Você está na página 1de 9

Giselly Mendes - Prólogo:

13 de Outubro de 1730 – Sexta-feira


Londres, Inglaterra

Uma bela moça caminhava pelo jardim de sua casa colhendo girassóis, provavelmente para mais um
belo buque para enfeitar sua sala de estar com muitos quadros de seus parentes mortos. Seu filho
aparece, pegando um girassol da mão de sua mãe e ficando na ponta dos pés para colocar um dos que
pegou atrás da orelha dela. Sai correndo como se nada pudesse para-lo. A moça olha seu filho indo e
fica cheia de orgulho pelo seu pequeno cavalheiro, que iria ainda arrancar muitos suspiros das belas
moças de Londres. Acaricia o girassol preso em seu emaranhado de cabelos dourados e continua a
colher suas flores.
Agora, atrás de seu filho corre a governanta desesperada e se desculpando quando passa pela moça. A
moça a olha com pena, percebendo o quanto aquela pobre governanta teria de correr para alcançar seu
belo menino. Ela continua a colher seus girassóis, que agora, em suas mãos, começava a surgir um belo
buque.
Uma sombra passa correndo pelo seu jardim, a moça olha com temor, percebendo que estava sozinha.
Ela olha em volta e não vê nada, balança a cabeça e continua a colher as flores. Uma mão gelada pousa
em seus ombros e quando a moça olha para trás, ela tenta gritar, mas o grito não passa de sua garganta,
pois a mesma mão gelada, agora pressionava sua boca, evitando os gritos de saírem. A dona das mãos
geladas sussurra algumas palavras em grego. Logo a bela moça começava a se amolecer em seus
braços.
Como se estivesse se rasgando ao meio, a dona das mãos geladas, se transforma em uma criatura
aparentando um demônio, que pega, do delicado pescoço da moça, um pequeno colar com duas cobras
entrelaçadas à uma pequena pedra de esmeralda e rasga a bela moça ao meio sugando todo seu sangue.
Um galho se estala no meio do jardim e a criatura corre para a floresta.
A governanta aparece carregando o pequeno cavalheiro nas mãos, ele está protestando.
-Isso foi um golpe de sorte, senhorita Haskel. Da próxima vez irei fugir de sua prisão e nada me
deterá. -O menino tenta imitar uma risada maligna, mas o máximo que consegue é tirar risadas da
governanta.
-Sim, talvez, mas agora temos que tomar banho para que sua mãe o leve ao parque. -A governanta
tenta entrar na brincadeira. Quando chega perto do corpo morto de sua patroa, ela arfa tampando os
olhos do menino.
-Tira sua mão do meu rosto. Eu quero ver! -O menino luta com a mão da governanta, quando vence,
prefere não ter o feito. Lágrimas começam a escorrer do pálido rosto do menino.
-Mamãe?! -A voz do menino era como um quadro-negro sendo arranhado, seu rosto era uma máscara
de horror, ele tocava o rosto de sua pobre mãe morta. Quando a governanta finalmente se recupera, ela
pega o menino pelos braços e o carrega para dentro da enorme casa.- Não! Mamãe, mamãe... -O
menino lutava contra os braços fortes, que não o largariam por nada.
Quando chegam dentro da casa a governanta corre para o escritório de seu patrão.
-Senhor Hopkins. A senhora Hopkins...ela está... -A governanta não aguenta e cai aos prantos.
-Aonde? -A voz do senhor Hopkins era firme.
-No jardim.

-Oh Deus! O que aconteceu aqui? -Lágrimas surgiam do rosto do senhor Hopkins, ele se abaixava ao
lado do corpo ensanguentado de sua esposa. Do jardim dava para se ouvir os gritos aterrorizantes do
pequenino chamando sua mãe. E foi assim que a cena continuou por um bom tempo, enquanto a
criatura, que agora já voltara ao normal, corria em direção às ruas movimentadas de Londres.
