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XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

Geotecnia e Desenvolvimento Urbano


COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Caracterização Física de um Solo Residual com Aplicabilidade em


Projetos de Pavimentação no Município de Biguaçu – Santa
Catarina
Patricia Odozynski da Silva
IFSC – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
patricia.odozynski@gmail.com

Wellington Borba Broering


IFSC – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
wellbbroering@gmail.com

Fernanda Simoni Schuch


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
fernandass@ifsc.edu.br

Fábio Krueger da Silva


IFSC – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
fabio.krueger@ifsc.edu.br

RESUMO: A presente pesquisa analisa os resultados dos ensaios de caracterização física e classifica
o solo estudado, de acordo com o sistema de classificação TRB, em um solo residual de granito, da
região rural do município de Biguaçu, Santa Catarina. Os ensaios laboratoriais realizados no processo
de caracterização foram: determinação da massa específica, análise granulométrica, determinação dos
limites de liquidez e plasticidade, ensaio de compactação e determinação do teor de matéria orgânica.
Foi calculado o índice de plasticidade e índice de grupo do solo. De acordo com os resultados
encontrados, o solo se classifica como Grupo A-4 no sistema TRB. Conclui-se que o solo não se torna
eficiente para uso em camadas de pavimentação, porém, se fazem necessários outros ensaios de
resistência para melhor avaliação do comportamento do solo no uso rodoviário. Além disso, é
possível melhorar suas propriedades com o uso de estabilizações.

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização Física, Solo Residual de Granito, Pavimentação, Ensaios


Laboratoriais em Solos, Classificação TRB.

1 INTRODUÇÃO pavimento apresentam funções específicas e


definidas, sendo conhecidas como: sub-base,
Do ponto de vista da pavimentação, Pereira base e revestimento. Em um contexto geral, as
(2012) aponta que o solo pode ser descrito como camadas mais externas apresentam melhores
um material inconsolidado ou parcialmente propriedades mecânicas pelo fato de
consolidado, podendo ser inorgânico ou não, necessitarem suportar as maiores cargas (DNIT,
retirado sem uso de explosivos ou técnicas 2006).
especiais de extração. Na execução, essas camadas apresentam
O pavimento é uma superestrutura constituída necessidades específicas com relação ao tipo de
por uma combinação de camadas finitas, solo a ser empregado. Considerando uma seção
assentes sobre um terreno ou fundação chamada típica (subleito, sub-base, base e revestimento)
de subleito. Basicamente, as camadas de um cada componente presente exige determinadas
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propriedades do solo como resistência mecânica, conhecimento que no local está sendo executada
CBR (California Bearing Ratio), expansão, a implantação de uma obra de pavimentação de
propriedades físicas, entre outros. grande porte, sendo assim, utilizando o material
As propriedades físicas são identificadas a próprio da região para compor as camadas do
partir de ensaios laboratoriais, dentre estes: pavimento. A Figura 1 mostra o talude no estado
determinação de massa específica, determinação já exposto devido as obras anteriormente
dos limites de consistência do solo, análise mencionadas, o que permitiu uma análise tátil-
granulométrica, compactação e determinação do visual prévia do material.
teor de matéria orgânica. Todos os ensaios são
preconizados e preparados de acordo com as
Normas Técnicas da Associação Brasileira de
Normas Técnicas.
O solo pode ser um material bastante
heterogêneo, por isso se faz necessário
classificá-lo de modo que seja possível formular
métodos de projetos de pavimentação de acordo
com algumas propriedades físicas (DNIT, 2006).
Sendo assim, o presente estudo busca avaliar as
propriedades físicas de um solo originado do
município de Biguaçu, Santa Catarina, em Figura 1. Representação fotográfica da região onde
função do material disponível em área de corte localiza-se o talude objetivo desta pesquisa, com indicação
para a construção futura de uma rodovia na do ponto da coleta da amostra, ao pé do talude de corte.
região. Além disso, visa classificar o solo de
acordo com o sistema TRB (Transportation Foram coletadas amostras de solo
Research Board), antigo HRB (Highway deformadas, ao pé do talude apresentado, sendo
Research Board), sendo um dos mais utilizados todo o material envolvido em sacos plásticos
para pavimentação. para posterior transporte ao Laboratório de
Materiais e Solos do IFSC – Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Santa
2 MATERIAL E LOCAL DE ESTUDO Catarina, onde ocorreu o acondicionamento do
material. Para o ensaio realizado no Laboratório
A pesquisa foi realizada em solos residuais de de Engenharia Civil da UNISUL – Universidade
granito originados da região rural do município do Sul de Santa Catarina, o material fora
de Biguaçu, em Santa Catarina. As coordenadas transportado posteriormente, no momento do
geográficas do ponto de estudo são 27º 28’ ensaio.
09.89’’ S e 48º 43’ 20.58’’ S, que pode ser
expressado também por -27.4694136 e -
48.7223827. O talude objeto desta pesquisa faz 3 METODOLOGIA
parte do Complexo Canguçu, sendo massas
rochosas com formas diferenciadas, 3.1 Densidade real dos grãos
preferencialmente alongadas na direção NE-SW
ou NNE-SSW. A região de estudo se encontra O ensaio de Densidade Real dos Grãos é regido
em uma área com eminência de solo Podzólico pela norma NBR 6508/1984, que prescreve o
Vermelho-Amarelo Álico, usualmente bem método de determinação da massa específica dos
drenados, com grandes quantidades de argila de grãos de solos que passam na peneira de 4,8mm,
atividade baixa e textura variada, presença ou por meio do picnômetro. A preparação do ensaio
não de cascalhos, calhaus e matacões. foi feita com base na norma NBR 6457/2016,
O talude foi escolhido em função do com secagem do material até a umidade
higroscópica. O ensaio foi realizado no
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Laboratório de Materiais e Solos do IFSC. Onde:


