sobre o velamento
da Lei de Acesso à Informação e a fragilização da Lei de Execução Penal

From informational restriction to the erasure of the assistances to


people arrested or egress from the prisonal system: investigations into
the veiling of the Access to Information Law and the weakening of the
Penal Execution Law

DOI:10.34117/bjdv6n3-434
Recebimento dos originais: 02/02/2020
Aceitação para publicação: 27/03/2020

Alex Medeiros Kornalewski


Doutor em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Instituição: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Endereço: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação
em Memória Social PPGMS. Avenida Pasteur, nº 458 Bloco I, Urca, Rio de Janeiro - RJ,
Brasil (endereço institucional)
E-mail: alexmedeiros87@hotmail.com

Francisco Ramos de Farias


Professor do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Unirio
Instituição: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Endereço: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação
em Memória Social PPGMS. Avenida Pasteur, nº 458 Bloco I, Urca, Rio de Janeiro - RJ,
Brasil (endereço institucional)
E-mail: frfarias@uol.com.br

RESUMO

Discute os efeitos da violência institucional, especificamente ocasionada as pessoas presas e,


por conseguinte, as pessoas egressas do sistema prisional. A restrição de informações jurídicas
e ausência de instrução sobre o próprio teor da Lei de Execução Penal (LEP), direito de acesso
à informação pública, segurança, reforçada pela Lei de Acesso à Informação (LAI) são alguns
dos vetores que demonstram a existência de restrições e cerceamento do direito, garantido por
lei, as pessoas presas e aos que necessitam de assistência ao voltarem para o espaço
extramuros. Emprega-se a metodologia da revisão bibliográfica por intermédio do
entrelaçamento conceitual da violência institucional e o disposto na LAI/LEP. Em
complemento, utiliza-se o método de etnografia de arquivo valendo-se de dois aportes
documentais: primeiro, o dossiê oriundo de uma pesquisa intitulada O ato criminoso como
modalidade de gozo: subjetividade perversa e ato perverso, realizada entre os anos de 1995 a

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1999; projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq); segundo, os dados sobre os egressos do sistema prisional disponíveis no
relatório n. 70 publicado pelo Instituto de Estudos da Religião (ISER) e demais aportes
documentais. Verifica-se que a violência institucional é legitimada para além da privação de
liberdade, como é o caso da ausência das inúmeras assistências previstas pela LEP, bem como
do descumprimento dos pressupostos descritos na LAI. Os relatos evidenciam a importância
de prover condições para o exercício da cidadania não apenas das pessoas presas ou egressas,
mas também da sociedade em geral, por intermédio da transparência quanto ao uso dos
recursos estatais e suas adequadas destinações no tocante a gestão das unidades prisionais e os
serviços de assistências previstos na LEP. Em aditamento, o acesso à informação quanto ao
emprego desses recursos permite a coleta de dados sobre o funcionamento, necessidade de
criação e monitoramento de políticas públicas que atendam as pessoas presas ou egressas da
prisão.

Palavras-chave: Violência institucional. Lei de Acesso à informação. Lei de Execução Penal.


Restrição informacional. Presos – sistema prisional. Egressos - sistema prisional.

ABSTRACT

It discusses the effects of institutional violence, specifically caused to prisoners and,


consequently, people who have left the prison system. The restriction of legal information and
the lack of instruction on the content of the Criminal Execution Law (LEP), right to access
public information, security, reinforced by the Access to Information Law (LAI) are some of
the vectors that demonstrate the existence of restrictions of the right, guaranteed by law, to
prisoners and to those in need of assistance when they return to space outside the walls. The
bibliographic review methodology is used through the conceptual interweaving of institutional
violence and the provisions of LAI / LEP. In addition, the file ethnography method is used,
making use of two documentary contributions: first, the dossier resulting from a research
entitled The criminal act as a form of enjoyment: perverse subjectivity and perverse act, carried
out between 1995 and 1999; project financed by the National Council for Scientific and
Technological Development (CNPq); second, the data on egressers from the prison system
available in report no. 70 published by the Institute of Religious Studies (ISER) and other
documentary contributions. It appears that institutional violence is legitimized in addition to
the deprivation of liberty, as is the case with the absence of the numerous assistance provided
for by the LEP, as well as the failure to comply with the assumptions described in the LAI.
The reports show the importance of providing conditions for the exercise of citizenship, not
only for prisoners or egressed people, but also for society in general, through transparency
regarding the use of state resources and their appropriate destinations regarding the
management of prison units and the assistance services provided for in the LEP. In addition,
access to information on the use of these resources allows the collection of data on the
functioning, the need to create or monitor public policies that serve prisoners or egressers of
this system.

