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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

MECÂNICA DOS SOLOS II - ENG01114

ANÁLISE DE TALUDES COM O SOFTWARE GEOSTUDIO SLOPE/W

Thalles Daniel Kaefer

Porto Alegre, 26 de abril de 2021


1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo a simulação de taludes através do software


GeoStudio Slope/W, tendo em vista a análise das alterações do fator de segurança
conforme há a presença de água ou são modificadas a geometria e inclinação do
talude. A situação original resulta em um fator de segurança de 0,993, classificando
o talude como inseguro segundo a NBR 11682.

Serão propostas três soluções para o cenário original, visualizado na figura


1, que possam elevar o fator de segurança aos níveis aceitáveis de acordo com a
NBR 11682, através de processos de terraplenagem, com a alteração da geometria
do talude, ou com a execução de estrutura de contenção.

Figura 1: Cenário original inserido no software GeoStudio Slope/W.


Fonte: Elaborado pelo autor.
1. ANÁLISE DO CENÁRIO ORIGINAL

O talude tem uma altura total de 5 m com inclinação de 45 graus, sendo


composto de um solo de areia silto-argilosa e estando acima de uma camada de
areia siltosa. Os parâmetros das camadas do solo inseridos no GeoStudio Slope/W
estão dispostos nas figuras de análise do talude, no decorrer do trabalho.

1.1 CONDIÇÃO SEM ÁGUA

A análise do talude descrito previamente, na condição sem água, resulta em


um fator de segurança de 0,993. Para manter a estabilidade do talude, a NBR 11682
recomenda que não devem ser admitidas situações que resultem em fatores de
segurança inferiores a 1,2, sob a responsabilidade do projetista, sendo este o nível
de segurança mais baixo prescrito na norma. O talude original seria, portanto,
classificado como inseguro, visto que seu fator de segurança é inferior à 1,2.

Figura 2: Análise do talude original pelo software GeoStudio Slope/W.


Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 3: Estabilidade de taludes conforme o fator de segurança.


Fonte: NBR 11682 (2009).
1.2 CONDIÇÃO DE INUNDAÇÃO

A análise do talude completamente submerso resultou em um fator de


segurança de 1,389, classificando-o como medianamente seguro, segundo a NBR
11682.

Figura 4: Talude completamente submerso, nível da água em 7 m.


Fonte: Elaborado pelo autor.

Foi verificado que a alteração da cota do nível da água para níveis


superiores ao plano que causa a submersão total do talude não resultam em
alterações no fator de segurança, conforme visto na figura 5.

Figura 5: Talude completamente submerso, nível da água em 10 m.


Fonte: Elaborado pelo autor.

Observou-se que, com o nível d’água na cota de 2 m, na parte inferior do


talude, o fator de segurança permaneceu inalterado.
Figura 6: Nível da água na cota de 2 m.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Foi possível constatar, através das simulações, que somente há a alteração


do fator de segurança quando a cota do nível d’água varia entre 2 e 7 m, região que
compreende a inclinação do talude. Na figura 7, o nível d’água foi disposto na cota
de 6 m, gerando um acréscimo no fator de segurança em relação à situação da
figura 6.

Figura 7: Talude parcialmente submerso, nível da água na cota de 6 m.


Fonte: Elaborado pelo autor.

Presumivelmente, a variação da cota piezométrica de 2 a 7 m indica que


carga da água gera esforços estabilizantes sobre a superfície inclinada do talude, de
modo a atenuar as tensões de cisalhamento que poderiam gerar o deslizamento do
terreno, causando, portanto, um acréscimo no fator de segurança.
2. SOLUÇÕES DE PROJETO

2.1 SOLO GRAMPEADO

Define-se solo grampeado como uma técnica de reforço e de contenção de


taludes, sejam eles naturais ou artificiais. Este reforço ou contenção acontece
através do “grampeamento” do solo, ou seja, da introdução de grampos que
restringem os deslocamentos do maciço de solo e transferem os esforços de uma
zona potencialmente instável para uma zona segura, resistente. Estes elementos de
reforço são posicionados horizontalmente ou inclinados no maciço, de forma a
introduzir esforços resistentes de tração e cisalhamento (ORTIGÃO et al., 1993).