Capítulo 1:
16 de Outubro de 1730 – Segunda-feira

-Lauren, Lauren. -Sua criada, Ann, a balançava pelo ombro de leve.


-Sim?! -Sua voz estava rouca por ter acabado de acordar.
-A senhora Andrews, já acordou e lhe espera para irem ao chá da tarde de sua tia. -Sua voz era
animada. Ann amava quando tinha que arrumar Lauren com seus melhores vestidos para o chá da tarde
com a senhora Hopkins.
-Ah, sim. Diga a ela que estou com pneumonia e que não poderei ir. -Lauren cobria seu rosto, estava
muito cansada pela noite anterior e não queria ir a chá nenhum.
-Lauren, querida. Sua mãe comprou um vestido lindo, não iria querer que não fosse usado.
-Oportunidades não me faltarão, Ann. Agora me deixe e vá arrumar o que fazer.
-Lauren, sabe que não poderei fazer isso, sua mãe me demitiria se eu fizesse tal coisa.
-Tudo bem, eu levanto.
-Ótimo! Olhe esse vestido, Lauren, não é lindo? -Ann rodopiava com um belo vestido azulado,
costurados com pérolas. Os olhos de Ann brilhavam enquanto rodopiava com o exuberante vestido.
-Sim, é realmente lindo. -Lauren não estava com muito entusiasmo, mas tinha de admitir para si
mesma de que o vestido era de uma beleza encantadora.
-Preparei sua água quente, senhorita.
-Sim, sim. Vamos apenas terminar com isso. -Lauren molhava seu pálido rosto das bochechas
rosadas, uma pele de tamanha beleza, que era invejado por todas as damas de Londres. Sentou-se em
seu tocador e sua criada começara a pentear mechas de seu cabelo castanho-claro. Logo seu cabelo
estava preso em um coque no alto de sua cabeça, que era enfeitada com um belo chapéu azul claro com
uma pena o realçando.
-Oh, ficou perfeito em você, senhorita.
-Claro, foi feito para mim, querida Ann. Tinha que ser perfeito. -E com isso elas deixaram o
aconchegante quarto de Lauren, para encarar a senhora Andrews de uma cara muito mau humorada.
Provavelmente estavam muito atrasadas.
-Por que essa demora Ann? Não sabe que a família Andrews é marcada pela sua pontualidade? -A
senhora Andrews estava tão bela quanto a filha, apesar de não se parecerem. A senhora Andrews tinha
cabelos dourados e sua filha castanho-claro, ela tinha olhos azuis e sua filha verdes, ela tinha cabelos
lisos e sua filha ondulados, e dentre muitas outras coisas. Mas uma coisa sua filha sabia fazer muito
bem, igual à sua mãe, sabia encantar a todos.
-Mil desculpas, mamãe. A culpa é toda minha, adormeci além da conta. Mas não é a senhora que
sempre fala que o segredo da beleza é uma boa noite de sono? -Sua mãe sorriu, orgulhosa de sua filha
por seguir seus passos. -Agora podemos ir? Afinal, essa família é conhecida por sua pontualidade.
-Lauren segurou seu vestido e foi descendo lentamente a escada com toda a elegância que tinha.
-Sim, é claro minha querida. E é bom saber que escuta os conselhos de sua mãe, se quiser se dar bem
com os cavalheiros de Londres tem que seguir os passos de sua mãe, ao contrário de sua irmã.
-Mamãe, eu estou ouvindo. Nem ao menos pode esperar que me retire para falar mau de mim? -A
senhorita Sarah Andrews era exatamente idêntica à mãe nas aparências, mas no comportamento, ela
simplesmente envergonhava a família Andrews.
-Oh, Sarah. Não falamos mau de você, apenas somos realistas como você sabe. -Lauren deu um meio
sorriso e Sarah retribuiu.- É bom ter você em casa Sarah. -Sarah acabara de voltar de Paris, aonde teve
aulas particulares para se tornar uma dama e aonde aprendera vários idiomas, como Lauren tinha feito à
cinco anos atrás.