Keywords: Institutional violence. Access to information law. Penal Execution Law.


Informational restriction. Prisoners - prison system. Egress - prison system.

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1 INTRODUÇÃO
Refletir sobre a o conceito de violência e especificamente de viés institucional é um
caminho árduo, complexo, por vezes, interminável. Apesar do recorte, tão necessário para o
desenvolvimento de reflexões e manutenção de uma investigação científica que se apresente
de forma didática para o leitor, um ponto é necessário deixar claro já de início: a violência
institucional envolve várias interligações, malhas que se entrelaçam através de vários corpos,
grupos, sociedade e outras instituições ou instâncias distintas, em uma espécie de rede cujo
viés económico e político, em sua maioria, ditam as rédeas dessa violência velada, subjetiva
(ZIZEK, 2014).
Ao citar a palavra instituição e aplicar o termo de violência, é possível explicitar
algumas nuances como a relação de poder em que a instituição exerce sua potência em
detrimento dos corpos, mas também um poder que pode ocorrer justamente pelo viés oposto,
o da inoperância, da ausência, do silêncio, da morosidade, da restrição entre outros termos cuja
violência não ocorre de forma ativa, mas muitas das vezes de forma passiva.
Em exemplo, o presente artigo versa sobre esses inúmeros vetores de violências diante
das pessoas presas ou egressas do sistema prisional. A própria condição de serem pessoas que
estão, ou que já passaram pela prisão, denota um efeito pernicioso nas experiências vindouras,
pois os efeitos do estigma afetam seu convício social, seu modo de pensar e agir diante de
situações básicas do cotidiano, tornando-a uma pessoa insegura perante as demais pessoas e o
modo como estas o identificarão e o receberão (GOFFMAN, 2013).
Para fins de exposição e compreensão dos efeitos da violência de ordem institucional,
é mister o desenvolvimento da pesquisa de acordo com as seguintes diretrizes, também seções
do artigo: plano de discussão teórica e exposição metodológica/modelo de análise adotado.
A discussão teórica incorpora as implicações conceituais sobre a violência,
estabelecendo um diálogo com pontos que constam na Lei de Acesso à Informação (LAI) e a
Lei de Execução Penal (LEP), tendo em vista que são leis fundamentais quanto ao exercício,
ou manutenção da cidadania, no caso das pessoas que se encontram sob custódia do Estado.
Todavia dois pontos críticos serão discutidos: primeiro, o fato de que a LAI é plenamente
pautada na questão da transparência da administração pública, porém não apresenta detalhes
inerentes a todas as necessidades informacionais, por exemplo dados quanto ao funcionamento
das prisões, demandas segundo a própria voz das pessoas presas e, por conseguinte, egressas
do sistema prisional e afins. Segundo, o fato de que a LEP possui inúmeras dimensões de
assistências previstas no seu corpus legal, porém nem todas, ou grande maioria, do que está
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disposto na lei não é praticado ou nunca foi disponibilizado para essas pessoas. Em suma, a
necessidade de revisão das leis bem como de suas aplicações urgem diante das narrativas que
serão utilizadas para fins de evidenciar as problemáticas relatadas.
A exposição metodológica implica em duas instâncias. Na primeira, será realizada a
revisão bibliográfica, a partir da literatura utilizada na presente pesquisa e o acesso à
informação ou assistenciais previstas na Lei de Execução Penal. Essa etapa será feita com o
intuito de compreender quais interlocuções existem, ou não, no que diz respeito a sobre os
possíveis efeitos que surgem sob o ato de negligenciar o disposto na LAI e a LEP. Em
aditamento, será empregado o método de etnografia de arquivo, utilizando-se como suporte
dois documentos: primeiro, o dossiê oriundo de uma pesquisa intitulada O ato criminoso como
modalidade de gozo: subjetividade perversa e ato perverso, realizada entre os anos de 1995 a
1999; segundo, os dados de egressos do sistema prisional disponíveis no relatório n. 70
publicado pelo Instituto de Estudos da Religião (ISER). Esses documentos apresentam a
narrativa de pessoas presas ou egressas de unidades prisionais e são cruciais para o
desenvolvimento de uma compreensão quanto as falhas inerentes as leis citadas, bem como
endossar a necessidade de uma revisão e aplicação do já disposto nas respectivas leis.