2.1.1 Parâmetros de projeto

Existem vários parâmetros que devem ser levados em conta na hora do


dimensionamento de uma estrutura, como por exemplo o ângulo de instalação,
comprimento e o espaçamento entre os grampos. Esses parâmetros devem
assegurar as condições de estabilidade interna e externa da estrutura, evitando que
a mesma venha a ruina. Esses parâmetros dependem de fatores como altura e
inclinação do talude, tipos de grampos e etc. Por exemplo, foram feitos ensaios de
arrancamento 24 em grampos variando o ângulo entre 0 e 20°. Chegou-se à
conclusão de que os grampos instalados a 15° foram os que suportaram os maiores
esforços (CLOUTERRE, 1991).

O dimensionamento da estrutura de solo grampeado será realizado de


acordo com as recomendações dispostas na figura 1.
Figura 8: Valores de projeto usuais em estruturas de solo grampeado.
Fonte: Clouterre (1991).

Para a obtenção de uma estimativa para a resistência ao arrancamento “q s”


foram utilizados os seguintes resultados, dispostos na figura 2 e 3, que
correlacionam a resistência ao arrancamento com o tipo de solo do talude.

Figura 9: Resultados dos testes de arrancamento realizados.


Fonte: Ortigão e Sayão (2004).

Figura 10: Resistência ao arrancamento média conforme o tipo de solo.


Fonte: Clouterre (1991).

O valor de resistência ao arrancamento (q s) será estimado como 115 kPa,


visto que o solo do talude a ser analisado é de areia siltosa. A resistência à tração
do aço foi considerada como 450 kN.
Segundo Lazarte (2003), o comprimento de ancoragem do grampo deve ser
de, no mínimo, 3 m, sendo os trechos livres maiores que 1 m. Foram dispostos,
portanto, dois reforços de grampos de aço com comprimento total de 6 m e 5 m,
sendo a menor dimensão utilizada na parte inferior da estrutura, conforme a figura 4.
Os grampos foram dimensionados com comprimento de ancoragem superior a 3 m e
diâmetro do bulbo de 15 cm, visando manter o fator de segurança acima de 1,5.

Figura 11: Distribuição dos grampos.


Fonte: Clouterre (1991).

Os valores de projeto inseridos no software GeoStudio Slope/W podem ser


visualizados na figura 5.

Figura 12: Parâmetros inseridos no software GeoStudio Slope/W.


Fonte: Elaborado pelo autor.

2.1.2 Análise da proposta

A estabilização do talude em solo grampeado foi proposta com a finalidade


de apresentar uma solução para ser empregada nos casos em que a otimização do
espaço é uma prioridade, mesmo que a inclinação do talude original, de 45 graus,
possibilite intervenções mais econômicas e que dispensem a execução de estruturas
de contenção, como o retaludamento. Os resultados da análise pelo GeoStudio
podem ser visualizados na figura 6.
Figura 13: Análise da estrutura pelo software GeoStudio Slope/W.
Fonte: Elaborado pelo autor.

A solução proposta apresentou um fator de segurança de 1,592, estando


acima dos níveis de segurança recomendados pela NBR 5629 para estruturas
permanentes de contenção ancorada.