-Eu não concordo muito com isso. -Sua mãe não gostava dos escândalos que Sarah poderia provocar
para a sua família.
-Mamãe! Ela é sua filha. -Lauren gostava da companhia de sua irmã, afinal, era a única que sabia seu
segredo.
-Hunf. Que seja, vamos logo. -E assim a senhora Andrews partiu para a carruagem.
Sarah não parava de tocar em seu colar com duas cobras entrelaçadas à um pequeno rubi. Lauren
percebera isso e logo puxou de leve sua irmã caçula pelo braço e sussurrou.
-O que aconteceu? Você não para de tocar em seu colar, mamãe irá percebe-lo.
-Nada...Apenas não estou com um bom pressentimento, Lauren. Alguma coisa de ruim aconteceu e
temo que logo iremos descobrir. -O rosto de Sarah era uma máscara indescritível e que dava calafrios à
sua irmã.
-Sim, seja o que for, também estou sentindo. Mas não se esqueça que temos que manter segredo,
mamãe irá perceber se não largar isso agora.
Sarah guardou seu colar dentro de seu vestido beje que sua mãe à obrigara a usar. O cocheiro estende
sua larga mão na frente de Lauren que à agarra e sobe na carruagem.
-Bom dia, senhorita Sarah. É bom ter a alegria da senhorita novamente.
-É claro Edgar. É bom estar em casa outra vez.

A casa dos Hopkins era uma das mais belas e mais alegres de Londres. Com seus jardins floridos, sua
casa sempre bem decorada e com seu belo filho correndo de um lado para o outro com a governanta
atrás desesperada, dava um belo cenário fazendo florescer, dos mais horríveis pintores, a arte de pintar.
Seus girassóis, lírios e rosas de todo tipo de cor eram combinados de um jeito impossivelmente belo.
Mas hoje, a casa tinha um ar triste. As flores estavam apagadas, sua casa esbanjava um ar sombrio e seu
belo filho não estava correndo. Hoje a casa não passava de uma qualquer, fazendo o coração de Lauren
congelar.
-Estou sentindo que é agora que iremos saber o que aconteceu. -Sarah sussurrou no ouvido de sua
irmã, fazendo-na tremer com o vapor quente. Sarah, agora, tocava seu colar como nunca tinha feito,
Lauren já estava ficando preocupada também. Ela percebera que o céu não estava com seus pequenos
raios de sol dançando pelas nuvens como quando saíra de casa, agora o céu estava quase negro, dando a
impressão de que hoje seria um dia longo e frio.
Corvos grunhiam em uma das muitas árvores perto da casa. Sarah estremeceu ao vê-los, agarrando o
braço da irmã com força. Todos sabiam que corvos nunca eram uma boa notícia.
-Espero que sua tia tenha um bom argumento por não ter comparecido à igreja no domingo e que
esses corvos não estraguem a bonita paisagem que se encontra nessa casa, porque ela é única. -A
senhora Andrews mal sabia que não era uma boa hora de se comentar sobre a paisagem da casa,
sabendo que ela ao todo estava sombria.

-Oh, senhora Andrews. Me esqueci completamente de que a senhora viria hoje, temo que hoje não
seja um dia muito apropriado para um chá. -Assim que todas tinham descido da carruagem, uma criada
aparecera para receber a família Andrews. Ela tinha olheiras muito fundas, como se não dormisse à
dias.
-Olá, Victoria. Por que não poderíamos tomar um chá com minha irmã, se o fazemos toda segunda?
Se não pudesse ela mandaria uma carta, agora vamos que estamos congelando aqui fora. -Senhora
Andrews andava em direção a porta colocando seu chapéu nas mãos da criada.
-Sim, senhora Andrews. -A criada abaixava a cabeça enquanto pegava os chapéis de Sarah e Lauren.