2 VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL: INTERLOCUÇÕES COM A LEI DE ACESSO À


INFORMAÇÃO E A LEI DE EXECUÇÃO PENAL
O homem é a ferramenta que dá alicerce às instituições, transformando-as, segundo
Saviani (2005, p. 28), em “unidades de ação [...] com seus agentes e com os meios e
instrumentos por eles operados tendo em vista as finalidades por elas perseguidas”.
Hobbes (2015, p. 157, grifo do autor) já discorria sobre a constituição do conceito de
instituição, pelo viés do Estado ao dizer que o mesmo é uma “pessoa única, cujos atos têm o
povo – por meio de pactos mútuos de uns com os outros – como autor”. Logo, é crível afirmar
que as instituições são sociais graças a dúplice questão: por um lado, por serem construídas e
legitimadas pelas pessoas; segundo, pelo fato de que se destinam, são operadas com o intuito
de atingir finalidades para determinados indivíduos, grupos ou corpo social.
Todavia, a problemática da violência institucional surge quando podemos verificar no
Leviatã a combinação de fatores que tornam visíveis a prática do Estado Penal em detrimento
do Estado Social, tais como: s hiperinflação carcerária, o aumento da rede penal, crescimento
do setor penitenciário na administração pública, constituição da indústria privada carcerária e
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o povoamento prisional de uma determinada categoria de pessoas que, em sua maioria, são
de negros, pobre e moradores de regiões periféricas (WACQUANT, 2011). Essa afirmação é
endossada quando efetuamos uma análise no Levantamento Nacional de informações
Penitenciárias (INFOPEN), dos anos de 2014, 2015, 2016 e o último referente ao ano de 2017,
no qual consta que, 72% das pessoas que apresentaram dados sobre a sua raça, cor, etnia,
aproximadamente, grande maioria desse número, ou seja, 64% são de pessoas negras, jovens,
pobres, moradores de regiões sem condições mínimas de estudo, trabalho e saneamento básico,
com uma progressão de 0,2 % registrado no último relatório (INFOPEN, 2014, 2015, 2016,
2017).
As instituições, vistas como uma esfera de organização, ação e constituídas por
pessoas, denotam a importância da disciplina, conceito atrelado às ideias de Foucault e que
pode ser discutido em quaisquer tipologias institucionais. Não seria diferente ao tratarmos da
prisão, haja vista que esta foi largamente analisada por ele, aliando a questão de disciplinar
aquele ser humano que se encontra em desvio.
Foucault apresenta uma historiografia no qual evoca que a questão da disciplina, da
normatização, advém da transição cultural no qual os leprosos eram excluídos, rejeitados e
marginalizados no século XVII até o início do século XVIII, abrigando-os em pestíferos, no
qual se exercia uma constante avaliação “para saber se estavam conforme à regra e os padrões
de higiene social da época (FOUCAULT, 2010). Os leprosos eram vistos como pessoas
perigosas e deveriam ser contidos para evitar a contaminação da cidade. Essa linha de
pensamento também pode ser vista na literatura, no qual vale citarmos a obra Decamerão, de
Boccaccio, criada no século XIII e que se constitui por uma composição de cem novelas, que
dentre tantas, também descreve em algumas passagens a questão do isolamento induzido pela
sociedade ou fuga de pessoas que se isolaram para não serem contaminadas pela peste negra,
ou peste bubônica. Os próprios narradores das novelas são jovens que se isolam em uma vida
para fugir da doença. A questão é pensar que a doença e, principalmente, a questão do
contágio, é o norteador para os princípios da exclusão controlada, normatizada. Prontamente
devemos elucubrar sobre a questão da exclusão, ou melhor segregação, antes de nos
aprofundarmos sobre a espinha dorsal que a sustenta, ou seja, a disciplina.
Em termos históricos, podemos observar que a lepra, ou antes mesmo, a peste negra,
eram as categorizações de perigo incrustada nas pessoas doentes, a iniciar os devidos
processos de quarentenas das mesmas que eram alocadas em centros nos quais eram proibidos
de circular – para outras cidades, ruas ou mesmo sem sair de suas respectivas casas – criando
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uma circunstância paradoxal no qual o ser humano desprovido de sua liberdade e circulação,
de certa forma excluído, também é o mesmo que se encontrava dentro da cidade, como núcleos
fechados dentro do corpo social, o que nos afirma o fato de que a questão não é promover a
expulsão dos corpos, mas sim o contrário, de estabelecer critérios, fixar, delimitar o espaço,
conter e controlar (FOUCAULT, 2010). Em suma, a segregação é um processo no qual as
pessoas se movimentam – de forma induzida ou por convicções próprias – para o caminho da
exclusão, sendo logo depois de alocadas em um estado de inclusão controlada, disciplinada.
Os processos de segregação podem ser vistos da mesma forma em outras condições,
para além dos exemplos históricos descritos por Foucault e dos relatos oriundos da literatura.
Se o ser humano é transferido para um hospital a questão da enfermidade é o fator que o
segrega, sendo este ambiente a instituição ideal à reabilitação da saúde; o convento, é a
instituição empregada para auxiliar aqueles que estão distantes da fé, sendo um ambiente
adequado para a correção e expiação dos pecados; nos internatos, aloca-se as crianças e jovens
cuja educação não é vista como exemplar – portanto, indisciplinados – perante os julgamentos
da família; na prisão é alocado a pessoa que se tornou um contraventora da lei, o que torna
este espaço o local adequado para corrigir os desvios de quem feriu as normas de uma
determinada sociedade. Eis que as instituições demonstram, em suas respectivas
políticas, prerrogativas que moldam suas estruturas em prol de prover o enquadramento do ser
humano em uma categoria dita “anormal”, ou “inadequada”, segundo determinadas
predisposições sociais, para que então, este possa ser corrigido e moldado segundo os moldes
do que é visto como normal, adequado à sociedade. Em essência, a dúplice “nós” e “eles”, é
vista como um desarranjo na balança, pois o “eles” torna-se perigoso, e, principalmente, visto
como um “anormal” um ser que não condiz com a realidade do “nós”. Esses ditos “desarranjos
binários” podem ser exemplificados pelos discursos que provocam o embate entre pessoas