A quantidade de solo utilizada para a 𝛿 = massa específica dos grãos do solo, em
realização de cada ensaio foi cerca de 55g, g/cm³;
totalizando 5 repetições de ensaios. As amostras 𝑀1 = Massa do solo úmido, em g;
ficaram cerca de 24 horas imersas em água 𝑀2 = Massa do picnômetro + solo + água, em
destilada antes da execução do ensaio. Foram g;
utilizados dois picnômetros diferentes para 𝑀3 = Massa do picnômetro + água até a marca
realizar ensaios simultâneos. Os dados obtidos de referência, em g;
do ensaio são apresentados na Tabela 1. Além ℎ = umidade inicial da amostra, em %.
disso, retirou-se uma porção de solo para
determinação do teor de umidade higroscópica. 3.2 Análise granulométrica
A Figura 2 demonstra o picnômetro sob pressão
de vácuo. O ensaio de Granulometria é regido pela norma
NBR 7181/2016, a qual prescreve o método para
Tabela 1. Dados obtidos com o ensaio de Densidade real a análise granulométrica do solo realizada por
dos grãos - Picnômetro.
sedimentação e peneiramento. A preparação do
Picnômetro U (%) SU (g) PSA (g) PA (g)
ensaio foi feita com base na norma NBR
1 1,72 54,07 672,14 638,83
6457/2016. O ensaio foi realizado no
2 1,72 51,77 677,62 646,73
Laboratório de Engenharia Civil da UNISUL.
1 1,72 55,33 672,85 638,83
2 1,72 50,90 677,68 646,73
1 1,72 54,57 672,46 638,83
Legenda: U: Umidade; SU: Peso do Solo Úmido; PSA:
Peso do Picnômetro + Peso do Solo + Peso da Água; PA:
Peso do Picnômetro + Peso da Água.

Figura 3. Ensaio de sedimentação em ambiente controlado.