Elas foram seguindo pelo corredor, atrás de Victoria que continuava com a cabeça baixa. Pararam em
uma sala bonita, com muitos arranjos de flores e muitos quadros pintados à óleo. -Por favor, poderiam
esperar aqui por algum tempo?
-Sim é claro. Ficaríamos satisfeitas com algumas xícaras de chá por favor, querida.
-Sim senhora. -A criada saíra da sala quase tropeçando.
-Mamãe, posso tomar um pouco de ar e vê se encontro meu primo? A senhora sabe o quanto amo
crianças. -Os instintos de Sarah à diziam para ficar longe da vista de todos e procurar saber o que
acontecera nessa casa, e ela nunca ignorava seus instintos.
-Sim, é claro Sarah. Pode ir, mas temo que irá perder o melhor chá preparado por Victoria.
-Tudo bem, mamãe. Poderei tomar depois com minha tia.
Sarah foi caminhando sem realmente andar, sendo levada pelo seus pés. Quando ela passa por uma
larga porta que aparentava ser muito pesada, escuta vozes vindo de dentro. Encosta seu ouvido na porta
e tenta escutar o máximo que pode.
-Sim, mas temos que fazer alguma coisa senhor. O menino está desolado, ele simplesmente irá ficar
louco. Temos dado acalmantes demais para um menino de apenas dez anos. Ele pode ter sérias
consequências e temo que não irá aguentar. Paul a amava tanto.
-Sim, sim, eu entendo senhorita Haskel. Eu também a amava tanto e acho que não irei conseguir
aguentar tamanho sofrimento, mas eu não compreendo como isso aconteceu e quem faria essa tamanha
sensatez. Eu não compreendo. -A voz do senhor Hopkins era fria e chorosa, ele tentava esconde-la, mas
só piorava.
-O mais estranho, senhor, foi que pegaram aquele colar que a senhora Hopkins nunca tirava. Aquele
com duas cobra entrelaçadas em uma esmeralda. Se quisessem joias, não acha que teriam roubado seus
brincos de ouro e seu anel de diamantes? Esse foi um fato muito estranho.
-Sim, concordo senhorita Haskel. Muito estranho. Mas temos que....
Passos apreçados começaram a ecoar no corredor, Sarah se escondeu atrás de uma pesada cortina
vermelha de veludo, que cobria uma enorme janela. Era Victoria que vinha correndo, ela quase
escorregou quando alcançou a maçaneta da porta, empurrou a mesma com um pequeno esforço e entre
a respiração afobada ela falava com o senhor Hopkins.
-Senhor, a senhora Andrews e as senhoritas Lauren e Sarah, vieram para o chá da tarde. O que eu falo
a elas? -O senhor Hopkins respirou fundo e depois de um longo tempo respondeu.
-Aonde você as deixou?
-Na sala principal senhor.
-Sim, ótimo. Irei falar com elas. -A senhorita Haskel começou a protestar e o seu patrão logo a
cortou.- Senhorita Haskel, acho que sei o que faço da minha vida.
-Mas o que o senhor espera dizer a elas? Que a senhora Hopkins morreu de doença? Nem poderíamos
fazer o enterro, iriam perceber.
-Eu irei falar a verdade. Ela é irmã de minha esposa e merece a verdade e eu mesmo irei dar. Com
licença senhoritas.
Com isso, Sarah saiu correndo para as escadas, segurando seu vestido o mais alto que pode, tentando
chegar antes do senhor Hopkins. Não seria necessário que dissesse o que tinha acontecido com sua tia
favorita, ela já percebera, mas as palavras nunca iriam sair de sua boca.
Ela ofegava enquanto parava em frente a porta, respirou lentamente e entrou.
-Então, querida, encontrou Paul? -Sua mãe segurava uma xícara de chá, sentada no sofá rosa claro ao
lado de Lauren.
-Oh, não mamãe. Não encontrei infelizmente, mas me serviu para tomar um pouco de ar. - Sentou-se
ao lado de sua irmã, suas mãos estavam tremendo quando foi pegar a xícara que se encontrava na
bandeja, provavelmente o chá já devia estar gelado, mas ela não se importava, só precisava se acalmar.