presas x “pessoas de bem”, viés político de “esquerda” x viés político de “direita”, negros x
brancos, ricos x pobres, iletrados x doutores e assim por diante. Em síntese, qualquer
identificação implica em uma exclusão da diferença, sob possíveis ações perniciosas
(WOODWARD, 2014).
Além do vetor de violência compreendido sob o termo de segregação, inúmeros outros
vetores circunscrevem os corpos que habitam o sistema prisional. Cabe descrever, por
exemplo, as seguintes problemáticas: porosidade institucional, ausência do processo dialógico
e o processo de qualificação perniciosa empreendida pela máquina estatal e reforçada pelas
operações de represália, rejeição, sujeição manifestas muita das vezes pela sociedade.
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Goffman (2015, p. 11) define como instituições totais, saber prisão, conventos, escolas,
instituições militares e afins como: “um local de residência e trabalho onde um grande número
de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável
período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada”. Todavia, já é de
conhecimento comum que as instituições, por mais fechadas que possam ser em seu ideal, sua
missão e funcionalidade, sofrem com problemas inerentes a sua porosidade, tendo em vista
alguns pontos: primeiro, toda instituição é social, portanto, interage com a sociedade e seus
diversos aparelhos institucionais (sistema jurídico, hospitalar, transporte e afins); segundo, a
prisão foi elaborada para conter os ditos desviantes, o que não quer dizer que inúmeras outras
pessoas não circulem lá dentro (professores, bibliotecários, médicos, advogados, familiares,
policiais, assistentes sociais, psicológicos, pesquisadores, estagiários); terceiro, o controle
minucioso dos materiais que entram no ambiente prisional sofre com a fragilidade, intencional
ou não intencional, dos olhares institucionais (entrada de celulares, drogas, televisões, facas,
armas, máquinas de jogos de azar, cigarros falsificados). Em suma, a porosidade institucional
demonstra a existência de uma prática de apropriação do próprio ambiente por conta das
pessoas presas e ou demais profissionais que lá circulam, de forma a ocasionar rupturas no
processo disciplinar e, por conseguinte, estrutura de fechamento da prisão (KORNALEWSKI;
FARIAS, 2017).
Apesar do dito acima, as relações que permitem a fragilidade do fechamento, delegado
as prisões, evocam a inexistência de um processo dialógico em termos de assistências
mínimas, garantidas por lei as pessoas presas ou egressas desse sistema. Segundo o artigo 11
da LEP, esses ambientes devem prover assistências nos seguintes campos: material, saúde,
jurídica, educacional, social e religiosa (BRASIL, 1984). Contudo, a narrativa das pessoas
presas costumam evidenciar a inexistência de alguns desses preceitos, apesar de ser uma
obrigação do Estado quanto aqueles que estão sob sua custódia. Esses mesmos direitos
constam como extensão para egressos, tal como consta no artigo 10, parágrafo único e no
artigo 26, inciso I, que registra o período de um ano, “a contar da saída do estabelecimento”,
em que essas pessoas devem receber o amparo do Estado (BRASIL, 1984, p. 5).
A ausência do processo dialógico, no tocante ao cumprimento legal e moral de prover
as assistências descritas em lei as pessoas presas ou egressas, endossa o fato de que a prática
desenvolvida hodiernamente, e apoiada pelas pessoas que se encontram em situação
extramuros, é a de legitimar e prover a manutenção de uma política do Estado Penal em
detrimento do Estado de Bem Estar Social, sendo uma característica adotada por governos
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neoliberais que visam a instituição prisional como objeto de lucro ao mesmo tempo que se
utiliza da instituição prisional como meio unicamente de sanções disciplinares, que afetam
durante e mesmo depois da saída dessas pessoas da prisão, tornando-os seres estigmatizados
(WACQUANT, 2014).
O esquecimento de que essas pessoas estão em cumprimento de privação de liberdade,
permite com que a ausência de provimento das assistências bem como o desenvolvimento de
punições informais, possam ser aplicadas como um complemento punitivo justificável. Logo,
o afastamento da realidade e, por conseguinte, o declínio do mundo social é cada vez mais
presente quando a instituição prisional e o corpo social exercem “cada vez mais o isolamento
daquele que é categorizado como um ‘isso’” (KORNALEWSKI; FARIAS, 2017, p. 71). Em
síntese, têm-se uma comunicação monológica no qual as pessoas que não estão em privação
de liberdade interagem com o outro “como algo que, ao mesmo tempo, não é ele próprio, mas
que com ele, assim mesmo, se comunica” (BUBER, 2014, p. 55).
Além da porosidade institucional e a ausência de uma interação dialógica, cabe
discorrer sobre o terceiro problema que é o modelo de qualificação perniciosa que atinge essas
pessoas. Atrelado a prática de segregação, o processo de qualificação dos corpos necessita,
como justificativa de sua aplicação, que a pessoa pressa ou egressa do ambiente prisional seja
compreendia como um ser perigoso, um dejeto, algo que incomoda, “representa uma
‘desordem’ na ordenação, na classificação de uma sociedade” (DEBARY, 2016, p. 4, tradução
nossa). A categorização dessas pessoas como criminoso-dejeto viabiliza a construção,
legitimação e manutenção de uma política de higienização do meio social, no qual se expurga,
livra-se da pessoa a partir da premissa de que se deve, ou temos a obrigação de se desfazer, do
que nos coloca em risco, uma qualificação perniciosa dos corpos (DEBARY, 2016; BENELLI
et al., 2017).
Diante das questões expostas, se constata que há não apenas um processo de
segregação, porosidades na dita instituição fechada, ausência de comunicação dialógica e
consequentemente o processo de qualificação perniciosa dos corpos. Também é crível afirmar
que a sociedade, em sentido lato, sofre com essa sistemática, pois além do não cumprimento
dos direitos aos quais as pessoas presas ou egressas da prisão possuem, também há uma
violência subjetiva que se vela por intermédio da restrição informacional que acomete a todos,
pois em uma única questão, se pode questionar: Se todos os pontos em que o Estado deve, por
lei, direcionar esforços para cumprir com as condições mínimas de funcionamento da prisão