Figura 2. Picnômetro sob pressão de vácuo.
Por se tratar de um solo visualmente
Com os dados obtidos calcula-se a massa siltoso/argiloso, com dimensões de grãos
específica dos grãos do solo utilizando-se a visivelmente menores que 5,0 mm, utilizou-se
Equação 01: cerca de 1500g de solo para separação do
material grosso e fino na peneira de 2,0mm (#10)
𝑀1 𝑥100/(100+ℎ) e 80g de material seco ao ar passante da peneira
𝛿 = [𝑀 (01) 2,0mm para realização do ensaio de
1 𝑥100/(100+ℎ)]+𝑀3 −𝑀2
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sedimentação. Foi coletado material para seco em estufa e o peneiramento grosso com o
determinação da umidade higroscópica. O solo material seco em estufa retido na peneira de
destinado à sedimentação fora deixado imerso 2,0mm. Os dados obtidos do procedimento de
em defloculante por 24 horas. A Figura 3 retrata sedimentação e peneiramento são apresentados
o ensaio de sedimentação em execução. na Tabela 2 e Tabela 3, respectivamente.
Com os resultados obtidos, foram
Tabela 2. Dados obtidos com o ensaio de Sedimentação. determinados a porcentagem de material em
Tempo (s) Temperatura (ºC) D (g/cm³) suspensão na sedimentação e o diâmetro dos
45 29,9 1,0262 grãos e materiais passantes no peneiramento
60 29,9 1,0253 grosso e fino.
120 29,9 1,0241
240 29,9 1,0230 3.3 Limites de consistência
480 29,9 1,0210
960 29,8 1,0185 Os Limites de Liquidez e Plasticidade são
1800 29,8 1,0170 regidos pelas normas NBR 6459/2016 e NBR
7180/2016, respectivamente. As preparações dos
3600 29,6 1,0151
ensaios foram feitas com base na norma NBR
7200 29,4 1,0133
6457/2016, com secagem do material na estufa.
16380 30,0 1,0112 O ensaio foi realizado no Laboratório de Solos e
35100 26,5 1,0100 Materiais do IFSC.
74220 26,0 1,0096 O equipamento de Casagrande fora
84360 26,0 1,0089 previamente inspecionado e calibrado, onde
Legenda: D: Densidade. utilizou-se o cinzel de repartição para solos
argilosos. O ensaio para determinação do Limite
Tabela 3. Dados obtidos com o ensaio de Peneiramento
de Liquidez teve como amostra cerca de 200g de
Fino e Grosso.
P MR FFR FGR AR FFP FGP material, onde foi adicionado primeiramente
(mm) (g) (%) (%) (%) (%) (%) 25% de umidade, sendo esta determinada por
76,2 0,00 0,00 0,00 100,00 experiência dos autores da pesquisa. O material
50,8 0,00 0,00 0,00 100,00 foi homogeneizado por aproximadamente 15
minutos. Não sendo suficiente tal umidade para
38,1 0,00 0,00 0,00 100,00
determinar o primeiro ponto de 35 golpes, foi
25,4 0,00 0,00 0,00 100,00
descartado o resultado e adicionado mais água.
19,1 0,00 0,00 0,00 100,00
O ensaio resultou em 6 repetições (Tabela 4),
9,5 0,00 0,00 0,00 100,00 variando seus extremos entre 35 e 15 golpes. A
4,8 1,66 0,11 0,11 99,89 prévia do ensaio pode ser observada na Figura 4.
2,0 37,61 2,57 2,68 97,32 Com os dados obtidos é construído o gráfico
1,20 2,05 2,63 0,14 2,63 97,37 94,76 “Número de Golpes x Teores de Umidade”.
0,60 8,18 10,49 0,56 13,11 86,89 84,55
0,42 4,73 6,06 0,32 19,18 80,82 78,65 Tabela 4. Dados obtidos com o ensaio de Limite de
Liquidez.
0,30 5,37 6,88 0,37 26,06 73,94 71,95 Golpes PA (g) PS (g) U(%)
0,15 7,46 7,56 0,51 35,62 64,38 62,65 35 1,50 4,54 33,04
0,075 6,35 8,14 0,43 43,76 56,24 54,73 29 1,43 4,13 34,62
Legenda: P: Peneira; MR: Material Retido; FFR: Fração
Fina Retida; FGR: Fração Grossa Retida; AR: Acumulada 27 1,43 4,15 34,46
Retida; FFP: Fração Fina Passante; FGP: Fração Grossa 25 1,77 4,85 36,49
Passante. 20 1,55 3,99 38,85
15 2,78 7,12 39,04
Posteriormente foi executado o peneiramento Legenda: PA: Peso da Água; PS: Peso Solo Seco; U:
fino com o material utilizado na sedimentação Umidade.
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Figura 5. Ensaio de Limite de Plasticidade.