Passos ecoavam do lado de fora da porta, Sarah sabia que agora era a hora. Sua vista começou a
embaçar e percebeu que lágrimas já escorriam de seu rosto. Abaixou a cabeça para que ninguém
percebesse, sua irmã percebeu, mas preferiu ficar calada e depois perguntar.
As portas se abriram e Sarah pode perceber o porque que a senhorita Haskel protestava tanto. O
senhor Hopkins estava horripilante, seu terno estava amaçado e desabotoado, estava com fundas
olheiras e seu cabelo estava desgrenhado. Aparentava ter bebido muito. Mas era o único consolo que
ele tinha, pensou Sarah.
-Bom dia senhoritas. Temo que eu precise dar uma má notícia e que não possa ter mandado nenhuma
das minhas criadas para da-la. -Ele respirou fundo e continuou, todas estavam curiosas para saber, a
não ser Sarah.- Sexta, minha esposa colhia flores, como sempre faz toda Sexta à tarde e quando minha
governanta, a senhorita Haskel, passou por ela..., vamos dizer que ela não estava se movendo muito...
-Pequenas gotas de lágrimas corriam pelo duro rosto do senhor Hopkins, nos dizendo que era o
máximo que ele conseguia dizer em voz alta.
Sarah não pode conter o choro que estava atolado em sua garganta e soluçava alto. Ela sabia que isso
era uma falta de classe, mas para ela essas coisas não são tão valiosas quanto a vida de sua tia. Lauren
colocava a mão envolta de sua irmã, tentando consola-la o máximo possível. A senhora Andrews tinha
uma máscara dura, como se tentasse controlar as lágrimas, e estava tendo bastante sucesso.
Sarah se levantou e foi saindo da sala, como todos estavam tão abalados, não à contiveram. Ela subia
as escadas correndo, seu vestido já estava úmido e tudo já estava ficando embaçado por conta das
lágrimas. Foi ao quarto de Paul e nele se encontrava uma criada que despertou com a entrada de Sarah.
-Paul está dormindo e seria incomodo de sua parte acorda-lo, senhorita.
-Sim, não irei acorda-lo, lhe prometo, mas posso ficar sozinha com ele? Sou prima dele.
-Tudo bem, mas se ele acordar me chame urgentemente, tudo bem?
-Sim, é claro. -Assim que a criada saiu, Sarah chamou Paul. Ela sabia que ele não estava adormecido,
ele tinha aprendido com ela como fingir que tomou os acalmantes. -Paul, sou eu, Sarah. A criada já se
foi, pode acordar. -No mesmo instante, Paul pulou na garganta de Sarah, envolvendo seus braços nela,
sem nem sequer abrir os olhos, ele tinha medo de que pudesse ver de novo a imagem de sua mãe morta.
Ela retribuiu fazendo o mesmo. -Está tudo bem meu amor, está tudo bem. Eu nunca irei lhe abandonar,
eu prometo isso. -Sarah fazia cafuné, enquanto falava coisas para ele se acalmar.
-Foi tão horrível, tão horrível...Ela estava...cortada ao meio, como se uma garra tivesse feito isso. Seu
colar não estava lá, não estava. De noite fui procura-lo, mas ele não estava lá. Eles pegaram, Sarah, eles
pegaram.
-Calma, você viu quem foi?
-Não, eu estava correndo da senhorita Haskel como sempre e não à vi. Eu estava próximo a ela, ela
não gritou. Por que não gritou? Eu teria o matado ou morreria junto dela, mas eu não quero isso, não
quero. -Lágrimas escorriam das bochechas de Paul, Sarah tentava conte-las, mas eram muitas e nem as
suas próprias lágrimas ela conseguia conter.