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e, principalmente, propiciar a integridade física, moral, psicológica e demais direitos inerentes
as pessoas presas, então o que de fato está sendo feito esses recursos?
A LAI define que todos os órgãos públicos, sociedades de economia mista e demais
instituições que tenham uma relação com os setores públicos devem, no que diz respeito aos
recursos públicos e seu direcionamento, prover o acesso à informação de forma pró ativa e a
todos sem distinção (BRASIL, 2011). Porém os dados inerentes ao funcionamento e,
principalmente, os dados sobre o tratamento oferecido aos presos, egressos e os custos das
diversas operações que mantém o sistema prisional são disponibilizados de forma morosa,
fragmentada ou muita das vezes inexistentes. Os preceitos descritos no artigo 3 da LAI
(BRASIL, 2011, p. 1) versam sobre:

I - observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção;


II - divulgação de informações de interesse público, independente de solicitações;
III - utilização de meios de comunicação viabilizados pela tecnologia da informação;
IV - fomento ao desenvolvimento da cultura de transparência na administração
pública;
V - desenvolvimento do controle social da administração pública.

Eis que esse preceitos supracitados são ignorados ou atendidos de forma parcial, tendo
em vista que o sigilo de informações quanto ao funcionamento das unidades prisionais,
condições de assistências as pessoas presas ou egressas e o valor recebido, bem como sua
destinação, para o funcionamento das prisões não se encontra em nenhum dos relatórios do
INFOPEN (2014, 2015, 2016, 2017). Os dados apresentados são de viés unicamente
quantitativo e mesmo assim os relatórios evocam o fato de que muitas das assistências não
existem ou são desenvolvidas de forma parcial ou precária, pois em exemplo, o relatório que
tem como referência o ano base de 2017 registra que 51,35% das pessoas presas possuem no
máximo o grau de escolaridade no nível fundamental incompleto (44,15% maior do que a
média nacional); apenas 17,5% possuem acesso ao direito de exercer atividades laborais,
sendo que 46,7% dessas pessoas que trabalham não recebem remuneração pelos seus serviços
(INFOPEN, 2017).
Em aditamento, tanto a LEP quanto a LAI, resguardam em seu texto a integridade da
pessoa física, tanto na esfera das condições adequadas de tratamento e acesso à saúde, tal como
disposto no artigo 14 da LEP, em que a pessoa presa possui assistência, em caráter preventivo
e curativo, de atendimento médico, farmacêutico e odontológico (BRASIL, 1984); como pelo
viés informacional, descrito pelo artigo 21, parágrafo único da LAI (BRASIL, 2011, p. 6) que

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assegura: “as informações ou documentos que versem sobre condutas que impliquem violação
dos direitos humanos praticada por agentes públicos ou a mando de autoridades públicas não
poderão ser objeto de restrição de acesso. No segundo caso, a LAI serviria de aplicação
preventiva quanto a possibilidade de práticas violentas, por exemplo, as pessoas presas, pois
a transparência e o possível acesso de informações que evoquem o desvio de profissionais
atuantes nas instituições públicas, no caso as prisões, poderiam sofrer sanções disciplinares,
quiçá criminais, de acordo com os seus atos.
Após o aporte teórico sobre alguns vetores de violência que atuam no ambiente
prisional e, de forma subsequente, nos corpos das pessoas presas ou egressas, aliado a alguns
apontamentos sobre a LEP e a LAI, e suas possíveis interseções, é mister um aprofundamento
sobre as convergências e divergências desses dois âmbitos legais tomando como embasamento
não apenas o viés teórico já apresentado e os relatórios do Estado, mas especificamente, a
própria narrativas dessas pessoas.