Figura 14: Fatores de segurança mínimos para ruptura global de tirantes permanentes.
Fonte: NBR 5629:2018

2.2 RETALUDAMENTO

O retaludamento é um processo de terraplenagem amplamente realizado


devido à sua eficácia e simplicidade, através do qual se altera a geometria do talude
original através de cortes ou aterros. Geralmente, a execução de cortes no talude
visa a redução da inclinação da superfície, de modo a atenuar os esforços
desestabilizantes.
Para qualquer tipo de solo ou rocha, em qualquer condição de ocorrência e
sob a ação de quaisquer esforços, sempre existirá uma condição geométrica de
talude que oferecerá estabilidade ao maciço (DER/SP, 1991).

A remoção de parte do material do talude é um dos processos mais antigos


e mais simples de estabilizar um talude, pois a suavização de sua inclinação resulta
na alteração do estado de tensões atuantes no maciço, ou seja, há uma redução das
tensões de cisalhamento (WOLLE, 1980).

2.2.1 Análise da proposta

A proposta de estabilização por retaludamento consiste na redução da


inclinação da superfície de 45 graus, na situação original, para 30 graus, conforme
ilustrado a seguir.

Figura 15: Solução de talude com a inclinação reduzida.


Fonte: Elaborado pelo autor.

Essa intervenção apresentou-se como uma solução eficaz e econômica,


sendo suficiente para elevar o fator de segurança de 0,993 para 1,438, tornando o
talude medianamente seguro conforme a NBR 11682. A principal desvantagem
dessa proposta seria a utilização de um comprimento horizontal superior para a
estabilização do talude, sendo uma solução mais “espaçosa”.
Figura 16: Análise da intervenção pelo software GeoStudio Slope/W.
Fonte: Elaborado pelo autor.

2.3 TALUDE COM BANCADA

A gravidade como fator instabilizante de um talude está associada não só à


inclinação do talude, mas também à sua altura. Outro meio de se obter uma
melhoria na estabilidade, para situações de uma potencial ruptura global, é reduzir a
altura do talude, conforme esquematizado na figura 8.

Figura 17:

Redução da inclinação do talude, através da execução de bancada.


Fonte: DER/SP (1991).

2.3.1 Análise da proposta

A execução de um nível intermediário no talude, mesmo que a inclinação


das superfícies adjacentes mantenham-se constantes em relação ao cenário
original, proporciona uma redução da inclinação total do talude, conforme indica a
figura 12. Dessa forma, foi obtido um aumento do fator de segurança de 0,993 para
1,283, enquadrando o talude em um nível de segurança baixo conforme a NBR
11682. Nota-se que a situação crítica foi encontrada na análise do plano
intermediário do talude e, caso fosse do interesse do projetista, o fator de segurança
poderia ser elevado com um acréscimo na dimensão intermediária do talude,
aumentando o seu comprimento horizontal e mantendo as inclinações das
superfícies adjacentes em 45 graus.

Figura 18: Análise do plano intermediário do talude pelo software GeoStudio Slope/W.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Figura 19: Análise do plano superior do talude pelo software GeoStudio Slope/W.
Fonte: Elaborado pelo autor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LAZARTE, C. A., ELIAS, V., ESPINOZA, R. D., SABATINI, P. J., 2003. Soil
nail walls. Departament of Transportation Federal Highway Administration (FHWA).

ORTIGÃO, J.A.R., ZIRLIS, A. & PALMEIRA, E. M., 1993. Experiência com


solo grampeado no Brasil 1970-1993. Revista Solos e Rochas, ABMS, v. 16, n. 4,
pp. 291- 304, Dezembro.

CLOUTERRE 1991. Recomendations Projet National Clouterre, École


Nationale des Ponts et Chausseés, Presses de I’ENPC, Paris, 269 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR


11682:2009 - Estabilidade de Encostas. Rio de Janeiro, 2009.

WOLLE, C. M., 1980. Taludes naturais – mecanismos de estabilização e


critérios de segurança. Dissertação de mestrado. Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, São Paulo.

DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM DO ESTADO DE SÃO


PAULO, 1991. Taludes de Rodovias – Orientação para diagnóstico e soluções
de seus problemas. São Paulo, 1991.

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