-Eu o encontrarei, eu prometo. O colar e o assassino, eu irei te trazer o colar, para que você sempre se
lembre dela, meu querido. -Passos começaram a se aproximar da porta. -Volte a se deitar, e durma
dessa vez, para descansar um pouco. Não se preocupe, eu o encontrarei, agora deite-se. -Ele obedeceu e
logo depois a criada entrou.
-Ouvi choro de criança, ele acordou?
-Não, senhorita. Apenas fui eu, quando me emociono muito, choro que nem criança. -Sarah, poem
sua mão na testa de Paul, e sussurra algumas palavras em grego e logo ela sente o menino relaxar em
suas mãos. -Descanse meu querido, você ainda terá que aguentar muita coisa. -Olha em direção a
criada e já se levantando diz. -Muito obrigada, querida. Boa tarde.
Sarah olha mais uma vez, preocupada, para Paul, ela sabe que ele está protegido pela sua magia, mas
ainda teme em deixa-lo tão sozinho nessa casa enorme. Mas o faz do mesmo jeito, descendo as escadas
e indo em direção à sala principal. A cena é a mesma desde que ela saíra correndo, mas agora lágrimas
escorriam do rosto de sua mãe.
-Podemos ir agora mamãe? -A voz fez o efeito que Sarah esperava na sala. Todos se moveram em
silêncio. Ninguém precisava dizer “meus pêsames”, pois não adiantaria. Apenas se despediram com o
silêncio, que não era cômodo à ninguém.
Sarah já estava um pouco recuperada, mas lágrimas ainda saíam de seus olhos azuis.
-Espero, realmente, que melhore, senhor Hopkins. Digo isso com sinceridade. -Eram as palavras que
o senhor Hopkins precisava para se reconfortar. Não foi preciso o agradecimento, pois isso se via nos
olhos dele.
Sarah puxou sua irmã pelo braço, sussurrando em seu ouvido.
-Paul disse que o corpo estava cortado ao meio como se tivesse sido feito por garras, foi você que fez
isso? Me diga a verdade. -O rosto de Lauren mudou de triste para desapontada, sua voz era quase um
grito.
-Não! Meu Deus, não. Você sabe que eu nunca faria isso.
-Então quem? Seja lá quem for, pegou seu colar de duas cobras com esmeralda e você sabe que nunca
é boa coisa pegar o colar de uma bruxa, principalmente de uma líder. -O rosto de Lauren mudou de
desapontada para horrivelmente assustada. Ela apenas sussurrou, num tom tão baixo que Sarah
precisou se inclinar para escutar.
-Oh meu Deus, magia negra!

Capítulo 2:

-Deve estar em algum lugar por aqui. -Lauren folheava um livro de capa de couro preta com duas
cobras entrelaçadas à algo invisível, que ganhara da ex-líder de seu grupo, a Senhora Curnn. -Em que
dia mesmo que nossa tia...foi eer...atacada?
-Dia treze. -A voz de Sarah era fraca, mas ela tentava disfarçar com sucesso.
-Como eu imaginava, em uma sexta-feira treze. Arrancar o colar de uma das bruxas mais poderosas e
banha-lo no sangue da mesma em uma sexta-feira treze. Nada bom, nada bom. -Agora, Lauren havia
parado em uma página que contia uma bastão de prata com duas cobras envolta de uma esmeralda,
outras duas cobras envolta de um rubi e outras duas cobras envolta de uma safira. Na ponta se
encontrava uma cabeça de uma cobra de boca aberta, esculpida em uma jaspe vermelha.
-Que imagem é essa Lauren? Me diga que isso não significa os três grupos de bruxas. -Sarah olhava a
imagem com os olhos arregalados.