3 EFEITOS DA VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL POR INTERMÉDIO DA


RESTRIÇÃO INFORMACIONAL E FRAGILIZAÇÃO DO DISPOSTO NA LEP
Nos próximos apontamentos, foram considerados as narrativas de pessoas presas cujos
relatos constam no dossiê intitulado O ato criminoso como modalidade de gozo: subjetividade
perversa e ato perverso, projeto realizado no período de 1995 a 1999, registrado na Fundação
Biblioteca Nacional – Escritório de Direitos Autorais em 2018 sob o número de registro
757.783; Livro: 1469; Folha: 274, bem como as falas de pessoas egressas da prisão registras
no relatório n. 70 publicado pelo Instituto de Estudos da Religião (ISER). O método de
etnografia adotado se utiliza dos seguintes fatores: evitar ações reativas (diminui a influência,
possíveis construções equivocadas ou mesmo errôneas, por parte dos pesquisadores dos
respectivos projetos e as pessoas que contribuíram com suas narrativas); custo baixo (devido
ao fácil acesso dos dossiês mencionados); importante para verificar transformações, ou não
modificações, ao longo do tempo (tendo em vista que o dossiê referente aos presos é datado,
porém dialoga com as narrativas recentes de pessoas egressas da prisão); além da dificuldade
recente que se apresenta quanto a construção, acesso de documentos e entrada no ambiente
prisional (ANGROSINO, 2009). Assim sendo, iremos discorrer sobre alguns trechos das
narrativas que constam nesses dois dossiês e promover sua interlocução com o disposto na
LAI e na LEP. As pessoas não terão se nomes identificados, sendo necessário abreviar seus
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nomes, com exceção dos nomes das pessoas egressas do sistema prisional, que constam no
próprio documento elaborado pelo ISER e disponibilizado de forma pública.
O preso A, ao discorrer sobre as circunstâncias do seu crime, trouxe o seguinte relato:
“fui condenado a 22 anos. To com recurso. Mas falaram que minha cadeia caiu. Não tenho
advogado pra ver pra mim” (A., 2018, 25). Em complemento, o egresso Peterson, segundo o
ISER (2016, p. 40) evoca uma situação contrária: “Eu tinha advogado particular, só por isso
consegui sair em tão pouco tempo”. A restrição informacional demonstrada por A contrasta
com o acesso à informação e, por conseguinte, com a liberdade conquistada pelo Peterson
proveniente de recursos próprios e não pelo direito de assistência jurídica que deveria ser
fornecido para ambos segundo o disposto no artigo 15 da LEP (BRASIL, 1984). A dificuldade
de acesso aos dados do processo de A reforça o quanto a estrutura de comunicação e
informação é ineficaz, pois o mesmo descreve de forma incerta que talvez o cumprimento de
sua pena já tenha sido finalizado, porém não teria o auxílio necessário para verificar essa
informação.
Além disso, a restrição informacional segue atualmente as pessoas que são egressas do
sistema prisional, pois Peterson não teve o auxílio previsto na LEP aos egressos no momento
de sua liberdade, o que o levou a ter dificuldades quanto ao estabelecimento de vínculo
empregatício, além da ausência de assistência à saúde, tendo em vista que o mesmo tornou-se
hipertenso (ISER, 2016). O mesmo relata que, as dificuldades enfrentadas após sua saída da
prisão, se deve pela problemática da segregação, pois: “o nome fica sujo” (ISER, 2016, p. 40).
Em outro relato, A afirma que a comunicação com os familiares é precária, pois
“escrevi a carta [...]. Ainda num tive resposta. Não sei se foi lida. Eu trabalho só chego mesmo
tarde. Na carta eu disse que eu tava vivo” (A., 2018, p. 29). Da mesma forma que a LEP é
negligenciada quando a narrativa da pessoa presa informa o descumprimento dos direitos
básicos de se comunicar com os familiares, também se averigua o fato de que a transparência
quanto ao tratamento ofertado a essas pessoas é pouco praticada ou mesmo nula, pois esses
dados de tratamento, comunicação e informação sobre as condições das pessoas presas não
constam nos relatórios oficiais elaborados pelo Estado.
A narrativa de Edmilson, que consta no relatório do ISER (2016, p. 41), reforça a
discussão supracitada: “foi levado para a Triagem em Bangu, onde permaneceu por 10 dias,
sendo acusado de furto qualificado. Sofreu violência pelos agentes. Apanhou pelo simples fato
de querer beber água no bebedouro, assim que chegou à unidade”. O mesmo também critica a