Figura 4. Execução do Ensaio de Limite de Liquidez.
Com os valores dos Limites de Liquidez e
O ensaio de Limite de Plasticidade também
Plasticidade foi feito cálculo do Índice de
teve 200g de peso de amostra e umidade inicial
Plasticidade através da subtração dos mesmos,
adicionada de 25%. Sendo a umidade
respectivamente, e o Índice de Grupo, a partir da
insuficiente para moldar o Molde Padrão,
Equação 2:
adicionou-se mais água com o devido cuidado,
pois se trata de um ensaio onde o operador possui
𝐼𝐺 = 0,2𝑎 + 0,005𝑎𝑐 + 0,01𝑏𝑑 (02)
muita influência no resultado. O ensaio teve 7
repetições (Tabela 5).
Onde:
Tabela 5. Dados obtidos com o ensaio de Limite de 𝐼𝐺 = índice de grupo, adimensional;
Plasticidade.
Molde PA (g) PS (g) U(%)
𝑎 = % de material que passa na peneira nº 200,
1 0,40 1,41 28,37
subtraído 35;
𝑏 = % de material que passa na peneira nº 200,
2 0,33 1,15 28,70
subtraído 15;
3 0,45 1,59 28,30 𝑐 = valor do Limite de Liquidez, subtraído 40;
4 0,39 1,36 28,68 𝑑 = valor do Índice de Plasticidade, subtraído
5 0,41 1,44 28,47 10.
6 0,42 1,53 27,45
7 0,40 1,32 30,30 3.4 Ensaio de compactação
Legenda: PA: Peso da Água; PS: Peso Solo Seco; U:
Umidade. O Ensaio de Compactação é regido pela norma
NBR 7182/2016 que prescreve o método para
Na Figura 5 é possível observar a finalização determinar a relação entre o teor de umidade e a
do ensaio, onde o solo moldado possui massa específica aparente seca de solos quando
visualmente a mesma espessura do Molde compactados. A preparação do ensaio foi feita
Padrão de ensaio (3 mm) e fragmentos em sua com base na norma NBR 6457/2016, com
parte central. secagem do material até a umidade higroscópica.
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O ensaio foi realizado no Laboratório de em um cadinho de porcelana (Figura 6) e


Materiais e Solos do IFSC. permaneceu por cerca de 12 horas na mufla com
A execução do ensaio ocorreu na energia temperatura aproximada de 440ºC. Após o
normal de compactação, utilizando-se o cilindro desligamento do aparelho e do resfriamento
Proctor pequeno e soquete pequeno, sendo o natural do material, a massa encontrada da
número de camadas igual a 3 com 26 golpes cada amostra foi de 122,39 g.
camada.
Finalizou-se o ensaio com 5 corpos de provas,
com os resultados apresentados na Tabela 6.

Tabela 6. Dados obtidos com o ensaio de Compactação.


U PC + SU PCa + PCa + Uf
PA (g)
(%) (g) SU (g) SS (g) (%)
18,00 642,06 4332,00 34,91 32,21 20,19
20,00 713,40 4372,00 42,31 38,19 21,39
22,00 784,74 4404,00 57,03 49,63 22,63
24,00 856,08 4381,00 56,75 48,76 24,64
26,00 927,42 4360,00 52,25 45,10 26,72
Legenda: U: Umidade; PA: Peso da Água; PC: Peso do Figura 6. Prévia do ensaio de Determinação de Matéria
Cilindro; SU: Solo Úmido; PCa: Peso da Cápsula; SS: Orgânica.
Peso do Solo Seco; Uf: Umidade Final.
Com a Equação 04 é possível encontrar o teor de
Com os dados obtidos é possível calcular a matéria orgânica que fora carbonizada no ensaio:
massa específica aparente seca através da
Equação 03: 𝐵
𝑀𝑂 = (1 − 𝐴 ) 𝑥100 (04)
100
𝛾𝑠 = 𝑃ℎ 𝑥 (03)
𝑉 (100+ℎ)
Onde:
𝑀𝑂 = Teor de matéria orgânica, em %;
Onde: 𝐴 = massa da amostra seca em estufa, em g;
𝛾𝑠 = massa específica aparente seca, em 𝐵 = massa da amostra queimada em mufla,
g/cm³; em g.
𝑃ℎ = peso úmido do solo compactado, em g;
𝑉 = volume útil do molde cilíndrico, em cm³;
ℎ = teor de umidade do solo compactado, em 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
%.
A massa específica real dos grãos foi calculada a
3.5 Teor de matéria orgânica partir da Equação 01, onde os resultados de cada
amostra são apresentados na Tabela 7:
O ensaio de determinação do teor de matéria
orgânica por queima a 440ºC é regido pela NBR Tabela 7. Resultados do ensaio de Densidade Real dos
13600/1996, que prescreve o método para Grãos – Picnômetro.
determinação do teor de matéria orgânica de Amostra Picnômetro δg (g/cm³)
solos através da queima em mufla, à temperatura 1 1 2,679
de 440ºC, sendo que o material é previamente 2 2 2,544
seco em estufa. O ensaio foi realizado no 3 1 2,670
Laboratório de Materiais e Solos do IFSC. 4 2 2,621
Para o ensaio foi utilizado uma amostra seca 5 1 2,680
em estufa com 128,66g. A amostra foi colocada Legenda: δg: Densidade Real dos Grãos.
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É possível observar que os valores no eixo das abcissas, em escala logarítmica, os