-Seja quem for, é muito bom e conhece tudo. É de dentro de um dos grupos, pois é impossível
descobrir quem é o líder de cada um. -Lauren passava os dedos por cada parte do bastão que
representava cada grupo. -Diz a lenda, que se você for aliado de Hades e se conseguir roubar o colar e o
banhar no sangue de cada bruxa líder do grupo em uma sexta-feira treze e a líder do clã for morta no
dia das bruxas, essa pessoa, ou demônio no caso, poderia controlar toda a magia negra, e com isso
poderia ser mais forte do que qualquer uma de nós. Podendo até controlar o mundo se o quisesse. Todo
o poder contido no sangue, é transportado para colar e assim, com todos juntos, poderia ser mais forte
que qualquer um. Essa pessoa pode estar sendo controlada por um demônio, se for fraca o bastante.
Imagina um poder desses na mão de um demônio? -Lauren olha para baixo e continua.- Eu sei que
tenho um demônio dentro de mim Sarah, mas eu sou forte o bastante para conte-lo quando for
necessário, como agora. Estou sedenta de sangue, mas estou me controlando, sei que um dia terei de
alimenta-lo, mas não o faço à um mês.
-Desculpe ter desconfiado de você, mas na hora só me veio à mente você. Me desculpe.
-Não, tudo bem. É sério. Eu também desconfiaria de mim mesma. -Lauren deu um meio sorriso à sua
irmã, que lhe retribuiu. -Mas agora, temos de fazer algo. A próxima será a condessa Cecily Peterfreund!
Como iremos fazer algo, se ela nem irá nos dar ouvidos? Oh, eu sei cuidar de tudo muito bem crianças,
por isso que tenho o posto de líder dos clãs. Se ela soubesse mesmo cuidar de tudo, não teria deixado
que todas morressem.
-Como assim, Lauren? Todas morreram? Mas...Mas, e a senhora Curnn? -Sarah queria que sua irmã
mentisse, mas ela sabia que não o faria.
-Sim, querida irmã. A senhora Brashares, morreu no dia treze de Maio de 1729, em uma sexta-feira
treze. A senhora Curnn, morreu no dia treze de Janeiro de 1730, em uma sexta-feira treze também. E
agora a nossa tia, no dia treze de Outubro de 1730, e adivinha, foi em uma sexta-feira treze também.
-Lauren ria com a ironia e pensava em como nunca tinha percebido isso.
-Como matamos isso?
-Matar? Você esta brincando? A única coisa que iriamos matar seria a pessoa, o demônio continuaria
por ai, usando outras pessoas para completar a sua missão.
-Sim, mas será dia das bruxas e tudo pode acontecer no dia das bruxas. -Nesse instante as portas se
abrem, revelando a senhora Andrews com a sua bela postura. Lauren rapidamente enfia o livro dentro
de seu vestido.
-O que diziam meninas? -A voz da senhora Andrews era encantadora, que poderia até enfeitiçar.
-Apenas, mamãe, que no dia das bruxas tudo pode acontecer, quem sabe os cavalheiros que irão?
-Sarah usava a facilidade de mentir que aprendera com seu pai, pois é o único jeito de conseguir passar
por sua mãe.
-Sim, com certeza minha querida. Vejo que anda me escutando ultimamente. Posso começar a te levar
aos chás para... -Ann aparece atrás da senhora Andrews gritando euforicamente.
-Fogo, fogo, fogo. Senhora, a cozinha está pegando fogo.
-Oh Deus. Vamos, vamos. Peguem bacias e encham de água, rápido...
-Sarah, não devia fazer isso. Vai demorar semanas para reconstruírem a cozinha. -Lauren olhava para
sua irmã com um enorme sorriso no rosto.
-Ela ia me chamar para ir à chás chatos, eu tinha que fazer algo. -Sarah ria aparentando uma criança.
-Sim, mas não faça mais, entendeu? -Lauren estava séria e Sarah rapidamente se recompôs.
-Sim, mamãe. Então, o que faremos para impedir o tal demônio?
-Não podemos fazer nada, o máximo seria impedir a morte da condessa Peterfreund. Só isso que estás
à nosso alcance.
-Então acho que teremos de planejar algo rapidamente. Temos duas semanas apenas, mas poderíamos
ir ao seu chá semanal que é sempre na quinta.