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restrição informacional ao dizer: “os caras não explicam nada, só mandam assinar” (ISER,
2016, p. 41).
A lógica da transparência quanto aos recursos empregados pelas instituições públicas
– ou privadas que tenham relação com a União, Estados, Distrito Federal e Municípios –
consta no artigo 2, parágrafo único da LAI (BRASIL, 2011). Todavia, o direcionamento das
verbas às instituições supracitadas bem como suas respectivas destinações são alvos de
transparência conform a lei, e por isso, o sistema prisional, como instituição pública que
providencia a custódia das pessoas privadas de liberdade, são passíveis de toda transparência
em sua gestão, dentre os quais, pode-se citar o investimento e, por consequência, o
funcionamento das atividades assistenciais previstas no artigo 11 da LEP (BRASIL, 1984).
Verificar se o disposto na lei supracitada é cumprido, é observar se os recursos estão
sendo aplicados em cada um dos segmentos de assistência descritos, além de fiscalizar como
está sendo aplicado, qual a destinação adotada pelos gestores públicos, bem como prover a
transparência das condições de cada uma das pessoas presas e, por conseguinte, egressas desse
sistema.
Prover o entrelaçamento das leis citadas, ou seja, aplicar um olhar do cumprimento da
LAI em consonancia com o disposto na LEP é promover o exercício de cidadania não apenas
as pessoas que estão sob custódia do Estado, mas também a sociedade em geral, pois a
promoção da transparência quanto aos recursos e suas destinações, bem como as condições de
atendimento as pessoas pressas e egressa previstas em lei, e os respectivos cumprimentos dos
serviços de assistências, evitam que os processos comunicacionais e informacionais caiam na
superficialidade, recorrente hodiernamente ao propagar, por intermédio de diversas mídidas
de massa, redes sociais e afins um viés raso e unívoco quanto a ineficiência do funcionamento
das prisões, divulgação das tipologiais criminais realizadas pelas pessoas presas ao mesmo
tempo em que delega ao esquecimento a míriade de investimentos e, principalmente, suas
destinações realizadas pelo Estado, atrelado ao cumprimento das próprias funções estatais
quanto aos seus custodiados. Em suma, têm-se uma banalização das redes comunicacinsi se
informacionais que levam a “forma social à indiferença” (BAUDRILLARD, 1992, p. 18).
Diante do funcionamento, intencionalmente equivocado, dos circuitos
comunicacionais e informacionais, que perpetuam apenas fragmentos, dados, desinformações
(fake news) ou informação incompleta, há não apenas a indiferença quanto ao funcionamento
das unidades prisionais, descumprimento das atividades de assistência dispostas na LEP,
desamparo ao egresso e afins. A fragilização desses processos também resultam no silêncio
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que se dissemina, tal como uma mortalha, em toda sociedade, ou nas palavras de Baudrillard,
(1992, p. 19): “o silêncio é justamente a síncope no circuito, a ligeira catástrofe, o lapso que,
na televisão por exemplo, torna-se altamente significativo”. Em suma, ignorar as
possibilidades de uso e aplicação ampla e adequada da LAI e da LEP é permitir a
sistematização dos processos de restrições informacionais, é permitir o descumprimento da
custódia adequada as pessoas presas ou egressas, tal como descrita na LEP, é perpetuar a
indiferença, o silêncio, a cultura monológica, portanto, uma manutenção perniciosa do outro
como ser diferente e passível de ser categorizado como um dejeto (DEBARY, 2016).
Os breves trechos de relatos tanto de uma pessoa presa quanto de um egresso do
sistema prisional evocam o quanto a restrição do acesso à informação afeta não apenas durante
como também após a saída dessas pessoas do ambiente prisional. Urge um olhar quanto aos
efeitos do desuso e descumprimento do disposto nas leis em questão, pois os inúmeros
transtornos, no que diz respeito a essas pessoas, pode propciar problemas que poderiam ser
evitadas com o acesso à informação, por exemplo, de instituições de apoio as pessoas presas
e egressas, instruções quanto ao seu direito previsto na LEP, diminuição da morosidade e
restrições informacionais quanto a andamento processual entre outros aspectos que
corroborem com o processo de “desinstitucionalização” da pessoa presa ou egressa do
“ambiente prisional” (FARIAS, 2015, p. 99).