encontrados nas amostras 2 e 4 ficaram diâmetros das partículas (das quais são definidas
destoantes dos outros valores, sendo então pelo diâmetro de abertura das peneiras, no caso
descartados. Uma possível justificativa da do peneiramento, e por formulação de acordo
discrepância desses resultados pode ser agregada com a NBR 7181/2016, no caso da
ao picnômetro utilizado (número 2), que pode sedimentação) e no eixo das ordenadas, em
estar apresentando algum tipo de inconsistência. escala aritmética, as porcentagens das partículas
Após descartar os resultados das amostras 2 e menores do que os diâmetros considerados.
4, foi feito a média aritmética entre as outras três
amostras restantes, conforme a Equação 05 a 100%

seguir:
90%

𝛿𝑔1 +𝛿𝑔2 +𝛿𝑔3


𝛿𝑔 = (05) 80%
3
70%

A média alcançada da Densidade Real dos Porcentagem Passante (%) 60%

Grãos foi de 2,676 g/cm³, sendo que as 50%


densidades encontradas da amostra 1, 3 e 5 não
diferem mais do que 0,02 g/cm³, conforme a 40%

especificação da norma. 30%

Tabela 8. Densidade dos grãos e índice de vazios típicos 20%

para solos residuais brasileiros.


10%
Rocha de Densidade dos Índice de
Origem Grãos Vazios 0%
Gnaisse 2,60 – 2,80 0,3 – 1,1 0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos Grãos ( mm )
Quartzito 2,65 – 2,75 0,5 – 0,9
Xisto 2,70 – 2,90 0,6 – 1,2 Figura 7. Curva granulométrica do solo.
Filito e Ardósia 2,75 – 2,90 0,9 – 1,3
Basalto 2,80 – 3,20 1,2 – 2,1
De acordo com o DNIT (2006) a forma da
Esta Pesquisa
curva pode ser considerada bem graduada, ou
2,676 0,82 seja, existe uma distribuição contínua de
(2018)
Fonte: Adaptado de SANDRONI (1985). diâmetros equivalentes em uma faixa de
tamanho de partículas, fazendo com que as
Sandroni (1985) indica valores típicos de partículas menores ocupem os vazios formados
densidade dos grãos e índice de vazios para solos pelas partículas maiores, resultando num
residuais brasileiros (Tabela 8), com a ressalva entrosamento entre estas.
de que tais valores são meramente informativos
visto que essas características são muito Tabela 9. Frações do Solo.
influenciáveis pelo grau de intemperismo. Sendo Fração Partícula (mm) FRS (%)
assim, podemos indicar de acordo com autor que Argila 0,000 – 0,002 15
o solo tem origem de uma rocha de Quartzito. Silte 0,002 – 0,060 36
Para a pavimentação, a massa específica é Areia Fina 0,060 – 0,200 15
muito utilizada para transformação de unidades Areia Média 0,200 – 0,600 19
gravimétricas em volumétricas e vice-versa, Areia Grossa 0,600 – 2,000 13
além de identificar o material (DNIT, 2006). Pedregulho 2,000 – 60,000 3
A análise granulométrica do solo foi feita a Legenda: FRS: Frações Distribuídas do Solo estudado.
partir dos dados das Tabelas 2 e 3 anteriormente
apresentadas. Construiu-se a Figura 7 que dispõe A norma NBR 6502/1995 define as frações do
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solo de acordo com o tamanho das partículas. A (1988) demonstra a classificação quanto à
Tabela 9 apresenta as frações distribuídas do plasticidade do solo de acordo com o IP, sendo o
solo estudado. solo estudado enquadrado como Fracamente
Nota-se uma fração predominantemente Plástico. O Índice de Grupo fora calculado de
maior de silte com frações basicamente acordo com a Equação 02, chegando-se em um
igualitárias de argila, areias fina, média e grossa, valor de IG igual a 4,00. Ambos os valores são
sendo o solo classificado como areia siltosa. utilizados para a classificação TRB.
A determinação do Limite de Liquidez foi O DNIT (2006) informa que, para materiais
feita a partir da Figura 8 que atende o número de de base de pavimentos, o Limite de Liquidez
golpes no eixo da abscissa, em escala deve ser menor que 25% e o Índice de
logarítmica, e a umidade relativa de cada Plasticidade menor que 6%.
amostra no eixo da ordenada, em escala linear. O ensaio de compactação informa a densidade
máxima do solo e a umidade correspondente.
41 Com o valor das umidades características
40 calculou-se a massa específica aparente seca
Teor de Umidade (%)