-Como sabe disso? -Lauren à olhava como se não entendesse.
-Sabe, mamãe quer que eu vá e você também. Sexta será o dia em que um dos filhos da condessa
Peterfreund escolherá sua esposa, se é que podemos dizer que vai ser ele quem vai escolher.
-É isso Sarah, se conseguíssemos casar com ele, poderíamos sempre estar por perto da condessa
Peterfreund.
-Ele é todo seu, com aquele ignorante eu nunca me casaria.
-Você sabe que não posso Sarah. Seria contra as regras, esqueceu que sou um demônio? Nunca
morreria e logo perceberiam. Você terás de faze-lo.
-Você estás louca?
-Sarah, é o único modo, prometo que depois darei um jeito. -Sarah bufava, mas acabou cedendo.

Tudo estava escuro e Sarah apenas via uma pequena sombra se movendo pelo jardim. Ela sabia que
não estava em casa, parecia com o jardim da condessa Peterfreund. Ela percebera outra sombra
passando correndo pela névoa que envolvia o jardim. A condessa Peterfreund olhava para todos os
lados, sem perceber a presença de Sarah ao seu lado. Sarah já passara por muitas visões e sabia que
nunca era vista neles.
A condessa vestia um lindo vestido preto de renda, seu cabelo castanho-escuro estava desgrenhado
aparentando uma bruxa e segurava uma máscara nas mãos. Sarah logo percebeu que seria o dia em que
a condessa iria morrer.
-Olá minha querida, vejo que não mudou muito desde a última vez. -A sombra falava olhando na
direção da condessa Peterfreund. Sarah reconhecia essa voz, mas não se lembrava de onde.
-Vejo que continua tentando. Para que fazer tudo isso? Só para impressionar vosso pai? -A voz da
condessa parecia desafiadora, mas sua face dizia ao contrário.
-Não preciso impressionar Hades e a última vez eu era inexperiente, mas dessa vez não haverá erro.
-A sombra saiu da escuridão e da névoa. Parecia com a senhora Andrews, mas agora, emanava um
poder sombrio. Vestia um vestido branco com pérolas de renda e estava sem sua máscara.
-Oh sim, compreendo muito bem. A senhora Andrews, que ironia do destino. Nunca pegaste uma mãe
de bruxas.
-Como falei querida condessa, dessa vez estou mais esperto.
-Dessa vez fez no dia correto pelo visto. Mas, meu querido, você nunca me disse o porque disso tudo.
Estou muito curiosa, já que não és para impressionar vosso pai.
-Condessa, meu pai sempre teve todo o poder, como você deve sabei muito melhor do que eu, então
imagine, eu, filho de Hades, com mais poder do que o próprio pai. Poderia roubar seu trono e controlar
todas as almas da Terra. Seria simplesmente magnífico. - A senhora Andrews sorria sombriamente.
-Compreendo, mas temo que não irás conseguir. - A senhora Peterfreund se lançou com uma cruz de
ouro pra cima da senhora Andrews, mas no caminho passou no meio da Sarah, fazendo ela perder o
“contato”.

Sarah acordou suando frio, botou seu robe de seda azul e foi ao quarto de sua irmã.
-Lauren, Lauren. Acorda. - Sarah balançava sua irmã pelo braço bem forte.
-Que?! - Lauren tentava bater no que a estivesse balançando, mas sem muito sucesso.
Sarah começou a botar fogo na coberta de sua irmã. Rapidamente Lauren abriu os olhos e se
levantou.
-Já to acordada, já to acordada. - O fogo começou a baixar e sumiu de repente. - O que você quer a
essa hora?
-Eu já sei quem que atacou a nossa tia.
-Quem?
-A nossa mãe. - Gargalhadas se explodiram da boca de Sarah. - Há, a nossa mãe. - E Sarah
continuava a gargalhar.
-Você bebeu algum álcool do papai?

Você também pode gostar