4 CONSIDERAÇÕES
Após discorremos sobre as possibilidades de interrelações da LAI com a LEP, por
intermédio da pesquisa teórica sobre violência e os trechos de narrativas provenientes do
dossiê O ato criminoso como modalidade de gozo: subjetividade perversa e ato perverso e as
falas pertencentes as pessoas egressas que constam na comunicação n. 70 do ISER, é possível
afirmar que além da assistência, ocorre uma ausência de informação, ou melhor restrições
informacionais, nos vários âmbitos necessários aqueles que se encontram tanto sob custódia
do Estado para com os que tornam-se egressos do sistema prisional.
A violência legitima-se para além da privação de liberdade, como é o caso da ausência
das inúmeras assistências previstas pela LEP, bem como do descumprimento da LAI, no que
diz respeito a prover informações rápidas e inócuas sobre o funcionamento das instituições
prisionais, do acesso à informação e, por conseguinte, orientações, previstas em lei para

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aqueles que, mesmo após saírem da prisão, ainda sofrem com a institucionalização desse
ambiente pernicioso em seus corpos.
É mister uma análise mais detalhada dessa estrutura não sob o ponto de vista da
segurança pública, mas prioritariamente sob o ponto de vista social, econômico e
informacional, de forma a prover uma fiscalização, manutenção e mudanças no modo de
prover, ao invés de restringir o acesso àquilo que constantemente é negado as pessoas presas:
informação. Em aditamento, o exercío da transparência informacional em detrimento da
restrição informacional consta na LAI no que diz respeito a todo recurso empregado pela
instituição pública, independente de qual setor, de forma que a restrição só é aplicável apenas
nos casos de disseminação de dados pessoais ou quanto a dados considerados restritos sob a
justificativa de segurança do próprio Estado.
Cabe ressaltar que prover a transparência quanto ao uso dos recursos, sua destinação,
bem como cumprir com o disposto na LAI e o exercício das atividades de assistência que
constam na LEP não são meras obrigações do Estado que se destinam apenas as pessoas presas
ou egressas do sistema prisional, mas é especificamente, o ato de permitir o exercício da
cidadania a essas pessoas; a cidadania aos seus familiares – que podem exercer o direito de
obter informação quanto ao modo de custódia que o Estado emprega aos seus respectivos
internos –; a cidadania as demais pessoas que almejam compreender como o Estado emprega
seus recursos, exerce suas funções e, por conseguinte, os resultados do emprego desses
recursos, no qual cabe um olhar não punitivo, vingativo, mas sim, um olhar social, um olhar
dialógico, para com o outro.

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