Isso não é realmente uma etnografia. É mais uma ideia de uma etnografia, com uma base um tanto quanto dramática. Mas ainda bastante divertida, eu diria,
Título original
etnografia do "meu espaço" ( em tempos de coronavírus)
Isso não é realmente uma etnografia. É mais uma ideia de uma etnografia, com uma base um tanto quanto dramática. Mas ainda bastante divertida, eu diria,
Isso não é realmente uma etnografia. É mais uma ideia de uma etnografia, com uma base um tanto quanto dramática. Mas ainda bastante divertida, eu diria,
etnografia “relâmpago” de “meu espaço” (em tempos de coronavírus)
Em meio à pandemia global do vírus COVID-19, implementaram-se, como
sabemos, medidas de isolamento social que indicam a quarentena. Tais medidas se iniciaram no Brasil em primórdios de março e perduram até o dia atual em que esse relato é escrito, 14 de abril. Os espaços, antes classificados como conhecidos e reconfortantes, parecem-me agora completamente estranhos. Forçou-se sobre mim o distanciamento do familiar e com esse exercício busco me familiarizar ao agora estranho. Passei a conviver estritamente com meus familiares, no ambiente que chamamos de casa. O espaço principal é o “meu quarto”. De formato quadrado, armazena parte substancial de meus pertences pessoais, de maneira que a maioria da sociedade paulistana classificaria como caótica. Há uma cama, pôsteres na parede, além de um adesivo de grande porte de uma árvore na estação do outono. Tal árvore, além de representar um desejo reprimido de infância meu (o de viver em um lugar que tivesse estações marcadas), acabou por ganhar novo significado. Ela passou a evocar um sentimento de nostalgia imaginário: não, eu não encontraria árvores outonais no parque, mas mesmo assim tal árvore passa a ser uma representação daquilo que poderia estar fazendo no outono, mesmo que brasileiro, se não fosse a pandemia. Mas não é apenas a árvore que ganhou novo significado: a cama, antes associada predominantemente ao descanso, se tornou objeto de transição confuso entre trabalho e conforto, como nunca antes. As pilhas de papéis e livros, que tiveram sua organização postergada, antes deveras familiares, me parecem irreconhecíveis. Vejo-as como mais caóticas do que nunca, um incômodo. Se antes representavam um mundo de possibilidades em um ambiente seguro, agora me parecem as únicas possibilidades em um ambiente insosso. Em referência às bugigangas em minha prateleira, elas recorrentemente agora me evocam memórias de outras pessoas, pessoas que eu não conheço, em lugares distantes, vindo a ser fontes de divertimento como nunca antes. Há também outros cômodos, o “cômodo da fonte de comida”, ou o “cômodo da vista do fim da tarde”, que realizam as funções definidas por seus nomes. Entendo a redundância de evidenciar que meu espaço, durante a pandemia, está limitado e se torna mais isolado. Mas isolado em um sentido peculiar: pareço cada vez mais flutuar sobre o mundo. Não mais sobre São Paulo ou o Brasil em específico. Vivo em um “meu quarto” flutuante sobre o futuro famoso evento histórico da pandemia de corona vírus (2020). De certa forma, a convivência em “meu quarto” me fez sentir mais conectada a essas pessoas que não conheço, espalhadas pelo mundo, que parecem ter se colado aos objetos de minha memória, empoeirados em minha estante. Pareço ter maior consciência, e ver a prova viva da “sociedade em rede” que rege os tempos atuais. Potencializo, assim, meus sentimentos de solidariedade e empatia, através do método, um tanto quanto egoísta, da experiência pessoal.