39 (Tabela 10). Com isso, foi gerada a curva de


38 y = -7,817ln(x) + 61,02 compactação final, conforme apresentado na
R² = 0,8925
37 Figura 9.
36
35 Tabela 10. Resultados finais do ensaio de Compactação
34 realizado na amostra Natural.
Dados do Cilindro Proctor Resultados do
33
10 Número de Golpes (Escala Logarítimica) 100 Utilizado Ensaio
Figura 8. Reta de Escoamento do ensaio de Limite de D A M. E. A. S.
P (g) V (cm³)
Liquidez. (cm) (cm) (g/cm³)
2453,00 10,00 12,73 999,812 1,55
Com a equação da reta é possível encontrar o 2453,00 10,00 12,73 999,812 1,58
valor do Teor de Umidade referente à 25 golpes. 2453,00 10,00 12,73 999,812 1,59
Com isso, a umidade encontrada foi de 35,86%. 2453,00 10,00 12,73 999,812 1,56
A norma indica que o Limite de Liquidez será o 2453,00 10,00 12,73 999,812 1,51
valor de obtido na reta do teor de umidade Legenda: P: Peso; D: Diâmetro; A: Altura; V: Volume; M.
correspondente a 25 golpes, em porcentagem, E. A. S.: Massa Específica Aparente Seca.
aproximado para o número inteiro mais próximo.
Logo, o Limite de Liquidez é de 36%. Curva Ótima de Compactação
Massa específica aparente seca (g/cm³)
Para a determinação do Limite de Plasticidade
1,62
a norma exige que as umidades encontradas nas
Massa específica aparente seca (g/cm³)

1,6
amostras não difiram em 5% o valor da média.
1,58
Foi feito a média aritmética simples dos valores
1,56
de umidade e encontrou-se um valor de 28,61%.
1,54
Logo, o valor do Limite de Plasticidade é de
1,52
28,61% pois não houveram discrepâncias em
1,5
relação aos 5% impostos por norma.
1,48
Com os valores de Limite de Liquidez e
1,46
Plasticidade encontra-se o Índice de Plasticidade
1,44
do solo, utilizando a Equação 06: 19,00% 21,00% 23,00% 25,00% 27,00%
Umidade
𝐼𝑃 = 𝐿𝐿 − 𝐿𝑃 (06) Figura 9. Curva de Compactação Final da amostra de Solo
Natural.

Logo, o Índice de Plasticidade é de 7. Caputo A partir da Curva de Compactação,


XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

encontrou-se o valor de Umidade Ótima de método de classificação. Senço (2007) avalia o


22,45% para a máxima Massa Específica Grupo A-4 classificando-o como solos finos
Aparente Seca de 1,59 g/cm³. Senço (2007) siltosos de baixa plasticidade, tendo seu
explica que obter tais resultados é questão de comportamento sob o pavimento precário quanto
segurança e estabilidade, visto que para a a inchamento devido às chuvas. O mesmo autor
execução de camadas de um pavimento busca-se ainda apresenta uma equivalência mais provável
a maior quantidade de partículas sólidas por da classificação TRB com a USC (Unified Soil
unidade de volume, resultando, assim, no Classification), referenciando um solo Siltoso de
aumento da resistência desse solo e também da Baixa Compressibilidade (sigla ML).
impermeabilidade.
O ensaio de Teor de Matéria Orgânica
resultou em uma percentagem de 4,87% através 6 CONCLUSÕES
da Equação 04. Ressalta-se que o valor
encontrado pode ter sido influenciado pelos A análise granulométrica permitiu identificar
seguintes fatores: o talude estudado estava um solo bem graduado. Essa faixa
exposto por tempo indeterminado e pode ter granulométrica resulta em melhores condições
ocorrido o acúmulo de matéria orgânica na para compactação e resistência em si e, no caso
superfície deste, mesmo tendo sido descartado a de camadas para pavimentação, é importante
parte superficial no momento da coleta; retirada para a impermeabilização das mesmas.
de solo do horizonte B textual não plíntico, que O Índice de Plasticidade não atendeu às
resulta em um solo mais fertical e, com isso, orientações do DNIT (2006) com relação ao
presença de matéria orgânica em geral. limite máximo de 6%, além de que o Limite de
Para pavimentação é importante que o solo Liquidez excedeu o valor recomendado. Com
seja desprovido de material orgânico em sua isso, é necessário realizar outros ensaios
composição. O Manual de Pavimentação do específicos – como Equivalente de Areia, por
DNIT (2006) limita o teor máximo de matéria exemplo – para avaliar melhor se o solo é
orgânica em 2%, pois este fator interfere nos indicado para uso em pavimentação.
resultados desejados do comportamento dos A determinação da umidade ótima indica a
solos utilizados nas camadas de um pavimento, máxima densidade do solo para compactação
principalmente porque a prática de estabilização ideal ao uso em pavimentação, permitindo a
química é comum. máxima estabilidade das camadas do pavimento
Após todos os resultados anteriormente e atenuando os recalques devido ao tráfego.
citados e discutidos, faz-se a classificação do Junto a umidade ótima, deve-se realizar o ensaio
solo pelo método TRB, de acordo com o DNIT de CBR, que é um dos ensaios mais importantes
(2006). Resume-se os seguintes resultados para pavimentação, do qual permite avaliar
(Tabela 11): melhor o uso do solo para composição das
camadas rodoviárias.
Tabela 11. Resumo dos resultados obtidos para A matéria orgânica presente no solo pode
classificação TRB. afetar o comportamento das camadas do
Elemento Resultado
pavimento, principalmente se este for
Passante peneira Nº 10 97,32%
estabilizado quimicamente.
Passante peneira Nº 40 80,82% De acordo com Senço (2007), em se tratando
Passante peneira Nº 200 56,24% de um solo do Grupo A-4, segundo a
Limite de Liquidez 36% classificação TRB, as camadas do pavimento
Índice de Plasticidade 7,00 precisariam de grandes espessuras para atender
Índice de Grupo 4,00 às solicitações previstas de uma rodovia, e de
maneira geral, não recomendado para uso como
O solo estudado se encontra no Grupo A-4 do camadas de pavimentos. O autor indica que,
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sendo o Grupo A-1 considerado ótimo e Grupo


A-8 considerado imprestável como material para
pavimentação, o solo de estudo pode ser
expressivamente melhorado com a utilização de
estabilizações químicas, pois o seu uso no estado
natural não é o indicado.

REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (2016a), NBR 6457: Amostras de solo -
Preparação para ensaios de compactação e ensaios de
caracterização, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (2016b), NBR 6459: Solo – Determinação
do limite de liquidez, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (1995), NBR 6502: Rochas e solos, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (1984), NBR 6508: Grãos de solos que
passam na peneira de 4,8mm – Determinação da massa
específica, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (2016c), NBR 7180: Solo – Determinação
do limite de plasticidade, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (2016d), NBR 7181: Solo – Análise
granulométrica, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (2016e), NBR 7182: Solo – Ensaio de
compactação, Brasil.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (1996), NBR 13600: Determinação do
teor de matéria orgânica por queima a 440ºC, Brasil.
CAPUTO, H. P. (1988), Mecânica dos solos e suas
aplicações: Fundamentos, 6. ed, Rio de Janeiro: Ltc,
Brasil.
DNIT (2006). Manual de pavimentação, Diretoria de
Planejamento e Pesquisa, Coordenação Geral de
Estudos e Pesquisa, Instituto de Pesquisas Rodoviárias,
3. ed., Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
PEREIRA, K. L. A. (2012). Estabilização de um Solo com
Cimento e Cinza de Lodo para Uso em Pavimentos,
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Natal, RN, Brasil, 125 p.
SANDRONI, S.S. (1985), Sampling and Testing of
Residual Soils – A Review of International Practice,
ISSMFE, Hong Kong, China.
SENÇO, W. (1997). Manual de técnicas de pavimentação,
volume I, 1ª. Ed., Pini, São Paulo, SP, Brasil.

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